A crise
econômica enfrentada na zona do euro pode ser uma chance histórica para os
produtos e as empresas brasileiras firmarem-se no segundo mercado mais rico do
Ocidente. Um exemplo disso é o que está ocorrendo em Portugal, onde o Brasil é
visto como investidor com grande potencial de participação no programa de
privatização de empresas estatais lusitanas. De acordo
com o embaixador do Brasil em Portugal, Mario Vilalva, os dois países vivem “um
momento mágico das relações bilaterais”. “Há uma enorme convergência de
interesses”, completou.A situação é bem distinta da década de 1990. “Houve um momento em
que Portugal ingressa na União Europeia e passa a ver o seu futuro somente
nesse bloco. Portugal se deu conta de que a Europa não é única resposta para o
seu futuro”, disse o diplomata à Agência Brasil.Neste momento de “redescoberta do Brasil”, os portugueses levam em
conta as ambições brasileiras em seu programa de privatizações. “A orientação
da presidenta Dilma Rousseff é que o Brasil buscasse participar”, assinalou
Vilalva. “Desde a primeira privatização [da companhia elétrica EDP, comprada
pelos chineses em janeiro] até a última, tudo indica, que sempre haverá uma
empresa brasileira”, inclusive com aporte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES).Perdida a compra da EDP (participaram do leilão a Eletrobrás e a
Cemig), considerada a “joia da coroa” pelo embaixador, as expectativas se
voltam para a venda da
empresa ANA – Aeroportos de Portugal – equivalente à Empresa Brasileira de
Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) e responsável pela gestão dos
aeroportos em Lisboa, Porto, Faro e Beja, além dos terminais na Região Autônoma
dos Açores (Ponta Delgada, Horta, Santa Maria e Flores) e na Região Autônoma da
Madeira (Madeira e Porto Santo).Segundo a imprensa de Lisboa, a
concessão da companhia pode render 600 milhões de euros aos cofres do Estado português
e assegurar um contrato de 50 anos ao comprador. Sete grupos
estrangeiros são candidatos à compra da empresa, entre eles, um formado pelas
brasileiras CCR (concessionária de infraestrutura) e a construtora Odebrecht.
Além dessas empresas, a empreiteira Engevix participa do consórcio liderado
pela companhia argentina Corporación America.A data da venda ainda não está marcada, pois o negócio depende de
autorização da Comunidade Europeia. O dinheiro será usado para reduzir o déficit
fiscal português que deve ficar em 5,7% do Produto Interno Bruto (PIB),
conforme relatório divulgado quinta-feira (25) pelo Fundo Monetário
Internacional (FMI) em Washington (Estados Unidos). O déficit nas contas
públicas é considerado um problema estrutural da economia portuguesa e a
situação se agrava em momento de crise econômica.Também no setor de aviação, havia expectativa de participação
brasileira na licitação da companhia aérea TAP, responsável pelo maior número
de voos do Brasil para a Europa (partindo de dez cidades brasileiras para 36
destinos europeus, em 75 voos semanais). Apenas a empresa Avianca, no entanto,
foi pré-selecionada. A companhia é de origem colombiana, mas o dono German
Efromovich é tratado pelos jornais de Portugal como um “milionário
colombo-brasileiro”. “Eles [os portugueses] fazem questão de colocar que é
colombiano-brasileiro”, frisou o embaixador Vilalva.Segundo o diplomata, o Brasil vai participar das futuras
privatizações dos correios de Portugal e da empresa de seguro do banco Caixa
Geral de Depósito. A operadora de planos de saúde Amil já comprou seis
hospitais que eram ligadas ao banco. Afora as companhias estatais, os
brasileiros têm interesse nas empresas privadas como é o caso da Ogma
(reparadora de aviões), comprada pela Embraer; e da cimenteira Cimpor,
adquirida pela Camargo Corrêa.A corrente de comércio (compra e venda de mercadorias) entre Brasil
e Portugal é de cerca de US$ 3 bilhões. Para Mario Vilalva, a participação das
empresas dos dois países em ambos os mercados potencializa as relações
comerciais (os portugueses têm um estoque de investimento no Brasil de US$ 25
bilhões).Além de maior participação na economia de Portugal, há
expectativa, no Itamaraty, de que a União Europeia e o Mercosul avancem no
chamado Acordo de Associação Birregional e os dois blocos tenham, em breve, um
tratado comercial “abrangente, equilibrado e ambicioso”, como divulgou o
Ministério das Relações Exteriores após a reunião dos comitês de negociação na
última sexta-feira (26), em Brasília.
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