sexta-feira, 30 de maio de 2014

Ao contrário de alguns, não sinto nenhuma vergonha de meu país 30/05/2014

MARCELO ZERO

Ao contrário de alguns, não sinto nenhuma vergonha do meu país.

Não sinto vergonha dos 36 milhões de brasileiros que conseguiram sair daquilo que Gandhi chamava de a "pior forma de violência", a miséria.

Agora, eles podem sonhar mais e fazer mais. Tornaram-se cidadãos mais livres e críticos. Isso é muito bom para eles e muito melhor para o Brasil, que fica mais justo e fortalecido. E isso é também muito bom para mim, embora eu não me beneficie diretamente desses programas. Me agrada viver em um país que hoje é um pouco mais justo do que era no passado.

Também não sinto vergonha dos 42 milhões de brasileiros que, nos últimos 10 anos, ascenderam à classe média, ou à nova classe trabalhadora, como queiram.

Eles dinamizaram o mercado de consumo de massa brasileiro e fortaleceram bastante a nossa economia. Graças a eles, o Brasil enfrenta, em condições bem melhores que no passado, a pior crise mundial desde 1929. Graças a eles, o Brasil está mais próspero, mais sólido e menos desigual. Ao contrário de alguns, não me ressinto dessa extraordinária ascensão social. Sinto-me feliz em tê-los ao meu lado nos aeroportos e em outros lugares antes reservados a uma pequena minoria. Sei que, com eles, o Brasil pode voar mais alto.

Não tenho vergonha nenhuma das obras da Copa, mesmo que algumas tenham atrasado. Em sua maioria, são obras que apenas foram aceleradas pela Copa. São, na realidade, obras de mobilidade urbana e de aperfeiçoamento geral da infraestrutura que melhorarão a vida de milhões de brasileiros. Estive no aeroporto de Brasília e fiquei muito bem impressionado com os novos terminais e com a nova facilidade de acesso ao local. Mesmo os novos estádios, que não consumiram um centavo sequer do orçamento, impressionam. Lembro-me de velhos estádios imundos, inseguros, desconfortáveis e caindo aos pedaços. Me agrada saber que, agora, os torcedores vão ter a sua disposição estádios decentes. Acho que eles merecem. Me agrada ainda mais saber que tido isso vem sendo construído com um gasto efetivo que representa somente uma pequena fração do que é investido em Saúde e Educação. Gostaria, é claro, que todas as obras do Brasil fossem muito bem planejadas e executadas. Que não houvesse aditivos, atrasos, superfaturamentos e goteiras. Prefiro, no entanto, ver o Brasil em obras que voltar ao passado do país que não tinha obras estruturantes, e tampouco perspectivas de melhorar.

Tranquiliza-me saber que o Brasil tem um sistema de saúde público, ainda que falho e com grandes limitações. Já usei hospitais públicos e, mesmo com todas as deficiências do atendimento, sai de lá curado e sem ter gasto um centavo. Centenas de milhares de brasileiros fazem a mesma coisa todos os anos. Cerca de 50 milhões de norte-americanos, habitantes da maior economia do planeta e que não têm plano de saúde, não podem fazer a mesma coisa, pois lá não há saúde pública. Obama, a muito custo, está encontrando uma solução para essa vergonha. Gostaria, é óbvio, que o SUS fosse igual ao sistema de saúde pública da França ou de Cuba. Porém, sinto muito orgulho do Mais Médicos, um programa que vem levando atendimento básico à saúde a milhões de brasileiros que vivem em regiões pobres e muito isoladas. Sinto alívio em saber que, na hora da dor e da doença, agora eles vão ter a quem recorrer. Sinto orgulho, mas muito orgulho mesmo, desses médicos que colocam a solidariedade acima da mercantilização da medicina.

Estou também muito orgulhoso de programas como o Prouni, o Reuni, o Fies, o Enem e os das cotas, que estão abrindo as portas das universidades para os mais pobres, os afrodescendentes e os egressos da escola pública.

Tenho uma sobrinha extremamente talentosa que mora no EUA e que conseguiu a façanha de ser aceita, com facilidade, nas três melhores universidades daquele país. Mas ela vai ter de estudar numa universidade de segunda linha, pois a família, muito afetada pela recessão, não tem condição de pagar os custos escorchantes de uma universidade de ponta. Acho isso uma vergonha.

Não quero isso para o meu país. Alfabetizei-me e fiz minha graduação e meu mestrado em instituições públicas brasileiras. Quero que todos os brasileiros possam ter as oportunidades que eu tive. Por isso, aplaudo a duplicação das vagas nas universidades federais, a triplicação do número de institutos e escolas técnicas, o Pronatec, o maior programa de ensino profissionalizante do país, o programa de creches e pré-escolas e o Ciência Sem Fronteiras. Gostaria, é claro, que a nossa educação pública já fosse igual à da Finlândia, mas reconheço que esses programas estão, aos poucos, construindo um sistema de educação universal e de qualidade.

Tenho imenso orgulho da Petrobras, a maior e mais bem-sucedida empresa brasileira, que agora é vergonhosamente atacada por motivos eleitoreiros e pelos interesses daqueles que querem botar a mão no pré-sal. Nos últimos 10 anos, a Petrobras, que fora muito fragilizada e ameaçada de privatização, se fortaleceu bastante, passando de um valor de cerca de R$ 30 bilhões para R$ 184 bilhões. Não bastasse, descobriu o pré-sal, nosso passaporte para o futuro.

Isso seria motivo de orgulho para qualquer empresa e para qualquer país. Orgulha ainda mais, porém, o fato de que agora, ao contrário do que acontecia no passado, a Petrobras dinamiza a indústria naval e toda a cadeia de petróleo, demandando bens e serviços no Brasil e gerando emprego e renda aqui; não em Cingapura. Vergonha era a Petrobrax. Pasadena pode ter sido um erro de cálculo, mas a Petrobrax era um crime premeditado.

Vejo, com satisfação, que hoje a Polícia Federal, o Ministério Público, a CGU e outros órgãos de controle estão bastante fortalecidos e atuam com muita desenvoltura contra a corrupção e outros desmandos administrativos. Sei que hoje posso, com base na Lei da Transparência, demandar qualquer informação a todo órgão público. Isso me faz sentir mais cidadão. Estamos já muito longe da vergonha dos tempos do "engavetador-geral". Um tempo constrangedor e opaco em que se engavetavam milhares processos e não se investigava nada de significativo.

Também já se foram os idos vergonhosos em que tínhamos que mendigar dinheiro ao FMI, o qual nos impunha um receituário indigesto que aumentava o desemprego e diminuía salários. Hoje, somos credores do FMI e um país muito respeitado e cortejado em nível mundial. E nenhum representante nosso se submete mais à humilhação de ficar tirando sapatos em aeroportos. Sinto orgulho desse país mais forte e soberano.

Um país que, mesmo em meio à pior recessão mundial desde 1929, consegue alcançar as suas menores taxas de desemprego, aumentar o salário mínimo em 72% e prosseguir firme na redução de suas desigualdades e na eliminação da pobreza extrema.

Sinto alegria com esse Brasil que não mais sacrifica seus trabalhadores para combater as crises econômicas.

Acho que não dá para deixar de se orgulhar desse novo país mais justo igualitário e forte que está surgindo. Não é ainda o país dos meus sonhos, nem o país dos sonhos de ninguém. Mas já é um país que já nos permite sonhar com dias bem melhores para todos os brasileiros. Um país que está no rumo correto do desenvolvimento com distribuição de renda e eliminação da pobreza. Um país que não quer mais a volta dos pesadelos do passado.

Esse novo país mal começou. Sei bem que ainda há muito porque se indignar no Brasil.

E é bom manter essa chama da indignação acessa. Foi ela que nos trouxe até aqui e é ela que nos vai levar a tempos bem melhores. Enquanto houver um só brasileiro injustiçado e tolhido em seus direitos, todos temos de nos indignar.

Mas sentir vergonha do próprio país, nunca. Isso é coisa de gente sem-vergonha.

http://jornalggn.com.br/noticia/clipping-do-dia-210#comments

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Smith, Marx e alienação 28/05/2014

por Prabhat Patnaik [*]

Entre não marxistas há sempre uma tendência a ignorar a especificidade das percepções de Marx no âmago da economia política e reduzi-las, ao invés, a ideias semelhantes mas anteriores que podem ser encontradas em Adam Smith ou David Ricardo. O economista Paul Samuelson exprimiu esta tendência da maneira mais flagrante, se não deliberadamente provocatória, quando se referiu a Marx como um "pós ricardiano menor".

O problema com esta tendência é que ela perde o salto que Marx deu sobre os seus antecessores e portanto interpretou-o muito mal. O caso clássico de tal má interpretação é a teoria de valor de Marx, a qual é erradamente tomada como não diferente daquela de David Ricardo (um erro que conforma a caracterização de Marx feita por Samuelson). Um erro análogo é cometido também quanto à visão de Marx da alienação.

Adam Smith, seria de recordar, enfatizou o significado profundo da divisão do trabalho tanto na sociedade como um todo como também dentro da fábrica. Em relação a esta última, ele deu o famoso exemplo da fábrica de alfinetes onde o trabalho de manufacturar alfinetes era segmentado em numerosas actividades separadas e diferentes trabalhadores eram assinalados a estas diferentes actividades, o que resultava num enorme aumento da produtividade por trabalhador. Smith havia sustentado que tal aumento de produtividade e o rácio no qual o total da força de trabalho era dividido em "trabalhadores improdutivos" (tais como servidores domésticos) e "trabalhadores produtivos" (os quais produziam valor excedente) como os dois factores chave que determinavam o aumento da riqueza das nações.

Mas tendo enfatizado o papel da divisão do trabalho como causa do progresso económico, no sentido de aumentar a "riqueza das nações", Smith avançou para destacar o facto de que tal especialização tendia a causar a "mutilação mental" dos trabalhadores, uma vez que cada um deles estava restrito a desempenhar uma única tarefa repetitiva. Vale a pena aqui citar Smith na íntegra:


"O homem cuja vida inteira é gasta no desempenho de umas poucas operações simples, das quais os efeitos são talvez sempre os mesmos, ou muito aproximadamente os mesmos, não tem oportunidade de exercer o seu entendimento ou de exercitar o seu poder inventivo na descoberta de expedientes para remover dificuldades que nunca ocorrem. Ele naturalmente perde, consequentemente, o hábito de tal esforço e torna-se geralmente tão estúpido e ignorante quanto é possível tornar-se uma criatura humana. O torpor da sua mente torna-o não só incapaz de desfrutar ou participar de qualquer conversação racional, nem de conceber qualquer sentimento generoso, nobre ou delicado e, consequentemente, de formar qualquer julgamento justo referentes mesmo a muitos dos deveres comuns da vida privada... Mas em toda sociedade aperfeiçoado e civilizada isto é o estado no qual os trabalhadores pobres, isto é, o grande conjunto do povo, deve necessariamente cair, a menos que o governo faça alguns esforços para impedi-lo".

Se bem que esta visão de Smith sem dúvida apreenda um aspecto importante da produção capitalista, um aspecto acerca do qual muitos marxistas também escreveram e que de modo impressionante foi captado no filme Tempos Modernos de Charlie Chaplin, ela é frequentemente mantida como sendo a precursora da teoria da "alienação" de Marx e como contendo a sua ideia central. Esta última afirmação no entanto é errónea e enganosa, não obstante a perspicácia contida nas observações do próprio Smith.

Smith queria que os "governos" nas "sociedades civilizadas" impedissem este torpor da mente que sobrevém aos pobres trabalhadores, como complemento necessário ao progresso económico da nação. Comunistas pré-marxistas como Proudhon [NR] também trataram das consequências adversas da divisão do trabalho e exprimiram-se sobre como ultrapassar este torpor. Marx resumiu a visão de Proudhon sobre isto, em A pobreza da filosofia, com as seguintes palavras;


"O sr. Proudhon ... propõe ao trabalhador que faça não só um doze avos do alfinete, mas sucessivamente todas as doze partes dele. O trabalhador viria então a conhecer e compreender o alfinete. Isto é a síntese do trabalho do sr. Proudhon... ele não pode pensar em nada melhor do que em levar-nos de volta ao artesão ou, no máximo, ao mestre-artífice da Idade Média".

Portanto a alienação, como Smith ou mesmo Proudhon a viam, não exige a transcendência do capitalismo para ser ultrapassada (isto apesar do facto de que o próprio Proudhon era comunista [NR]). O entendimento de Marx da alienação, embora não negando a percepção que Smith e, a seguir a ele, Proudhon, haviam avançado, era no entanto completamente diferente disto; e a ultrapassagem exigia uma transcendência do capitalismo.

A ULTRAPASSAGEM DA ALIENAÇÃO NECESSITA DA TRANSCENDÊNCIA DO CAPITALISMO

Em Smith, eram apenas os trabalhadores que eram alienados desta maneira. Mas em Marx, a alienação era uma característica universal do sistema, afectando todos, não apenas os trabalhadores mas também os capitalistas. E a universalidade da alienação caracterizando o sistema significa que ela não podia ser ultrapassada dentro do próprio sistema; ela necessariamente exigia a sua transcendência.

