Alunos de SP montam satélite que será lançado em 2013 nos EUA
POR GIULIANA MIRANDA
Bruna Sakamoto já fez cursos de
eletrônica, tem certificação para soldar componentes nas especificações
da Nasa e trabalha na construção de um satélite. Ela é uma engenheira
experiente? Não, é uma aluna de 13 anos do ensino fundamental.
Assim como ela, outros 16 alunos da
Escola Municipal Tancredo Neves, em Ubatuba, revezam-se entre as tarefas
escolares e a construção de um nanossatélite.
O grupo, com integrantes de 12 a 15 anos,
está entre os mais jovens do mundo a participar integralmente de um
projeto espacial. A ideia foi do professor de matemática Candido de
Moura, após ler uma reportagem sobre a venda de kits para satélites.
“Achei que seria uma boa oportunidade
para ensinar ciência na prática. Eu só não imaginava que fosse ser tão
complicado!”, diz ele.
A Interorbital, empresa da Califórnia que
vende os kits, adorou a ideia de ter um grupo tão jovem, sobretudo
vindos de uma escola pública do Brasil -a maioria dos interessados nos
chamados TubeSats são alunos de pós-graduação em engenharia.
A companhia, porém, alertou para as dificuldades.
“O kit não é uma caixinha com todas as
peças, em que você só precisa juntar tudo. Ele contém apenas o projeto,
os componentes eletrônicos principais e o direito de lançamento. Todo o
resto teria que ser desenvolvido pelos alunos”, explica o professor.
Ou seja: as crianças precisariam
preencher basicamente o “recheio” do satélite que, apesar do tamanho
–pesa 750 g e é mais ou menos do tamanho de uma lata de leite em pó–
necessita de tecnologia de ponta.
Afinal, o espaço é um ambiente inóspito
para os componentes eletrônicos. Além da radiação cósmica, as grandes
variações de temperatura também são um problema.
Um empresário da cidade doou os US$ 8.000
para a compra do kit. O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais) também abraçou o projeto. Além de ministrar cursos para os
professores, o instituto ainda permite o uso de suas instalações no
projeto.
Pesquisadores do Inpe também ajudam nos
experimentos das crianças, que já fizeram vários cursos e aprenderam na
prática conceitos de física que ainda estão distantes do currículo
escolar.
“Nós acabamos aprendendo muita coisa
antes de ver em sala de aula”, diz Bruna, que assim como seus colegas
fala com naturalidade sobre a interferência da eletricidade estática no
equipamento.
Batizado de Tancredo 1, o dispositivo
ficará três meses em órbita. Ele transmitirá uma mensagem –a ser
escolhida em um concurso– que poderá ser captada por rádio.
O lançamento está previsto para o início de 2013. Imprevistos, porém já adiaram essa data desde 2010, quando o projeto começou.
“Atrasos sempre acontecem nos programas
espaciais”, diz o professor, que, já começa os esforços para montar um
novo satélite. Dessa vez, com alunos ainda mais jovens da escola.
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