quinta-feira, 3 de maio de 2012

Irã buscará fim das sanções em reunião com grandes potências 03/05/2012


VIENA/DUBAI – O Irã anunciou nesta quarta-feira que buscará o fim das sanções decorrentes de suas atividades nucleares quando for conversar com as grandes potências este mês, e acusou a França de ajudar Israel a desenvolver "armas nucleares desumanas".



Um assessor do aiatolá Ali Khamanei, líder supremo do Irã, disse que as negociações em Bagdá no dia 23 deveriam conduzir à suspensão das medidas punitivas contra Teerã, informou a mídia iraniana.
Os comentários refletem o discurso cada vez mais forte na República Islâmica de que o fim das sanções será vital para o sucesso das conversações. Também foi a primeira vez que um político influente disse explicitamente que espera um avanço sobre a questão.
"No mínimo, nossa expectativa é a suspensão das sanções", disse Gholam-Ali Haddad Adel, segundo a mídia iraniana.
Os Estados Unidos e seus aliados, entretanto, deixaram claro que o governo iraniano precisa agir para aplacar as preocupações com relação às ambições nucleares do país antes que considerem a possibilidade de relaxamento das sanções.
Eles afirmam que o programa nuclear do Irã é um disfarce para o desenvolvimento de armas atômicas e querem garantias verificáveis de Teerã – por exemplo, que o país aceite inspeções muito mais minuciosas por parte dos monitores nucleares da ONU e limite a capacidade de enriquecimento de urânio.
O Irã nega ter uma agenda para o desenvolvimento de armas e afirma que o enriquecimento de urânio se destina apenas a fins pacíficos.
Em Viena, o vice-chanceler iraniano Mohammad Mahdi Akhondzadeh disse que as armas nucleares não têm espaço na doutrina de defesa do Irã e acusou "determinados" Estados de padrões duplos e hipocrisia – uma alusão clara aos críticos ocidentais de Teerã.
Ele acusou a França de ter ajudado Israel no desenvolvimento de armas nucleares há décadas. Acredita-se que o Estado judaico tenha o único arsenal nuclear do Oriente Médio.
Grande exportadora de tecnologia nuclear civil, a França construiu nos anos 1950 um reator na cidade de Dimona, no sul de Israel, um complexo no qual se acredita amplamente que tenha produzido armas atômicas.
"Enquanto alguns países, como a França, expressam preocupação com as atividades nucleares pacíficas do Irã, eles não pouparam esforços para ajudar Israel a desenvolver armas nucleares desumanas", afirmou Akhondzadeh.
"De fato, a França é a fundadora do programa clandestino de armas nucleares de Israel", disse ele em uma reunião para discutir o Tratado de Não-Proliferação nuclear, um pacto voluntário de 1970.

Reuters

EUA e Israel não encontrarão facilidades para repetir o Iraque em 2003 e atacar regime iraniano 03/05/2012

Depois de dar por encerrado o assunto da guerra do Iraque, agora se desvela outro grande objetivo de Israel: atacar o Irã, com a desculpa de sua possível produção de armas atômicas (e Paquistão, China, Índia… países onde deixou de ser possível para ser um fato a posse de bombas nucleares?).

Há anos que os grandes produtores de armamento e de petróleo (ambos integrantes do “grande domínio” do mundo) buscam enfrentar o Irã, como também o fizeram há alguns anos, recorrendo a argumentos falsos, com o Iraque. Não é nenhuma casualidade as reservas de petróleo do Irã serem tão grandes quanto as da Arábia Saudita, podendo até mesmo serem superiores.
Como Israel não precisa falar com o Pentágono para convencê-lo, porque está no Pentágono, começa a preocupar que ocorra algo parecido ao que aconteceu em 2003: notícias e mais notícias sobre as malvadas intenções dos governos destes países até que, sem permissão do Conselho de Segurança das Nações Unidas, se decida pela ação militar.
 No entanto, em 2012 as coisas não acontecerão como em 2003, quando todo o mundo era espectador impassível, amedrontado, silencioso. Agora, milhões de pessoas, de forma presencial ou virtual, reagiriam contra.
Todos juntos podemos, em pouco tempo, acabar com estes abusos intoleráveis, dos quais depois normalmente não se presta contas: mortos, mutilados, refugiados…
Não: não devemos mais permitir estes sinistros abusos de poder. Já não podemos permanecer como espectadores. Chegou a hora de levantar a voz.
O G-8 e o G-20 (os países mais ricos da Terra) demonstram sua incapacidade para a governança mundial, incluída a econômica. É necessária e urgente uma refundação das Nações Unidas.
Só o multilateralismo permitiria, por meio da palavra e da intermediação, evitar os confrontos armados, procedendo a uma regulação imediata e a uma posterior supressão das armas atômicas. A humanidade não deve viver nem um dia mais sob a ameaça nuclear. É, como a morte por inanição, uma vergonha coletiva.