A alienação era imanente na própria forma mercadoria. Uma mercadoria é naturalmente um valor de uso e um valor de troca; mas ela não é um valor de uso para o produtor. Enquanto para o comprador ela é tanto um valor de troca, representando uma certa soma de dinheiro como um valor de uso, com certas propriedades físicas e químicas as quais satisfazem suas exigências, para o vendedor ela é só um valor de troca, só uma certa soma de dinheiro. As propriedades físicas e química da mercadoria são inúteis para ele pessoalmente.

Isto é um ponto básico de diferença entre a economia política marxiana e a economia política burguesa "convencional" ("mainstream"), uma vez que esta última é fundamentada sobre a presunção de que a mercadoria que é trocada por dinheiro entre o vendedor e o comprador constitui um valor de uso para ambos (além naturalmente de ser um valor de troca para ambos). Mas se a mercadoria é apenas um valor de troca, não um valor de uso, para o produtor, então o produtor não pode simplesmente retirar-se do mercado e consumir sua própria mercadoria. Venha o inferno ou a tempestade ele deve vendê-la por uma certa soma de dinheiro; se não puder vender então está condenado, a menos que tenha algumas reservas de cash a que recorrer.

Uma vez que todos os vendedores sabem disto, construir tais reservas pela ampliação do negócio a expensas de rivais torna-se essencial para cada um. A competição, por outras palavras, introduz uma luta darwiniana entre produtores de mercadorias; e isto transmite-se ao capitalismo, o qual é nada mais que a produção generalizada de mercadorias (onde o próprio valor-trabalho tornou-se uma mercadoria). É a esta luta darwiniana que está subjacente o impulso para a acumulação de capital e para a introdução do progresso tecnológico.

O que isto significa é que não são apenas os trabalhadores que têm de competir uns contra outros pelo emprego num mundo caracterizado pelo desemprego (isto é, pela presença perene de um exército de reserva do trabalho), mas os capitalistas também têm de competir uns contra os outros. Em suma, todos os participantes neste sistema têm de representar papeis particulares, quer gostem ou não; pois se não o fizerem então dão-se por vencidos. Cada um deles pode conservar a sua posição dentro do sistema, não importa se essa posição implica ser um explorador ou quem é explorado, só representando um certo papel, actuando e comportando-se de uma maneira particular. Cada participante individual no sistema aparece como tendo "arbítrio"("agency") no sentido de ser aparentemente livre para fazer o que preferir fazer; mas de facto esta aparência é enganosa porque o modo da sua acção é determinado pela sua posição dentro do sistema e o papel deste impõe-se sobre ele ou ela. É digno de nota que Marx chamou o capitalista de "capital personificado", isto é, as tendências imanentes do sistema actuam elas próprias entre outras através do "arbítrio" nominal dos capitalistas (tal como efectivamente dos trabalhadores).

O capitalismo, por outras palavras, não é apenas um sistema explorador; não é apenas um sistema anárquico onde a resultante agregada das acções de indivíduos revela-se diferente do que pretendiam; ele é também, além disso, um sistema "espontâneo", onde o modo de influir sobre parte dos próprios indivíduos não é determinada pela sua vontade mas é-lhes imposta pela posição que ocupam dentro do sistema.

A LÓGICA COERCIVA DO SISTEMA

A alienação sob o capitalismo está basicamente ligada a isto, isto é, ao facto de que as acções dos indivíduos não são baseadas na sua própria vontade mas derivam da lógica coerciva do sistema. O capitalista acumula não porque goste mas porque não tem outra opção dentro da lógica do sistema se não quiser dar-se por vencido. Os trabalhadores obedecem ordens porque se não o fizessem seriam despedidos e postos à margem. O progresso tecnológico é introduzido porque se um capitalista com acesso à nova tecnologia não a introduzisse, então algum outro o faria; e o primeiro capitalista ficaria fora da competição e seria descartado. É esta coerção que é alienante, o facto de que o arbítrio nominal não implique arbítrio autêntico, mas seja meramente a mediação através do qual funcionaa lógica imanente do sistema.

Contudo é precisamente esta espontaneidade que é desafiada pelos trabalhadores através de "combinações" que impõem cada vez mais complexidade política (com a ajuda de teoria trazida de "fora"). Tais combinações, por outras palavras, constituem passos para ultrapassar a alienação imposta pelo sistema sobre os trabalhadores. Mas as tendências imanentes do mesmo (ex. a tendência rumo à centralização do capital, sua formação em blocos cada vez maiores), actua sempre para frustrar e reverter estes esforços em direcção à ultrapassagem da alienação dentro do próprio sistema.

O facto de que a globalização do capital, a qual é expressão do mais alto nível de centralização até hoje alcançado, tenha servido para minar os movimentos sindicais por todo o mundo capitalista, e com isto o movimento político de esquerda, só confirma esta afirmação. Disto se segue que a ultrapassagem da alienação, como entendida por Marx, não é possível dentro do próprio sistema; ela só é possível através da sua transcendência. Este facto apenas enfatiza a diferença básica entre o entendimento smithiano e o entendimento marxiano da alienação.

[NR] Ao invés de "comunista pré-marxista" seria preferível classificá-lo como socialista utópico.

[*] Economista, indiano, ver Wikipedia .

O original encontra-se em peoplesdemocracy.in/2014/0323_pd/smith-marx-and-alienation . Tradução de JF.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Brasil receberá R$4 tri de investimentos entre 2014 e 2017, diz BNDES 23/05/2014

Por Luciana Bruno

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Brasil receberá investimentos de 4 trilhões de reais entre 2014 e 2017, aumento real de 28 por cento em relação ao período de 2009 a 2012, segundo estudo divulgado nesta quinta-feira pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O montante é uma projeção dos planos estratégicos das empresas, não se restringindo apenas aos projetos apoiados pelo BNDES, informou o banco. O valor supera a projeção de 3,98 trilhões de reais feita para o mesmo período divulgada em outubro do ano passado.

Na comparação com a projeção anterior, a maior revisão foi a do setor de petróleo e gás, que teve aumento de 30 bilhões de reais na previsão de investimentos, para um total de 488 bilhões de reais, alta de 53 por cento na comparação com 2009-2012.

"Petróleo e gás é um setor que por sua dimensão é muito importante, e está com perspectiva muito favorável", disse Fernando Pimentel Puga, superintendente da área de pesquisa econômica do BNDES, explicando que a revisão para cima ocorreu após o leilão do campo de Libra, na Bacia de Campos.

O setor de energia elétrica também teve adição de 16 bilhões de reais, para investimentos totais de 192 bilhões de reais, alta de 9 por centro frente ao período de 2009 a 2012.

A maior parte dos investimentos na área de eletricidade está em geração de energia, sendo as hidrelétricas a parcela mais expressiva, com 54,5 bilhões de reais. Puga afirmou que o crescimento não foi maior porque o período de 2009 a 2012 registrou altos investimentos na usina de Belo Monte, no Pará.

O setor de papel e celulose teve incremento de 7 bilhões de reais, para um total de 26 bilhões de reais, alta de 41 por cento frente ao período de 2009 a 2012.



INDÚSTRIA E INFRAESTRUTURA

Do total de 4,07 trilhões de reais mapeados para 2014-2017, a indústria responde por 1,15 trilhão de reais em perspectiva de investimento, aumento acumulado de 31 por cento, devido sobretudo ao setor de óleo e gás, disse o banco.

A infraestrutura responde por 575 bilhões de reais, com incremento de 35 por cento sobre o período anterior, puxado sobretudo por dois setores ligados à logística: portos e ferrovias, próximos alvos de concessão pelo governo federal.

De todos os segmentos listados, a siderurgia é o único setor com previsão de queda no volume de investimentos, diante do quadro de sobreoferta de aço no mundo. Segundo o levantamento do BNDES, o setor brasileiro de aço investirá 16 bilhões de reais até 2017, queda de 57 por cento frente ao período de 2009-2012.

Porém, a expectativa de 16 bilhões de reais para a siderurgia é maior que a previsão anterior divulgada pelo BNDES em outubro passado, de 10 bilhões.


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quinta-feira, 22 de maio de 2014

Todos os banqueiros do presidente 22/04/2014


21/5/2014, Lars Schall entrevista Nomi Prins, GoldSwitzerland
The Matterhorn Interview – May 2014: Nomi Prins
Transcrição traduzida pelo pessoal da Vila Vudu

E então? Precisamos do Federal Reserve? O público não precisa do Fed. As atividades que o Fed fornece e que têm algo a ver com o público, como gerir taxas de juros e tal, podem ser fornecidas pelo Departamento do Tesouro, embora o Departamento do Tesouro também esteja subsidiando e apoie sempre, politicamente, pessoalmente, socialmente e financeiramente as grandes instituições bancárias. Sim, é útil ter uma entidade para manter os juros, mas isso não é precisamente o que o Fed faz, como seu principal “serviço”. O principal serviço do Fed é subsidiar um sistema bancário falido; com o Fed fantasiado de sistema regulatório dos bancos e protegendo a disponibilidade de crédito do país – sobre o qual, de fato, o Fed não tem poder algum. Essa é uma das mentiras sob cuja proteção o Fed foi criado, há cem anos.

Finance is a Power Game - The Matterhorn Interview




Lars Shall: Nesse programa, sob o patrocínio do Matterhorn Asset Management, converso com a ex-banqueira de Wall Street, Nomi Prins, sobre seu mais recente livro All the Presidents’ Bankers . [Todos os banqueiros do presidente]

Prins chama a atenção para o modo como um pequeno grupo [nesse sentido, uma “elite”] transformou a economia e o governo dos EUA ao longo do século 20, ditou as políticas externa e interna e modelou a história mundial. A discussão começa com o pânico de 1907 e a criação do Federal Reserve, acompanha as duas guerras mundiais, a separação entre o dólar e o ouro em 1971, e chega à questão de se o poder financeiro norte-americano está hoje em declínio.

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LARS SHALL: Boa-tarde, Nomi. Vamos conversar sobre seu novo livro. Qual sua motivação para escrevê-lo e qual a principal ideia por trás dele?

NOMI PRINS: Minha motivação surgiu, de fato, de um romance que escrevi antes desse livro, Black Tuesday [1], trabalho de ficção histórica sobre o crashde 1929. Na pesquisa necessária para aquele livro, que foi muito menor que a que tive de fazer agora, para All the Presidents’ Bankers, descobri sobre essa reunião que aconteceu no Morgan Bank, n. 23 de Wall Street, a apenas alguns poucos passos da Bolsa de Valores de New York, dia 24/10/1929. Foi quando o mercado de ações começou a descida, depois do que foi outra vez inflado e soprado para cima, e outra vez caiu, e foi outra vez inflado para subir, e mais algumas vezes, até que, afinal, perdeu 90% do que valia, ou perto disso, em apenas uns poucos anos.

Mas naquele dia, havia seis banqueiros, os grandes seis banqueiros daquele momento, que se reuniram na casa Morgan, a pedido de um homem chamado Tom que era o laranja-agente que aparecia como diretor do Morgan. Jack Morgan, o verdadeiro presidente, estava em viagem à Europa. Lamont convocou os cinco principais banqueiros da cidade e, depois de 20 minutos de reunião, cada um dos presentes pôs na mesa 25 milhões de dólares para salvar os mercados de ações. Todos sabiam que aquela reunião era secreta; como sabiam que o mercado estava escapando ao controle deles. Um dos presentes foi Al Wiggin, presidente do Chase; estava queimando ações do Chase, ao mesmo tempo em que conversava sobre recomprá-las para salvar os mercados. Charles Mitchell era outro, naquela sala, diretor do National City Bank, hoje parte do Citigroup. Tinha esse negócio que queria fazer – a maior fusão do tempo, que só se consumaria se ele conseguisse manter alto o valor das ações que seriam usadas para pagar pela fusão. Esse, portanto, tinha outras razões para salvar os mercados, além de ajudar o cidadão comum a salvar-se da quebradeira.

Achei fascinante a reunião, o drama da cena e o modo como esses ‘seis grandes’ decidiram o que fazer; e o modo como foram apoiados pelo presidente Herbert Hoover. Depois da decisão, foram louvados pela imprensa-empresa, no New York Times e tal, porque teriam salvado novamente os mercados; foram muito cumprimentados, muitos agradecimentos. Tudo isso chamou minha atenção. Daí, depois, em All the Presidents’ Bankers, acompanhei a movimentação desses seis ‘grandes: hoje novamente são seis grandes bancos, como foram antes do crash de 1929. Seis bancos nos EUA controlavam praticamente todos os mercados financeiros, e não só de uma perspectiva de riqueza e poder: há também uma linha de política financeira que se pode traçar em torno de banqueiros e presidentes, naqueles anos, como hoje.

