sexta-feira, 22 de março de 2019

A liberdade capitalista é só encenação, por Rob Larson

13/3/2019, Rob Larson,* Jacobin Magazine

Milton Friedman errou. O capitalismo não promove a liberdade. Só promove locais de trabalho que são autocracias e bilionários tirânicos [além de goiabeiras, Damares, pistoleiros e tarados elegíveis em geral (NTs)].
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Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga



Consideradas todas as mudanças dos últimos 50 anos, é surpreendente que os clássicos conservadores tenham mantido tão alto prestígio. Capitalismo e Liberdade, de Milton Friedman e A estrada da Servidão de Friedrich Hayek ainda são oferecidos na livraria online de Breitbart. Rush Limbaugh diz aos seus ouvintes que “Milton Friedman deve ser a Bíblia para os jovens e para todos que tentem entender o capitalismo e os livres mercados.” Charlie Kirk, fundador de Turning Point USA, celebra Hayek e Friedman em seu livro, e Ben Shapiro cultiva Friedman como ícone conservador na National Review.[1] 

Mas o que, então, são a liberdade e garantia de direitos [orig. liberty and freedom] que os conservadores celebram? E o capitalismo? Promove ou restringe tudo isso?

"Garantir direitos" é tido em alta conta, porque, de algum modo, cobre todos os prazeres da vida – é a capacidade para fazer o que se queira, dentro dos limites das condições materiais e no tempo que nos é dado viver. Mas o modo como você gosta de passar seu tempo, quem você ama ou com quem você trabalha, ou com quem você ri, tudo isso representa também o tremendo valor do gozo de direitos sociais.

Para John Stuart Mill, o princípio básico do gozo de direitos era que "o único objetivo para o qual o poder pode exercer-se corretamente sobre qualquer membro de uma comunidade civilizada, contra a vontade dele, é impedir o dano a outros.” O filósofo Isaiah Berlin, adiante, descreveu essa ideia como "liberdade negativa" ou ser livre de coerção. Berlin também sugeriu uma "liberdade positiva" – liberdade para fazer coisas diferentes, não apenas "ser livre das escolhas de outros". Em vez de perguntar "Que centros de poder me controlam,” a liberdade positiva pergunta "O que sou livre para fazer com as oportunidades e recursos do mundo?”

A visão filosófica tradicional do capitalismo é que embora não ofereça "liberdade positiva" de acesso a uma porção justa da produção mundial de bens, o capitalismo oferece "liberdade negativa" da tirania econômica, deixando consumidores e trabalhadores livres para escolher entre vários itens. É a visão de Friedman e Hayek, e eles insistem em que esse seja o tipo certo de liberdade. Muitas gerações de defensores do capitalismo concordaram.

Mas qualquer revisão realista da economia de mercado mostra quadro muito diferente: o capitalismo limita os dois tipos de liberdade, a liberdade positiva e também a liberdade negativa. O capitalismo favorece uma acumulação monstro de poder privado, ao concentrar a riqueza individual e ao blindar completamente o controle que as empresas exercem sobre os mercados (além de destruir sem piedade os sistemas ambientais e, assim, qualquer possibilidade de liberdade para futuras gerações). O capitalismo não fracassa apenas ao não garantir "liberdade positiva" de acesso a fatia justa da economia; fracassa também ao não proteger a "liberdade negativa" contra os jogos de poder da propriedade corporativa do 1%.

Quando GM e Ford decidiram desertar de cidades como Detroit e Flint, mudando-se para cidades e países mais pobres, negaram à sua antiga força de trabalho qualquer liberdade positiva para gozar dos enormes ganhos da indústria — ganhos que os próprios trabalhadores geraram. 

Quando a indústria farmacêutica de Martin Shkreli aumentou o preço de uma droga patenteada necessária à manutenção da vida, de $13,50 para $750, efetivamente impedindo que pessoas acometidas daquela específica doença tivessem acesso à medicação, empurrou esses doentes para a miséria ou para a bancarrota –, o que configura assustadora restrição da liberdade negativa. 

Quando a empresa Amazon organizou um concurso para decidir que cidade dos EUA seria abençoada com a construção de sua nova sede, e prefeitos em todo o continente abriram mão de bilhões criando novas isenções de impostos e jogando fortunas aos pés da empresa, a empresa Amazon acumulou para si poder monstro sobre o destino de milhões de pessoas – o que expôs, perfeitamente a nu, o quanto as decisões capitalistas de investimentos podem limitar dramaticamente a liberdade humana.

Defensores do capitalismo insistem que, como Friedman e a esposa Rose escreveram em seu livro Livre para Escolher, “Quando você entra numa loja, ninguém o força a comprar. Você é livre para comprar ou sair da loja... Você é Livre para escolher.” Aplicaram o mesmo argumento aos trabalhadores: se você não gosta do seu trabalho ou carreira, ache outro.

