La Vanguardia
O general Mikhail Kalashnikov está muito idoso, com 91 anos, e sua saúde pode piorar se receber más notícias. Por isso ontem toda a Rússia compartilhava um segredo que ninguém quis lhe contar ainda: que o exército russo decidiu deixar de comprar o famoso fuzil de assalto que o militar inventou há 64 anos. O Ministério da Defesa deixou de assinar novas encomendas do AK-74 série 100, o último modelo de fuzis Kalashnikov, que começaram com o primeiro desenho, o mítico AK-47.As guerras não são mais o que eram, e chegou o momento de o fuzil de assalto mais famoso do mundo ser modernizado. O chefe do Estado-Maior russo, general Nikolai Makarov, disse à imprensa que as forças armadas já têm armas demais desse tipo em seus arsenais, em um tempo em que essa geração de fuzis deixou de responder às exigências atuais de combate. Um parente de Kalashnikov, cujo nome não foi divulgado, disse ao jornal "Izvestia" que não se atreveram a lhe dar a má notícia. "Não quisemos ter sobre nós essa responsabilidade. Ouvir isso poderia matá-lo."Makarov explicou que o exército russo precisa de armas mais modernas. Os novos desenhos já estão nas mesas de trabalho da fábrica de Izhevsk, a cidade onde são fabricados os Kalashnikov e onde o veterano inventor e general passou grande parte de sua vida. A fábrica de Izhevsk já anunciou que está preparada para apresentar um fuzil de quinta geração.A direção da fábrica disse que no final de 2011 estará pronta uma nova arma com as exigências e as características pedidas pelo Ministério da Defesa. Segundo a agência de notícias Interfax, depois dessa modernização a fábrica estará outra vez disposta a dar ao exército russo seus inseparáveis AK. No entanto, a substituição dos fuzis existentes será feita aos poucos, já que, segundo os especialistas, estarão em boas condições por mais 15 ou 20 anos. Makarov descartou novas encomendas antes de 2014.Entre as deficiências do atual modelo AK, os especialistas citam sua precisão insuficiente em grandes distâncias, a ausência de abertura no carregador, uma empunhadura não ergonômica, a dificuldade para colocar peças complementares e seu peso elevado. O fuzil de assalto Kalashnikov é uma arma para guerras de grande escala, com mobilização das forças de reserva. No entanto, as necessidades dos exércitos atuais mudaram substancialmente.Hoje as forças armadas se orientam para operações militares reduzidas em conflitos regionais em tempos de paz. Por isso, de um ponto de vista teórico, a Rússia precisa de outra arma, explica Viktor Murajovski, coronel aposentado que trabalhou no alto comando do exército. Como prometem na fábrica de Izhevsk, capital da República da Udmúrtia, a 1.225 quilômetros a leste de Moscou, o novo Kalashnikov terá características táticas e técnicas melhores que o modelo anterior, e também será mais ergonômico. Como todos os modelos AK, não perderá sua principal característica, a confiabilidade.Os novos fuzis não só serão destinados ao exército russo, como também à exportação. De fato, a série 100 do AK-74 continua sendo fabricada para venda fora do país. Mas dentro da Rússia continuam sendo enviados às tropas do Ministério do Interior e às forças especiais.O AK-74 começou sua carreira em 1974. Depois sofreu duas modificações: em 1991 foi criada a série AK-74M. E em 2001 foi incorporada uma placa que permite fixar equipamentos auxiliares, como indicadores a laser. Esse é o AK-74 série 100 fabricado hoje.
Mikhail Kalashnikov, um ex-recruta do Exército Vermelho, conheceu as deficiências das velhas carabinas soviéticas durante o combate contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Terminada a disputa, inventou um fuzil do qual foram vendidos mais de 100 milhões de exemplares em todo o mundo. Sua confiabilidade (é muito difícil de emperrar) e sua adaptação a todos os climas o transformaram no preferido de guerrilhas e exércitos durante a segunda metade do século 20.
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