Comecei por examinar a coisa a partir da perspectiva dos presidentes – com que banqueiros mantinham relações, em quais confiavam para ‘consertar’ o país, com os quais de deixam ver socialmente, com quais banqueiros velejam, com quais aparecem em reuniões sociais, com quais estudaram e frequentaram “eventos” das universidades da Ivy League, e coisas desse tipo. Assim aconteceu que fui modelando a ideia e a pesquisa para esse outro livro. Tive de mexer nos arquivos presidenciais por todo o país, desde Teddy Roosevelt, que era presidente durante o pânico de 1907, onde começo o livro, até Barack Obama – que ainda não tem arquivo, porque ainda está na Casa Branca –, e em quantos documentos consegui pôr as mãos, entre um e outro.

LARS SHALL: Você falou de 1907, e o banqueiro dominante naquele momento era John Pierpont Morgan. Era, basicamente, o representante da City de Londres e da banqueirada britânica em Wall Street?

NOMI PRINS: Era um dos que tinha laços mais próximos, tanto do ponto de vista pessoal, mas, também porque o Morgan Bank tinha laços com a City de Londres e com Paris. Naquele momento, era proprietário de empresas de vários capitais associados nessas cidades. Quando ao contexto para o pânico de 1907, foi pânico bancário gigante nos EUA, as pessoas, principalmente em New York, corriam aos bancos para sacar seus depósitos, porque havia problema de confiança, e grave crise bancária que estava fermentando. Teddy Roosevelt temia que se convertesse em vasta crise econômica para todo o país. Convocou J. P. Morgan para consertar a coisa: isso aconteceu em 1907, 22 anos antes docrash em 1929, onde o banco dele novamente estava no centro. Morgan com certeza representava interesses internacionais em relação aos financistas norte-americanos: era o mais poderoso, o mais internacional dos banqueiros norte-americanos, mas era também o mais profundamente preocupado com o crescimento do status dos EUA. Passado aquele ponto, haveria muito o que o banco Morgan crescer, depois da Iª Guerra Mundial e da IIª Guerra Mundial.

Mesmo antes do pânico de 1907, ainda nos anos 1890s, já era a família Morgan – e esse é um dos outros grandes temas de que trato em meu livro: que não apenas indivíduos controlavam as alianças político-financeiras e as políticas domésticas e globais dos EUA; mas há um pequeno punhado de famílias que detiveram o poder ao longo de décadas, por mais de um século, e cujos legados, patrimônios e herdeiros ainda mantêm influência e poder. A família Morgan foi com certeza uma das principais famílias que se enquadra exatamente nesse contexto. Nos anos 1890s, um dos Morgans, J.S. Morgan ajudara a salvar financeiramente a City de Londres, quando nem o Banco da Inglaterra conseguiria fazê-lo. Assim, essa ideia de banqueiro privado que salva outros banqueiros privados, seja internacionalmente, seja domesticamente, nasceu um pouco antes de eu começar a escrever, mas não há dúvidas de que prosseguiu adiante, já no século 20.

LARS SHALL: Se lhe perguntasse a quem o pânico de 1907 beneficiou [orig. cui bono], o que você diria?

NOMI PRINS: Quem mais se beneficiou do pânico de 1907 foi J. P. Morgan, é claro, que dirigia o Morgan Bank naquele momento e era confidente e conselheiro econômico chave do presidente Teddy Roosevelt, que lhe deu poder e capacidade para decidir apoiado pela Casa Branca e pelo Departamento do Tesouro sobre quais os bancos que sobreviveriam e quando morreriam durante o pânico bancário de 1907; e Morgan fez exatamente isso. Ele escolheu apoiar os bancos que de algum modo estavam associados a ele, fossem dirigidos por amigos, associados, relações pessoais suas, ou nos quais o próprio Morgan tivesse interesses financeiros. Depois do pânico de 1907, já eram realmente as família Morgan, Stillman, que controlavam o National City Bank; os Bakers, que controlavam o First National City Bank (e esses dois bancos acabaram por se tornar o que hoje se conhece como Citigroup, um dos seis grandes bancos, e, claro, Morgan existe até hoje sob a forma de J.P. Morgan Chase, mais um dos ‘seis grandes’ bancos.) O grande beneficiário foi, mesmo, Morgan; a coisa ajudou-o a ganhar confiança para movimentar o timão do barco do establishment, do que viria a ser o Federal Reserve, que se tornou O BANCO dos grandes bancos.

LARS SHALL: Como o pânico de 1907 foi usado pelos interesses de Morgan e Rockefeller, para criar o Federal Reserve?

NOMI PRINS: Pergunta muito interessante. O que aconteceu foi que – mesmo antes do pânico – esses financistas, a nova liga do poder nos EUA, queria encontrar um meio para promover o que chamo de “a era do capitalismo financeiro”; eu é que chamo assim, não eles! A ideia é que você hoje pode fabricar dinheiro de dinheiro, diferente de o dinheiro ser necessariamente conectado a interesses industriais, aço ou petróleo – embora os Rockefellers tenham feito quantidade considerável de dinheiro e continuem a fazer, com empresas como aStandard Oil Company e outras assemelhadas. Mas eles, especialmente William Rockefeller, estavam procurando um jeito de fazer dinheiro e de tornar-se parte de um dos “fundos de dinheiro” [orig. “money trusts”] do início dos anos 1900s.

Depois do pânico de 1907, J. P. Morgan e, em menor extensão, também Rockefeller – os Rockefellers não estiveram envolvidos na reunião real que aconteceu em Jekyll Island, embora William Rockefeller fosse sócio do ClubeJekyll Island naquele momento. Ali, em reunião realizada em 1910, seis homens reuniram-se para conceber e aprovar a “invenção” do Federal Reserve. Entre eles, havia um senador do governo dos EUA, Nelson Aldrich, senador por Rhode Island, e muito conectado com a comunidade dos banqueiros. Conhecia Morgan; conhecia os Rockefellers, e assim por diante. E ele e um de seus secretários assistentes do Tesouro reuniram-se com quatro banqueiros, Frank Vanderlip, Henry Davison, Paul Warburg e Benjamin Strong, todos eles ligados a Morgan. Só conseguiram reunir-se na Ilha Jekill, como demonstro no livro, porque J. P. Morgan, que era sócio do clube local, convidou-os. Naquele momento, era clube muito exclusivo: só membros entravam. Nenhum dos que se reuniram aquele dia era sócio, e J. P. Morgan, que, sim, era sócio, não esteve presente.

Na verdade, e é aí que os agentes dos Rockefeller entram em cena na periferia de tudo isso, Nelson Aldrich sequer tinha planos, ou interesse em ir até a Ilha Jekyll; ele queria que aqueles encontros acontecessem em sua mansão em Rhode Island, para que acontecessem longe dos olhos de todos, mas, também, em terra de propriedade dele, ao norte de New York e não, com certeza, ao norte da Geórgia, onde fica a Ilha Jekyll. Mas foi ferido num acidente de carro em Manhattan, emNew York City, onde estava em visita para conversar com Morgan e outros sobre o tal “banco dos bancos”. Estava convalescente; não sabia se conseguiria viajar; e foi quando J. P. Morgan sugeriu que a reunião acontecesse na Ilha Jekill e convidou-o. Foram necessários vários arranjos na Ilha Jekyll para receber aquela gente, porque era novembro e a temporada não começara. A Ilha Jekyll ganhava vida de dezembro a janeiro, quanto todas as famílias ricas chegavam para as casas de veraneio para os feriados de fim de ano; era quando os homens ricos conversavam, e as mulheres e crianças ricas, de certo modo, “tomavam ar” e corriam fora de casa.

Mas a tal reunião aconteceu porque J. P. Morgan e o senador Nelson Aldrich, cujo filho Winthrop Aldrich seria presidente do Banco Chase durante vinte anos, e cujo sobrinho-neto, David Rockefeller, também seria presidente do Chase por vinte; e cujo outro sobrinho-neto, Nelson Rockefeller, seria por quatro vezes prefeito de New York City. Essa linhagem familiar que começou aí, a partir do Federal Reserve é, evidentemente, mais nova.

O que mais interessava aos banqueiros era assegurar que, em situação de pânico, haveria um Federal Reserve que daria cobertura aos bancos, não que a crise não se alastrasse; e que os próprios banqueiros não tivessem de pôr o próprio dinheiro para dar jeito na coisa, fosse para se salvarem eles mesmos, ou para salvar o sistema deles. Esse era o ímpeto para criar o Fed – ter uma entidade consolidada que também criasse moeda e que pudesse apoiar os bancos e banqueiros em tempos de pânico.

Do ponto de vista do governo dos EUA, do presidente William Taft, que sucedeu Teddy Roosevelt e Woodrow Wilson, que foi presidente depois dele – ambos acreditavam que um Federal Reserve seria absolutamente necessário, basicamente –e essa questão, que a história oficial discute pouco, mas que discuto a fundo em meu livro – para promover o poder dos EUA no novo século.

Essa ideia de ter um banco central competitivo, alinhado com os bancos privados, foi algo extremamente importante para esses presidentes, dos dois grandes partidos dos EUA: ambos os lados tinham conexões pessoais muito fortes com os Morgan, os Aldrich e os Rockefellers, além de algumas outras famílias que naquele momento operavam os ‘fundos de dinheiro’.

LARS SHALL: Pode-se dizer que o Fed foi criado por uma conspiração?

NOMI PRINS: Não é conspiração. Apenas que toda Wall Street estava criando o Fed: é um fato histórico. Foram pessoas reais e bem conhecidas, gente que mantinha escritórios legais em Wall Street, que realmente se reuniram e trabalharam com Nelson Aldrich, que, então, presidia a Comissão de Finanças do Senado dos EUA, onde permaneceu por dois anos, reunindo informação e viajando à Europa, onde esteve várias vezes para avaliar o quanto, do modo como operavam os bancos na Inglaterra e na França, poderia ser aproveitado para desenhar a estrutura do Federal Reserve. James Stillman, um dos líderes dos ‘fundos de dinheiro’ e amigo de Morgan e dos Rockefellers, que dirigia oNational City Bank, um dos maiores bancos do país naquele momento (hoje, é parte do Citigroup) viajou durante meses com Nelson Aldrich pela Europa, ao longo de dois anos, antes da reunião da Ilha Jekyll. Não. Ninguém pode dizer que tenha havido algum tipo de conspiração: tudo, na criação do Fed está muito bem documentado.

O fato de que houvesse quatro banqueiros e dois “representantes” de Washington na Ilha Jekyll, quando o Fed foi “inventado”, tampouco sugere conspiração: é fato e movimento histórico conhecidos. Também é fato que – porque, como mencionei, Nelson Aldrich foi atingido pelo próprio carro e não estava em sua melhor forma depois da reunião na Ilha Jekyll; por isso, Aldrich, que deveria ter apresentado em Washington o relatório final da reunião, foi substituído por dois banqueiros: Frank Vanderlip (o nº 2 do National City Bank, que trabalhava para James Stillman) e Henry Davison (sócio-sênior no Banco Morgan). Não. De modo algum se pode falar de conspiração. Não aconteceu como conspiração.

LARS SHALL: Sim, mas... lá entre eles, essa gente que se reuniu na Ilha Jekill conspirou uns com os outros, e só eles, para criar o Fed. Ou não?

NOMI PRINS: De fato, nada havia sobre o que conspirar; na prática, foi muito mais fácil que uma conspiração. Aqueles homens apenas trabalharam coordenadamente para criar o Federal Reserve, porque queriam que houvesse um banco “como o Fed”: Washington queria; os chefes de Wall Street queriam. Todos estavam aliados querendo a mesma coisa: ninguém precisou se preocupar com conspirações. Eles, simplesmente, trabalharam juntos na mesma direção.

LARS SHALL: Mas os eleitores e o público em geral não participaram da discussão, nem souberam de coisa alguma. E eles lá tomaram todos os cuidados para que a coisa não ‘vazasse’, e o público em geral não soubesse de coisa alguma.

NOMI PRINS: Ah, sim, nesse sentido, sim, sem dúvida. Mas acho que a expressão “conspiração” já está muito gasta. E mantém o significado sempre obscuro de coisas que teriam sido feitas assim ou assadas, que se diz que sim, mas não, ou diz-se que não, mas sim. De fato, por mais que os eventos da Ilha Jekill tenham sido mantidos longe dos olhos da opinião pública, a questão foi apenas proteger interesses de bancos e banqueiros; nada há, nisso, de ilegal... Não há lei que obrigue seis banqueiros a discutir exclusivamente no Congresso mecanismos de autoproteção... Dado que aqueles banqueiros tinham os meios necessários para reunir-se como se reuniram (e reuniram-se com um senador, em reunião perfeitamente legal). A opinião pública não estava politicamente envolvida de modo algum no modo como o Fed seria concebido, ok, mas a opinião pública não é necessariamente ouvida em todas as decisões de Washington ou de Wall Street; de fato, nunca é realmente ouvida no que tenha a ver com essas relações de poder.