Estes são os autênticos problemas e não as flutuações especulativas das bolsas. Estes são problemas que afetam a humanidade em seu conjunto. Estes são os autênticos desafios.
Uma crise sistêmica exige mudar o sistema, isto é, conferir o poder e a iniciativa à sociedade e voltar a orientar a ação política mediante os princípios democráticos tão bem expressos no preâmbulo da Constituição da Unesco e não mediante os mercados, tanto em nível local e regional quanto global.
Desta forma, seria possível proceder à urgente refundação de um Sistema das Nações Unidas forte e com a autoridade moral que só possuem aquelas instituições capazes de reunir todos os países do mundo sem exclusão.
As ambições hegemônicas que conduziram à pretensão de governar o mundo a partir de agrupações plutocráticas de sete, oito ou 20 países, devem agora dar lugar, como resposta ao clamor mundial que sem dúvida acontecerá em pouco tempo, à cooperação multilateral.
Já escrevi em várias ocasiões diversas fórmulas para que tanto a nova Assembleia Geral e como os Conselhos de Segurança (ao atual seriam acrescentados o Conselho de Segurança Socioeconômica e o Conselho de Segurança Ambiental) permitam o pleno desempenho das funções que, especialmente quando a governança global assim o exige, é necessário dispor de estruturas internacionais adequadas.
Depois da intolerável e imoral intervenção no Iraque, o poder cívico mundial agora deve opor-se com especial firmeza a outras “aventuras” desta natureza, e muito especialmente à que teria o Irã como alvo, tanto por razões geoestratégicas (apresentadas por Israel), como pelas fabulosas reservas de ouro negro.
Para os problemas que o Irã possa apresentar, ou os que já apresentam Iêmen e Síria, a única solução aceitável é, como teria sido no caso vergonhoso da Líbia, a intervenção das Nações Unidas como único interlocutor, contando com o apoio do mundo inteiro.

Refletimos sobre os horrendos números que mostra o balanço da intervenção no Iraque?
Pensamos nos cinco milhões de refugiados, nos milhares de mutilados e mortos? Revisamos quem agora explora os poços de petróleo? Os “povos” já não tolerarão no futuro atrocidades desta natureza.
É certo que os republicanos dos Estados Unidos, que tanto seguem influenciando na política de seu país, redobram seus esforços iniciados na década de 1980 para a demolição do sistema das Nações Unidas.
Abandonaram a Unesco em 1984, depois regressaram quando invadiram o Iraque. Agora tentam novamente paralisá-la não pagando as cotas correspondentes porque a organização decidiu admitir o Estado Palestino, fazendo uso da autonomia que lhe dá a Conferência Geral.

Tratam com denodo ativar o G-20, o G-8 e o G-2 (!) ao mesmo tempo em que voltam as costas à cooperação multilateral. Contudo serão os últimos estertores de um sistema em total declive.
(*) Federico Mayor Zaragoza, ex-diretor-geral da Unesco, presidente da Fundação Cultura de Paz e presidente da agência IPS. Texto publicado na agência Envolverde.

Governo estuda criar banco para financiar empresas no exterior 03/05/2012

Projeto de Eximbank brasileiro deve surgir para financiar internacionalização das companhias e suprir demanda por R$ 51 bilhões

