Ultimo Segundo
Integrantes do “Ocupa Alckmin” contam rotina e prometem continuar diante da sede do governo por “transparência” nas contas da CPTM e do Metrô
Não é preciso passar muito tempo na frente ao Palácio dos Bandeirantes, no bairro do Morumbi, para ouvir buzinas e gritos de “vai trabalhar” por parte de motoristas que passam pela região. Os alvos são os manifestantes do “Ocupa Alckmin”, como se autodenominou o grupo que está acampado no local em protesto contra o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), após as denúncias desuperfaturamento na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e no Metrô . Ainda que sejam criticados por alguns, é justamente o apoio de outros que faz com que o grupo complete 50 dias, neste domingo (22), diante da sede do governo paulista.
Os ativistas chegaram no dia 3 de agosto, depois de um protesto que pedia a saída de Alckmin do cargo, e querem permanecer na calçada da avenida Morumbi até que São Paulo tenha mais “transparência nas contas da CPTM e do Metrô”. Além disso, pedem a eleição de membros da sociedade civil para “averiguar” denúncias de cartel nas licitações do transporte público do Estado. “Viemos para cá por conta do propinoduto (como foi apelidado o esquema de cartel no Metrô). Estamos pedindo a transparência das contas publicas da CPTM e do Metrô. Mas, assim, não queremos CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito). A CPI vai acabar em pizza como sempre porque os partidários dele (Alckmin), obviamente, vão passar o pano. A gente quer uma auditoria pública independente, eleita pelo povo, para que haja averiguação e consequentemente julgamento. Uma comissão da sociedade civil”, afirmou o o estudante de design gráfico Pedro Henrique, de 26 anos.
Como um dos integrantes, ele contou que o grupo é formado por cerca de 30 pessoas que se revezam de acordo com os horários de cada uma delas. Ainda que dividam alguns custos, eles mantêm o acampamento com recursos doados pela população. “A gente conta muito com ajuda de doações. Se não fosse o apoio da população, não estaríamos aqui. Às vezes, (os doadores) são pessoas que passam na rua, vem conversar e doam comida ou água. Ainda estamos na base da doação, mas pegamos grana e compramos coisas para dar uma segurada também”, explicou.
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Nicolai Franco, de 20 anos, lembra que certa vez uma senhora que havia passado pelo local do acampamento voltou com R$ 700 em mantimentos. “Tem muita gente de classe média que ajuda, mesmo direitistas, porque eles também querem melhorias”, contou o jovem antes de lembrar que também não é sempre que conseguem comida. “Tem vez que quem está aqui só pode comer arroz, feijão e ovo mesmo, mas tudo bem porque agrada tanto os vegetarianos quanto quem come carne”, acrescentou antes de Pedro Henrique completar: “Mas nunca faltou nada para ninguém.”
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Nicolai Franco, de 20 anos, lembra que certa vez uma senhora que havia passado pelo local do acampamento voltou com R$ 700 em mantimentos. “Tem muita gente de classe média que ajuda, mesmo direitistas, porque eles também querem melhorias”, contou o jovem antes de lembrar que também não é sempre que conseguem comida. “Tem vez que quem está aqui só pode comer arroz, feijão e ovo mesmo, mas tudo bem porque agrada tanto os vegetarianos quanto quem come carne”, acrescentou antes de Pedro Henrique completar: “Mas nunca faltou nada para ninguém.”
Além de doações, os jovens têm ajuda das pessoas do bairro para necessidades básicas, como ir no banheiro e tomar banho. Apesar de estarem em um bairro nobre da capital paulista, eles dizem que têm auxílio dos comerciantes da região, mas preferem não dar detalhes de onde e a quais estabelecimentos vão com receio de perderem o benefício. Isso porque, da parte de quem não concorda com o acampamento do grupo, a desaprovação não vem apenas com buzinas e xingamentos. Franco diz ter perdido, por exemplo, o emprego de organizador de eventos e fotógrafo depois que seu chefe descobriu que ele passava as horas vagas em frente ao Palácio dos Bandeirantes. “Minha imagem aparecia nos vídeos que a gente fazia. Agora não vou poder morar no apartamento onde eu estava, vou ficar aqui ajudando até enquanto rolar”, afirmou.
O jovem conta também que, recentemente, um carro passou e jogou um bomba na direção das barracas. “Podia ter caído aqui atrás, tem botijão de gás, gerador à gasolina”. Por conta disso, durante a noite, eles também se revezam para que alguns fiquem de vigia enquanto outros dormem nas barracas. Já o gerador, “emprestado de um amigo”, é usado pelo grupo para recarregar celulares, câmeras e os notebooks. Na internet, eles publicam vídeos e usam o Facebook para trocar informações na comunidade do grupo, intitulada Ocupa.Alckmin.
Outros acampamentos
Os integrantes dizem ser de várias ideologias de esquerda, mas negam ser filiados a partidos. “Aqui tem anarquista, anarco-sindicalista, marxista, socialista”, explicam os representantes do grupo que estavam no “acampamento” quando o iG visitou o local, na sexta-feira (20). “Não tem ninguém filiado, eu já participei de movimentos sociais, mas nunca fui filiado a nenhum também. Somos apartidários, não antipartidários, que isso é coisa de fascista”, opinou Pedro Henrique.
Uma parte dos integrantes montou há algumas semanas um outro acampamento perto do Assembleia Legislativa de São Paulo. “Aqui a gente fica muito isolado. Lá eles podem pressionar deputados. Tem uma lista de PECs (Proposta de Emenda à Constituição) que eles (parlamentares) precisam aprovar ou rejeitar”, conta Henrique. O grupo não pretende, no entanto, deixar o local. “Aqui fica meio simbólico. É uma experiência que não tem como explicar a pessoas totalmente desconhecidas. Totalmente horizontal. A gente não para. Tentamos fazer aulas públicas. Ações para não tentar deixar isso (cartel) cair no esquecimento, que já dura mais de 20 anos, desde a época do (Mario) Covas, passando pelo (José) Serra e agora Alckmin, sempre com desvio".
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