O que escrevi no livro é que houve muita conversa, durante o governo Taft, de 1910 até 1913, quando o Federal Reserve foi criado e a lei assinada em dezembro de 1913. Ao longo dos últimos anos do governo Woodrow Wilson, muito se falou sobre a invenção do Fed em Washington, como acontece até hoje, quando começam a aparecer notícias de que senadores e banqueiros e presidentes reuniram-se, que houve conversas na calada da noite, para decidir como implantar estruturas e o que assinar, quando e como. E, sobretudo, como as notícias serão levadas ao público. Assim sendo, se você pensar nisso tudo como “conspiração”, a única conclusão razoável é que governos são, necessariamente, conspiratórios. Mas a realidade é que esse tipo de homem e mulher trabalha desse modo porque podem. A ideia era como “chegar lá”, como fazer para que a “coisa” fosse bem-sucedida, qual o melhor formato. E depois que o presidente Woodrow Wilson já assinara a Lei do Federal Reserve, o próprio presidente encarregou-se de vender a “coisa” à opinião pública como se o tal Banco de Reserva fosse garantir crédito aos cidadãos comuns, a pequenos agricultores, a pequenos bancos de pequenas cidades, o que ajudaria todos os norte-americanos, garantindo crédito a todo o sistema, quando houvesse situações financeiras negativas.

Mas a única verdade é que, desde o início, o Fed foi pensado para proteger as maiores – não por acaso são também as mais poderosas, politicamente, socialmente e pessoalmente – instituições interconectadas nos EUA. E continua a operar precisamente do mesmo modo, até hoje.

Por isso o Fed preservou todas as fusões e aquisições que aconteceram ao longo do século, desde a criação; por isso garantiu liquidez sempre, como benefício a favor dos maiores bancos; e por isso, hoje, aqueles seis bancos são maiores – não são exatamente os mesmos seis bancos de então, mas não “desenvolvimentos” e “derivados” deles, ainda maiores que eles – e são maiores do que jamais foram antes, e têm mais subsídios dados a eles pelo Federal Reserve do que jamais tiveram antes, em tempo algum; e o Federal Reserve tem cofre maior do que jamais teve antes. É a culminação, hoje, de mais de um século de “operação”. Parte daquele “cofre” foi aberto e começa-se a conseguir ver os resultados.

LARS SHALL: Os EUA precisam do Fed?

NOMI PRINS: Os bancos dos EUA precisam do Fed porque, sem seus subsídios, já teriam falido várias vezes ao longo dos anos, e com certeza ao longo de anos recentes. Mas, mais uma vez, é realmente importante saber que esse é um dos motes principais do livro: desde o início do Fed, os bancos e banqueiros, e o governo dos EUA, precisaram do Fed. Vale dizer: o Fed é tanto um banco para os bancos, como é instrumento político de poder financeiro para o governo. O governo acredita que precisa do Fed para subsidiar e salvar grandes instituições bancárias que estão integradas de muitas e muito variadas maneiras também com o próprio governo. Esses bancos têm contato direto com o eleitor, com o público, com o cidadão comum, é onde guardamos nossa poupança, lhes damos nossos depósitos, os contribuintes pagamos pelos fracassos e “resgates” desses bancos quando fracassam, porque não podem fracassar “oficialmente”. Mas, ao mesmo tempo, as filosofias dos membros da elite política e financeira dos EUA alinham-se, todas, a serviço do Fed.

E então? Precisamos do Federal Reserve? O público não precisa do Fed. As atividades que o Fed fornece e que têm algo a ver com o público, como gerir taxas de juros e tal, podem ser fornecidas pelo Departamento do Tesouro, embora o Departamento do Tesouro também esteja subsidiando e apoie sempre, politicamente, pessoalmente, socialmente e financeiramente as grandes instituições bancárias. Sim, é útil ter uma entidade para manter os juros, mas isso não é precisamente o que o Fed faz, como seu principal “serviço”. O principal serviço do Fed é subsidiar um sistema bancário falido; com o Fed fantasiado de sistema regulatório dos bancos e protegendo a disponibilidade de crédito do país – sobre o qual, de fato, o Fed não tem poder algum. Essa é uma das mentiras sob cuja proteção o Fed foi criado, há cem anos.

LARS SHALL: Mas e o Fed não se converteu em banco internacional de resgate de bancos?

NOMI PRINS: É, pode-se dizer que sim, por causa da globalização da finança, de vários modos, ao longo do século passado. Os bancos norte-americanos não são os únicos bancos que correm riscos, nas crises financeiras. Essas crises são cada dia mais globais e assim continuará a ser, no futuro. Assim, quando o Fed decide proteger os grandes bancos norte-americanos, tem de proteger também seus contrapartes que, dada a natureza globalizada de toda a finança, inclui bancos europeus, bancos asiáticos, inclui basicamente todas as contrapartes de todos os seis grandes bancos. E não é só. Há também as próprias políticas do Fed, além dos subsídios. Há a própria ideia do subsídio e a filosofia que lhe dá apoio: tudo isso também foi globalizado.

O Fed já empurrou suas políticas, como vimos nos últimos anos, também para a Europa. Assim, hoje, você tem a política de taxa de juro zero por toda a Europa, além dos subsídios e resgates, e fortalecimento artificial de todas as instituições maiores, à custa de todas as instituições menores, e o fortalecimento de grande países, à custa de países menores. Essa é política institucionalizada que o Fed está promovendo; portanto, é também a política do Departamento do Tesouro e do governo dos EUA. É promoção colaborativa que, também ela, já se tornou global.

LARS SHALL: Dado que já lá vão 100 anos desde o início da Iª Guerra Mundial, o que se pode dizer sobre o big banking em Wall Street e o massacre que a Europa padeceu?

NOMI PRINS: Mais uma vez, o Banco Morgan e a família Morgan são protagonistas. Quando Woodrow Wilson considerava a possibilidade de não envolver os EUA na guerra, ele organizou uma reunião na Casa Branca, e foi reunião muito interessante, porque Wilson fizera campanha com plataforma que pregava um distanciamento dos interesses do big banking, que, naquela época, chamava-se Money Trust. Mas Wilson era muito amigo dos Morgan; a família o apoiara antes de ser presidente e também depois de eleito.

Aquela reunião, que aconteceu em julho de 1914 na Casa Branca foi muito criticada na imprensa-empresa, porque parecia estranho que Morgan aparecesse em visita à Casa Branca, depois de Wilson ter feito campanha pública contra os interesses dos bancos. A questão é que, como adiante se soube, Morgan estava em conversações com Wilson sobre financiar uma guerra. De fato, quando a guerra começou, e os EUA imediatamente apareceram financiando franceses e britânicos, foi por causa do empurrão que o país recebeu do Banco Morgan. E durante toda a guerra o mesmo Banco Morgan financiou ou dirigiu o financiamento de 75% de todo o dinheiro e de todos os investimentos privados que foram para o esforço norte-americano de guerra e para os aliados dos EUA. Houve colaboração muito forte naquele momento entre o Banco Morgan, organizando os outros bancos, e Woodrow Wilson entrando na guerra. Tudo estava diretamente relacionado, porque sem dinheiro os países não tendem a meter-se em guerras.

LARS SHALL: O Tratado de Versailles foi benéfico para o big banking de Wall Street?

NOMI PRINS: No Tratado de Versailles, lá estava um sócio de Morgan, muito ativo também com Woodrow Wilson quando o tratado estava sendo negociado e assinado; o homem foi Tom Lamont, que continuou depois, ao longo de décadas, associado do Banco Morgan. Em 1919, foi instrumental na negociação das indenizações que seriam parte do Tratado de Versailles. Uma das razões para isso foi que era importante para os bancos, para os grandes bancos em particular, ter alguma espécie de estabilidade na Europa, de modo que pudessem ter presença nos investimentos para reconstruir a infraestrutura na Europa. E financiariam a infraestrutura e a reconstrução de todas as partes envolvidas na Grande Guerra.

Beneficiaram-se portanto, porque conseguiram ampliar o alcance e os próprios negócios para a Europa, de um modo que jamais, antes da guerra, haviam conseguido fazer; o tratado, portanto, ele próprio, no final da guerra, ajudou muito. Mas é claro que o tratado não fez “todo o serviço”, só ele, porque tivemos logo depois uma segunda guerra, depois do grande crash de 1929 e a grande depressão, ao longo dos quais os banqueiros continuaram a pressionar o governo dos EUA para que ajudassem a financiar alguns dos países que já estavam financiando, para manter aquele mesmo financiamento privado. Houve vários acordos depois do Tratado de Versailles nos quais os banqueiros estavam envolvidos também, porque o Tratado de Versailles não estava, de fato, funcionando muito bem; são tratados pelos quais os banqueiros conseguiram empurrar o governo dos EUA a financiar algumas reestruturações na Europa, pelas quais os grandes bancos conseguiram “atropelar” vários negócios [orig.they could piggy-bank upon] e novamente aumentar na direção da Europa o alcance do financiamento pelos grandes bancos.

LARS SHALL: O Federal Reserve foi fator crucial na “montagem” do Grande Crash de 1929?

NOMI PRINS: Não foi fator tão crucial como o Fed, hoje, a empurrar dinheiro barato para dentro de Wall Street. Mas foi um dos fatores. De fato, um dos presidentes de um dos “Seis Grandes”, Charles Mitchell, foi também diretor classe A de Federal Reserve de New York, e diretor do National City Bank. Quando os mercados começaram a ratear no início de 1929, ele forçou todo o Fed a baixar as taxas de juros, para permitir que liquidez e dinheiro barato fluíssem na direção do sistema, porque já sabia, de examinar os próprios livros de seu banco e os negócios em curso, que as coisas estavam ficando muito gravemente problemáticas.

Assim, em certo sentido, os movimentos do Fed podem ter exacerbado a intensidade da quebradeira, mas a grande causa, na realidade, foram as manobras dos grandes bancos. Estavam envolvendo-se em todos os tipos de especulações depois da Iª Guerra Mundial, porque os três presidentes dos EUA depois da Iª Guerra Mundial – Warren Harding, Calvin Coolidge e Herbert Hoover – tinham política de não tomar conhecimento e fazer que não viam os tipos de especulação em que os banqueiros engajavam-se; e, sim, eles se engajaram em muita especulação. O secretário do Tesouro naquele momento, Andrew Mellon, era, ele próprio, escroque conhecido: milionário e industrialista, dirigia também um banco. Acabou expulso do governo Hoover, caído em desgraça, acusado de vários crimes de evasão de divisas e de usar a favor dos próprios negócios as políticas de juro que ele mesmo concebia, naquela já perfeita bolha de especulação. Quer dizer: sim, todos estavam envolvidos.

LARS SHALL: As políticas do Fed trouxeram alguma vantagem aos EUA durante a Grande Depressão?

NOMI PRINS: Mais uma vez, a resposta é não. A principal política que ajudou durante a grande depressão foi a Lei Glass-Steagall e a confiança que instilou na população dos EUA, a favor do sistema bancário, porque aquela lei separou as atividades de pura especulação e o dinheiro dos depositantes; e também reduziu o risco de os cidadãos, os contribuintes, os que pagam impostos, ser forçados a responder pelos desmandos e erros da indústria bancária.

Hoje, o Fed fala de o Fed já estar envolvido na ajuda “antidepressão” (embora Ben Bernanke entenda que deveria ter ajudado mais depressa), mas a verdade é que as coisas nunca foram como são hoje; o Fed não estava maduro. Naquele momento, foi preciso criar várias leis; outras mudanças foram feitas diretamente pela cúpula, outras foram feitas de baixo para cima, e um banqueiro, em especial, o presidente do Chase no governo de FDR, Winthrop Aldrich (era amigo de FDR e trabalhou com ele para promover e conseguir aprovar a lei Glass-Steagall, porque entendia que seria importante para a nação e para a indispensável confiança da população, nos bancos, que todo o sistema bancário fosse mais seguro e mais estável).

LARS SHALL: Por que, então, se viu uma mudança na estrutura de poder, de Morgan para Rockefeller, que aconteceu durante e depois da IIª Guerra Mundial

NOMI PRINS: Como já disse antes, o Banco Morgan foi financiador destacado, comandando 75% do financiamento privado na Iª Guerra Mundial e muito próximo de Woodrow Wilson e do Secretário do Tesouro à época. Esteve muito envolvido nas decisões que Washington tomou sobre financiar o esforço dos bônus de guerra em todos os EUA para levantar fundos adicionais e tal. Mas à altura da IIª Guerra Mundial – o Chase (que já era mais banco de Rockefeller), por causa de Winthrop Aldrich, presidente do Chase e amigo de FDR, pressionou na direção de deixar de lado o Banco Morgan como financiador da guerra.

Daí que o esforço dos “Bônus para a Liberdade” [orig. Liberty Bond] ou o esforço dos Bônus de Guerra para a IIª Guerra Mundial nos EUA foi, de fato, comandado por Aldrich, e pelo National City Bank, o outro grande banco, presidido por James Perkins e, depois de sua morte, por uma dupla de outros executivos, inclusive um homem de nome Randolph Burgess, que fora diretor do Fed deNew York antes de passar a ser vice-presidente sênior do National City Bank e amigo íntimo do Secretário de Tesouro de FDR, Morgenthau.