Mas outras figuras viram de modo muito diferente a alegada liberdade negativa do mercado. Considere Frederick Douglass, o escravo fugido e intelectual autodidata. Douglass concluiu:

A experiência demonstra que pode haver uma escravidão de salários só um pouco menos cruel e devastadora em seus efeitos que escravidão de corpos, que escraviza pais e filhos e netos, e essa escravidão de salários é metida goela abaixo com a primeira (...). O homem que tenha o poder de dizer a outro homem "Você tem de trabalhar a terra para mim, em troca do salário que eu decidi pagar", tem um poder de escravizador sobre o outro igualmente real, se não tão completo, como o agente com poder para obrigar a trabalhar sob chicote. Tudo que um homem tenha, ele entregará para salvar a vida.

Aí Douglass sugeria que os mercados permitem o exercício do poder menos fiscalizável e menos fiscalizado – o poder inimigo da liberdade de usufruir de direitos. Mas como uma pessoa livre poderia ser "escravizada" aos salários, havendo tantas diferentes opções para comprar diferentes bens e encontrar diferentes carreiras?

Uma das respostas, como críticos do capitalismo têm dito ao longo de séculos, é que mercados concentram-se e muito frequentemente tendem ao monopólio. Desde os bem conhecidos monopólios da Idade do Ouro no petróleo e no aço, até as gigantes do Vale do Silício hoje, a dinâmica do capitalismo gera inacreditáveis concentrações de poder privado.[2] E se há leis antitrustes que visam a limitar esses monopólios, verdade é que, como disse o eminente economista Alfred Chandler, há muito tempo, comentando a Lei Sherman de 1890, no melhor dos casos essas leis tendem a "criar oligopólio onde antes houve monopólio e a dificultar que o oligopólio torne-se outra vez monopólio.” Grande concentração de poder não fiscalizável e não fiscalizado: desse estofo se faz o capitalismo maduro, não de mercados bondosos das fantasias dos Friedmans.

O ponto mais forte de Douglass, contudo, foi ver e declarar que as economias de mercado tratam as necessidades básicas como mercadorias a serem compradas e vendidas, inclusive comida e teto. O capitalismo empurra as pessoas a encontrar trabalho nos mercados de trabalho em termos tais, que a única coisa que podem fazer é deixar-se esmagar pelo poder tirânico de abusadores capitalistas autoinflados, dos Rockefellers aos Bezos.

Esses abusadores infringem radicalmente a liberdade negativa e a liberdade positiva. Para conseguir o rudimentos da sobrevivência, muita gente tem de se submeter à violenta ditadura das modernas das fábricas contemporâneas — aos horários sempre variados, à revista na sala onde as pessoas trocam de roupa, às restrições à liberdade de manifestar o próprio pensamento. Não surpreende que Douglass tenha acrescentado: “À medida em que o trabalhador tornar-se mais inteligente, desenvolverá o que o capital já tem – vale dizer: o poder de organizar-se e combinar-se para autoproteção.” A organização coletiva de trabalhadores – bicho-papão temido dos capitalistas violentos como Friedman — sempre foi a única garantia de liberdade para exercer direitos.

Mas... calma! Friedman & Co. dizem que têm um ás na manga: "Dado que a família sempre tem a alternativa de produzir diretamente para o auto-sustento" – escreveu em Capitalismo e Liberdade, “ninguém é obrigado a participar de nenhum tipo de troca, a menos que se beneficie da troca". O poder de “sair” controla(ria) o poder potencialmente coercitivo do mercado de trabalho.

Problema é que a 'família média' de Friedman é quadro tão róseo, que beira o delírio. E Friedman recusa-se a reconhecer que produzir bens inevitavelmente demanda capital, ferramentas e equipamentos.

E o capital é monstruosamente concentrado. Thomas Piketty, estudioso da desigualdade, descobriu que os 10% mais ricos dentre os lares nos EUA são donos de 70% de toda a riqueza nacional; 35% dessa riqueza está concentrada no 1% do topo da pirâmide. Importante não deixar passar sem ver é que empresas por ações, que respondem pela propriedade do capital produtivo necessário para que o povo consiga "produzir sozinho, para si mesmo" são igualmente super concentradamente poucas: as 5% famílias mais ricas concentram 67% de todas as ações que há nos EUA, segundo o Economic Policy Institute.