Nivaldo Souza, iG Brasília 
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) articula com o Itamaraty e o Ministério da Fazenda a criação de um Eximbank, banco de fomento para financiar empresas brasileiras fora do país, conforme apurou o iG Economia.
Mas ao contrário do Eximbank sugerido pelo ex-presidente Lula no Plano Nacional de Exportação (PNE) de 2010, a nova versão em debate pela cúpula do governo Dilma Rousseff não ficará restrito ao patrocínio das exportações de produtos brasileiros. O Planalto quer que o banco tenha status de agência de fomento de negócios. Ele deve funcionar como braço de financiamento para instalação de projetos de empresas brasileiras no exterior, com caixa robusto para assumir parte das atividades tocadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O objetivo do governo é ter um núcleo específico para assegurar a demanda por garantia de crédito e financiamento. O BNDES tem hoje demanda três vezes maior do que os R$ 17 bilhões que o banco dispõe para esse tipo de contrapartida exigida por muitos governos locais para receber empresas estrangeiras. Para atender apenas as necessidades atuais, o Eximbank precisaria nascer com caixa de R$ 51 bilhões.
Os recursos devem auxiliar a internacionalização de companhias nacionais principalmente em países da África e da América Latina, onde a brasileiras – a maioria construtoras – prestam serviços. No caso da África, o suporte financeiro via linhas de financiamento concedidas pelo Planalto seria uma forma de competir com a China, cujos preços mais baixos para grandes projetos têm ganhado velocidade com o envio de chineses para os canteiros de obras de países como Angola e Moçambique.
O Eximbank ganhou mais força nos últimos meses, quando alguns empresários pesos-pesados do mundo dos negócios brasileiro têm recorrido ao MDIC para se queixar da falta de recursos do BNDES para suas investidas de internacionalização.
No caso das exportações, as empresas precisam recorrer ao Programa de Financiamento às Exportações (Proex) para depois passar pelo crivo do Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações (Cofig), formado por diversos ministérios e administrado pelo Tesouro Nacional. O crédito nesse caso é repassado pelo Banco do Brasil. Outra linha similar é a Revitaliza, operada pelo BNDES, para exportações indiretas.
O Eximbank seria criado para concentrar essas investidas em um único núcleo de comando. O banco ganharia peso maior a partir da criação da Agência Brasileira Gestora de Fundo e Garantias, prevista pelo Planalto como uma espécie de seguradora para os grandes projetos de infraestrutura dentro do Brasil. Isto porque, a agência deve servir de modelo para a análise de projetos de empresas brasileiras no exterior.

Andrade Gutierrez entra na briga bilionária de serviços para óleo e gás 02/05/2012

Construtora cria unidade para atuar no setor, tanto em terra como no mar


Sabrina Valle, de O Estado de S. Paulo
HOUSTON - O desenvolvimento de uma indústria de óleo e gás brasileira, fomentada pelas leis de incentivo à produção local de equipamentos, fez as grandes construtoras nacionais montarem planos ambiciosos no setor de petróleo. A nova entrante é a Andrade Gutierrez, que acaba de inaugurar uma divisão global específica para óleo e gás.
"Com a reestruturação, a Andrade Gutierrez abre um novo leque de negócios", disse à Agência Estado o presidente global de Óleo e Gás do grupo, Paulo Roberto Dalmazzo, que assumiu o posto em janeiro e participa da Conferência de Tecnologia Offshore OTC, em Houston (EUA).
A empresa, que nesta área tinha atuação restrita a erguer refinarias, vai entrar agora em construção e serviços offshore (no mar), no Brasil e também no exterior. Estão no radar a Petrobrás, seus fornecedores e os 34 países onde o grupo AG já está presente em construção.
A AG entra num ambiente de competição crescente. A Queiroz Galvão já tem uma empresa neste setor desde 1980. A Odebrecht vendeu suas participações em exploração no País e agora quer se consolidar como a maior fornecedora de serviços em exploração e produção nacional, como disse o presidente da Odebrecht Óleo e Gás (OOG), Roberto Prisco Ramos.
A empresa manteve atividade exploratória em Angola, num consórcio onde detém 15%, dividindo participação com Maersk Oil (50%, operador), Sonangol (20%) e Devon Energy Corporation (15%).
A OOG já investiu US$ 4 bilhões no setor desde 2007 e aguarda apenas fechar contratos com a Petrobrás neste ano para fazer uma oferta de ações e abrir capital, o que deve ocorrer no ano que vem.
Disputa
As construtoras disputarão um mercado de bens e serviços offshore no Brasil estimado em US$ 400 bilhões até 2020. As mudanças na AG foram impulsionadas pela chegada da terceira geração da família Gutierrez ao comando, num movimento de renovação ainda em curso.
"Vamos para o offshore. Entraremos fortemente em toda a cadeia de serviços. Nos próximos dias, finalizaremos a compra de um ativo que nos credenciará para entrar também em construção offshore", diz Dalmazzo, que não adianta o negócio alegando exigências contratuais de confidencialidade.
O grupo atua em consórcios de construção de refinarias. No exterior, só opera no setor de petróleo na Argentina e Venezuela. A expansão de terra para mar e do Brasil para o exterior fará crescer a representatividade de óleo e gás na AG, hoje equivalente a 25% das receitas da área de construção, segundo Dalmazzo.
Além da Petrobrás e sua cadeia de fornecedores, a AG Óleo e Gás vai usar a representação que a holding da construtora já tem em 34 países para acessar esses mercados em petróleo, onshore (terrestre) e offshore. Entre eles estão Arábia Saudita, Turquia, Azerbaijão e Angola.
"São países onde já somos fortes em construção e já temos uma estrutura pronta", disse. Parte da produção será feita no Brasil e exportada, como é o caso de Angola. Já na construção, será usada mão de obra local, junto com brasileiros enviados para o país de destino. A AG não será operadora. O segmento de portos também será contemplado.
A AG Óleo e Gás também acaba de concluir o processo, iniciado há um ano, de habilitação para se qualificar como fornecedora de operadoras fora do Brasil. No Brasil, já começou a participar de concorrências. "A questão agora é quando sairá o primeiro contrato", disse Dalmazzo.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Brasil deve girar US$ 110 bilhões em compra de aviões 02/05/2012