Esses fortes relacionamentos com o governo de FDR, de Truman e de Eisenhower fizeram a balança pender para o lado dos bancos Chase e National City. Esses bancos, além do mais, tinham modelo diferente do Morgan Bank: esses bancos usam dinheiro de pessoas individuais no empuxo para a guerra e pediam às pessoas que abrissem contas em suas lojas e, simultaneamente, que comprassem bônus de guerra. Assim, ao longo de toda a guerra, foram ganhando clientela, o que muito os ajudou depois, porque lhe assegurava mais capital para o futuro, ao mesmo tempo em que se mantinham firmemente associados-envolvidos com Washington, o esforço dos bônus de guerra e os esforços de financiamentos privados para o esforço de guerra. Assim, o equilíbrio mudou: de um relacionamento “de banco”, para a filosofia de induzir indivíduos a participar mais ativamente [da guerra].

LARS SHALL: Como o poder financeiro modelou a ordem mundial, depois da IIª Guerra Mundial?

NOMI PRINS: Depois da IIª Guerra Mundial, quando Truman era presidente e o Banco Mundial acabava de ser inventado pelo Acordo de Bretton Woods, como o FMI, etc., houve um homem, de nome John McCloy, que foi secretário-assistente de Guerra no governo de FDR, que também era advogado e trabalhava muito próximo da família Rockefeller, com Nelson Rockefeller e, depois, com David Rockefeller. Depois da IIª Guerra Mundial, foi convidado a ser o segundo presidente do Banco Mundial. Ao aceitar, apresentou uma única condição: que Wall Street seria o mecanismo que distribuiria os bônus nos quais se baseariam muitas das iniciativas do Banco Mundial. Exigiu portanto algo que a lei não considerava, porque, de conversas que tivera com o secretário do Tesouro de Truman – John McCloy já sabia que Wall Street seria o “fator” que realmente decidiria quais os países que o Banco Mundial apoiaria.

Seriam sempre países capitalistas e, em tempos de Guerra Fria, países capitalistas obtêm negócios melhores. O governo Eisenhower financiaria países já praticamente alinhados com os ideais de John McCloy o qual, adiante, seria presidente do Chase, e de outros banqueiros ativos naquele momento. Implica dizer que muito do que aconteceu militarmente, além do que aconteceu financeiramente em termos da expansão dos EUA depois da IIª Guerra Mundial e durante toda a Guerra Fria, foi esse alinhamento de financiadores com apoio dos militares norte-americanos e apoio ideológico do governo dos EUA, que desejava que os banqueiros estendessem seus tentáculos também para os países aos quais os militares e o governo começavam a tentar chegar. Houve esse tipo de alinhamento mútuo quando os EUA decidiram ampliar o próprio status de superpotência, politicamente e financeiramente, depois da guerra.

O Banco Mundial e o FMI foram componentes, ou ferramentas, nessa ampliação.

LARS SHALL: Uma parte do sistema de Bretton Wood foi que o dólar norte-americano era praticamente “como ouro”. Por que tantos banqueiros norte-americanos tão destacados passaram a advogar o fim do padrão ouro no final dos anos 1960s, inícios dos 1970s? É possível que o padrão ouro opere como “régua” efetiva para medir o crescimento excessivo do setor financeiro e práticas bancárias abusivas?

NOMI PRINS: Oh, sim, o ouro é “régua” muito, muito mais efetiva para aferir e denunciar crescimento financeiro excessivo e abusos. O ouro foi, efetivamente, fator de regulação; continha a expansão dos banqueiros, porque eram obrigados a ter alguma reserva posta de lado e, além delas, também as reservas reais de outros participantes globais. Por causa disso, os banqueiros norte-americanos tinham menos controle sobre o movimento do ouro que entrava e saía de suas empresas. Depois que convenceram o governo dos EUA a pôr fim ao padrão ouro e à exigência de que o ouro operasse como lastro de transações, especulações ou expansões, então... ficaram liberados para todo um novo nível de expansão.

Por isso é que, hoje, preferem taxa de juros zero, dinheiro barato, desde que tenham menos barreiras a impedir a atividade deles. É parte do mesmo padrão e da mesma lógica de pôr fim ao padrão ouro: preferem o caminho menos controlado para a especulação. Houve tremenda expansão global dos bancos norte-americanos, que já havia começado depois das guerras, mas que acelerou muito depois que o padrão ouro foi eliminado, porque era mais fácil de fazer. Simplesmente, menos barreiras para atrapalhar os banqueiros. Defenderam o fim do padrão ouro muito publicamente, falaram abertamente da remoção do padrão ouro, até que, quando Nixon finalmente anunciou a coisa, em 1971, foi como se a ideia tivesse sido dele. Foi ideia que Walter Wriston, presidente doNational City Bank, e David Rockefeller, que era presidente do Chasedefenderam muito empenhadamente em várias cartas e outros tipos de conversas e contatos pessoais que discuto em detalhe, no livro.

LARS SHALL: Você acha que o ouro terá futuro no sistema monetário?
NOMI PRINS: Acho que, com certeza, há muita gente que deseja isso, em países fora dos EUA, por causa do modo como o sistema financeiro evoluiu globalmente; os bancos norte-americanos, especificamente, têm poder demais, politicamente e financeiramente. Politicamente, por causa da aliança deles com o governo dos EUA; e financeiramente, porque podem alavancar muito capital barato sem qualquer lastro ouro.

Mas essa é também a razão pela qual acho que vai ter de haver uma grande mudança no poder, no poder político e financeiro. Ter o ouro, sim, assegurar essa espécie de futuro – porque esses banqueiros vão lutar com unhas e dentes. Essas instituições, esses relacionamentos que eles têm com o mundo político em Washington, com o Federal Reserve, revela a quantidade tremenda de poder que foi mobilizado para afastar o ouro e removê-lo, como régua, das transações de especulação e das expansões em todo o mundo.

Significa que, sim acho que vai haver batalha duríssima até que o ouro retorne como exigência presente que dê alguma base para controlar a especulação. Vai ser processo longo e demorado, de longo, longo prazo, se chegar a ser algum dia possível, dada a furiosa oposição já concentrada contra ele e a poderosa aliança político-financeira já constituída contra o ouro, nos EUA.

LARS SHALL: Um fator que sustentou o dólar norte-americano depois do início dos anos 1970s foi a evidência de que o petróleo só era vendido em dólares norte-americanos. Como foi que o petrodólar mudou, nos anos 1970s, o relacionamento entre Wall Street e Washington?

NOMI PRINS: É excelente pergunta, porque a história que tracei, desde o início dos 1900s até os anos 70s é a história de relacionamentos muito próximos, laços familiares e associações entre banqueiros em Wall Street e políticos em Washington, sempre irmanados numa mesma concepção política. Mas quando os banqueiros descobriram que se poderiam envolver na reciclagem de petrodólares, o dinheiro que saía em dólares dos lucros do petróleo no Oriente Médio, eles começaram a fragmentar-se: deixaram de tentar fingir que estavam alinhados com as políticas “democráticas” dos EUA, pensadas para “ajudar” os cidadãos norte-americanos, a população nacional norte-americana em casa, ou globalmente, pelo mundo.

Repentinamente, encontraram essa fonte externa de tremenda lucratividade e de capital, que então reciclaram como empréstimos para países latino-americanos onde quiseram expandir-se; mas agora tinham aquele capital adicional para emprestar. Puseram-se então a “desalinhar-se” em relação ao governo, exceto quando lhes interessava diretamente, embora continuassem a manter laços estreitos com membros da elite do governo dos EUA e continuem, até hoje, a trabalhar a favor desses mesmos interesses. Além do mais, a transparência, com demanda e prestação oficiais de contas, da era pré anos 1970s, foi sumindo, sumindo, enquanto o roubo, o saque e a corrupção avançaram muito entre os mais poderosos bancos e banqueiros de Wall Street.

LARS SHALL: É verdade. Boa ilustração pode ser a seguinte: em seu livro você escreve sobre a revolução de 1979 no Irã e como foi causada em parte por ação “autista”, de extremo egoísmo, empreendida por David Rockefeller. Pode nos falar sobre isso?

NOMI PRINS: É. Passei muito tempo em todas as bibliotecas dos presidentes, mas nos arquivos de Jimmy Carter, em Atlanta, Geórgia, implantaram um sistema chamado RAC system, que inclui muitos arquivos, sobretudo de questões de segurança nacional, recentemente abertos à consulta pública. De ler esses arquivos, logo ficou bem evidente para mim que havia muita tensão em Washington em torno do relacionamento entre David Rockefeller e o Xá do Irã antes da crise iraniana, durante a crise dos reféns, mas também depois disso, quando o Banco Chase decidiu tomar unilateralmente uma decisão muito arriscada, a pedido de David Rockefeller; tratava-se de não aceitar um pagamento de juros do Banco Central do Irã. O Banco Chase decidiu agir assim sem consultar os emprestadores daquele específico negócio, inclusive emprestadores europeus, além de emprestadores norte-americanos; e na sequência, depois de não aceitarem o pagamento, declararam insolvente o banco iraniano.

Foi a primeira vez que o Banco Central do Irã foi declarado “em calote”; isso realmente fez aumentar as tensões sobre o que se passava na crise dos reféns e nas relações gerais entre EUA e Irã. Mesmo ao final da crise dos reféns, o acordo para libertar os reféns só aconteceu em troca de os EUA devolverem boa parte do dinheiro sequestrado pelo Banco Chase e outros bancos, e o suspense se manteve até o último momento, quando afinal os reféns foram libertados, o que aconteceu já no governo de Ronald Reagan, não no de Carter. Houve muita atividade entre os bancos sobre trocas de números de lado a lado, um lado absolutamente sem confiar em coisa alguma que o outro dissesse ou fizesse.

É história muito intrincada, mas mostra, basicamente, que o relacionamento de David Rockefeller com o Xá foi parte de por que aconteceu a crise dos reféns; e o fato de que tenha se arrastado por tanto tempo, sobretudo no final, quando só restavam, a serem resolvidas, as negociações em torno do dinheiro. Esses problemas foram causados pelo Banco Chase e outros; e, sim, atrasaram a coisa toda.

LARS SHALL: Sigamos adiante. Você acha que o poder financeiro dos EUA está em declínio no mundo?

NOMI PRINS: Não acho – e nisso penso diferente do que muitos dos meus contemporâneos andam dizendo – por causa dessa aliança de poder que existe, por causa da solidez das conexões históricas entre a Casa Branca e os atores e instituições e legados mais poderosos em Wall Street. Há tanta coisa em jogo para os dois lados, e tantos e tais subsídios épicos aplicados para manter o sistema financeiro exatamente como é, porque assim se reforça o poder do governo em Washington; e vice-versa.

Por isso, o governo admite que esses grandes banqueiros e instituições sempre se safem, façam o que fizerem, e os subsidia ao ponto extremo que sabemos que faz. Esses bancos estão sendo artificialmente inflados, por causa de subsídios, não por causa de alguma lucratividade inerente que houvesse neles. É posição extremamente perigosa, essa em que estão; e se é perigosa para eles, é também perigosa para todos nós. O Fed guarda 4,2 trilhões de dólares de securities em seus livros, graças a um nível épico de compra de papéis, além de insistir em política de juros-zero já há seis anos, desde o início da crise de 2008.

O que se vê aí é apenas mais uma indicação de o quando poder é mobilizado, quantas decisões estúpidas, mas efetivas, reais, que geram consequências, são tomadas em Washington exclusivamente para manter essa aliança de poder. Não creio que haja alguma outra nação no mundo em que haja conexão histórica tão forte entre a vida política e o sistema bancário. E é por isso que os EUA continuam a fazer o que fazem e a tomar decisões para garantir total impunidade aos banqueiros, nesse jogo de poder. Acho que enquanto continuar a haver muita subsidiarização e transparência zero no sistema bancário, o poder financeiro dos EUA contra o mundo será mantido. É modo péssimo de ter ou manter poder, mas acho que é o que se vê hoje e continuaremos a ver.

LARS SHALL: Uma pergunta espontânea que me ocorreu agora: você acha que as agências de inteligência dos EUA estejam também envolvidas nisso? Que também ajudam a manter o sistema financeiro dos EUA?

NOMI PRINS: Não é item que eu tenha pesquisado e, sim, é uma lata inteira de outros vermes. Mas os sistemas de inteligência nos EUA são parte da cola – do ponto de vista tecnológico – que mantém grudados o governo e as finanças. Políticas de segurança nacional em geral sempre estiveram alinhadas com as políticas de expansão de bancos, ao longo de décadas. Como já disse antes, falando da análise dos anos 70s, foram arquivos que não investiguei. O que encontrei, por exemplo, sobre a crise dos reféns do Irã e a ação de banqueiros foi um exemplo de como essas vias se entrecruzam; não tenho dúvidas de que, no futuro, veremos muitos documentos que mostrarão o forte alinhamento entre iniciativas mais recentes de segurança nacional e a elite político-financeira.