Sabe-se lá como, esse ganhador do Prêmio Nobel, professor da Chicago School, consegue não ver que o indivíduo médio – o indivíduo em torno do qual toda a filosofia dos Friedman supostamente se ergueria — é prisioneiro e refém dos desígnios dos donos da economia produtiva, que podem decidir o quanto desgraçada será nossa vida, e que cidades serão autorizadas a ter futuro econômico. Do tempo de descanso à ergonomia, à licença-maternidade e aos assuntos admitidos no local de trabalho, a camada superior manda e desmanda e zomba descaradamente da "liberdade capitalista".

A esquerda liberal [ing. "liberals], por sua vez, está sempre a postos para 'exigir' mais "liberdade positiva" sob a forma de direitos à assistência pública à saúde, à educação e a viver em ambiente saudável. Mas muito mais ganharia se exigisse controle democrático sobre investimentos e produção, modelo muito mais interessante e promissor de liberdade, porque o controle alcançado pelo empregado substituiria o motor 'lucro' do capitalismo, por solidariedade – essa, sim, impulso para cada um apoiar seu próximo e colaborar com ele, homens e mulheres.

Se o fizesse, estaria pondo fim ao poder das empresas gigantes para aleijar cidades inteiras, simplesmente por se mudar para outro país, ou para desgraçar a vida dos seus empregados, aumentando as cotas de produção ou super vigiando cada movimento dos empregados. Decisões tomadas por cooperativas de empregados, eleitos e sujeitos a serem trocados pelos colegas, poderiam ser uma matriz de solidariedade social, o que limitaria significativamente o poder destrutivo a que todos estamos acostumados, no mundo empresarial de hoje.

Nós, da esquerda-esquerda não podemos entregar à direita o discurso da liberdade para exercer direitos. Ter análise crítica da empresa capitalista é excelente, mas os socialistas temos também de promover o potencial transformador da liberdade socialista — seja para inspirar para o duro trabalho necessário para mudar o mundo, seja para dar um norte às nossas lutas.

Em  Caminho para a Servidão, Hayek resmunga, lamentando que "a promessa de maior liberdade tornou-se uma das armas mais efetivas da propaganda socialista". Só nós não sabemos?!*******


* Rob Larson é professor de Economia no Tacoma Community College e autor de Capitalism vs. Freedom: The Toll Road to Serfdom [Capitalismo x Liberdade: pedágio na estrada para a servidão].
[1] Hayek é leitura que Steve Bannon anda pela Europa a recomendar a Martine Le Pen e a Salvini. Ver "A fala de Steve Bannon que uns amam, outros odeiam e ninguém ouviu. Discurso de Steve Bannon ao Congresso da Refundação do Front National, de Marine LePen", 19/3/2018, vídeo, 35”54’, traduzido no blog O empastelador [NTs].
[2] Sobre um dos casos mais inacreditáveis de concentração de poder privado em toda a história do mundo, vide o que diz a professora Maria Lúcia Fattoreli  no Duplo Expresso de Domingo, 17/3/2019 (assistam todo o programa), sobre o poder dos bancos no Brasil do golpe, com destaque para a ação do Banco Central de Meirelles e Ilan Goldfayn, como 'esteio' do poder dos bancos privados tanto em tempos de 'democracia' como hoje, sob golpe [NTs]. 

domingo, 24 de setembro de 2017

Desmascarada: Doutrina Trump e a carnificina do neoeixo do mal, por Pepe Escobar 24/09/2017

 Pepe Escobar, Asia Times (reproduzido em The Vineyard of the Saker)







Nada de "discurso profundamente filosófico". Sequer um show de "realismo com princípios" – como a Casa Branca havia espalhado. O presidente Trump na ONU foi de "carnificina à EUA", tomando emprestada a expressão do autor de discursos e nativista Stephen Miller.



É preciso deixar 'baixar' a enormidade do que acaba de acontecer, devagar. O presidente dos EUA, diante da burocracia enfatuada que se faz passar por "comunidade internacional", ameaçou "varrer do mapa" toda a República Popular Democrática da Coreia (25 milhões de almas, metade da população do estado de São Paulo, NTs). E também varrerá (se varrer a Coreia do Norte) vários outros milhões de sul-coreanos como dano colateral.


Houve várias tentativas para conectar as ameaças de Trump à teoria do doido [ing. madman theory] urdida por "Tricky Dicky" [aprox. "Esperto Otário/Pintudo"] Nixon mancomunado com Henry Kissinger, segundo a qual a URSS deveria ser mantida sob a impressão de que o então presidente dos EUA fosse doido varrido, o suficiente para, literalmente, despachar a bomba atômica. Mas a RPDC não se impressionará muito com o novo doido, remix.