Alberto Komatsu

O Brasil deverá movimentar US$ 110 bilhões para a aquisição de 1.090 aviões até 2030. A estimativa é da fabricante americana Boeing, líder de mercado no país, com 45% de participação, ou o equivalente a 180 jatos em operação. Em sua maioria, são modelos 737-300, operados principalmente pela Gol e pela Webjet.

A projeção foi divulgada pela Boeing na semana passada, em Seattle (EUA), sede da fábrica de aviões comerciais da companhia. O estudo engloba o mercado total, não só a projeção de vendas da própria Boeing.

A estimativa mostra que o Brasil deverá responder por 42% da necessidade de aviões da América Latina, em quantidade, até 2030. De acordo com a Boeing, a região deverá comprar 2.570 aeronaves para uso comercial, nos próximos 18 anos. O México vem em segundo lugar, com 445 jatos. Demais países ficam com os 41% restantes.

Em volume de investimentos, o Brasil deverá responder por 44% do movimento de US$ 250 bilhões, previsto para a América Latina até 2030. O México, por sua vez, tem potencial para investir US$ 35 bilhões, ou o equivalente a 14% do total. Outros US$ 105 bilhões ficarão a cargo de outros países latino-americanos.

"As maiores companhias da América Latina têm potencial para competir com qualquer companhia aérea do mundo", afirmou o diretor de marketing da divisão de aviação comercial da Boeing para a América Latina, Mike Barnett.

O executivo chamou a atenção para as projeções de crescimento da América Latina, entre as melhores do mundo entre os anos de 2011 e 2030. Pelo estudo da Boeing, o tráfego aéreo na América Latina deverá registrar crescimento médio anual de 6,7%, acima da média mundial, de 5,1% prevista para esse período.

É a terceira maior taxa, considerando-se o fluxo de passageiros dentro de uma mesma região. Perde apenas para os 7,5% da China e os 7% da Ásia-Pacífico.

"O Brasil é muito importante para nós tanto no segmento de defesa quanto no comercial. O país tem um tremendo crescimento econômico que o torna um parceiro que nós realmente queremos fazer negócios", diz o vice-presidente de estratégia internacional e desenvolvimento de negócios da divisão de aviões comerciais, Travis Sullivan.

Grande parte do crescimento de países e regiões emergentes, conforme a Boeing, virá da perda de participação da América do Norte e da Europa, os dois maiores e mais tradicionais mercados da aviação comercial.

Segundo a Boeing, em 1990 a América do Norte e a Europa respondiam por 72% do tráfego aéreo global. Em 2010, essa fatia recuou para 55%. Até 2030, essas duas regiões deverão ter participação combinada de 41%.

A previsão da demanda global de aviões entre 2011 e 2030, segundo a Boeing, é de 33,5 mil unidades. O investimento está estimado em US$ 4 bilhões nesse período. O estudo da fabricante americana prevê que a frota mundial para uso comercial deverá ter 39,5 mil aviões, em 2030. Em 2010, o total era de 19,2 mil.

