Série de escândalos bancários põe economia britânica na berlinda
Lavagem de dinheiro no HSBC e fraude no Barclays, bancos com sede em Londres, detonam crise no setor
Roberto Almeida/Opera Mundi
O sistema financeiro londrino chacoalhou depois que o HSBC, o maior banco do país, foi acusado pelo Senado dos Estados Unidos de lavar dinheiro para o narcotráfico mexicano, mafiosos russos e para a al-Qaeda. Some-se a isso a fraude no Barclays, o segundo maior do país, cujos executivos manipularam taxas de juros, para compor um cenário sombrio, com possíveis reflexos na economia britânica.
[Adesivo chama Bob Diamond de "mentiroso" e faz referência à taxa Libor]
Os bancos sediados em Londres, como HSBC e Barclays, geraram receita de 32 bilhões de libras esterlinas (cerca de 100 bilhões de reais) para os cofres britânicos em 2010, dinheiro suficiente para aliviar quase metade do déficit da balança comercial do Reino Unido com a Europa. Eles são considerados imprescindíveis pelo governo do premiê David Cameron, do Partido Conservador, que preferiu romper com a União Europeia no final do ano passado a aumentar taxas e controles sobre suas operações.
Os dois escândalos financeiros, revelados em um espaço de três semanas, mostram como a condução dos bancos, em suma, relativizou controles internos e externos visando o lucro. Enquanto transações suspeitas, com base em leis internacionais, eram ignoradas pelo HSBC entre 2001 e 2008, o Barclays passou de 2007 a 2012 mentindo sobre sua liquidez para dizer-se mais sólido do que realmente era.
As multas estimadas em um bilhão de dólares para o HSBC e em 200 milhões de libras esterlinas para o Barclays derrubaram seus principais executivos, mas não são a resposta definitiva a tamanha “humilhação”, como apontam os principais jornais do Reino Unido nesta quarta-feira (18/07). Duras sanções e protestos populares parecem ser os próximos capítulos dessa crise bancária. As imagens dos bancos saem arranhadas como nunca.
Nas ruas de Canary Wharf
No último sábado, manifestantes atiraram bombas químicas e estouraram champagnes na sede do Barclays, em Canary Wharf, centro financeiro de Londres. Seu principal executivo, o norte-americano Bob Diamond, virou alvo principal dos manifestantes, que tentam mostrar em meio à aridez de tantas siglas e conceitos econômicos como a manipulação da Libor (London Interbank Offered Rate), uma taxa referencial de juros, poderia ter destruído as economias de milhares de pessoas.
Antes de ser desmascarado, Diamond era tratado como herói por ter levantado o Barclays de um desempenho medíocre para se tornar uma das principais instituições financeiras do mundo. O banco, por exemplo, passou a patrocinar o campeonato de futebol inglês, a Premier League, e obteve um crescimento excepcional em 2009 com a compra de ativos do falido Lehman Brothers, classificado como “negócio do século”.
Descontrole no HSBC
As 340 páginas do relatório norte-americano mostram que tudo começou com a prisão de Zhenli Ye Gon, o maior importador de produtos farmacêuticos do México. Ele tinha 205 milhões de dólares escondidos em casa, além de armas e munições, na maior apreensão de dinheiro vivo da história.
Ye Gon, de acordo com o relatório, era cliente da filial mexicana do HSBC, o HBMX, e vendia produtos químicos para cartéis mexicanos, que produziam metanfetaminas, então contrabandeadas para os EUA. Mesmo tendo notado transações bancárias suspeitas, funcionários do banco fizeram vistas grossas e mantiveram-no cliente, sem perturbá-lo.
A falta de controles levou a investigações sobre outras operações de clientes, o que resultou em uma “rede de lavagem de dinheiro internacional”. O chefe de compliance do HSBC, David Bagley pediu desculpas e demissão. “Reconheço que houve falhas em áreas significativas”, afirmou. Dados indicam que os “buracos” na fiscalização eram conhecidos há anos.
O próximo destino dos manifestantes, após a acusação do Senado dos EUA, deve ser o quartel-general do HSBC, também em Canary Wharf. O momento é propício, já que a Olimpíada começa em nove dias e os olhos estão voltados para Londres. O setor financeiro, convenientemente, fica a apenas três estações de metrô do Parque Olímpico.
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