Da Rede Brasil Atual
Protesto deve ser realizado na
próxima quarta-feira (3); ideia é aproveitar efervescência política para
pautar democratização da mídia
Gisele Brito
Movimentos que defendem a
democratização dos meios de comunicação realizaram na noite de ontem
(25) uma plenária no vão livre do Masp, na Avenida Paulista, em São
Paulo, para traçar uma estratégia de atuação. A ideia é aproveitar o
ambiente de efervescência política para pautar o assunto. Concretamente,
cerca de 100 participantes, decidiram realizar uma manifestação diante
da sede da Rede Globo na cidade, na próxima quarta-feira (3).
A insatisfação popular em relação à mídia foi marcante nas recentes
manifestações populares em São Paulo. Jornalistas de vários veículos de
comunicação, em especial da Globo, foram hostilizados durante os
protestos. No caso mais grave, um carro da rede Record, adaptado para
ser usado como estúdio, foi incendiado.
Na plenária de ontem, o professor de gestão de políticas públicas da
Universidade de São Paulo, Pablo Ortellado, avaliou que os jornais Folha
de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, a revista Veja e a própria Globo,
por meio de editoriais, incentivaram o uso da violência para reprimir os
manifestantes. Mas em seguida passaram a colaborar para dispersar a
pauta de reivindicações que originaram a onda de protestos, ao
incentivar a adoção de bandeiras exteriores à proposta do MPL – até
então restrita à revogação do aumento das tarifas de ônibus, trens e
metrô de R$ 3 para R$ 3,20.
Os movimentos sociais, no entanto, ainda buscam uma agenda de pautas
concretas para atender a diversas demandas, que incluem a democratização
das concessões públicas de rádio e TV, liberdade de expressão e acesso
irrestrito à internet.
“Devíamos beber da experiência do MPL (Movimento Passe Livre) aqui em
São Paulo, que além de ter uma meta geral, o passe livre, conseguiu
mover a conjuntura claramente R$ 0,20 para a esquerda”, exemplificou
Pedro Ekman, coordenador do Coletivo Intervozes. “A gente tem que achar
os 20 centavos da comunicação. Achar uma pauta concreta que obrigue o
governo federal a tomar uma decisão à esquerda e não mais uma decisão de
conciliação com o poder midiático que sempre moveu o poder nesse país”,
defendeu.
"A questão é urgente. Todos os avanços democráticos estão sendo
brecadas pelo poder da mídia, que tem feito todos os esforços para
impedir as reformas progressistas e para impor uma agenda conservadora,
de retrocesso e perda de direitos", afirmou Igor Felipe, da coordenação
de comunicação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
A avaliação é que apesar de outras conquistas sociais, não houve
avanços na questão da democratização da mídia. "Nós temos dez anos de um
processo que resolveu não enfrentar essa pauta. Nós temos um ministro
que é advogado das empresas de comunicação do ponto de vista do
enfrentamento do debate público", disse Ekman, referindo-se a Paulo
Bernardo, da Comunicação.
Bernardo é criticado por ter, entre outras coisas, se posicionado
contra mecanismos de controle social da mídia. "Eu não tenho dúvida que
tudo isso passa pela saída dele. Fora, Paulo Bernardo!", enfatizou
Sérgio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC e coordenador do
programa Praças Digitais da prefeitura de São Paulo.
Amadeu acusa o ministro de estar "fazendo o jogo das operadoras que
querem controlar a Internet" e trabalhar para impedir a aprovação do
atual texto do Marco Civil do setor. "Temos uma tarefa. Lutar sim, para
junto dessa linha da reforma política colocar a democratização",
afirmou.
Rosane Bertotti, secretária nacional de comunicação da Central Única
dos Trabalhadores (CUT) e coordenadora geral do Fórum Nacional pela
Democratização da Comunicação, enfatizou a importância da campanha de
coleta de assinaturas para a proposta de iniciativa popular de uma nova
lei geral de comunicação.
O projeto trata da regulamentação da radiodifusão e pretende garantir
mais pluralidade nos conteúdos, transparência nos processos de
concessão e evitar os monopólios. "Vamos levá-lo para as ruas e recolher
1,6 milhão de assinaturas. Esse projeto não vem de quem tem de fazer – o
governo brasileiro e o Congresso –, mas virá da mão do povo", disse.
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