As previsões da companhia americana também mostram que a América Latina deverá apresentar o sexto maior crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do mundo, até 2030, com taxa média anual de 4,2%. A maior média de expansão deverá ficar com o sul da Ásia (7,1%), seguida pela China (7%), Ásia-Pacífico (4,7%), África e Sudeste da Ásia, estes dois últimos com média por ano de 4,4%.

Com novas eleições, ataque de Israel ao Irã fica mais distante; por enquanto 02/05/2012


Em apenas alguns dias, uma conjunção de fatores reduziu drasticamente a probabilidade de Israel lançar um ataque contra o Irã por ora. Se antes o mundo via com apreensão o discurso cada vez mais belicoso do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, agora a comunidade internacional acompanha com atenção a pressão política sobre ele para que a crise originada pelo programa nuclear iraniano seja resolvida por meios diplomáticos. Aparentemente, a solução pacífica ganhou uma janela de alguns meses antes de Netanyahu voltar a falar abertamente sobre destruir as instalações nucleares do Irã.


Liderança messiânica ou delírio de perseguição?

Netanyahu está sofrendo uma dupla pressão. A primeira é das comunidades militar e de Inteligência de Israel. Os dois grupos escancararam um raro momento de divisão interna no país a respeito do que fazer diante de um inimigo externo, no caso, o Irã. Na semana passada, Yuval Diskin, o ex-chefe do Shin Bet, o serviço de segurança interna de Israel, fez duros ataques a Netanyahu e a seu ministro da Defesa, Ehud Barak. Diskin classificou a liderança dos dois de “messiânica” e disse não acreditar que ambos poderiam comandar o país em uma guerra.

No fim de semana, Meir Dagan, ex-chefe do Mossad, a Inteligência externa de Israel, manifestou apoio a Diskin. Depois, o chefe do Exército de Israel, Benny Gantz, foi a público dizer que o governo do Irã era “racional” e não meramente lunático, como defende Netanyahu. Nesta segunda-feira 30, o ex-primeiro-ministro de Israel Ehud Olmert seguiu a linha dos três. Em entrevista à rede de TV americana CNN, disse não acreditar que o Irã tenha ultrapassado seus limites. “Eu sei de uma coisa. A liderança do Irã não atravessou uma determinada linha até aqui para desenvolver seu programa nuclear”, disse. “Isso significa que eles estão ao menos calculando seus próximos passos e estão atentos às possíveis ramificações do que fazem.”
A segunda pressão sobre Netanyahu é eleitoral. Neste fim de semana, ele admitiu a possibilidade de antecipar as eleições, atualmente marcadas para outubro de 2013. Isso deve ocorrer por conta de uma divisão em sua coalizão a respeito do destino da chamada Lei Tal. Essa lei, que libera os judeus ortodoxos do serviço militar, obrigatório em Israel para homens (três anos) e mulheres (dois anos), foi considerada ilegal pela Suprema Corte de Israel e não valerá mais a partir de agosto. Netanyahu prometeu mandar ao Parlamento uma lei “mais justa”, que aborde não apenas a situação dos religiosos, mas também a dos árabes israelenses, atualmente isentos do serviço militar.
A coalizão de direita e extrema-direita de Netanyahu tem opiniões divergentes sobre o tema. O ministro do Exterior, Avigdor Lieberman, é o artífice da campanha pelo fim da coalizão e por novas eleições. Lieberman quer ver os ortodoxos servindo o Exército, mas não aceita os árabes israelenses nas Forças Armadas. Por trás disso, está a esperança de Lieberman de ver seu partido, o Yisrael Beitenu, superar o Likud (de Netanyahu) nas urnas e assumir a liderança da coalizão.
Juntos, esses dois fatores – as pressões militar e eleitoral sobre Netanyahu – reduzem a possibilidade de um ataque ao Irã ser realizado agora. Ao criticar Netanyahu e mostrar que há uma solução pacífica para a crise com o Irã, os militares e a Inteligência de Israel elevam o preço político de uma ação militar. Soma-se a isso a pressão dos eleitores israelenses. A sociedade civil em Israel é mobilizada e vai desejar entender exatamente os custos e os benefícios de um ataque ao Irã. Antes de votar, o israelense comum vai se perguntar por que um primeiro-ministro, sob críticas de militares e da Inteligência, vai jogar o país em uma guerra cuja porta de saída é desconhecida. Sabendo disso, é muito provável que Netanyahu abandone momentaneamente sua retórica belicosa e dê uma chance às negociações que Alemanha, China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia mantêm com o Irã atualmente.
Este cenário, entretanto, não é duradouro. Nesta segunda-feira 30, diversos partidos israelenses aceitaram a possibilidade eleições antecipadas, para outubro deste ano ou mesmo para julho. Apesar da ânsia de poder de Lieberman, pesquisas feitas pelos jornais israelenses The Jerusalem Post e Haaretz apontam vitória do Likud nas eleições, com um número de cadeiras no Parlamento pelo menos duas vezes maior que o do segundo colocado. Se esse resultado se concretizar, o governo a emergir das novas eleições terá um Benjamin Netanyahu ainda mais forte como líder. Se até lá as negociações com o Irã não estiverem concluídas, Netanyahu estará em uma posição ainda melhor para retomar os ataques verbais ao Irã e, quem sabe, iniciar a guerra que parece tanto desejar.
cartacapital.com.br

