Na pequena cidade espanhola de Alameda, a duas horas de Sevilha, conseguir trabalho depende de sorte - literalmente.
Com um em cada três moradores sem emprego por
causa da crise econômica que assola a Espanha, o prefeito da cidade,
Juan Lorenzo Piñera, resolveu transformar a seleção para os trabalhos
disponíveis na prefeitura em uma loteria.Os trabalhos sorteados são para limpar prédios públicos, varrer ruas e trabalhar no setor de construção.
"A situação está muito difícil," diz Piñera, que conhece boa parte dos 5,6 mil habitantes da cidade.
Alameda é um labirinto de ruas estreitas repletas de laranjeiras e casinhas brancas. Mas a crise mudou totalmente a rotina dessa pitoresca cidade cercada de plantações de oliveira até onde a vista alcança.
"Todos os homens que trabalhavam na construção civil perderam seus empregos e agora muitos deles já não qualificam para receber ajuda do governo", conta Piñera. "Muitas famílias foram expulsas de suas casas. Outras vêm à prefeitura para pedir comida."
Todos os meses, oito mulheres são selecionadas para limpar os prédios da prefeitura. Elas trabalham quatro horas por dia e recebem 650 euros por mês (R$ 1.780).
A dona de casa Montse Solsona, uma das "vencedoras" da loteria deste mês, varre e esfrega os pisos das salas de aula de uma escola local. Solsona costumava trabalhar na colheita da azeitona, mas diz que, como os homens da cidade passaram a fazer esse trabalho, está desempregada há dois anos.
"Esse trabalho na limpeza já é uma ajuda incrível", diz ela. "Só queria não fosse temporário. No final do mês volto aos trabalhos domésticos. A nossa situação está difícil porque meu marido está desempregado e a ajuda que recebíamos do governo foi cortada."
O marido de Maria José Bastida costumava ter um trabalho bem remunerado na construção civil, por isso ela nunca havia precisado trabalhar.
Mas como seu marido está desempregado há cinco anos, Bastida ficou muito feliz quando seu nome foi sorteado na loteria. "Recebemos 426 euros (R$ 1.160) em benefícios e é o meu salário como faxineira que paga a hipoteca", diz.
'Algo para se acreditar'
Os homens agora estão trabalhando na colheita das oliveiras, uma ocupação tradicionalmente exercida pelas mulheres.
A loteria da varrição das ruas acontece a cada três meses. Na lista de candidatos estão os nomes de cerca de 200 homens e mulheres. Jose Antonio foi uma das três pessoas selecionadas no sorteio mais recente.
Ele empurra um carrinho por uma praça pequena perto da prefeitura da cidade, varrendo folhas e detritos. Apesar de ser um eletricista competente, está desempregado há cinco anos.
Em placas penduradas em palmeiras nessa praça é possível ler: "devemos salvar as pessoas, não os bancos" e "temos vergonha de vocês políticos, não aplaudimos seus cortes".
O governo central adotou uma série de medidas de austeridade e os recursos que costumavam vir de Madri e da União Europeia estão minguando. Por isso, segundo o prefeito, a "loteria" da cidade é tão importante.
"As pessoas daqui sabem que não terão emprego por um tempo", afirmou. " A economia está morta. Eles não enxergam um futuro. A loteria ao menos dá a eles alguma coisa para acreditar em cada mês".
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