segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A propósito da descida dos juros 28/01/2013

por Guilherme da Fonseca-Statter [*]
Gaspar regressa aos mercados. O total dos capitais financeiros escondidos nos refúgios fiscais já tem sido estimado – num cálculo prudente e por várias entidades – em qualquer coisa como 20 a 30 milhões de milhões de dólares. O PIB de um país como Portugal é de aproximadamente 250 mil milhões de dólares. De todo aquele capital financeiro, muito é "capital fictício" (também criado ardilosamente pelos executivos dos bancos privados por esse mundo fora...), mas não deixa de representar poder de compra e eventuais títulos de propriedade de coisas mais palpáveis do que o dinheiro...

Ou seja, o dinheiro todo que está escondido nos tais refúgios fiscais (desde a City of London, às diversas ilhas tropicais, passando por Hong-Kong e outros locais menos exóticos, como o Luxemburgo ou a Suíça...) é mais ou menos equivalente a 80 a 120 vezes o PIB de Portugal.

Ora acontece que todo aquele capital financeiro precisa de ser aplicado... Os seus proprietários e respectivos gestores não gostam de ver todo aquele dinheiro parado...

Por outro lado as grandes e muito grandes empresas continuam a declarar lucros (algumas um pouco menos do que antes, mas lucros...) e portanto a acumular excedentes. Esses excedentes, nas mãos dos respectivos gestores e executivos são em parte para aplicar em investimentos e projectos que "já vêm de trás..."; ou seja "estavam previstos e ou planeados a prazo"...

Por outras palavras, muitas das grandes e muito grandes empresas não precisam para nada de "dinheiro adicional". Quando muito precisam que os bancos – alguns bancos – as "ajudem" na gestão de carteiras de títulos, processos de aglomeração empresarial e de fluxos financeiros.

No que diz respeito às colossais fortunas (muitas delas confiadas a fundos de investimento) que estão escondidas nos tais refúgios fiscais, essas sempre continuam e continuarão à procura de "aplicação" minimamente rentável. Mas, como continuam a escassear as oportunidades para "aplicar" esse dinheiro em investimentos produtivos (na chamada economia real...), então, o mais natural é que pensem, "do mal, o menos... Vamos lá emprestar algum desse dinheiro a países como Portugal". Se ainda por cima houver umas entidades com o aval de um país com excedentes comerciais (a Alemanha, o BCE e o FEEF...) então "vamos a isso"...

Nessas circunstâncias, aumentando a oferta de dinheiro para emprestar, o mais natural é que o seu preço (os juros...) desça. E entretanto, no meio dessa onda de âmbito global, e como é natural, os espertos que nos (des)governam aproveitam logo para dizer qualquer coisa como "é porque nós somos bem comportados que eles nos emprestam dinheiro a juros mais reduzidos"... Presunção e água benta...
25/Janeiro/2013
Ver também:
  • Vitória do marketing!
  • Viva! – Regressámos aos mercados

    O original encontra-se em http://umoutroparadigma.blogspot.pt/

    [*] Doutorado pelo ISCTE, autor de O preço das coisas .


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

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