Especialistas e militares temem guerra cibernética no futuro 02/05/2012




Um exercício militar internacional, realizado em março em uma base militar na Estônia, tentou prever as consequências de um novo tipo de conflito, uma guerra cibernética. A operação Locked Shields não envolveu explosões, tanques ou armas. Na operação, uma equipe de especialistas em TI atacou outras nove equipes, espalhadas em toda a Europa.
Nos terminais da equipe de ataque, localizados no Centro de Excelência da Otan em Defesa Cibernética Cooperativa, foram criados vírus ao estilo "cavalo de Troia" e outros tipos de ataques pela internet que tentavam sequestrar e extrair dados das equipes inimigas. O objetivo era aprender como evitar estes ataques em redes comerciais e militares e mostrou que a ameaça cibernética está sendo levada a sério pela aliança militar ocidental.
O fato de a Otan ter estabelecido seu centro de defesa na Estônia também não é por acaso. Em 2007 sites do sistema bancário, da imprensa e do governo do país foram atacados com os chamados DDoS (sigla em inglês para "distribuição de negação de serviço") durante um período de três semanas, o que agora é conhecido como 1ª Guerra da Web.
Os responsáveis seriam hackers ativistas, partidários da Rússia, insatisfeitos com a retirada de uma estátua da época da União Soviética do centro da capital do país, Tallinn. Os ataques DDoS são diretos: redes de milhares de computadores infectados, conhecidas como botnets, acessam simultaneamente o site alvo, que é sobrecarregado pelo tráfego e fica temporariamente fora de serviço.
Os ataques DDoS são, no entanto, uma arma primitiva quando comparados com as últimas armas digitais. Atualmente, o temor é de que a 2ª Guerra da Web, se e quanto acontecer, possa gerar danos físicos, prejudicando a infraestrutura e até causando mortes.
Trens descarrilados e blecautes
Para Richard A. Clarke, assistente de combate ao terrorismo e segurança cibernética para os presidentes americanos Bill Clinton e George W. Bush, ataques mais sofisticados podem fazer coisas como descarrilar trens em todo o país, por exemplo. "Eles podem causar blecautes, e não apenas cortando o fornecimento de energia, mas danificando de forma permanente geradores que levariam meses para serem substituídos. Eles podem fazer coisas como causar explosões em oleodutos ou gasodutos. Eles podem fazer com que aeronaves não decolem", disse.
No centro do problema estão interfaces entre os mundos físico e digital conhecidas como sistemas Scada, ou Controle de Supervisão e Aquisição de Dados, na sigla em inglês. Estes controladores computadorizados assumiram uma série de tarefas que antes eram feitas manualmente. Eles fazem de tudo, desde abrir as válvulas de oleodutos a monitorar semáforos.
Em breve estes sistemas serão comuns em casas, controlando coisas como o aquecimento central. O detalhe importante é que estes sistemas usam o ciberespaço para se comunicar com os controladores, receber a próxima tarefa e reportar problemas. Caso hackers consigam entrar nestas redes, em teoria, conseguiriam também o controle da rede elétrica de um país, do fornecimento de água, sistemas de distribuição para indústria ou supermercados e outros sistemas ligados à infraestrutura.
Dispositivos vulneráveis
Em 2007, o Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos demonstrou a potencial vulnerabilidade dos sistemas Scada. Com um software, o departamento entrou com comandos errados e atacou um grande gerador a diesel. Vídeos da experiência mostram o gerador chacoalhando violentamente e depois a fumaça preta toma toda a tela.