Com o que ficamos, sobre a mesa, com atualização muito mais apavorante de Hiroshima e Nagasaki (Trump repetidas vezes invocou Truman em seu discurso). Nesse momento está em curso uma atividade frenética nas duas capitais, Moscou e Pequim: Rússia e China têm em desenvolvimento estratégia própria de estabilidade/conectividade para conter Pyongyang.


A Doutrina Trump foi finalmente anunciado e foi delineado um novo eixo do mal. Os estados contemplados agora são Coreia do Norte, Irã e Venezuela. A Síria de Assad é uma espécie de mini-mal, assim como Cuba. Crucialmente, Ucrânia e Mar do Sul da China só receberam rápida menção de Trump, sem nenhuma acusação violenta contra Rússia e China. Pode indicar pelo menos algum grau de realpolitik: sem "RC" – a parceria estratégica Rússia-China no coração do bloco RICS (os BRICS, excluído o Brasil (B) que está sob golpe e fora da ordem civilizada) e a Organização de Cooperação de Xangai (OCX) – o impasse na Península Coreana não tem solução possível.


Essa batalha épica entre "os corretos muitos" e os "perversos poucos", com os EUA autodescritos como "nação compassiva" que quer "harmonia e amizade, não conflito e luta", e que fica apenas a um passo de pintar o Estado Islâmico como nem remotamente tão "o mal" quanto a Coreia do Norte ou o Irã – ocupa só uns poucos parágrafos.


A arte de desmontar um acordo


Segundo a Doutrina Trump, o Irã é "estado-bandido completamente exaurido economicamente, cujos principais itens de exportação são violência, banhos de sangue e caos", "regime assassino" que se aproveita de um acordo nuclear que é "um embaraço para os EUA."


O ministro de Relações Exteriores do Irã Mohammad Javad Zarif tuitou:




"O discurso de ódio ignorante de Trump, coisa de tempos medievais – sem lugar na ONU no século 21 – não vale nem resposta."





O ministro de Relações Exteriores da Rússia Sergey Lavrov mais uma vez reafirmou total apoio ao acordo nuclear, antes da reunião de ministros P5+1 marcada para 4ª-feira, quando Zarif estará sentado na mesma mesa que o secretário de Estado dos EUA Rex Tillerson. Estará em discussão a confirmação do acordo. Tillerson é o único que quer uma renegociação.


O presidente Hassan Rouhani do Irã construiu de fato um argumento inexpugnável sobre as negociações nucleares. Diz que o acordo – que todos, o grupo P5+1 e a Agência Internacional de Energia Atômica, concordam que está funcionando bem – poderia ser usado como modelo em outras questões. A chanceler Angela Merkel da Alemanha concorda. Mas, diz Rouhani, se os EUA resolvem desligar-se unilateralmente do acordo, de que modo os norte-coreanos, algum dia, acreditariam que valha a pena sentar e negociar qualquer coisa com os norte-americanos?


A Doutrina Trump visa de fato a retomar um velho enredo favorito dos neoconservadores, que reverte à dinâmica dos anos da Guerra Fria manobrada pela Washington de Dick Cheney.


O roteiro é o seguinte: o Irã tem de ser isolado (pelo ocidente, mas dessa vez a ideia não decola entre os europeus); o Irã está "desestabilizando" o Oriente Médio (mas a Arábia Saudita, sustentáculo ideológico de todos os ramos de jihadismo salafista, ganha entrada grátis para desestabilizar à vontade); e o Irã, porque está desenvolvendo balística que pode – supostamente – transportar ogivas nucleares, é a nova Coreia do Norte.


Assim se prepara o terreno para Trump des-assinar o acordo dia 15 de outubro. Esse perigoso resultado geopolítico poria então Washington, Telavive, Riad e Abu Dhabi contra Teerã, Moscou e Pequim, com as capitais europeias não alinhadas. Nada que seja, nem de longe, compatível com uma "nação compassiva" que queira "harmonia e amizade, não conflito e luta."


O Afeganistão muda-se para a América do Sul


A Doutrina Trump, como enunciada, privilegia(ria) a soberania absoluta do estado-nação. Mas aí vêm os amaldiçoados "regimes bandidos", regimes que têm de ser, como se diz, "mudados". Entra a Venezuela, agora "à beira de colapso total" e comandada por um "ditador"; e os EUA, naturalmente, "não podem sentar à margem e apenas assistir aos eventos".


Não estão, mesmo, sentados à margem. Na 2ª-feira, Trump jantou em New York com os presidentes de Colômbia, Peru e Brasil (esse último acusado pelo advogado geral de ser o cabecilha de uma organização criminosa, e que padece hoje 95% de impopularidade, o exato oposto da dinastia Kim na Coreia do Norte, que recebeu 95% de "boa" e "excelente" na avaliação dos próprios cidadãos). No cardápio dessas sumidades: mudança de regime na Venezuela.


