É... a Justiça tem mesmo sua parcela de culpa nesse mundo injusto em que vivemos. Faz-se necessário que reformemos, urgentemente, também a nossa Justiça. Antes que testemunhemos impávidos a sua completa ruína
Leio no Brasil 247 que o impagável Paulo Henrique
Amorim será obrigado a pagar R$100 mil em multas pecuniárias por ter
sido condenado por “ofensa a honra e dano moral” em processo movido por
ministro do Supremo, quando, em verdade, apenas exercia ad libitum o seu
papel de jornalista e blogueiro. A blogosfera seria outra (mais pobre)
sem a argúcia, o desassombro e a irreverência de PHA. Certamente por
isso desejem calá-lo e à blogosfera progressista. Para esmorecer e
intimidar seus principais agentes, e assim arrefecer a força da palavra
na internet. Mas não conseguirão. Nossa rede é envolvente; é libertária e
libertadora.
Devemos estar de olhos bem abertos e vigilantes, pois os
conservadores vivem buscando modos e maneiras para censurar, calar a
internet. Vivem tentando emplacar leis nesse sentido no Congresso,
utilizando-se de projetos de leis ordinários (as).
Outro flanco de ataques, mais sub-reptício e solerte, e
pretensamente mais eficaz, como se sabe, é a tentativa de fazer calar os
blogueiros por intermédio de incessantes e reiteradas ações na Justiça,
aplicando-lhe multas altíssimas, impagáveis para a maioria, para assim
lhes tirar suas penas e vozes “incômodas” da blogosfera.
Suponho que os R$100 mil, que para a maioria seria uma
“paulada” que levaria ao nocaute ou à insolvência, não façam nem cócegas
na conta bancária ou no patrimônio do afamado e irreverente jornalista –
patrimônio constituído, diga-se, à custa de seus inquestionáveis
méritos e de seu trabalho na grande imprensa durante décadas. E que hoje
lhe serve de alicerce e lhe dá a necessária sustentação. Tampouco há
pecado em trabalhar na grande imprensa ou fazer fortuna à custa do
talento e esforço pessoal. Isso nem vem ao caso.
O que vem ao ocaso é, e aqui cabe a pergunta: onde foi
parar a tal liberdade de imprensa ou de expressão? De cabeça, cito ainda
as condenações que sofreram Rodrigo Viana, Azenha, Luis Nassif, Fábio
Pannunzio, dentre outros tantos. Nem vem ao caso também se gostamos dos
blogueiros citados, ou se concordamos com suas ideias. Devemos,
entretanto, defender o direito inalienável deles de expressá-las, como
já nos ensinara aquela frase indevidamente atribuída ao filósofo
Voltaire, mas que teria sido cunhada pela sua biógrafa, Evelyn Beatrice
Hall. Viva a controvérsia.
Curiosamente, quase todos os processados e condenados são
do campo mais “progressista” ou “de esquerda”. Será que também seria
leviano e “criminoso” da minha parte, também passível de condenação e
pesadas multas, afirmar que para o nosso Judiciário alguns têm mais
liberdade de expressão que outros? Perguntar não ofende.
Coincidentemente, escutei hoje no ônibus, voltando do
trabalho, uma memorável conversa entre três homens simples do povo. Eles
falavam da violência e do clima de intranquilidade em que vivem em São
Paulo. E reclamavam que a polícia até prendia os bandidos, muitos até
réus confessos e presos em flagrante delito, mas que estes eram em
seguida postos em liberdade pela Justiça. Citaram o caso de um homem que
matou uma criança numa briga com o pai desta, recentemente. A culpa é
da Justiça! – diziam de modo enfático.
É... a Justiça tem mesmo sua parcela de culpa nesse mundo
injusto em que vivemos. Faz-se necessário que reformemos, urgentemente,
também a nossa Justiça. Antes que testemunhemos impávidos a sua completa
ruína.
É preciso que separemos os frutos podres dos bons, também
no Judiciário. Mas não podemos esquecer também dos “putrefatos frutos”
no Executivo e do Legislativo. Nos âmbitos federal, estadual e
municipal. Antes que apodreçamos todos bem acomodados no mesmo balaio.
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