O temor é de que, um dia, um governo hostil, terroristas ou até hackers que apenas querem se divertir possam fazer o mesmo no mundo real. "Nos últimos meses temos vistos várias coisas", disse Jenny Mena, do Departamento de Segurança Nacional. "Atualmente existem mecanismos de buscas que podem encontrar aqueles dispositivos que estão vulneráveis a um ataque pela internet. Além disso, vimos um aumento no interesse nesta área na comunidade de hackers e de hackers ativistas."
Uma razão de os sistemas Scada terem uma possibilidade maior de ataques de hackers é que, geralmente, engenheiros criam o software, ao invés de programadores especializados. De acordo com o consultor de segurança alemão Ralph Langner, engenheiros são especialistas em suas áreas, mas não em defesa cibernética.
"Em algum momento eles aprenderam a desenvolver software, mas não se pode compará-los a desenvolvedores de software profissionais que, provavelmente, passaram uma década aprendendo", disse.
E, além disso, softwares de infraestrutura podem estar muito expostos. Uma usina de energia, por exemplo, pode ter menos antivírus do que um laptop comum. Quando as vulnerabilidades são detectadas, pode ser impossível fazer reparos imediatos no software.
"Para isso, você precisa desligar e ligar novamente (o computador ou sistema). E uma usina de energia precisa funcionar constantemente, com apenas uma parada anual para manutenção", disse Langner. Portanto, até o desligamento anual da usina, não se pode instalar novo software.
Stuxnet
Em 2010, Ralph Langner e outros dois funcionários de sua companhia começaram a investigar um vírus de computador chamado Stuxnet e o que ele descobriu foi de tirar o fôlego.
O Stuxnet parecia atacar um tipo específico de sistema Scada, fazendo um trabalho específico e, aparentemente, causava pouco dano a qualquer outro aplicativo que infectava.
Era inteligente o bastante para encontrar o caminho de computador em computador, procurando sua presa. E também conseguia explorar quatro erros de software, antes desconhecidos, no Windows, da Microsoft.
Estes erros são extremamente raros o que sugere que os criadores do Stuxnet eram muito especializados e tinham muitos recursos.
Langner precisou de seis meses para analisar apenas um quarto do vírus. Mesmo assim, os resultados que conseguiu foram espantosos.
O alvo do Stuxnet era o sistema que controlava as centrífugas de urânio na usina nuclear de Natanz, no Irã.
Atualmente se especula que o ataque foi trabalho de agentes americanos ou israelenses, ou ambos. Qualquer que seja a verdade, Langner estima que o ataque o Stuxnet atrasou em dois anos o programa nuclear iraniano e custou aos responsáveis pelo ataque cerca de US$ 10 milhões, um custo relativamente pequeno.

Otimistas e pessimistas
O professor Peter Sommer, especialista internacional em crimes cibernéticos afirma que a quantidade de pesquisa e a programação sofisticada significam que armas do calibre do Stuxnet estariam fora do alcance da maioria, apenas disponíveis para governos de países avançados. E governos, segundo o especialista, costumam se comportar de forma racional, descartando ataques indiscriminados contra alvos civis.
"Você não quer causar, necessariamente, interrupção total. Pois os resultados podem ser imprevistos e incontroláveis. Ou seja, apesar de alguém poder planejar ataques que possam derrubar o sistema financeiro mundial ou a internet, por quê alguém faria isto? Você pode acabar com algo que não é tão diferente de um inverno nuclear."
No entanto, o consultor Ralph Langner afirma que, depois de infectar computadores no mundo todo, o código do Stuxnet está disponível para qualquer que consiga adaptá-lo, incluindo terroristas.
"Os vetores de ataque usados pelo Stuxnet podem ser copiados e usados novamente contra alvos completamente diferentes. Até há um ano, ninguém sabia de uma ameaça tão agressiva e sofisticada. Com o Stuxnet, isso mudou. (…). A tecnologia está lá, na internet."
Langner já fala em uma certeza: se as armas cibernéticas se espalharem, os alvos serão, na maioria, ocidentais, ao invés de alvos em países como o Irã, que tem pouca dependência da internet.
E isto significa que as velhas regras de defesa militar, que favoreciam países poderosos e tecnologicamente avançados como os Estados Unidos, já não se aplicam mais.
BBC Brasil