OTAN não aceitou pedido da Turquia de engajamento na guerra, mas criticou atuação de governo sírio
Agência Efe (04/10/12)
Parlamentares turcos discutem moção para autorizar o governo a enviar tropas para lutar contra países estrangeiros
O Parlamento da Turquia aprovou nesta quinta-feira (04/10) o envio de tropas militares para países estrangeiros pelo período de até um ano em uma sessão especial e privada. A medida é a resposta do governo turco ao ataque disparado do território sírio que matou cinco civis na fronteira dos dois países nesta quarta-feira (03/10).
A proposta, escrita pelo premiê turco Recep Tayyip Erdogan, afirma que a “segurança nacional” do país está em risco e que é necessário tomar “rapidamente as precauções necessárias”. Segundo a rede Al Jazeera, 320 parlamentares aprovaram a moção, enquanto 129 foram contrários.
“Neste contexto, com a condição de que o contingente e o tempo serão apreciados e determinados pelo governo, eu submeto, segundo o Artigo 92 da Constituição, a permissão de um ano para tomar os passos necessários para enviar as Forças Armadas da Turquia para países estrangeiros”, diz o texto citado pelo jornal britânico Guardian.
No entanto, antes mesmo dos votos dos parlamentares, o governo de Ancara ordenou bombardear alvos na Síria ainda na quarta-feira após uma reunião entre Erdogan, o ministro das Relações Exteriores e o chefe das Forças Armadas. "No marco do direito internacional e das regras turcas de entrada ao combate, não podemos deixar sem resposta esta provocação do regime sírio", afirmaram em nota.
As autoridades turcas não esclareceram os alvos do bombardeio e jornais internacionais relataram cidades sírias diferentes. A Al Jazeera afirmou que a cidade síria de Tal al Abyad, na fronteira com a Turquia, foi alvo dos bombardeios, enquanto que o Guardian apontou a possibilidade de ataque em Aleppo.
O governo de Ancara informou que os bombardeios continuam nesta quinta-feira (04/10), de acordo com o Guardian. O Observatório Sírio de Direitos Humanos, grupo ligado às forças da oposição baseado em Londres, afirmou que dezenas de militares do governo de Bashar al Assad foram mortos em decorrência do ataque turco. As informações não foram confirmadas pelos governos.
OTAN
O vice-primeiro-ministro Bulent Arinç invocou, sem citá-lo, o Artigo Cinco da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que obriga todos os países-membros a responderem quando um deles é agredido.
"Isto exige uma represália segundo o direito internacional", afirmou Arinç de acordo com o jornal Hurriyet. "As disposições da OTAN são muito claras e determinam que todos os países-membros têm a responsabilidade de responder quando um deles é agredido."
Agência Efe (03/10/12)
Cidadãos turcos escapam de bomba lançada do território sírio na cidade fronteiriça de Sanliurfa; cinco turcos morreram
Embaixadores do bloco militar atenderam ao pedido de Ancara e realizaram uma reunião emergencial nesta quarta (03/10). Apesar de repudiarem o ataque sírio na cidade fronteiriça turca e a morte de civis, a OTAN não convocou o Artigo Cinco que exigiria o seu engajamento militar no conflito. Pelo contrário, o encontro foi feito sob o Artigo Quarto que assegura a integridade dos 28 membros.
A OTAN, que no ano passado atuou durante meses na Líbia, até agora tentou se manter distante do conflito sírio. “A Síria é uma situação muito, muito complexa”, disse o secretário-geral da organização, Anders Fogh Rasmussem, em entrevista ao Guardian. “Intervenções militares podem ter impactos amplos”, acrescentou ele.
Um importante aliado
Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Alemanha tentaram por três vezes aprovar no Conselho de Segurança das Nações Unidas a intervenção militar contra o regime sírio, acusado de violar os direitos humanos de seus cidadãos. A proposta foi vetada pela Rússia e China, que são os principais aliados do governo de Assad no jogo das potências internacionais.
O governo russo também interveio nesta quinta-feira (04/10) na tensão entre Turquia e Síria, pedindo para Ancara reconhecer que o ataque sírio foi um acidente. “Nós conversamos com as autoridades de Damasco que nos asseguraram que o que aconteceu na fronteira com a Turquia foi um acidente trágico, e que não acontecerá novamente”, disse o ministro de Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov.
Lavrov pediu para que as autoridades sírias reconhecessem publicamente o incidente e pedissem desculpas a Ancara e seu apelo parece ter funcionado. “A Síria admitiu o que fez e pediu desculpas”, disse nesta quinta (04/10) o vice-premiê turco, Besir Atalay citado pelo Hurriyet.
Guerra?
Apesar da crescente tensão entre os dois países, um importante conselheiro do premiê turco afirmou nesta quinta-feira (04/10) que a Turquia não entrará em guerra contra a Síria. “A Turquia não tem nenhum interesse em entrar em guerra contra a Síria. Mas, a Turquia é capaz de proteger suas fronteiras e vai retaliar quando necessário”, disse Ibrahim Kalin segundo a Al Jazeera.
Não é a primeira vez em 18 meses de conflito na Síria que os dois países se desentendem. Em junho, a Turquia ameaçou usar a força contra o governo de Assad depois que as baterias antiaéreas do país árabe derrubaram um de seus caças-bombardeiros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário