Ibrahim Alzeben, embaixador palestino no Brasil, falou com a reportagem do Portal Vermelho sobre o pedido de reconhecimento do Estado da Palestina na ONU, feito nesta sexta-feira (23) por Mahmud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina.
Operamundi O embaixador palestino Ibrahim Alzeben, durante ato em São Paulo
Alzeben renovou as críticas à administração Obama, que prometeu vetar o reconhecimento do Estado da Palestina no Conselho de Segurança das Nações Unidas, afirmando que Obama deixou muito a desejar e praticamente lavou as mãos, renovando a autorização não escrita à Israel para que fizesse o que quiser com os palestinos.Portal Vermelho: Por que a Palestina pediu o reconhecimento do Estado neste momento?
Ibrahim Alzeben: Porque o processo de negociações, ao longo de 18 anos, só teve resultados negativos. Tivemos mais ocupação, mais Muro da Vergonha, mais colônias, o bloqueio contra Gaza. Tivemos a ocupação de Jerusalém, a destruição de casas. Israel armou os colonos. Esse processo, que deveria terminar em um estado independente da Palestina, cada vez torna menos possível e viável a criação do Estado palestino.
Hoje temos a Primavera Árabe, os povos se lançam às ruas exigindo justiça, independência, democracia. Por sua vez, o povo palestino exige o fim da ocupação. E nós estamos em sintonia com os desejos do povo.
PV: O que achou dos discursos de Dilma e de Obama?
Ibrahim: Foram duas coisas diferentes. A presidente Dilma expressou a alma solidária, consciente do povo brasileiro. Quanto ao presidente Obama, realmente deixou muito a desejar, porque não agiu como deve agir uma superpotência, o resultado é deixar as mãos livres a Israel: "Façam o que quiserem que nós apoiamos vocês".
Isto não estiumula a paz, pelo contrário, estimula a linha dura da política de Israel, contra o direito internacional. Foi uma atitude desafortunada.
PV: Os Estados Unidos já anteciparam que vão vetar a aspiração palestina...
Ibrahim: Cada vez mais os EUA e Israel estão sozinhos, cada vez mais existe o isolamento, por que não estão em sintonia com o sentimento popular internacional, por não sentir o decoro político.
PV: E o que significaria um Estado não-membro da ONU para a Palestina?
Ibrahim: É simples: temos direito à voz, mas não temos direito a voto dentro da organização.
PV: O que o embaixador acha que acontecerá depois?
Ibrahim: Vamos seguir construindo a infraestrutura do nosso estado, sob condições mais difíceis ainda, vamos seguir batendo às portas da ONU e de seus organismos correspondentes e não vamos claudicar. Continuaremos lutando, até conseguir nosso direito legítimo, consagrado pelo direito internacional e pela Carta Magna da ONU, que é o direito sagrado à autodeterminação dos povos.
PV: A iniciativa palestina pode gerar violência e retaliação por parte dos EUA e de Israel?
Ibrahim: Sem dúvida a atitude que esses dois estados têm já é de agressão. O fato dos Estados Unidos "lavarem as mãos" e dizerem "negociem", sabendo que as tais negociações nunca deram certo, é obviamente manter as portas abertas para maiores agressões e maiores repressões por parte de Israel. Isso já vem acontecendo, os sinais já estão visíveis, por exemplo, a partir do momento que Israel arma os colonos, que passaram a agredir diariamente os palestinos.
Israel pretende, com isso, que os palestinos tomem alguma reação em retaliação aos ataques, para que possam dizer que somos os "agressores" e que não é possível conviver com os palestinos. Eles estão no empurrando para o confronto, algo que temos evitado. Nossa decisão soberana é não cair na provocação deles. Mas não sei até quando, obviamente.
PV: Qual é o grande obstáculo nas negociações com Israel?
Ibrahim: Posso dizer em duas palavras? A política de Israel. Israel quer paz, mas com as terras palestinas vazias. Quer uma Palestina sem palestinos e, no melhor dos casos, quer moradores, que serão mão de obra barata, praticamente escrava de Israel, isolados e rodeados por colonos judeus.
Isto é, querem uma palestina sem palestinos ou, no melhor dos casos, para eles, palestinos subjugados. Isso Israel jamais vai conseguir.
De São Paulo,
por Humberto Alencar e Joana Rozowykwiat
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