A decisão do parlamento inglês, país
com tradição libertária muito maior do que o Brasil, de criar um órgão
externo para fiscalizar as atividades dos meios de comunicação assusta a
Editora Abril; segundo Veja, será usada pelos "liberticidas" para
constranger a imprensa livre; na Inglaterra, Rebekah Brooks, ex-diretora
do News of the World, de Rupert Murdoch, será investigada pelo esquema
de grampos ilegais liderado pelo extinto jornal; no Brasil, Carlos
Cachoeira realizava os grampos ilegais e, com seu braço na mídia,
liderado por Policarpo Júnior, de Veja, pressionava políticos e governos
247 - A história é conhecida. Mais ou menos na mesma época, no início do ano passado, dois escândalos paralelos eclodiram.
Na Inglaterra, foi descoberta a conexão entre um esquema
de grampos ilegais, que envolvia policiais e jornalistas do News of the
World, de Rupert Murdoch. Jornalistas e policiais foram presos e o
jornal foi extinto, não sem antes pedir desculpas ao público, em sua
última edição. Mais recentemente, a Inglaterra, um país de tradição
libertária, aprovou uma nova regulamentação para a mídia, que cria um
órgão externo para fiscalizar a atividade de jornais, revistas e demais
meios de comunicação.
No Brasil, a Operação Monte Claro, da Polícia Federal,
expôs as vísceras da organização do bicheiro Carlos Cachoeira, que,
antes desse episódio, era chamado de "empresário de jogos" pela revista
Veja. Especializado em todo tipo de interceptações, muitas vezes ilegais
e clandestinas, o grupo de Cachoeira possuía um braço forte nos meios
de comunicação, cuja peça mais forte era Policarpo Júnior da revista
Veja.
O desfecho aqui, no entanto, foi bem diferente. Graças a
um acordo entre veículos conservadores de comunicação e o PMDB,
Policarpo não foi convocado pela CPI do caso Cachoeira. Embora o
relatório tenha citado o nome de vários jornalistas, nenhum foi
indiciado, uma vez que o texto de Odair Cunha (PT-MG) não foi nem sequer
apreciado pela comissão.
Mas Veja, no entanto, parece ter informações que a
amedrontam. Na edição desta semana, a revista aborda o caso do News of
the World e diz que ele será empregado no Brasil com fins torpes. "A
medida interrompe 300 anos de liberdade de imprensa e vai ser
aproveitada pelos liberticidas no Brasil", diz o texto, numa reportagem
interna.
Mais do que isso, com tremenda desfaçatez, o diretor de
redação, Eurípedes Alcântara, também aborda o caso no editorial "Crime e
Castigo", com imagem do News of the World, como se Veja não tivesse
nada a ver com a discussão. Diz Eurípedes que a regulação prejudica a
liberdade e que a função da imprensa séria é "de ser os olhos e ouvidos
da nação na busca da verdade e na vigilância constante sobre os
poderosos".
O fato incontestável, no entanto, é que, em vários
momentos, Veja foi olhos e ouvidos de Cachoeira em defesa dos interesses
privados do próprio bicheiro, na sua relação de extorsão sobre os
poderosos.
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