As Guerras de Wall Street
Veterano de Faluja: “Eu servi o 1%”
27 de Novembro de 2011
Ross Caputi
Fonte: answercoalition.org | Tradução de F. Macias
Reflexões sobre o papel de veteranos no movimento Ocupa
Eu não servi o meu país no Iraque, servi o 1%. Foi em sua representação que eu colaborei no cerco de Faluja, ajudei a matar milhares de civis, ajudei a deslocar centenas de milhares de pessoas inocentes e a destruir uma cidade inteira. A minha “missão” serviu a Exxon-Mobil, Halliburton, KBR, Blackwater, e outras multinacionais no Iraque.
A minha família em Massachussets não ficou mais segura devido à minha missão, e os Iraquianos não têm mais liberdade. Eu ajudei a oprimir Iraquianos de uma forma muito mais brutal do que aquela que o movimento Ocupa tem sofrido às mãos da polícia de Nova Iorque e Oakland.
Fui ocupante mas agora sou anti ocupante. Servi uma vez o 1%, mas agora esforço-me por servir os 99%. É por isso que eu devo falar abertamente ao ver o movimento Ocupa ser desencaminhado pelo mesmo Nacionalismo e “Ameri-centrismo”, os mesmos louvores sem sentido às tropas e aos veteranos, e a mesma hipocrisia que nos levou à pseudo “Guerra contra o Terrorismo” e à ocupação do Iraque e do Afeganistão.
Muitos de nós juntámo-nos ao movimento Ocupa porque nos identificamos com a parte dos 99%, mas a comunicação social só começou a falar da nossa participação depois do Cpl. Scott Olsen ter sido atingido na cabeça por uma bala da polícia de Oakland no dia 25 Outubro. Olsenfoi imediatamente transportado para o serviço de emergência, e o seu nome depressa se tornou numa referência. Em todo o país foi lançado um apelo para vigílias de solidariedade com Olsen.
Ir para a guerra não é “servir o nosso país”
O movimento Ocupa foi rápido a elogiar a “missão” de Olsen e as suas duas comissões no Iraque. O New York Times relatava que “ os seus ferimentos – e a ironia de um marine que enfrentou fogo inimigo para ser apenas agredido no seu país – provocou uma explosão de simpatia assim como apelos à solidariedade.”
Embora Olsen pareça opor-se às guerras do Iraque e Afeganistão – ele é membro dos Veteranos do Iraque Contra a Guerra e dos Veteranos Pela Paz, - a resposta do movimento Ocupa à sua agressão revelou uma contradição sobre estas questões.
O movimento Ocupa evitou falar da ironia que foi Olsen ter ido para o hospital devido a alguns dos mesmos métodos que o seu Corpo de Fuzileiros Navais tinha usado contra Iraquianos. Não estabeleceu uma relação entre o que aconteceu a Olsen e o que aconteceu aos iraquianos que protestavam pacificamente contra a ocupação dos EUA no seu país – como em Faluja em 28 Abril de 2003, em que as forças norte-americanas abriram fogo sobre uma multidão de manifestantes e mataram 13 civis. Inúmeros outros incidentes idênticos ocorreram até hoje quando os Iraquianos também protestam contra o desemprego, a corrupção e a falta de serviços básicos.
Quando o movimento Ocupa se refere à “missão” de Olsen sem clarificar a quem é que ele serviu, está a encobrir as mentiras do 1% e ignoram mais de um milhão de mortos iraquianos, os milhões de refugiados e órfãos, e o dramático aumento de cancros e de bebés nascidos com deformações no Iraque.
Nós devemos apoiar as vítimas de Wall Street mais afectadas.
Eu vi, outro dia, no Youtube, um vídeo do Sgt. Shamar Thomas do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, aos gritos para o NYPD (Departamento Polícia de Nova Iorque): “Se vocês querem matar ou ferir pessoas, vão para o Iraque. Porque é que estão a fazer mal a cidadãos dos EUA?” enquanto uma multidão de manifestantes do movimento Occupy Wall Street o aclamava.
Mais de 2 milhões e meio de pessoas viram este vídeo e Thomas apareceu no programa de televisão de Rose O’Donnell e foi várias vezes ao de Keith Olbermann.Toda a gente defendia a sua “missão” e condenava a brutalidade da polícia contra os cidadãos norte-americanos. Ninguém questionou a falta de valorização da vida dos iraquianos.
Nós devemos todos condenar a brutalidade policial onde quer que ela aconteça. No entanto, a brutalidade policial e o assassinato de civis inocentes em países estrangeiros, ao serviço do 1%, são ambos questões morais, e condenar uma e não condenar o outro, suscita uma grave incoerência.
Estas atitudes no nosso movimento são muito preocupantes quanto a mim. Nós condenamos as injustiças no campo económico no nosso país, mas ficamos calados acerca das ocupações injustas do Iraque e do Afeganistão. Condenamos a brutalidade policial cá dentro, enquanto a máquina de guerra dos EUA brutaliza pessoas inocentes lá fora. Nós precisamos de compreender que Iraquianos, Afegãos, Palestinos, Líbios e todos os outros que se tornaram vítimas do 1% e da sua máquina de guerra, fazem parte também dos 99%.
Podemos amar o nosso país, mas não devemos dar mais valor à vida dos norte- americanos do que a de qualquer outro. Podemos criar um Fundo de Apoio a Scott Olsen, mas não podemos ignorar o aumento de cancros e de bebés que nascem defeituosos, que as armas dos EUA têm causado no Iraque.
Os veteranos têm um papel importante a desempenhar neste movimento, mas nós não somos heróis devido à nossa participação nas guerras, e é vergonhoso que alguém se sirva de nós para apelar ao patriotismo; esses servem apenas o 1%. O que nós temos para dar a este movimento é um relato em primeira mão daquilo que o 1% tem feito por todo o mundo em prejuízo dos 99%. Como veteranos estamos em melhor posição do que ninguém para lutar contra as convicções perigosas que põem os veteranos num pedestal. Temos a responsabilidade de falar abertamente contra a injustiça, não importa onde ela ocorra neste mundo.
O autor é veterano do Corpo de Fuzileiros Navais do segundo cerco a Faluja e membro do ‘March Forward’. É o fundador do ‘Justice for Fallujah Project’ que será anfitrião de vários eventos durante a segunda anual ‘Remember Fallujah Week’.
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