Mas o "ditador" venezuelano, presidente Maduro, conta com o apoio de Moscou e, mais crucialmente importante, também de Pequim, que compra petróleo e investiu muito em infraestrutura no país, com a gigante brasileira da construção que foi completamente desarticulada pela investigação Lava Jato.


Os riscos na Venezuela são extremamente altos. No início de novembro, forças do Brasil e dos EUA farão manobras militares conjuntas na Floresta Amazônica, na Tríplice Fronteira entre Peru, Brasil e Colômbia. Podem chamar de 'ensaio' para mudança de regime na Venezuela. A América do Sul corre alto risco de ser convertida em neo-Afeganistão, consequência que decorre da frase de Trump, para quem "grandes porções do mundo estão em conflito e algumas, de fato vão é p'rô inferno".


Apesar de todo o arrogante fraseado sobre "soberania", esse neoeixo do mal só tem a ver, mais uma vez, com mudança de regime.


Rússia-China trabalham para diluir o impasse nuclear, depois seduzir a Coreia do Norte para que tome parte na interpenetração de Iniciativa Cinturão e Estrada, ICE, e União Econômica Eurasiana (UEE), via uma nova Ferrovia Trans-Coreia e investimentos em portos da RPDC. O nome do jogo é integração eurasiana.


O Irã é nodo chave da ICE. Também é futuro membro pleno da OCX; conecta-se – pelo Corredor de Transporte Norte-Sul – com Índia e Rússia; e é possível futuro fornecedor de gás natural para a Europa. Outra vez, o nome do jogo é integração eurasiana.


A Venezuela, por sua vez, é dona das maiores reservas de petróleo ainda não exploradas do planeta, e entra nos planos de Pequim como uma espécie de nodo avançado da Iniciativa Cinturão e Estrada na América do Sul.


A Doutrina Trump introduz um novo conjunto de problemas para Rússia-China.


Putin e Xi sonham com remontar um equilíbrio de poder semelhante ao do Concerto da Europa, que durou de 1815 (depois da derrota de Napoleão) até o início da 1ª Guerra Mundial em 1914. Foi quando Grã-Bretanha, Áustria, Rússia e Prússia decidiram que nenhuma nação europeia deveria poder repetir a hegemonia que a França tivera sob Napoleão. Sentada como juíza e carrasca, a América "compassiva" de Trump certamente parece decidida a ecoar aquela hegemonia napoleônica.****

http://blogdoalok.blogspot.com.br/2017/09/desmascarada-doutrina-trump-e.html#more

Venezuela rompe com o petrodólar 24/09/2017

Manlio Dinucci


Il Manifesto


Tradução / "A partir desta semana o preço médio do petróleo é cotado em yuan chinês", anunciou a 15 de setembro o ministro venezuelano do Petróleo. Pela primeira vez o preço de venda do petróleo venezuelano deixa de ser cotado em dólares.


É a resposta de Caracas às sanções lançadas em 25 de agosto pela administração Trump, mais duras que as da administração Obama em 2014: elas impedem a Venezuela de encaixar os dólares provenientes da venda do petróleo aos EUA, mais de um milhão de barris por dia, dólares até aqui utilizados para importar bens de consumo como produtos alimentares e medicamentos. As sanções impedem também o comércio de títulos emitidos pela PDVSA, a companhia petrolífera do Estado venezuelano.

Washington visa um duplo objetivo: aumentar na Venezuela a penúria dos bens de primeira necessidade e, assim, o descontentamento popular, sobre o qual se apoia a oposição interna (subvencionada e sustentada pelos EUA) para abater o governo Maduro; colocar o Estado venezuelano em situação de incumprimento (default), ou seja, em falência, impedindo-o de pagar as prestações da dívida externa. Isso significa por em situação de falência o Estado que tem as maiores reservas petrolíferas do mundo, quase dez vezes maiores que as dos Estados Unidos.

Dessa forma, Caracas tenta subtrair-se às garras sufocantes das sanções, cotando o preço de venda do petróleo não mais em dólares dos EUA mas sim em yuan chinês.

O yuan entrou há um ano no cabaz de moedas de reserva do Fundo Monetário Internacional (juntamente com o dólar, o euro, o yen e a libra esterlina) e Pequim está em vias de lançar contratos futuros (contratos a termo) de compra-venda de petróleo em yuan, convertíveis em ouro. "Se o novo contrato de futuros ganhar consistência, corroendo nem que seja uma parte do poder esmagador dos petrodólares, isto seria um golpe fulminante para a economia americana", comenta o diário Il Sole 24 ore.

