Do Estadão
Anúncios ocorrem após novo regime automotivo, que motiva marcas
com ambição de vender mais de 5 mil carros por ano a produzir no País
CLEIDE SILVA
O Brasil pode abrigar, nos próximos anos, mais nove fábricas de
automóveis e comerciais leves, caso os projetos anunciados nesta edição
do Salão do Automóvel de São Paulo se confirmarem. A lista é composta,
em sua maioria, por tradicionais marcas europeias e asiáticas que estão
de olho no crescente mercado brasileiro que, na visão de analistas,
poderá tornar-se o terceiro maior mercado mundial de carros.
Muitas delas tinham intenção de chegar ao consumidor brasileiro
apenas via importação, mas o Inovar-Auto, programa anunciado pelo
governo este mês, coloca o carro estrangeiro em desvantagem competitiva,
forçando à produção local as marcas com ambição de vendas acima de 5
mil unidades ao ano.
"Com o novo decreto do governo, quem quiser vender carro no Brasil
terá de produzir aqui ou se limitar a uma cota de até 4,8 mil carros ao
ano", diz um fabricante. Para os importados fora da cota, o Imposto
sobre Produtos Industrializados (IPI) será 30 pontos porcentuais maior,
"o que torna muito difícil a concorrência com carros que não recolhem
esse super IPI".
Na lista das que estudam a produção local estão Audi, Mercedes-Benz,
Land Rover e Volvo, todas do segmento de carros de luxo. Seus produtos
terão de concorrer com a BMW, que na segunda-feira confirmou uma fábrica
em Santa Catarina, num investimento de R$ 550 milhões.
"Temos o desejo de produzir no Brasil, mas anunciaremos uma decisão
até o fim do ano, após a conclusão dos estudos", disse Flávio Padovan,
presidente no Brasil da Land Rover, grupo britânico/indiano.
A chinesa Great Wall, que participa do Salão do Automóvel de São
Paulo pela primeira vez, informou que até dezembro entrega ao governo
proposta de habilitação ao novo regime automotivo e projeto de uma
fábrica local.
"Nossa intenção é iniciar as vendas de modelos importados em meados
de 2013 e, dois anos depois, partir para a produção local", informou
Roberto Someya, da Latin American Motors, representante da Great Wall no
Brasil. Ele calcula em R$ 1,5 bilhão o investimento para o início das
operações locais e na fábrica, que terá capacidade inicial de 50 mil
veículos ao ano. Segundo Someya, a LAM é formada por um grupo de
investidores brasileiros que assumirá todo o projeto.
Outro grupo nacional que estreia no salão com intenção de importar e,
futuramente, produzir quatro marcas de veículos chineses é o S.Auto. A
empresa representa as marcas Changhe, Jonway, Land Wind e Shuanghuan. "A
intenção é produzir no Brasil a partir de 2017", diz Flavio Correia,
diretor da empresa que vai abrir cinco concessionárias em janeiro.
Também já anunciaram fábricas e aguardam detalhamentos do Inovar-Auto
para iniciar obras o grupo Districar e o CN Auto. Ambos assinaram
protocolo de intenções com o governo do Espírito Santo. A Districar
pretende investir cerca de US$ 300 milhões para montar veículos das
marcas as chinesas Changan e Haima e da coreana Ssangyong. Já a CN Auto,
que anunciou uma fábrica para 25 mil veículos em 2014, já adiou o
cronograma para 2015.
Sem aval. A Kia Motors, maior importadora brasileira, reclama que o
governo brasileiro cometeu um "equívoco" ao limitar a cota a 4,8 mil
veículos. Segundo o presidente da empresa, José Luiz Gandini, a Kia, que
importou em média 52 mil veículos nos últimos três anos, tem uma rede
com 172 revendas e emprega 8 mil pessoas. "A regra deveria ser pela
média das importações", reclama.
Gandini tenta há vários anos obter o aval da matriz para a instalação
de uma fábrica no País. "O projeto de uma fábrica local está em
negociação, mas ainda não temos uma definição da Kia Motors
Corporation", disse.
A chinesa JAC Motors confirmou fábrica na Bahia, com investimento de
R$ 900 milhões. A pedra fundamental será instalada em novembro. A Chery
já está em fase de construção de sua unidade em Jacareí (SP), e ontem
anunciou que produzirá na unidade o modelo Celer nas versões hatch e
sedã. O grupo vai investir US$ 400 milhões.
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