segunda-feira, 25 de março de 2013

David Harvey em Porto Alegre: para voltar a ler Marx 25/03/2013


David Harvey
Um dos maiores estudiosos da obra de Marx visita Porto Alegre nesta segunda-feira (25). O geógrafo britânico David Harvey proferirá a conferência “Para ler o capital”, a partir das 19 horas, no teatro da Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs), na Avenida Ipiranga, 5311. As inscrições são gratuitas, mas as vagas são limitadas, em função do tamanho do auditório, e devem ser realizadas pelo email harvey.poa@laurocampos.org.br. A realização é da Boitempo Editorial, Fundação Lauro Campos, Emancipa e Câmara Municipal de Porto Alegre.
David Harvey é professor de antropologia da pós-graduação da Universidade da Cidade de Nova York (The City University of New York – Cuny), na qual leciona desde 2001. Foi também professor de geografia nas universidades Johns Hopkins e Oxford. Seu livro Condição pós-moderna (Loyola, 1992) foi apontado pelo jornal The Independent como um dos 50 trabalhos mais importantes de não ficção publicados desde a Segunda Guerra Mundial. Em português, a Boitempo publicou recentemente O enigma do capital (2012) e agora lança Para entender O capital.
Harvey veio ao Brasil a convite da Boitempo para apresentar essa conferência em São Paulo (23), Porto Alegre (25) e Salvador (26). A atividade faz parte do projeto “Marx: a criação destruidora”, que reúne pesquisadores do Brasil e de outros países para debater a atualidade da obra de Marx em tempos de crise global do capitalismo. Durante sua estada no Brasil, Harvey lança Para entender o capital, fruto de anos de seminários lecionados sobre a obra de Marx em várias universidades. O projeto “Marx: a criação destruidora” marca também o lançamento da edição especial do livro I de “O Capital”, de Karl Marx, pela Boitempo (com tradução inédita).
Pensando uma transição anti-capitalista
Harvey está lançando novo livro no Brasil: “Para ler o capital” (Boitempo)
O professor britânico esteve em Porto Alegre em janeiro de 2010, no seminário de avaliação de 10 anos do Fórum Social Mundial. Naquela ocasião, defendeu a necessidade de se pensar em uma transição anti-capitalista. Harvey reconheceu que após da derrocada da União Soviética e dos regimes socialistas do Leste Europeu, e a queda do Muro de Berlim, falar em anti-capitalismo tornou-se proibido. Essa mensagem cruzou o planeta adquirindo ares de senso comum. No entanto, ressaltou, os muros do capitalismo seguiram em pé e crescendo, excluindo, produzindo pobreza, fome, destruição ambiental e guerra.
As recentes crises do capitalismo recolocaram na ordem do dia, defendeu Harvey, a necessidade de pensar outra forma de organização econômica, política e social. Ele justificou essa necessidade a partir de alguns fatos: o aumento da desigualdade social, a crescente corrupção da democracia pelo poder do dinheiro, o alinhamento da mídia com este grande capital (e seu conseqüente papel de cúmplice na corrupção da democracia), a destruição acelerada do meio ambiente. Esse cenário, acrescentou, exige uma resposta política que é, necessariamente, de natureza anti-capitalista.
A natureza de uma necessidade
Harvey não defende essa necessidade como um postulado dogmático, mas sim como consequência do atual estágio do capitalismo:
“Em geral, a taxa mínima de crescimento aceitável para uma economia capitalista saudável é de 3%. O problema é que está se tornando cada vez mais difícil sustentar essa taxa sem recorrer à criação de variados tipos de capital fictício, como vem ocorrendo com os mercados de ações e com os negócios financeiros nas últimas duas décadas. Para manter essa taxa média de crescimento será preciso produzir mais capital fictício, o que produzirá novas bolhas e novos estouros de bolhas. Um crescimento composto de 3% exige investimentos da ordem de US$ 3 trilhões. Em 1950, havia espaço para isso. Hoje, envolve uma absorção de capital muito problemática. E a China está seguindo o mesmo caminho”, disse Harvey em 2010.
As crises econômicas nos últimos 30 anos, acrescentou, repousam na disjunção crescente entre a quantidade de papel fictício e a quantidade de riqueza real. “Por isso precisamos de alternativas ao capitalismo”, insistiu. Historicamente essas alternativas são o socialismo ou o comunismo. O primeiro acabou se transformando em uma forma menos selvagem de administração do capitalismo; e o segundo fracassou. Mas esses fracassos não são razão para desistir até por que as crises do capitalismo estão se tornando cada vez mais freqüentes e mais graves, recolocando o tema das alternativas.
Não basta denunciar a irracionalidade do capitalismo, concluiu. É importante lembrar o que a Marx e Engels apontaram no Manifesto Comunista a respeito das profundas mudanças que o capitalismo trouxe consigo: uma nova relação com a natureza, novas tecnologias, novas relações sociais, outro sistema de produção, mudanças profundas na vida cotidiana das pessoas e novos arranjos políticos institucionais. “Todos esses momentos viveram um processo de co-evolução. O movimento anti-capitalista tem que lutar em todas essas dimensões e não apenas em uma delas como muitos grupos fazem hoje. O grande fracasso do comunismo foi não conseguir manter em movimento todos esses processos. Fundamentalmente, a vida diária tem que mudar, as relações sociais têm que mudar”, defendeu Harvey.
Mais de três anos depois, o autor retorna a Porto Alegre e a crise do capitalismo não arrefeceu, colocando em xeque hoje, entre outras coisas, o futuro da estabilidade política econômica da União Europeia, mergulhada em dívidas e taxas de desemprego crescentemente preocupantes.

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