O que está em causa para a Rússia, a China e outros países não é apenas o enorme poder do petrodólar (moeda de reserva extraída da venda do petróleo), mas a própria hegemonia do dólar. Seu valor é determinado não pela capacidade econômica real estadunidense, mas sim pelo fato de que constitui quase dois terços das reservas monetárias mundiais e a moeda com a qual é estabelecido o preço do petróleo, do ouro e das mercadorias em geral. Isto permite ao Federal Reserve, o banco central (que é um banco privado), imprimir bilhões de dólares com os quais é financiada a colossal dívida pública estadunidense – cerca de 23 bilhões de dólares – através da compra de obrigações e outros títulos emitidos pelo Tesouro dos EUA. Neste contexto, a decisão venezuelana de destacar do dólar o preço do petróleo provoca uma sacudidela sísmica que, a partir do epicentro sul-americano, faz tremer todo o edifício imperial fundado sobre o dólar.

Se o exemplo da Venezuela se estender, se o dólar deixar de ser a principal moeda do comércio e das reservas monetárias internacionais, uma imensa quantidade de dólares seria posta em circulação no mercado provocando o afundamento do valor da moeda estadunidense.

Eis o motivo real porque, na Ordem executiva de 9 de março de 2015, o presidente Obama proclamava "a urgência nacional face à ameaça inabitual e extraordinária colocada à segurança nacional e à política externa dos Estados Unidos pela situação na Venezuela".

Este mesmo motivo pelo qual o presidente Trump anuncia uma possível "opção militar" contra a Venezuela. Ela está em preparação no U.S. Southern Command, cujo emblema é a águia imperial que domina a América Central e do Sul, prestes a mergulhar com as suas garras sobre aquele que se rebela contra o império do dólar.
http://choldraboldra.blogspot.com.br/2017/09/venezuela-rompe-com-o-petrodolar.html

Terror sem fim na Rocinha. Segue o baile da hipocrisia 24/09/2017

POR FERNANDO BRITO



Acabo de assistir videos dos confrontos entre bandidos e policiais militares na Rocinha.

Logo, chegarão os militares do Exército, autorizados a intervir.

Segundo o governador Pezão, um reconhecido gênio estratégico, “Nós não vamos recuar. Pedimos reforço em baixo [da Rocinha] para dar tranquilidade e vamos avançar”.

Ou seja, o Exército vai ser a Polícia e a Polícia vai “avançar” como um exército.

Evidente que é necessário interromper o tiroteio, que está aterrorizando a gente simples e trabalhadora da comunidade. Mas isso não pode esconder o essencial.

A Rocinha está em conflito há dias e tem uma UPP há anos.

Não é possível que, com todo este tempo, não se tenha identificado pessoas e pontos perigosos nem se tenha elaborado planos para confrontos. Mais ainda se há pelo menos quatro dias sabia da invasão de grupos rivais.

Muito menos que o governador, feito um General Patton de “Caveirão” é que diga se se vai “avançar” ou “recuar”. Qualquer comandante de tropa sabe que recuar ou avançar é decisão tática que se toma avaliando a situação. Se tiver que avançar a qualquer preço, sabe que este será caro, em vítimas e danos colaterais.

Mas não deve haver nada, tudo vai se dissolver, pois o espetáculo, o essencial, já ocorreu, com as imagens de cenas de guerra.

Guerra que não se pode ganhar é burrice ou heroísmo, e essa heroísmo não é.

E burrice é só das pessoas que – com toda a razão, assustadas, apavoradas – acham que isso acontece do nada.

A cumplicidade entre traficantes e polícia se formaram debaixo das vistas grossas das autoridades dos três poderes – além de dinheiro, traficante dá voto – e eles não sabem o que você pode saber simplesmente perguntando a quem vive nas comunidades pobres do Rio (e certamente, de outros lugares). Tem mesada, achaque, prende aqui-solta ali adiante, armadilhas para pegar comprador e tomar algum na saída da boca, etc…

Como disse ontem um experiente amigo, “drogas são parte do sistema: servem ao controle social (e vão servir cada vez mais) e quem manda reprimir é quem ganha com elas”.

De quebra, arranjam uns caras bem barra pesada para personificarem “o mal’.

Neste momento, oferecem ainda o “atrativo extra” de exibir, com espalhafato, o caos que construíram laboriosamente.

É por isso que o distinto amigo e a inteligente amiga nunca ouviu falar em “Operação Lava Pó”, nem em Força Tarefa, nem delação premiada de traficante, nem em escutas telefônicas nos famosos “celulares de presídio”. Falam em limpeza na política, mas não se fala em limpeza na polícia.

Não vem ao caso.

E o Exército entra neste caldo de meio-“bucha”, meio marketing.

Só resta esperar que não morra gente, porque todos estão insuflados para “derrubar” a bala.

