A suspensão do Paraguai no Mercosul
levará Brasil, Uruguai e Argentina a aprovar, na reunião de cúpula, que
começa amanhã, uma resolução para permitir a entrada em vigor de
decisões aprovadas apenas pelos três sócios restantes no bloco. A
medida, a ser tomada para evitar a paralisação do grupo, pode resultar
na aprovação definitiva da entrada da Venezuela como sócio pleno do
Mercosul. O tema foi discutido durante a preparação do encontro de
ministros a se realizar na quinta-feira. Segundo informações vindas da
Argentina, o governo brasileiro parece disposto a sancionar a medida.
A decisão de aprovar medidas sem a
anuência do Paraguai é defendida com o argumento de que, sem ela, quem
seria punido seria o Mercosul, impedido de tomar decisões enquanto durar
a crise com os paraguaios, provocada pela deposição do presidente
Fernando Lugo, por “mau desempenho” no governo.
Na cúpula, em Mendoza, Argentina, deve
entrar em vigor a nova lista de 100 produtos em cada país com tarifas
mais altas que a Tarifa Externa Comum, autorizada na última reunião de
cúpula do bloco, em dezembro. A entrada da Venezuela no Mercosul,
aprovada há seis anos em uma cúpula presidencial, foi uma proposta
original do Uruguai e Argentina, para contrabalançar o peso do Brasil.
Aprovada nos Congressos dos três países, aguardava a decisão do Senado
paraguaio, que resistia à medida.
A decisão dos senadores paraguaios, na
sexta-feira, de depor o presidente Fernando Lugo em rito sumário e a
consequente reação dos sócios, expulsando o Paraguai do bloco, levou os
sócios a decidiram suspender O Paraguai do bloco. Há autoridades até no
governo brasileiro defendendo que a entrada da Venezuela seria uma
resposta à falta de atenção dos senadores paraguaios aos apelos por mais
cuidados no processo de impeachment de Lugo.
No fim de semana, diplomatas brasileiros
argumentavam que avançar no processo de incorporação da Venezuela nesse
momento seria misturar assuntos e prejudicar a clareza da mensagem em
favor da democracia no continente, que se pretendia dar com a suspensão
do Paraguai. O impulso dado à medida, nas negociações desta semana em
Mendoza, indicam que essa preocupação não é compartilhada em outras
esferas do governo.
A antecipação das eleições do Paraguai,
marcadas para março, seria a solução preferida entre sócios do Mercosul
para o impasse com os paraguaios, na avaliação de integrantes do governo
brasileiro. A ideia, defendida pelo presidente do Uruguai, José Mujica,
ganhou força ontem com a manifestação do presidente da Colômbia, o
conservador Juan Manuel Santos, também em defesa da antecipação das
eleições.
A presidente da Argentina, Cristina
Kirchner, na presidência temporária do Mercosul, tem sido uma das
maiores defensoras do isolamento político do Paraguai em reação ao
impeachment de Lugo. A iniciativa argentina, na segunda-feira, de
televisionar uma teleconferência entre Cristina, Dilma, Mujica e o
presidente da China, Wen Jiabao, foi entendida no Brasil como um alerta
ao Paraguai – um dos entusiastas do acordo de livre comércio com a China
– sobre os prejuízos ao país com a suspensão do bloco.
A Argentina, apesar de promover medidas
protecionistas, como a retenção na fronteira de mercadorias do próprios
sócios do Mercosul, é entusiasta de um acordo com a China. seria uma
forma de mostrar que tem parceiros de peso no cenário internacional,
segundo avalia um diplomata brasileiro.
Os chineses queriam até iniciar
negociações para um tratado de livre comércio. Enfrentaram resistência
velada do Brasil, que prefere tratar com o país em discussões bilaterais
e rejeita iniciativas para um acordo comercial – visto como ameaça por
associações industriais brasileiras.
Sem decisões de muita importância a
tomar, a cúpula em Mendoza caminhava para ter como destaque as
tratativas com os chineses, que, por influência brasileira,
transformaram-se em acordo de aliança estratégica, jargão diplomático de
poucos efeitos práticos. A deposição de Lugo, às pressas e a poucos
meses das eleições no Paraguai, alterou as prioridades e impôs aos
governos do Mercosul a discussão sobre como lidar com um bloco que, pela
primeira vez, terá suspenso um de seus sócios originais. Temas mais
delicados, como o fim da dupla cobrança da Tarifa Externa Comum, que
enfrenta posição do governo paraguaio, devem ser adiados. Mas a
movimentação para entrada da Venezuela mostra que a suspensão não será
inócua para o Paraguai.
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