Os
jornais amanheceram, como de praxe, com manchetes apocalípticas. O Globo veio
com um déficit “Pior da história”. Eles jamais fizeram manchetes similares
quando se trata dos juros (menores da história, antes dos recentes aumentos) ou
do salário mínimo. Mas quando encontram um fato negativo, eles carregam nas
tintas e põem na primeira página.
Acontece
que não é bem assim. A imprensa mente mesmo quando fala a verdade. Então
lá fui eu fuçar no Sistema Alice, o nosso banco de dados público
sobre comércio exterior, que é um dos melhores do mundo. Tenho experiência
nisso porque trabalhei por quase 15 anos escrevendo sobre café para o jornal
especializado que eu tinha, além de colaborar para sites estrangeiros.
Especializei-me em estatísticas de comércio exterior.
Compilei
os dados da nossa balança comercial desde 1995 até hoje, preparei algumas
tabelas e gráficos.
Não é
correto jogar tanto peso na balança comercial de um mês só, porque se fica a
mercê de distorções sazonais. O certo, sobretudo numa análise política que
pretenda usar dados econômicos, é usar períodos acumulados.
Apesar do
déficit em julho, nos últimos 12 meses o saldo comercial brasileiro permaneceu
positivo, em US$ 4,5 bilhões. Nos anos 90, tivemos déficits seguidos em 1997,
1998 e 1998, sempre usando o período de 12 meses de agosto a julho, para efeito
de comparação com os dados atuais. Em 1996/97 (ago/jul), o déficit foi de US$
7,6 bilhões, em 1997/98 de US$ 6,3 bilhões e em 1998/98 de US$ 4,9 bilhões.
Entretanto,
mais do que olhar apenas déficit, é importante considerar a evolução das
exportações. As exportações brasileiras nos últimos 12 meses atingiram o
segundo maior nível de sua história. Ou seja, nos dois primeiros anos do
governo Dilma, o Brasil nunca exportou tanto.
O déficit
acontece por duas razões: porque se exporta pouco, ou porque se importa muito.
O déficit “bom”, se é possível falar assim, é o segundo caso, naturalmente. É o
que vem acontecendo ao Brasil. Estamos exportando mais que nunca, mas a
importação também aumentou.
Importante
ressaltar ainda que a importação aumentou por causa das compras de combustível.
O consumo crescente de combustível, que onera a importação, é um sinal de
vitalidade econômica. Conforme o pré-sal começar a jorrar em grande
quantidade, a partir de 2016, e as refinarias ficarem prontas, na mesma época,
o Brasil importará menos este item e poderá até se tornar exportador de
petróleo e gasolina.
Os
últimos dados de produção de petróleo e gás vem registrando forte alta,
conforme registra o último boletim da Agência Nacional de Petróleo
(ANP).
Observe a
tabela abaixo. Os colunistas econômicos da grande imprensa fazem um malabarismo
curioso. Quando querem falar bem de uma relação comercial entre Brasil e outro
país, costumam usar a corrente de comércio, que soma exportação e importação.
Pois bem, a corrente de comércio brasileira em julho foi a maior da história:
US$ 43,5 bilhões. Isso é bom, mostra um comércio exterior dinâmico. O Brasil ganha
dinheiro importando, porque o Estado aufere impostos sobre todos os produtos
que entram no Brasil. A importação também paga os serviços de saúde e educação.
A importação paga mais impostos que a exportação, diga-se de passagem.
No
acumulado de 12 meses até julho, a corrente de comércio totalizou US$ 474,7
bilhões. É quase cinco vezes maior que o patamar de 2002.
Considerando
apenas as exportações, estas geraram US$ 239,59 bilhões nos últimos 12 meses, o
segundo maior nível da história. Em 2001/02, exportamos apenas US$ 55,6
bilhões.
Lamentar
a importação é um vício vira-lata. Quanto mais cresce a renda da população, num
país onde o câmbio não é manipulado para beneficiar apenas setores de
exportação (como na China), a tendência é aumentar a importação, porque é
natural que as pessoas queiram consumir bens importados.
O
problema da importação seria motivo de preocupação se se observasse um processo
de desindustrialização. Apesar das grandes dificuldades que vive a nossa
indústria, ela vem resistindo. Segundo o IBGE, a indústria
brasileira registrou forte alta em junho, de 1,3% sobre o mês anterior, e 3,1%
sobre igual mês de 2012.
O setor
de bens de capital, que é o principal termômetro da indústria num país, porque
corresponde à fabricação de máquinas destinadas a indústrias, registrou
crescimento de 18% em junho deste ano, na relação com o mesmo mês do ano
anterior.
O
negativismo da mídia tem conotação política. Como ela faz oposição ao governo
federal, a imprensa quer pintar o quadro econômico como eternamente em
declínio, e não poupará esforços neste sentido. Eventualmente, o esforço pode
dar certo, ao desestimular o setor privado a seguir investindo no país. O
governo tem culpa porque se mantém calado, ou fala somente através da grande
mídia. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não usa redes sociais. A
presidenta não usa redes sociais. A articulação política do governo não usa
redes sociais. Não é questão de tempo. Não precisa fazer isso pessoalmente:
contratem uma equipe! Ou melhor, ponham a que possuem para trabalhar! O Brasil
não pode mais ficar à mercê dos urubus! Não é possivel que o ministério da
Fazenda não tenha uma pessoa para entrar no Twitter e dar um RT numa matéria
que seja um contraponto à desgraceira diária que a mídia vende ao país!
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