De qualquer forma, o Jornal Nacional de hoje está garantido.




http://www.tijolaco.com.br/blog/tiros-sem-fim/

A nova geopolítica russa do petróleo 24/09/2017

RICARDO CAVALCANTI-SCHIEL




Por F. William Engdahl, no New Eastern Outlook. Tradução do Coletivo Vila Vudu para o blog do Alok


Desde o Acordo Linha Vermelha de 1928 entre as gigantes britânicas, francesas e norte-americanas do petróleo para dividir as riquezas do Oriente Médio para o mundo do pós-1ª Guerra Mundial, o petróleo, ou mais precisamente, o controle sobre o petróleo passou a constituir a tênue linha vermelha da moderna geopolítica. Durante o período soviético, as exportações russas de petróleo visavam a maximizar a renda em dólares em todos os mercados possíveis. Hoje, com as ridículas sanções de EUA e União Europeia contra a Rússia, e as guerras instigadas por Washington no Oriente Médio, a Rússia está desenvolvendo novo quadro estratégico para sua geopolítica do petróleo.
Muito se disse sobre como a Rússia da era Putin usou a própria liderança como fornecedor de gás natural como parte vital da diplomacia geopolítica russa. Os gasodutos Nord Stream e em breve também Nord Stream II diretamente da Rússia, submarinos, contornando os campos minados da OTAN política na Ucrânia e na Polônia, tiveram o efeito benéfico de construir um lobby da indústria na União Europeia. Especialmente na Alemanha, que pensará duas vezes antes de entrar nas provocação russofóbicas lunáticas de Washington. Assim também o Ramo Turco (ing. Turkish Stream), que dá ao sudeste da Europa a possibilidade de acesso seguro ao gás natural russo para indústria e aquecimento, independente da Ucrânia, é desenvolvimento positivo, tanto para os Bálcãs como para a Rússia. Agora começa a emergir um novo elemento na estratégia das grandes petroleiras estatais russas, para desenvolver nova estratégia geopolítica, usando o petróleo russo e empresas russas de petróleo.

Bonecas matryoshka, Qatar e Rosneft

Dia 7/12/2016 o presidente Vladimir Putin da Rússia anunciou que o estado russo vendera parcela de 19,5% da Rosneft a uma joint venture constituída da gigante comercial e de mineração suíça Glencore e a Autoridade de Investimentos do Qatar, por 10,2 bilhões de euros. Na venda, a Rússia conservou mais de 60% do controle. Grande mistério cercou os detalhes finais embalados no que em russo foi chamado de "estrutura de bonecas matryoshka", referência às famosas bonecas russas pintadas que, cada uma delas contém outra menor, e menor, e menor, e sempre menor. É uma referência à estrutura de empresas offshore aninhadas umas nas outras, usada no negócio de compra e venda Rosneft-Qatar/Glencore.

Sejam quais forem os detalhes daquela venda em dezembro, que gerou para o Tesouro russo fundos muitíssimo necessários nesse momento de orçamentos curtos causados pela forte queda nos preços mundiais do petróleo, cerca de dez meses antes, agora Rússia e Rosneft negociaram com Qatar, Glencore e a CEFC, China Energy Company Ltd., a compra, pela CEFC, de 14% dos 19,5% da Rosneft.

Claramente o Qatar está reagindo às sanções econômicas geridas pelos sauditas e à resultante drenagem de fundo da própria economia, vendendo grande parte da parcela que comprou da Rosneft. O aspecto mais significativo contudo, é que a estatal russa Rosneft pela primeira vez faz, no processo, uma share holding com uma gigante chinesa do petróleo. CEFC é empresa privada de Xangai, com rendas anuais de $34 bilhões e que, com suas subsidiárias, participa de negócios de petróleo e gás que chegam a mais de US$50 bilhões com empresas no Oriente Médio e na Ásia Central. As sinergias do negócio Rosneft-CEFC para a elaboração da enorme Iniciativa Cinturão e Estrada (ICE) eurasiana são óbvias.

Um analista de Wood Mackenzie, Christian Boermel, comentou a importância do negócio: "Esse negócio intensifica a relação no campo da energia entre Rússia e China. Uma fatia da propriedade e do controle direto na Rosneft fará da CEFC chinesa um dos principais propulsores do relacionamento entre Rosneft e China, à frente da CNPC, Sinopec e Beijing Gas."

Com esse negócio as estatais russa e chinesa do petróleo cooperarão para o desenvolvimento conjunto do petróleo em todo o mundo – modo muito estável de cimentar um relacionamento bilateral que surgiu como consequência direta da estupidez de Washington nos últimos anos.

