Em entrevista à imprensa argentina,
presidente sírio disse que só deixará a Presidência pela via eleitoral:
"renunciar seria fugir"
Em uma rara entrevista concedida à imprensa ocidental, o presidente da Síria, Bashar al Assad, admitiu considerar “provável” a possibilidade de invasão estrangeira ao país árabe mas que não considera a hipótese de deixar o poder, o que seria vista, para ele, como uma "fuga". A entrevista, realizada em Damasco neste sábado (18/05), foi publicada na edição deste domingo (19) do jornal argentino Clarín e foi feita em conjunto com a agência estatal Télam.
O chefe de Estado também negou que seu governo tenha utilizado armas químicas contra a população civil do país ou contra os opositores.
Assad considera provável que países estrangeiros usem a denúncia, de que o governo usa armas químicas, para iniciarem uma invasão estrangeira ao país. “É provável que esse É provável que isto seja usado como um prelúdio para uma guerra contra a Síria. Nós não esquecemos o que aconteceu no Iraque [invasão internacional comandada pelos Estados Unidos, pela suspeita que o governo de Saddam Hussein tivesse armas de destruição em massa, o que foi desmentido depois]. Onde estavam as armas de destruição em massa de Saddam Hussein?”, questionou.
Segundo ele, “o Ocidente mente e falsifica para desatar guerras, é seu costume. Mas uma guerra contra a Síria não será fácil, não será qualquer excursão. Mas não podemos descartar a possibilidade de que eles (as potências ocidentais) lancem uma guerra”.
Sana/Agência Efe (18/05)
O presidente sírio Bashar Al-Assad (direita), em entrevista a jornalistas argentinos em Damasco
A pressão por uma ação internacional na Síria aumentou após relatórios de inteligência ocidentais apontarem o uso pelo regime de armas químicas em pelo menos duas oportunidades, sem conseguirem detectar a autoria da ação.
"As acusações contra a Síria a respeito do uso de armas químicas ou minha renúncia mudam todo dia", afirmou. "Eles disseram que nós usamos armas químicas contra áreas residenciais. Se foram usadas em uma cidade ou um subúrbio com apenas 10 ou 20 vítimas, isto seria crível?". Seu uso, afirmou Assad, "significaria a morte de milhares ou dezenas de milhares de pessoas em questão de minutos. Quem poderia esconder algo assim?", argumentou.
Renúncia
"Renunciar seria fugir", declarou ao jornal, quando perguntado se consideraria deixar o poder, como sugeriu o secretário de Estado norte-americano, John Kerry.
"Eu não sei se Kerry ou qualquer outro foi constituído de poder pelo povo sírio para falar em seu nome sobre quem deveria partir e quem deveria ficar”, disse. “Minha permanência ou não depende do povo sírio, não é decisão minha ficar ou sair. Se quiserem que eu fique, não sairei. O assunto depende da Constituição, das urnas. Nas eleições de 2014 o povo sírio decidirá”.
Os EUA apoiam a oposição armada que luta há mais de dois anos pela deposição do regime. A guerra civil na Síria teve início em abril de 2011 e já chegou a 70 mil mortos, segundo dados da ONU – que foram contestados pelo presidente.
Assad atribui o aprofundamento do conflito em razão da interferência estrangeira. “Vários elementos internos e externos contribuíram para a crise, o mais importante dele foi a intervenção externa. Os cálculos feitos pelos países que queriam intervir na Síria estavam errados. Esses países queriam acreditar que o “plano” terminaria em questão de semanas ou meses, mas isso não ocorreu. O que ocorreu é que o povo sírio reagiu e estamos continuando a fazê-lo. Para nós trata-se de defender a pátria.
Segundo Assad, o poder bélico usado contra a oposição, que são chamados por ele de terroristas”, não é excessiva. “Como se pode determinar se houve força excessiva ou não? Qual a fórmula? É pouco objetivo falar disso. Cada um responde ao tipo de terrorismo que enfrenta”.
Conferência
Sua entrevista vem a público em meio a uma rara ação conjunta dos Estados Unidos e da Rússia (que apoia o governo) para convocar uma conferência de paz em Genebra, que reuniria membros do governo e da oposição. "Nós recebemos bem a acolhida russo-americana e esperamos que haja uma conferência internacional para ajudar os sírios a superarem a crise", disse o presidente.
No entanto, "não acreditamos que muitos países ocidentais realmente queiram uma solução na Síria. E não pensamos que as forças que sustentam os terroristas queiram uma solução para a crise", acrescentou. "Precisamos ser claros", afirmou. "Há confusão no mundo sobre uma solução política e o terrorismo. Eles pensam que uma conferência política deteria o terrorismo em campo. Isto é irreal", prosseguiu.
A pressão por uma ação na Síria aumentou após relatórios de inteligência ocidentais apontarem o uso pelo regime de armas químicas em pelo menos duas oportunidades, sem conseguirem detectar a autoria da ação.
Mortes
Assad também questionou as estimativas sobre o número de mortos feitas pela ONU e por grupos humanitários, mas reconheceu que "milhares de sírios morreram" na guerra civil.
"Não deveríamos ignorar que muitos dos mortos dos quais eles falam são estrangeiros que vieram matar o povo sírio", afirmou, culpando "o terrorismo local e aquele vindo de fora" pela violência.
Segundo o Clarín, Assad negou que seu governo esteja usando "combatentes de fora da Síria ou de outras nacionalidades e que precise de apoio de qualquer país árabe ou estrangeiro". "Há gente do Hezbollah no Irã, na Síria, mas eles entram e saem da Síria muito tempo antes desta crise", concluiu.
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