LARS SHALL: O que, na sua opinião, seria o fim da atual crise financeira, e como as pessoas poderiam preparar-se para ele?

NOMI PRINS: Mais uma ótima pergunta. O fim do jogo é o que estamos vendo agora. Os principais atores financeiros, tome o início da crise em 2008, foram ridiculamente subsidiados por governos, sobretudo nos EUA, como já falamos, mas também na Europa – o Banco Central Europeu tomou algumas decisões para manter vivos os maiores bancos na Europa e ajudá-los.

O que vejo é que isso continuará, e o resultado será cada vez mais concentração e consolidação nas mãos dos maiores bancos e dos maiores presidentes de bancos que jamais se viram. Nos EUA, por exemplo, os seis grandes bancos hoje têm mais patrimônio, mais depósitos, controlam mais derivativos que em qualquer outro momento da história dos EUA. Se um grupo tão pequeno de indivíduos e instituições controlam tanto capital e, implicitamente, todas essas conexões com a elite política, o jogo continua; a concentração de muito poder e capitais gigantescos continua.

Para onde vai tudo isso? Digo que até aqui andou ininterruptamente na direção errada, se a meta fosse situação de estabilização para a vida das pessoas. Temos, claro, de nos proteger. Como nos protegemos? Podemos reduzir ao mínimo o dinheiro que mantemos nos grandes bancos.

Ainda que tenhamos hipotecas a pagar a esses bancos, mesmo assim podemos tentar minimizar outras quantidades de capital em que nos envolvemos, porque é um meio para nos pôr, pelo menos parcialmente, o mais fora possível desse sistema vicioso. Entendo que é importante. Acho que é. Temos de perceber que a euforia dessa suposta recuperação dos EUA, da qual tanto ouvimos falar desde 2009 é, de fato, recuperação inventada sobre o lombo de taxas de juro zero e compra épica de papéis dos EUA e mais todas as outras ‘medidas’ que estão em andamento por baixo dos panos, entre líderes políticos e grandes banqueiros, que mantêm a aparência de negociações saudáveis mas até essa aparência é falsa e nada tem de saudável.

LARS SHALL: Uma última pergunta: por que você desistiu de sua carreira na indústria bancária dos EUA?

NOMI PRINS: Estava farta. Já se passaram 12 anos. Para mim, foi decisão de vida que vinha amadurecendo já desde 2001. Foi uma combinação de escândalos Enron, WorldCom, 9/11, você sabe. Trabalhei em bancos durante bom tempo e vi muita coisa mudar ao longo daquele tempo. Tudo isso só fez desiludir-me cada dia mais, até descrer completamente daquele tipo de gente que eu via “progredir” dentro dos bancos. Era horrível: segredos por todos os lados, ganância, cobiça, ânsia de dinheiro e poder, mais e pior que qualquer ambição. E, simultaneamente, transparência zero, zero atenção, zero consideração aos clientes, usuários, investidores, seguros criados aos sacos, de todos os tipos, nada para assegurar qualquer garantia a quem quer que fosse, além do próprio banco. Quando comecei a trabalhar em Wall Street, o mais importante para nós era que o cliente tivesse ideia clara do risco específico de qualquer negócio. Sabe como é: se você compra isso, se você vende aquilo, se faz assim, ou de outro modo, o que pode acontecer é isso, isso e isso, em cenário adverso. Mas esse tipo de atitude começou a interessar cada vez menos aos bancos e aos banqueiros. O mercado de derivativos, é claro, estava inflado, no momento em que decidi mudar de profissão e abandonei a indústria bancária.

Mas bem que avisei sobre o que aconteceria. Em meu primeiro livro, Other People’s Money [O dinheiro dos outros], que saiu em 2004, logo depois do recurso para que reimplantássemos a Lei Glass-Steagall; escrevi que se não conseguimos o retorno da Lei Glass-Steagall, se continuássemos na vida dos derivativos de crédito e CDOs e usando empréstimos para cobrir seguros – a crise era garantida; e a crise veio.

Hoje acredito que há mais crise no horizonte. O que faço hoje é tentar alertar as pessoas sobre o que está acontecendo; para isso, uso a experiência que adquiri naqueles anos em que estava no banco. Mantenho até hoje intactos o espírito crítico e a profunda desilusão que sentia quando saí do banco. Acho que presto hoje melhor serviço público e social. E vivo muito melhor hoje, do que antes, quando era banqueira. Vivo muito mais sossegada com minha própria consciência.



Nota dos tradutores

[1] “Terça-feira Negra”, dia 29/10/1929 (em ing.). Sobre o livro da entrevistada, veja em“Black Tueday”.
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[*] Nomi Prins é jornalista e sócia-sênior da DEMOS. Trabalhou anteriormente como Diretora-Gerente da Goldman Sachs. Escreveu os livros “It Takes a Pillage: An Epic Tale of Power, Deceit, and Untold Trillions”; também “Other People’s Money: The Corporate Mugging of America”; e o já mencionado “Black Tuesday” além de vários artigos e ter concedido numerosas entre vistas.

POSTADO POR CASTOR FILHO

http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/05/todos-os-banqueiros-do-presidente.html

Navalha na Carne - O PT e o combate à corrupção


COMBATE FRONTAL À CORRUPÇÃO -

 Um dos debates mais distorcidos no Brasil atual é aquele que versa sobre o tema da corrupção. Tentarei, ao menos em parte, desmistificar um pouco este assunto. Há muito palavrório e mentiras a respeito deste tema, portanto, é preciso ver o que realmente está acontecendo e acabar com as falácias.

Nunca houve tanto combate à corrupção quanto nos governos do PT. E provo isto com dados estatísticos, não com devaneios, delírios ou íntimos desejos. Vamos aos fatos.

Operações da Polícia Federal do Brasil:

-2003: 16
-2004: 42
-2005: 67
-2006: 167
-2007: 188
-2008: 235
-2009: 288
-2010: 270
-2011: 260
-2012: 289
-2013: 296

-Total (11 anos): 2.118 operações da Polícia Federal
-Média anual - 2003/2013: 192,5 operações

Até o dia 19 de maio deste ano de 2014, a Polícia Federal já realizou 85 operações.

Agora, o dado fatal:

-Oito anos de FHC/PSDB: apenas 28 operações da Polícia Federal.

Estes dados das operações da Polícia Federal, indesmentíveis, comprovam que antes dos governos de Lula e Dilma, absolutamente nada era investigado neste país. Não foi a corrupção que aumentou, mas sim o combate frontal à mesma.

Por fim, recordem da triste e tenebrosa figura do antigo Procurador Geral da República, Geraldo Brindeiro. Ele foi alcunhado corretamente naquela época de 'Engavetador Geral da República'.

Este cidadão jamais venceu os pleitos internos no Ministério Público Federal, nunca ficou em primeiro lugar nas listas tríplices do Ministério Público Federal e mesmo assim foi conduzido à chefia do órgão em 1995, por FHC. E posteriormente foi reconduzido em três vezes consecutivas (1997, 1999 e 2001).

Nunca antes na história deste país um governo foi tão absurda e descaradamente blindado dos mal feitos, como foi no passado recente, o governo tucano de FHC.

Poucos recordam destes fatos, da blindagem escancarada que escandalizava a oposição e o próprio Ministério Público naqueles idos tempos. Pois bem, foi justamente para se contrapor a este escândalo do PSDB, e da "grande mídia" que sempre lhe deu cobertura, que o PT optou por mudar diametralmente este tipo de procedimento.

A partir do governo Lula (Dilma manteve o critério) a chefia do Ministério Público sempre coube ao procurador mais bem votado nas listas tríplices do MP. Isto garantiu uma autonomia e uma independência investigativa jamais vista em toda a história do Ministério Público Federal.

E isto, é bem verdade, causou problemas incomensuráveis para o próprio PT, sem dúvida alguma.

Foi com base neste critério, de prestígio do Ministério Público, que nos governos do PT o mais bem colocado nas listas tríplices foi alçado a condição de Procurador Geral da República, independentemente das simpatias ou antipatias que tivesse em relação ao governo federal.

Lembremo-nos dos indicados:

-Cláudio Fonteles, em 2003;
-Antonio Fernando de Souza, em 2005 e 2007;
-Roberto Gurgel, em 2009 e 2011;
-Rodrigo Janot, em 2013.

Isto foi uma conquista importantíssima do povo brasileiro, ou será que gostaríamos de voltar ao tempo da blindagem escancarada, da inoperância da Polícia Federal e do Ministério Público Federal?

Ou será que gostaríamos de voltar ao tempo onde a sujeira era solenemente varrida para debaixo do tapete e onde as gavetas ficavam cheias e trancafiadas?

Muitos dos gritadores atuais, que bradam a plenos pulmões "contra a corrupção", e sofredores de amnésia seletiva que são, estão na verdade é com saudades dos tempos em que eles eram governo e faziam o que bem entendiam, ao arrepio da lei e das instituições da república.

Em verdade, sentem saudades dos tempos onde nada era investigado (ou se investigava somente os inimigos), e também sentem saudades dos tempos onde a mídia venal encobria os mal feitos dos seus lacaios parlamentares de estimação.


Diogo Costa

http://jornalggn.com.br/noticia/fora-de-pauta-230#comments

quarta-feira, 21 de maio de 2014

O futebol e a construção de mitos ideológicos no século 21 21/05/2014

A lógica do movimento 'não vai ter Copa' é, no mínimo, estranha. As comparações mais esdrúxulas são feitas, sustentadas por um discurso e retórica vazias.

Geniberto Paiva Campos







Os brasileiros adoram esportes. Somos excelentes no futebol, basquete, vôlei, judô, vela, tênis, atletismo, natação, e outros menos votados. Até em alguns esportes considerados inicialmente “estranhos”, fora das competições olímpicas, assumidos como invenções brasileiras – o futebol de salão - e dos cariocas: futebol e vôlei de praia, futevôlei temos mostrado a nossa aptidão em competições internacionais.

Nós, brasileiros, sabemos citar de cabeça nomes de patrícios que se destacaram nessas modalidades. Recitamos a escalão completa das nossas seleções, campeãs de 58 e 70. E o futebol sempre foi o orgulho nacional. Afinal somos penta campeões, cinco taças do mundo conquistadas ao longo do tempo em competições duríssimas, nas quais mostramos a nossa arte e a nossa fibra.


Organizar a disputa de uma Copa do Mundo de Futebol no século 21 seria motivo de grande orgulho para o país, esperava-se. Além de mostrar ao Mundo a nossa arte e capacidade competitiva com a bola nos pés, ficaria evidente a capacidade de organização de um torneio de futebol que se tornou um desafio para os países-sede na era da globalização. Da sociedade de consumo de massas e do espetáculo. Mais ainda, seria uma forma de apagar as complicadas lembranças do “Maracanazo”, encravadas até hoje na alma dos brasileiros que amam o Futebol : a decepção da final da Copa de 1950, na qual, jogando em casa e pelo empate, fomos derrotados pela seleção uruguaia.


Com todo o acervo de conquistas nas áreas econômica – somos a 6ª economia do Mundo – e social , com o consistente processo de inclusão dos desfavorecidos, teria chegado “a hora dessa gente bronzeada mostrar o seu valor”. Na cadência e no repique do samba e da malemolência. Imaginaram os brasileiros crédulos e ingênuos. Não ocorre assim, entretanto.


O que teria acontecido para que estejam ameaçadas as conquistas da Copa? Estaria havendo a prevalência do discurso ideológico sobre os fatos reais? Em pouco mais de um ano houve uma mudança no sentimento de segmentos específicos da sociedade brasileira sobre a Copa do Mundo de 2014. Afinal, uma festa de congraçamento mundial através do futebol. Uma forma de promover a paz e o entendimento entre povos e nações. A essa altura seria correto indagar: a quem interessa o fracasso da Copa? Por que essa espécie de ódio ao futebol, construído e disseminado em tão curto tempo? Sentimento esse propagado por gente de elevado poder aquisitivo, com grande repercussão nos meios de comunicação, vocalizado por pessoas do âmbito artístico e cultural, mais ou menos famosas. Deixando transparecer algum tipo de articulação mais ampla no discurso e nas ações desses outrora considerados formadores de opinião?


Talvez seja importante rememorar os acontecimentos. A partir do primeiro semestre de 2013 as redes sociais foram surpreendidas pela participação de moças e rapazes que dirigiam mensagens aparentemente inocentes aos internautas brasileiros. Falando um inglês perfeito, com legendas, insistiam para que repetissem uma espécie de mantra sobre a próxima Copa do Mundo: - “a Copa não é importante. Não interessa ao Brasil. O país tem que investir recursos em educação, saúde , mobilidade urbana, segurança pública”. E reforçavam: “- não discutam, não argumentem, apenas repitam. Logo, todos irão entender”! Vieram, em seguida as surpreendentes “manifestações de junho”. Estranhas em seus objetivos e ainda carentes de análises mais sólidas e de interpretações com profundidade política e sociológica.

