Do Correio do Brasil
28/5/2013 11:50
Por Redação, com agências internacionais - de Paris e Damasco
A Rússia não vai abandonar os planos de entregar um sistema de defesa aérea para a Síria,
apesar da oposição ocidental porque ajudaria a dissuadir alguns
“exaltados” com a intenção de intervir no conflito de dois anos no país,
disse o vice-ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Ryabkov,
nesta terça-feira. O vice-chanceler também acusou a União Europeia de
“jogar lenha na fogueira” ao deixar expirar um embargo de armas à Síria.
Israel e França pediram à Rússia que desistisse de enviar sistemas de
mísseis S-300 de alta precisão ao governo do presidente sírio, Bashar
al-Assad, que está lutando contra a insurgência apoiada por países
árabes e ocidentais. Ao mesmo tempo, os franceses avisaram que não
descartam a possibilidade de armar os rebeldes.Por Redação, com agências internacionais - de Paris e Damasco
Ryabkov sugeriu que os mísseis são úteis para dissuadir intervenções.
– Nós pensamos que esta entrega é um fator de estabilização e que tais medidas em muitas maneiras contêm alguns exaltados de explorar cenários em que este conflito poderia receber um caráter internacional, com a participação de forças externas – disse ele em entrevista coletiva.
As autoridades russas não revelaram se os S-300s já foram realmente enviados à Síria, e Ryabkov não deu detalhes.
– Eu não posso confirmar ou negar se estas entregas aconteceram, eu só posso dizer que não vamos renegá-las – disse Ryabkov. “Vemos que esta questão preocupa muitos nossos parceiros, mas não temos base para rever a nossa posição nesta matéria.”
O ministro da Defesa israelense, Moshe Yaalon, disse nesta terça-feira que os S-300 ainda não tinha deixado a Rússia, parecendo contradizer o chefe da Força Aérea de Israel, que disse na semana passada que os mísseis estavam a caminho da Síria.
Conferência de paz
Moscou considera necessário ampliar a lista de participantes da futura conferência internacional dedicada à situação na Síria. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, fez esta declaração depois do encontro com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, em Paris, na noite passada.
A conferência deverá ser realizada em junho deste ano, em Genebra. Importa chegar a entendimento sobre quem irá representar as partes sírias nas conversações, afirma Lavrov. O chefe do serviço diplomático russo está neste momento em Paris, após uma visita ao Quirguistão. John Kerry chegou procedente da Jordânia. O encontro foi marcado para as 19 horas (horário de Paris), na noite passada. Mas, às sete e pouco, a comitiva do ministro russo ainda estava num engarrafamento de trânsito. O secretário de Estado norte-americano não teve outra saída senão dar um passeio junto da Ópera de Paris.
O sexto encontro dos últimos três meses entre Lavrov e Kerry foi espontâneo. Curioso o fato de, desta vez John Kerry ter alterado as regras do jogo: insistiu em que a discussão fosse feita às portas fechadas. Mas, concluídas as conversações, os representantes dos dois países apresentaram-se em conjunto perante os jornalistas. Lavrov declarou que a Rússia e os EUA esperam que a conferência internacional sobre a Síria seja realizada proximamente:
– A tarefa número um é esclarecer quem é que vai representar as partes sírias. O governo sírio já anunciou a sua intenção de apoiar a conferência de Genebra. Quanto à oposição, o senhor Kerry disse que ela continua a debater o formato da sua delegação. O secretário de Estado dos EUA afirmou que aí será preciso mais algum tempo para compreender a linha e o enfoque da oposição. Espero que este enfoque seja construtivo, pois a nossa opinião comum é que a conferência deve ser convocada sem que sejam impostas quaisquer exigências preliminares.
O encontro inesperado do ministro das Relações Exteriores da Rússia e do secretário de Estado norte-americano parecia combinado. No dia 7 de maio, durante as conversações em Moscou, eles concordaram em realizar a conferência internacional dedicada à Síria. No encontro “Genebra 2” foi decidido que os representantes do governo sírio e da oposição devem, afinal, encontrar-se. A partir de então as palavras “Síria” e “Genebra” soam permanentemente de ambos os lados do oceano Atlântico e no litoral do golfo Pérsico.
Espera-se que a futura conferência surta resultado e que sejam dados, pelo menos, os primeiros passos rumo à cessação do derramamento de sangue na Síria. Depois do encontro em Paris, o secretário de Estado norte-americano pronunciou uma frase que repete letra por letra a posição russa:
– A Rússia e os EUA estão profundamente convencidos da necessidade de cumprir os princípios do comunicado de Genebra, ou de “Genebra 2”. Eles exigem que o poder seja entregue a um governo de transição, o que permitirá ao povo da Síria determinar o futuro do seu país. Nós queremos que a conferência seja realizada.
Lavrov e Kerry reconheceram que a realização da conferência não é uma tarefa simples. Mas, se a Rússia e os EUA se encarregam de resolver o problema, as chances de êxito são maiores do que se possa pensar. Ao mesmo tempo, ambas as partes dispõem de motivos de sobra para não participar da conferência. Já depois da decisão de Lavrov e Kerry sobre a realização do encontro internacional, a Assembleia Geral da ONU aprovou por maioria dos votos uma resolução muito discutível. Este documento responsabiliza o governo sírio por todos os problemas do país. Para além disso, já depois da conclusão do encontro de Paris, se soube que a União Europeia tinha levantado a proibição de fornecimento de armas à oposição síria.
As datas da conferência sobre a Síria não foram agendadas até agora. É possível que Serguei Lavrov e John Kerry consigam encontrar-se mais uma vez antes disso.
Ação conjunta
A Grã-Bretanha, por sua vez, disse nesta terça-feira que não precisa esperar por uma reunião de ministros das Relações Exteriores da União Europeia em 1o de agosto antes de tomar uma decisão sobre armar os rebeldes da Síria, mas ressaltou que ainda não tomou uma decisão.
– Eu tenho que corrigir uma coisa preocupante. Sei que tem havido alguma discussão sobre algum tipo de prazo em agosto. Esse não é o caso – disse o ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, à rádio britânica BBC, acrescentando que a Grã-Bretanha “não exclui” armar os rebeldes antes de agosto, e que não agiria sozinha, caso opte por fazê-lo.
A França também disse nesta terça que se reserva ao direito de enviar armas imediatamente para os rebeldes que lutam há mais de dois anos contra o regime do presidente Bashar al-Assad, mas que não tem planos de fazer isso. Em negociações na segunda-feira, os governos da UE não conseguiram superar diferenças sobre a questão e decidiram deixar expirar um embargo ao envio de armas para os rebeldes sírios.
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