23 de Março, 2012 -
No passado, Israel sempre foi
bem-sucedido no ataque a instalações nucleares que considerava hostis.
Em 7 de junho de 1981, um avião de guerra israelense destruiu um reator
nuclear no Iraque, e, em 6 de setembro de 2007, a força aérea israelense
realizou uma missão semelhante no norte da Síria. Mas os tempos
mudaram, e especialistas afirmam que as chances de Israel ser
bem-sucedido numa operação desse tipo contra o Irã são mínimas.
"Há uma diferença enorme entre o número
de locais com armas nucleares e plantas de processamento de material
nuclear no Irã e o único reator nuclear da Síria acima do solo", disse à
Deutsche Welle o tenente-general David Deptula, ex-chefe de
inteligência da força aérea dos EUA. "Uma campanha militar envolveria um
conjunto de ações muito complexo. A maioria do público não entende que
uma campanha aérea não envolve apenas voar do ponto A para o ponto B,
jogar uma bomba e voltar para casa."
Um dos principais problemas seria a
distância. Mesmo que Israel escolhesse a rota mais direta até o Irã
atravessando os espaços aéreos da Jordânia e do Iraque e aceitando as
consequências diplomáticas implícitas a esse ato, as sete instalações
nucleares que seriam prováveis alvos ainda estariam a 1,5 mil km de
distância.
Isso significa que os próprios oito
aviões de reabastecimento de Israel que dariam suporte aos 125 caças
considerados necessários para uma operação desse tipo teriam de pousar
para reabastecer.
Melhores defesas
Além disso, as defesas aéreas do Irã podem até ser ultrapassadas, mas, mesmo assim, poderiam representar um desafio para qualquer missão israelense.
Além disso, as defesas aéreas do Irã podem até ser ultrapassadas, mas, mesmo assim, poderiam representar um desafio para qualquer missão israelense.
"Acho que a questão mais desafiadora é
simplesmente a extensão, que significa que eles não poderiam permanecer
muito tempo em cima dos alvos no Irã", afirmou à Deutsche Welle o
especialista Martin Chalmers, da consultoria militar Royal United
Services Institute, em Londres. "Isso é muito complexo, e o tamanho
limitado da força aérea israelense significa que a margem de erro não
pode ser muito grande."
Há, porém quem considere que o problema
seja outro. "Eu acho que a força aérea israelense tem os recursos de
reabastecimento, por exemplo para levar aviões suficientes até os
alvos", considera o especialista militar Shlomo Brom, do Instituto de
Segurança Nacional da Universidade de Tel Aviv. "Esse não é o problema. O
que não sei é se, quando alcançarem os alvos, poderão causar danos
suficientes."
As duas plantas de enriquecimento de
urânio do Irã são muito bem defendidas. Assim como a de Fordo, a
instalação em Natanz é subterrânea. Ela foi construída no interior de
uma montanha, há cerca de 70 m de profundidade. Nem mesmo a mais
poderosa bomba israelense, a GBU-28, seria capaz de avançar a tal
profundidade.
Intervenção americana improvável
Se, por um lado, os Estados Unidos insistem que Israel mostre moderação com relação ao Irã, por outro o presidente Barack Obama enfatizou estar mantendo todas as opções em aberto com relação a Teerã. Com a ajuda dos EUA, tudo muda: os porta-aviões americanos resolvem a questão da distância, e as bombas antibunker dos EUA são efetivas mesmo diante de 65 m de concreto.
Se, por um lado, os Estados Unidos insistem que Israel mostre moderação com relação ao Irã, por outro o presidente Barack Obama enfatizou estar mantendo todas as opções em aberto com relação a Teerã. Com a ajuda dos EUA, tudo muda: os porta-aviões americanos resolvem a questão da distância, e as bombas antibunker dos EUA são efetivas mesmo diante de 65 m de concreto.
No entanto, especialistas afirmam que o
enorme poder militar americano poderia pesar contra uma decisão de
Washington de lançar um ataque preventivo ao Irã, já que ele
inevitavelmente levaria a um conflito maior.
"Os americanos estão mais propensos a
avançar sobre as defesas aéreas iranianas, mas também sobre os recursos
do Irã que poderiam ser utilizados numa retaliação, de modo que poderiam
ficar tentados a tomar algumas das instalações navais iranianas", disse
Chalmers. "É provável que um ataque americano alcançasse uma escala
muito maior e haveria muito mais vítimas, incluindo civis. Seria difícil
para o Irã armar uma retaliação, mesmo que limitada."
Mas, depois de ter retirado os soldados
americanos do Iraque em 2010, é improvável que Obama envolva forças dos
EUA em outro grande conflito no Oriente Médio nos próximos tempos.
Modelos alternativos
Alguns especialistas questionam a utilidade de um ataque preventivo, dizendo que isso apenas conteria, mas não acabaria com a atividade nuclear iraniana. "Tudo o que se faria nesses casos é postergar o problema", diz Deptula. "Não se chegaria à causa subjacente do problema, que é o atual regime iraniano."
Alguns especialistas questionam a utilidade de um ataque preventivo, dizendo que isso apenas conteria, mas não acabaria com a atividade nuclear iraniana. "Tudo o que se faria nesses casos é postergar o problema", diz Deptula. "Não se chegaria à causa subjacente do problema, que é o atual regime iraniano."
Em vez disso, talvez a melhor opção para
Washington fosse apoiar e auxiliar grupos rebeldes iranianos a derrubar o
governo atual de maneira semelhante ao que ocorreu com a Aliança do
Norte no Afeganistão, em 2001, e com as forças contra Kadafi na Líbia,
em 2011.
"Cada situação é diferente, mas há
importantes vertentes de oposição no Irã, assim como há algumas
vertentes significativas fora do Irã que se opõem ao regime atual",
afirma Deptula. "A mais óbvia é o Mujaheddin-e-Khalq (MEK), um grupo de
oposição que está no Iraque, com cerca de 3,4 mil pessoas."
O MEK é um grupo paramilitar formado por
muçulmanos sunitas, descontentes com o regime de domínio xiita em Teerã.
O governo iraquiano, agora também predominantemente xiita, quer
expulsar o grupo do Iraque. Os Estados Unidos listam o movimento
oficialmente como uma organização terrorista.
"O MEK precisa ser removido dessa lista,
e, então, poderia fornecer iranianos que apoiariam a remoção do regime
atual", diz Deptula. "Ninguém discutirá tais detalhes em público, mas é
esse tipo de modelo que representa uma possibilidade", avalia o
especialista.http://www.defesanet.com.br/geopolitica/noticia/5291/Entenda-as-dificuldades-de-um-ataque-aereo-israelense-ao-Ira
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