10/4/2012, Pepe Escobar,
Asia Times Online, The Roving Eye blog
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Antes
de bombardear e invadir o Iraque, o ex-presidente dos EUA George W Bush enviou
um ultimato a Saddam Hussein.
Nove
anos depois, o presidente dos EUA Barack Obama enviou um ultimato à liderança em
Teerã, antes de... decidir sobre condições ótimas para um exercício de “todas as
opções permanecem sobre a mesa”.
Obama
fez uma oferta a Teerã, para “negociar” seu programa nuclear – antes das muito
adiadas conversações dos “Irã-6” (P5+1, os cinco membros permanentes do
Conselho de Segurança da ONU [EUA, Reino Unido, China, Rússia e
França] plus Alemanha) com o Irã, marcadas para o sábado, em
Istambul.
Para
início de conversa, não é “oferta”: é uma lista de exigências, apresentadas já
antes do início de qualquer negociação. E as tais concessões “de curto prazo”
vêm em embalagem – nos termos da retórica do próprio presidente – de a “última
chance” (para o Irã).
Nos
tempos modernos, chamava-se a isso “ultimato”. Na era pós-tudo, passa por
“diplomacia internacional”.
Obama
quer que Teerã feche e, de fato, destrua, a usina de enriquecimento em Fordow,
construída sob uma montanha, nas cercanias da cidade sagrada de Qom; quer que
Teerã renuncie definitivamente e “entregue” todo seu estoque de urânio
enriquecido a 20%; que pare qualquer tipo de enriquecimento, mesmo o inofensivo
urânio enriquecido a 5% (o que implica o Irã renunciar integralmente a todo o
seu programa nuclear civil, ao qual o Irã tem pleno direito, nos termos do
Tratado de Não Proliferação Nuclear); que dê à Agência Internacional de Energia
Atômica (AIEA) acesso pleno a todas as instalações nucleares iranianas (o que o
Irã já fez); e que o Irã permita que os inspetores da AIEA falem com todos os
principais cientistas nucleares iranianos (o que nunca será possível, porque
vários deles foram assassinados pelo Mossad, de Israel).
Assim sendo, bem-vindos à escola
“caia e morra” de diplomacia – aperfeiçoada pelo governo Obama, com o impulso
decisivamente importante que recebe do lobby pró-Israel em Washington. É
o caminho que leva direto ao inferno, ao som de “Bombas, Bombas, sobre o
Irã”
[1].
Mais
uma guerra para o 1%
Não
surpreende que os proverbiais “funcionários de Israel” estejam adorando que o
Irã – em fala do primeiro-ministro – já tenha rejeitado todas essas exigências,
consideradas “irracionais”; Telavive avaliou que a resposta dos iranianos é
“boa”.
“Boa
resposta” significa que a lista de exigências e a correspondente resposta dos
iranianos já mostra que as conversações fracassarão inevitavelmente – e esse
fracasso é indispensável para o bom andamento da estratégia de Israel. Adiante,
Obama pode usar (e usará) o fracasso das negociações como desculpa perfeita para
aplicar sanções ainda mais duras – e sabe-se lá o que mais
aplicará.
O
aparelho oficial israelense já trabalha há meses, para operar completa lavagem
cerebral na opinião pública israelense, norte-americana e europeia, a favor de
guerra contra o Irã por todos os meios necessários. Para tanto, se serviram de
todos os recursos imagináveis, de uma “ameaça existencial” que é puro
nonsense, à iminência de um “segundo Holocausto”.
Agora,
a discussão sobre Fordow está ligada a mais uma ideia turva inventada e
distribuída por Israel – a chamada “esfera de imunidade”. Telavive insiste que
Fordow permitirá que Teerã proteja os elementos mais sensíveis de seu programa
nuclear dentro, literalmente, de uma montanha – inalcançável até pelas poderosas
bombas arromba-bunker Guided Bomb Unit 28, GBU-28 (as quais, vale
lembrar, foram vendidas a Israel por autorização de
Obama).
Tudo
isso é absoluto nonsense. Telavive inventou essa “esfera de imunidade”
como cortina de fumaça, depois de já haver atividade nuclear para finalidades
civis, sob supervisão da AIEA, em Fordow.
Contudo,
mais uma vez, o rabo sacode o cachorro: Washington continua controlada por
Telavive, por controle remoto.
Pesquisas
mostraram que uma maioria de israelenses – em fabulosa mostra de... altruísmo? –
só desejam guerra ao Irã, se o Grande Irmão norte-americano tomar a frente (para
sofrer as consequências mais terríveis). E pouco importa que a nebula da
inteligência de Israel esteja, ela própria, dividida.
O
contexto é chave. Os 500 israelenses mais ricos valem, arredondados, $75
bilhões. Isso, num país em
que o PIB é de apenas $205 bilhões.
As
20 famílias israelenses mais ricas controlam praticamente metade do mercado de
ações. A riqueza dessas 20 famílias somadas alcança total 25% superior ao
orçamento israelense para 2011. Adivinhem quem são: os principais apoiadores da
coalizão dos partidos Likud e Ysrael Beitenu que está no poder, com o
primeiro-ministro Benjamin “Bibi” Netanyahu no comando (o partido Ysrael
Beitenu, “Israel Nosso Lar”, é comandado pelo ex-leão-de-chácara na Moldávia,
convertido em ministro de Negócios
Estrangeiros, Avigdor Lieberman).
São,
pois, os 1% em Israel, que querem guerra ao Irã – tanto quanto umas poucas
garfadas do crème de la creme do 1% nos EUA.
A
ideia que se esconde por trás dessa sinistra “negociação” nuclear é vender à
opinião pública nos EUA – e em todo o mundo – a noção de que o Irã, mais uma vez
estaria fugindo de qualquer conversa; que tem muito a esconder; e que, em
resumo, não merece confiança alguma para nenhum tipo de negociação
“séria”.
A
imprensa-empresa nos EUA já descartou preventivamente as negociações, com os
mísseis retóricos de sempre – para delícia dos doidos-por-guerra, das poltronas
do Congresso dos EUA e de vastos setores do complexo industrial-militar. A
multidão do “Bombardear o Irã já” fará o possível e o impossível para fundir,
num só alarido, a “última chance” de Obama e os estrondosos, ensurdecedores,
tambores de guerra.
Notas
dos tradutores
[1] “Bomb Iran” (ou “Bomb, Bomb, Bomb, Bomb,
Bomb Iran”) dá título a várias paródias da canção “Barbara Ann”,
tornada famosa pelos The Beach Boys. A
mais conhecida daquelas paródias foi gravada por Vince Vance & The Valiants
em 1980; a paródia voltou a ganhar notoriedade em 2007, na campanha presidencial
de John McCain, que se ouve, cantando, a seguir:
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