O que se pode inferir desse estranho movimento na tentativa de desconstrução de um evento de tanta importância para todos os povos amantes do esporte e com tanto significado esportivo e cultural? E tendo como alvo o chamado “país do futebol”? Além dos ousados objetivos de politização /partidarização de um evento esportivo de tal magnitude, percebe-se os indisfarçados movimentos para a construção de mais um mito ideológico da atualidade. Desta feita envolvendo a maior competição esportiva do planeta. Como entender tamanha ousadia? Ou seria tão somente a aposta segura na ingenuidade política dos brasileiros? Repetindo aquele magnata do jornalismo internacional: -“ não perde quem aposta na infantilidade incurável dos seus leitores!”


Este movimento anti-Copa talvez se insira em ações semelhantes, desencadeadas na primeira década deste século, por instituições governamentais e multinacionais, tendo como objetivo a construção de mitos ideológicos, capazes de justificar a criação de preconceitos arraigados e intervenções ,diretas ou indiretas, contra nações, povos e etnias.

Nesse sentido, é oportuno lembrar a estigmatização dos povos árabes como componentes do “eixo do mal”, de acordo com editos do governo americano (período do ex-presidente Bush Jr), conceitos logo repercutidos pela mídia mundial, ressoando a “ameaça islâmica”. Conceitos que tiveram sequência, como o mito da posse de armas químicas pelo Iraque e da urgente necessidade de destruí-las, justificativa para a invasão militar do país pelas forças armadas americanas, também no governo Bush Jr. Mais recentemente, a publicação do livro “Eurábia”, o qual trata da “invasão” da Europa, que estaria sendo perpetrada por árabes e muçulmanos, com o objetivo de gangrenar (sic) o continente europeu para depois dominá-lo. Esse disparate foi assumido como verdade por políticos e intelectuais e tornou-se um dos argumentos do discurso da extrema direita europeia, após sistemática repetição pelos eficientes meios de comunicação e persuasão do Velho Continente. Não é sem razão, portanto, que se fala na “2ª Guerra Fria”.

Voltando ao movimento “Não vai ter Copa”. Toda a lógica do movimento é no mínimo estranha. As “graves acusações” sobre gastos financeiros, repetidas como ponto de percussão pelos meios brasileiros de comunicação e persuasão, embora não sustentadas em fatos concretos, são assumidas como verdades incontestes.

As comparações mais esdrúxulas são feitas, sustentadas por um discurso e retórica vazias, aparentemente estúpidas, mas capazes de mobilizar corações e mentes de brasileiros que acreditam , conforme lhes é ensinado, nos “graves prejuízos” que a realização da Copa trará, certamente ,ao Brasil. Tudo isso em um país que, segundo Nelson Rodrigues, “não apenas joga futebol, mas vive futebol.”

Dia desses, assistindo ao debate sobre a Copa, ouvi do professor Antonio Lassance, da Universidade de Brasília, a frase que, pelo seu bom senso, deveria desestimular alguns ímpetos anti-Copa : “NÃO SE BOICOTAM EVENTOS ESPORTIVOS”. Tornam-se ações inúteis do ponto de vista político. E são coisas ultrapassadas, características da 1ª Guerra Fria.

http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-futebol-e-a-construcao-de-mitos-ideologicos-no-seculo-21/4/30975

Como o povo do semiárido detonou a indústria da seca

A mudança de rumo ocorreu em 1999, após mais uma seca. Foi criada a Articulação no Semiárido Brasileiro, baseada numa carta de princípios, que segue igual.

Najar Tubino







Juazeiro (BA) - Esta é uma história de como a zona rural do país, no caso específico da caatinga, onde as pessoas se organizaram e resolveram tomar o destino de suas vidas na prática, defendendo seus territórios, buscando acesso à água, protegendo suas sementes e, hoje em dia, dando lições de como é possível conviver com a aridez da natureza. Só para ilustrar vou contar um caso do agricultor Golinha, de Apodi (RN). Ele esta no encontro de agroecologia trocando e vendendo sementes, mudas e chás medicinais. As variedades crioulas de milha, contou ele, são transmitidas na sua família há quatro gerações. Neste mês de maio a semente que eles chamam de “vida longa” completou 302 anos. O pai dele morreu com 99, o avô 99 e o bisavô com 104. As outras duas variedades são “ligeiro”, um milho precoce e o “Zé moreno”, que era amigo do pai dele, já falecido, mas virou semente.

As mudanças no semiárido, na estrutura política e econômica, iniciaram há muitas décadas. Fazer cisterna era comum há mais de 70 anos. Quem relata esta história é o coordenador da ASABRASIL, Naidison Quintela Batista, de 74 anos, formado em teologia e pedagogia em Roma, baiano, e um dos responsáveis por uma rede de organizações sociais – são 700 -, que abrange nove estados do nordeste e o norte de Minas Gerais – o bioma caatinga, com suas variantes. Nos primórdios todos trabalhavam em torno do Movimento de Organizações Comunitárias (MOC), que já mantinha práticas como programas de trocas de sementes, de animais e fundos rotativos, que o agricultor pagava em produto ou em dinheiro.

Começando a interferir na política

As chamadas comissões de trabalho, que organizavam as frentes na época das secas, reunindo sertanejos que construíam açudes, estradas e outras obras de infraestrutura. A presença das organizações sociais tinha por objetivo travar a manipulação dos prefeitos, que carreavam os recursos para os ricos dos municípios do interior e para os parentes. Então, nas matrículas das frentes aparecia a mulher do prefeito, o cunhado, os tios e assim vai.

A mudança de rumo ocorreu em 1999, depois de mais uma seca. Foi criada a Articulação no Semiárido Brasileiro, a ASA, baseada numa carta de princípios, que ainda é a mesma, e onde as organizações para participar precisavam aderir ao documento. O X da questão era o seguinte: não bastavam produzir dossiês com reivindicações e propostas, era necessário executar, respeitando sempre as características de cada organização, que por sua vez, refletia as características de cada região. O foco central, cada vez mais, passou a ser a convivência com o semiárido.

Ação de impacto significativa

Os representantes das várias organizações decidiram definir uma ação de impacto significativa, que envolvesse a maioria das entidades. Assim nasceu o Programa Um Milhão de Cisternas, com a sigla P1MC. Cisternas de consumo humano, com capacidade de armazenar 16 mil litros, e suprir uma família com cinco pessoas, por nove, 10 meses. Entretanto, o fundamental estava na maneira como construir as cisternas e como escolher as famílias que participariam do programa. Ou seja, não se trata de uma iniciativa de construção, onde uma empresa, ou um grupo de pedreiros é contratado para fazer a obra. É uma atividade de mobilização, onde as comunidades discutem o problema, elegem uma família e depois constroem a cisterna, comprando produtos locais, para movimentar a economia da localidade, da comunidade. Nada de empresas.

A ASA e seus ativistas começaram a entrar na casa das pessoas. Discutiam, além da construção da cisterna, a maneira como eles armazenavam água, como consumiam, como cultivavam a terra e muitas outras coisas. No final, definiram sete tecnologias de construção de cisternas de consumo humano. O primeiro apoio do governo federal veio na época do Ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho. Uma “experiência” para “testar” 500 cisternas. Muito mais importante foi a definição do processo de construção, que abrange uma metodologia completa, desde os componentes usados, os custos, a mobilização das famílias e as compras locais. A partir daí, conseguiram o apoio da Agência Nacional de Águas em 2001, para construção de 12.300 cisternas, somadas as outras 500, dava um total de 12.800 cisterna. Foi o pontapé inicial.

A transição política em 2003

A grande preocupação da ASA desde o início: como fazer o controle social das cisternas. Na metodologia ficou aprovado o seguinte, válido até hoje: cada cisterna tem um número de registro, com os dados de localização geográfica. Na hora da família receber a cisterna, tiram uma foto ao lado do registro, a família assina um termo de recebimento e um material educativo. O governo federal assumiu a método, já virou uma lei federal. Significa, que ao repassar recursos aos estados e municípios, todos tem que cumprir com as exigências expostas na lei. Conclusão: se tornou uma política pública, criada pelos sertanejos e com a operacionalização e organização da ASA e sua rede de entidades.

Hoje, as negociações para construção de cisternas são formalizadas via contrato, através de licitação pública e das organizações da sociedade civil. Os coordenadores da ASA aproveitaram a posse de Lula em 2003, para colocar projetos em várias áreas. Onde houvesse uma brecha, um conhecido, eles entravam com suas propostas. Contaram com o apoio do Frei Beto e de Odew Grawej. Assim fecharam o primeiro convênio com o governo federal em julho de 2003. Dez anos depois, o primeiro contrato com a Petrobras, que está encerrando neste mês de maio, com a construção de 20 mil tecnologias de Segunda Água, no valor de R$200 milhões. São as chamadas cisternas de produção, a água que será usada na criação de animais e para plantio. Podem armazenar desde 52 mil litros, onde a água é captada de um calçadão de cimento, com declividade, até a cisterna de enxurrada, onde a água é captada de uma encosta, uma elevação, e são colocados filtros para decantar, antes do recolhimento. O barrreiro trincheira, onde cavam poços com mais de três metros de profundidade, capta até 300 mil litros, o tanque de pedra, que é uma formação característica em várias regiões da caatinga – eles aumentar as barreiras de pedra com cimento, formando uma bacia, quando chove a água fica represada, acumulando 700, 800 a um milhão de litros. Por último: a barragem subterrânea construída nos leitos dos rios e riachos secos, onde eles cavam numa garganta, um estreitamento, jogam uma loca, tapam novamente com terra e quando chove a água bate na lona e fica armazenada no subsolo.

Novecentas mil cisternas e 4,5 milhões de pessoas

Contando as cisternas construídas pela rede da ASA – 537 mil -, mais os governos estaduais e consórcios municipais o número chega a 900 mil, com 4,5 milhões de pessoas beneficiadas em todo o semiárido. Além de mais 500 mil pessoas que já tem acesso à água de produção. No final de 2013, a ASA assinou outro contato com o BNDES, também de R$200 milhões, para construção de oito mil tecnologias diretamente com o banco, e outras 12 mil, por intermédio da Fundação Banco do Brasil, com recursos repassados também pelo BNDES. O contrato acaba no final de 2014. Com o Ministério do Desenvolvimento Social o contrato com a ASA envolve outras 20 mil tecnologias e mais R$ 200 milhões – nove mil já foram entregues. O contrato se estende até maio de 2015. E mais: outro contrato com o MDS para construção de 34 mil cisternas de consumo humano. E, está em discussão, um programa para construção de cinco mil cisternas para escolas rurais. Quando tem seca, não tem água, não tem aula.

A ASA virou uma OCIP, uma organização de interesse público, para poder operacionalizar os contratos com o governo federal e seus afiliados. Ela só concorre em licitação nacional, para não concorrer com as entidades estaduais. Quando ganha a licitação, torna a realizar uma licitação para contratar as organizações sociais, que executarão as obras. São 110 organizações envolvidas com a execução do P1MC e do programa Uma Terra Duas Águas. No total o número cresce para 160, porque algumas trabalham com os dois programas. Cada equipe de técnicos tem um coordenador, um gerente financeiro, um auxiliar e quatro técnicos de campo. São 1.120 técnicos envolvidos nos programas.

O Candeeiro para alumiar o sertão

O trabalho da ASA e suas 700 organizações sociais envolve além das cisternas, um grande intercâmbio de informações e de experiências entre agricultores e agricultoras, o incentivo e a organização de bancos e casas de sementes crioulas, enfim, da prática econômica, social cultural da vida do sertanejo. Providência que gerou a criação de um veículo popular, que é o Candeeiro, chamado boletim de experiências, onde as famílias contam a sua história, e relatam a sua experiência no semiárido. Já foram elaborados dois mil exemplares – é uma página impressa, com tiragem de mil exemplares.

Para encerrar. Chega o prefeito na comunidade com o carro pipa. Manda o pessoa fazer a fila. Chega o líder da comunidade diz que ali não tem nada de fila. Dá o nome das famílias, cujas cisternas serão abastecidas. E quando acabar a água, se não chover, voltarão a procurar a prefeitura. É óbvio, que esta ainda não é a realidade de todo o semiárido, sem contar as cidades do interior, onde as populações ainda estão sujeitas ao poder político e econômico de famílias ou de grupos, que não tem o menor escrúpulo em pisotear na cabeça dos sertanejos.

http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Como-o-povo-do-semiarido-detonou-a-industria-da-seca/4/30966

Em Berlim, CUT denuncia FT e Economist por servirem a especuladores 21/05/2014




CUT-Brasil denuncia que Financial Times e The Economist estão a serviço da desestabilização

19/05/2014

No Congresso da CSI, João Felício e Jacy Afonso denunciam manipulação da mídia em favor dos especuladores

por Leonardo Wexell Severo, de Berlim-Alemanha, no site da CUT

Dirigentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT- Brasil) denunciaram nesta segunda-feira, em Berlim, que os grandes conglomerados de comunicação, particularmente o “Financial Times” e o “The Economist”, têm atuado como instrumentos de desinformação e desestabilização da economia brasileira.

