Mahmoud Ahmadinejad acena para a população ao chegar ao Líbano, onde foi recebido por milhares de pessoas - Foto: EFE
O fluxo de militantes xiitas do Líbano e do Iraque rumo à Síria para lutar ao lado das forças do ditador Bashar Assad contra rebeldes vem crescendo com o endurecimento da guerra no país.
Assad pertence ao ramo alauíta do islã, que é ligado aos xiitas.
"Homens estão sendo enviados à Síria pelo Hizbollah, todo mundo sabe disso aqui. Mas é discreto. O grupo não comenta isso oficialmente", confirmou Mohammed, um ex-guerrilheiro do grupo armado xiita. O jovem é morador do subúrbio de Dahya, em Beirute, onde fica sediado o Hizbollah.
Procurada pela reportagem da Folha por telefone, a assessoria de imprensa do grupo, que também é um partido político, afirmou que não comenta o assunto. "Desde a explosão da bomba na praça Sassin [em 19 de outubro, que matou o chefe de inteligência libanesa], o Hizbollah não responde a nenhuma pergunta da imprensa, principalmente da mídia internacional", contou o fotojornalista Issam Abdallah.
Sunitas e cristãos de direita acusam o Hizbollah e a Síria de estarem por trás do atentado. A explosão do carro-bomba foi estopim de protestos e confrontos violentos entre sunitas e xiitas.
Na semana seguinte, pelo menos sete pessoas morreram e dezenas ficaram feridas.
Em outubro, o jornal "The New York Times" também publicou reportagem mostrando que xiitas iraquianos estavam sendo enviados à Síria, via Teerã. Na capital iraniana eles receberiam treinamento e equipamento, antes de serem transportados a Damasco, por aviões.
"Outros pegam ônibus na cidade sagrada de Najaf (Iraque), sob o pretexto de realizar uma peregrinação a mesquitas xiitas em Damasco", afirma o texto.
Há meses, vários santuários xiitas na Síria são protegidos por iraquianos armados, incluindo a mesquita de Zeinab, onde estariam os restos mortais da neta de Maomé. Segundo o "New York Times", o Irã e a Síria estariam promovendo o recrutamento de jovens guerrilheiros no Iraque. O mesmo esquema estaria em curso no Líbano.
FUTURO EM JOGO
"Eles fornecem armas, equipamentos e arranjam detalhes da viagem. Muitos jovens aqui se voluntariam para ir", disse Mohammed. Segundo ele, cada vez mais os xiitas veem a guerra na Síria (em que uma maioria sunita luta contra o governo alauíta, um ramo do xiismo) como uma batalha pelo futuro da fé xiita.
Os xiitas querem fazer frente ao avanço sunita no conflito. Registros da atuação de grupos salafistas (extremistas sunitas) e da rede terrorista Al Qaeda na Síria são crescentes. O apoio financeiro abertamente declarado aos rebeldes pelos governos sunitas dos países do golfo Pérsico também é visto como uma ameaça.
Alguns xiitas devotos também acreditam que o conflito na Síria pode ser o início da concretização de uma profecia muçulmana que prevê o fim dos tempos. Um Exército, liderado por um demônio chamado Sufyani, irá dominar a Síria e depois o Iraque antes do fim do mundo.
"Que Bashar Assad saia vencedor do complô internacional que a Síria está sofrendo", bradou Ali, 23, durante discurso em um casamento xiita de amigos recentemente, em Tyr, no sul do Líbano. A maioria dos convidados aplaudiu. Garçom em uma rede de cafés em Beirute, ele apoia o governo sírio, mas não quer se envolver na luta. "Não pegaria em armas ou iria à Síria para combater, não sou um guerrilheiro", afirmou Ali.
A pintora síria Rania, 31, também xiita, prefere manter distância ainda maior do conflito. Refugiada em Beirute desde o acirramento do conflito em Damasco, ela se nega a misturar guerra e arte. "Odeio política, não quero me envolver. Para mim, é como uma doença e não vou mudar o que pinto porque há mortes no meu país, não vou colocar sangue no meu trabalho", disse à Folha em uma galeria no bairro de Hamra, onde seu trabalho recentemente foi exposto.
"Acho que uma revolução não violenta é o único modo de mudar qualquer coisa. Violência produz violência", acrescentou.
CONFLITO SECTÁRIO
Nos últimos meses, a ONU, a ONG Human Rights Watch e a Cruz Vermelha denunciaram vários episódios de perseguição de xiitas iraquianos e de refugiados palestinos na Síria -o que sinaliza avanço do fator sectário no conflito.
Desde março de 2011 o país está em guerra civil, com forças rebeldes pedindo a saída de Assad.
NYT e outras agências
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