Pela manhã diante da plenária do III Congresso da Confederação Sindical Internacional (CSI), que reúne 1.500 delegados de 161 países, o secretário de Relações Internacionais da CUT, João Felício, defendeu a necessidade da “taxação das transações financeiras, da herança e das grandes fortunas” e denunciou que os paraísos fiscais funcionam como polos irradiadores de especulação, concentração de renda e desigualdade.

“Se não houver transferência de renda dos ricos para os pobres, não haverá diminuição da pobreza e da miséria. Se ricos não pagam imposto, os Estados não terão recursos para investir na área social”, explicou João Felício. Conforme o líder cutista, os governos, na sua grande maioria, se aliam sempre com o capital contra o mundo do trabalho ao defenderem reformas que retiram direitos dos trabalhadores. “Quando surgem governos que não praticam estas políticas neoliberais, como foi Lula, a imprensa conservadora atua sempre para desgastar, agindo em defesa dos seus interesses”, declarou.

De acordo com João Felício, estas políticas acabam afetando a própria democracia, porque quando a população não se vê contemplada, acaba votando em partidos fascistas, que é o que está ocorrendo em muitos países da Europa. Sem qualquer regulação, alertou, “os organismos internacionais impõem a sua lógica, afetando a liberdade e a democracia, que não são questões abstratas, mas muito concretas”. Afinal, questionou, “qual é a liberdade de um trabalhador turco quando morre soterrado em uma mina ou é chutado por assessores do próprio governo?”

MONOPÓLIOS DA DESINFORMAÇÃO

Na plenária da tarde, Emprego Sustentável e Proteção Social, o secretário de Organização da CUT, Jacy Afonso reiterou a denúncia contra os monopólios midiáticos, frisando que o “Financial Times” e o “The Economist” têm atuado contra os interesse do Brasil e do povo brasileiro ao buscar desestabilizar a economia.

Compartilhando a mesa com sindicalistas da Bulgária, Espanha e Grécia – países cujas economias foram devastadas pela crise – , Jacy sublinhou o papel das centrais sindicais brasileiras que, ao construir uma política de valorização do salário mínimo junto ao governo Lula, impulsionaram o crescimento do mercado interno. “Desta forma saímos do círculo vicioso dos governos neoliberais de Collor e Fernando Henrique Cardoso para um círculo virtuoso da economia nos governos Lula e Dilma. Foi essa política que permitiu que o salário mínimo tenha subido 75% nestes últimos 11 anos, o que significou um aumento real para 32 milhões de trabalhadores, incluindo os aposentados”, declarou Jacy Afonso.

Segundo o dirigente, “este é o maior acordo coletivo do mundo, que ajuda o conjunto da economia, pois fez com que os demais trabalhadores recebessem também”. “O papel do Estado na recuperação do poder aquisitivo proporcionou este avanço, mobilizando os bancos públicos com o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para garantir crédito às empresas, o que garantiu a geração de 20 milhões de empregos formais em 11 aos, quase dois milhões ao ano. E isso só foi possível devido à ação unitária do movimento sindical, que se enfrentou com a verdadeira lavagem cerebral, com o atraso do ponto de vista ideológico que é divulgado diariamente pelos meios de comunicação”, concluiu Jacy Afonso.

http://www.viomundo.com.br/denuncias/em-berlim-cut-denuncia-ft-e-economist-por-servirem-a-especuladores.html

Os avanços escondidos e as reações às políticas de redistribuição de riquezas 21/05/2014

Por Assis Ribeiro

O Brasil que vai para a frente

Parte dos brasileiros se especializou em escatologia e adquiriru o vício de falar mal do Brasil ao mesmo tempo em que elogia tudo o que acontece no exterior.

Esse segmento tem o controle da mídia e junto a ela forma uma série de crenças que são destrutivas ao Brasil como nação. Esses que jogam o Brasil para baixo são os mesmos que se emocionam quando se referem a outros povos e suas realizações.

Esse negativismo é um grande desserviço para o país que tem se desenvolvido de forma robusta mesmo com essa corrente puxando para trás.

Os brasileiros mais esclarecidos sabem que temos muitas razões para resgatar o que nos foi negado há várias décadas em benefício do enriquecimento de outros países. Desde a época da invasão portuguesa fomos sangrados pela remessa de nossa riqueza para o exterior, política que permaneceu por séculos e que beneficiava uns poucos que bovinamente aceitavam a situação de capatazes dos interesses internacionais e com isso enriqueciam enquanto mantinham a imensa parte da nossa população esquecida na pobreza e na miséria.

O Brasil mudou e continua mudando e isso causa desespero para aquela pequena parte que sempre se beneficiou com exclusividade das riquezas do nosso país e que preferem continuar com o modelo antigo de dependência aos interesses estrangeiros e de estratificação separatista da nossa sociedade.
Para que o Brasil alcance o grau de democracia de outros países mais avançados é necessária a política de inclusão, equilíbrio, descentralizar a riqueza por regiões, aumentar o salário médio da população, exatamente como fizeram esses países em determinados momentos de suas histórias.

Enquanto os especializados em escatologia tentam esconder os avanços da nossa democracia, tentando implantar o negativismo como forma de fazer acreditar que tudo está errado, o Brasil investe nestas áreas essenciais para nos tornarmos independentes como nação, na inclusão de toda a população no acesso à riqueza e no desenvolvimento de regiões mais pobres como o nordeste e norte do país.

Qualquer política que vise redistribuir a concentração de riqueza causa reações extremas:

1) Por isso políticos inescrupulosos e a mídia criticam os investimentos federais para desconcentrar a riqueza do polo sudeste de produção levando parte do desenvolvimento do país para o nordeste/norte, as reações derivadas do bombardeio midiático à essa política são observadas no aumento do preconceito e intolerância contra nordestinos.

2) Por isso a concentrada imprensa critica as propostas de se criar mecanismos para o surgimento de outras fontes de informação e a reação violenta contra o governo.

3) Por isso determinado segmento critica o aumento do salário mínimo e outras políticas de inclusão e a reação violenta ao aumento dos direitos para as empregadas domésticas, ao + médicos, etc.

4) Por isso políticas de inclusão como as cotas são criticadas e os investimentos em escolas públicas escondidas.

Essa reação da imprensa contra avanços é histórica, abaixo uma foto de uma matéria de 1962, apenas para ilustrar:





Os avanços escondidos:

1) Energia elétrica



Em 2013, a capacidade instalada da matriz energética brasileira alcançou um valor 64,3% maior que o de 2001 – ano do apagão, na gestão FHC. Aliás, se compararmos o desempenho atual do sistema com o de 2001/2002, vemos, pelos dados do Ministério de Minas e Energia, que o risco de déficit energético em 2001 era mais de 6 vezes maior que o deste ano nas regiões Sudeste/Centro-Oeste e mais de 23 vezes superior no Nordeste.
Não apenas a situação atual é favorável, como também há investimentos sólidos no futuro. As obras do PAC2 (link is external) já proporcionaram aumento da capacidade energética do Brasil em 10.200 MW, com instalações como as hidrelétricas de Jirau (3.750 MW) e de Santo Antônio (3.150 MW). O incremento total da capacidade energética do pais, com as obras do PAC2, será de 26.784 MW - a usina de Belo Monte, por exemplo, terá capacidade de produção de 11.233 MW. Estão sendo construídas 9 hidrelétricas, 6 termelétricas, 140 eólicas e 5 pequenas centrais hidrelétricas.

2) O Brasil parado.

Em todo o país, são mais de 30 mil empreendimentos. O total de execução atingiu R$ 773,4 bilhões até 31 de dezembro de 2013.

3) As mentiras sobre a copa



Desde 2010 o governo investiu R$ 968 bilhões em educação, saúde e infraestrutura. E como a nova onda é a de somar, ainda foram investidos R$ 17,6 bilhões em toda a infraestrutura envolvendo a Copa.

4) Educação

Ensino básico
O valor investido em 2013 no Fundeb na educação básica pública foi de 111,1 bilhões e orçamento de R$ 117,2 bilhões para 2014, o que significa aumento de 5,5% em relação ao ano passado.

Ensino profissional e técnico
Foram criadas 214 novas escolas federais, número maior do que o de todas as escolas já criadas na história do Brasil. Outras 208 estão sendo inauguradas. Já foram ofertadas mais de um milhão de vagas gratuitas desde 2009.

Ensino superiorForam inauguradas 14 universidades e 146 extensões universitárias.Duplicou número de vagas nas universidades federais.O Prouni já distribuiu 1.096.343 bolsas de estudos em 1.300 instituições privadas de ensino superior em 1.372 municípios.
O FIES emprestou 25 bilhões de reais a 760 mil universitários. Creches O governo entregou 1300 creches até o início desse ano e outras 3100 estão em construção. São 49 mil escolas com ensino de tempo integral e o objetivo é chegar a 60 mil até o fim do ano.

5) Emprego, Inflação, Salário mínimo



6) Os investimentos de um governo que não está parado (PAC 2).

Um detalhe: o governo destina os investimentos, ou seja, paga pelas obras, mas a execução cabe aos governos de estados e municípios.

Amazonas: as rodovias do Amazonas receberam R$ 584,1 milhões, a maior parte para a manutenção e sinalização de rodovias. Outros R$ 30 milhões foram destinados à construção e pavimentação da BR-317, na divisa entre Acre e Amazonas.


Rio Grande do Norte: foram destinados R$ 2,6 bilhões para a construção de usinas eólicas no estado. São 70 projetos em obras ou em licitação e outros 9 concluídas de acordo com o último balanço do PAC.


Ceará: o PAC2 tem grandes investimentos em energia limpa. O estado também se destaca, com R$ 2,7 bilhões envolvendo 25 projetos de usina eólica. No eixo Comunidade Cidadã, são R$ 278 milhões para a construação de R$ 130 creches em 94 municípios. Outros R$ 125,04 milhões são destinados a quadras esportivas nas escolas.


Bahia: mais de R$ 3,2 bilhões foram destinados para a expansão da malha ferroviária. Um dos destaques é o trecho de integração Oeste/Leste entre Caetité e Barreiras. Essa ferrovia vai dinamizar o escoamento da produção do estado e será interligado a outros importantes polos do país.


Pernambuco: o programa Minha Casa Minha Vida destaca-se em todos os estados que receberão a Copa do Mundo e, para a região dos leões do norte foram destinados R$ 7,3 bilhões, sendo R$ 2,7 bilhões para a construção das unidades e urbanização dos assentamentos precários. Os investimentos em recursos hidrícos possibilitaram a revitalização de bacias, sistema de macrodrenagem, projeto de integração do Rio São Francisco.


Mato Grosso: dos R$ 3,1 bilhões destinados a recuperação das rodovias do estado, destacam-se os investimentos para a duplicação da BR 163-364, que liga Rondonópolis a Cuiabá. Observe também os recursos em mobilidade urbana que permitiram o novo modal de transportes na capital. Já são 29 composições do Veículo Leve sobre Trilho (VLT).


Minas Gerais: um dos maiores investimentos no estado tem por objetivo melhorar o trânsito da capital Belo Horizonte. São mais de R$ 2,1 bilhões para ações como novos corredores de ônibus, expansão da central de controle de trânsito e três BRT.


São Paulo: o projeto Sapinhoá Piloto contou com R$ 9 bi em investimentos para campos e plataformas da Unidade Flutuante de Armazenamento e Transferência (FPSO em inglês). O governo ainda destinou ao estado R$ 516,26 milhões, para a construção de 313 creches e pré-escolas em 210 municípios.


Rio de Janeiro: catorze bairros serão cortados pelo corredor Transcarioca, que tem 39km de trajeto. A obra recebeu investimentos de R$ 1,9 bi. Outros R$ 510,89 milhões foram destinados a projetos envolvendo água em áreas urbanas.


Paraná: R$ 5,3 bi do PAC2 foram destinados as obras de modernização para conversão e ampliação da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar). O estado ainda conta com R$ 304,93 milhões para a construção de 225 creches e pré-escolas em 146 municípios.


Rio Grande do Sul: foram destinados ao estado R$ 272,27 milhões para a construção de 202 creches e pré-escolas em 127 municípios. Outros R$ 383 milhões na expansão do Trensurb que liga São Leopoldo a Novo Hamburgo.


Distrito Federal: o maior investimento está na construção, financiamento e urbanização de assentamentos precários, projetos relacionados ao programa MCMV, mas destacam-se também os R$ 3 bi em transporte.

Dados consultados em diversas fontes.

http://jornalggn.com.br/noticia/os-avancos-escondidos-e-as-reacoes-as-politicas-de-redistribuicao-de-riquezas