A estupidez de Washington começou com estacionar mísseis balísticos de defesa na Polônia e em outros pontos da União Europeia mirados contra a Rússia; depois, foi o golpe de estado, em 2014, na Ucrânia, promovido e gerido pela CIA e pelo Departamento de Estado, golpe de estado que já custou às economias da União Europeia cerca de $100 bilhões desde 2014, segundo novo relatório da ONU.

Como a maioria dos projetos do Pentágono e neoconservadores, o golpe na Ucrânia fez de modo muito significativo que a Rússia fizesse um movimento de pivô para o Oriente, para maior cooperação com a China e toda a Eurásia. Agora, com a russa Rosneft – a maior petroleira estatal do mundo –, já em parceria estratégica coma gigante chinesa CEFC Energy, acrescenta-se novo e importante elemento ao potencial da Rússia, bem como ao da China, na geopolítica mundial da energia.

Rússia com Turquia no Irã

Em outro movimento geopolítico de alta significação, outra estatal russa do petróleo, JSC Zarubezhneft, anunciou em agosto que firmou um acordo trilateral para desenvolvimento no campo do petróleo com o grupo turco Unit International Ltd. e a Ghadir Investment Company iraniana em projetos de perfuração de poços de petróleo no Irã, no valor noticiado de $7 bilhões. As três empresas financiarão e desenvolverão projetos de energia, inclusive para desenvolver os vastos recursos de petróleo do Irã, ainda subexplorados.

No início desse ano, a turca Unit International assinou um acordo com uma empresa sul-coreana de engenharia, para construir no Irã cinco usinas movidas a gás no valor de $4,2 bilhões, com capacidade para gerarem 5.000 megawatts, o que fará delas as maiores usinas construídas pela iniciativa privada no Irã. O Irã é também o segundo maior fornecedor da gás para a Turquia, depois da Rússia. Claramente aqui, pelo menos, os antagonismos sunitas vs xiitas cedem o protagonismo a uma cooperação estratégica pragmática no campo da energia, o que é avanço muito importante. Como se vê hoje, guerras 'de religião' não produzem nada de bom.

A joint venture dos turcos com a estatal russa de petróleo no Irã surge ao mesmo tempo em que a Turquia anunciava que concluiu a compra do sistema avançado de defesa antiaérea russo S-400 Triumf, considerado o mais avançado do mundo, contra uivos de protesto vindos de Washington.

Zarubezhneft é estatal russa de petróleo especializada em projetos de escavação de poços fora da Rússia. Está ativa hoje no Vietnã, Cuba, Republika Srpska [uma das duas entidades constitucionais e legais da Bósnia e Herzegovina; capital, Sarajevo. "Pequena, mas muito ativa contra a OTAN"], Jordânia e noutros pontos. A dimensão geopolítica desses projetos e, agora, o acordo conjunto de desenvolvimento de petróleo e gás Rússia-Turquia no Irã, começam a sugerir uma estratégia geopolítica. O desenvolvimento conjunto no campo da energia serve para tecer laços econômicos vitais em torno da Rússia.

Quando se veem todos esses desenvolvimentos sobrepostos num mapa da Eurásia, vê-se claramente que um novo relacionamento geopolítico, que se poderia chamar de um campo força de energia econômica está atraindo a Turquia para mais perto da Rússia e do Irã, e também da China.

Por sua vez, o Qatar, nominalmente país sunita, que atraiu sobre ele a ira do príncipe (que logo será rei) Mohammed bin Salman da Arábia Saudita, fê-lo menos por o Qatar ter antes apoiado a Fraternidade Muçulmana e, sim, muito mais, por estar construindo relações não só com Moscou, mas também com o xiita Irã e com a China. O Qatar tem mantido negociações secretas com o Irã para desenvolvimento conjunto do campo de gás natural que os dois países partilham no Golfo Persa.

Antes, o Qatar, com os sauditas e também como a Turquia, financiaram a guerra contra Bashar al-Assad, porque al-Assad recusava-se a deixar que avançasse um gasoduto qatari que teria de atravessar a Síria para chegar à Europa. Assad, por sua vez, uniu-se ao Irã e ao Iraque num gasoduto alternativo para a Europa. Foi quando foi lançada a guerra dos terroristas contra al-Assad, que chegou aos seis anos de duração.

Em algum momento do processo, acompanhando a decisão dos russos de ajudar Assad, do final de 2015, e numa virada pragmática que enfureceu o Pentágono e o príncipe Salman, o Qatar assumiu nova decisão, na linha do "se você não pode derrotá-los, una-se a eles". O Qatar iniciou negociações secretas com o Irã sobre a Síria e sobre um gasoduto conjunto Qatar-Irã, para desenvolver em conjunto o maior campo conhecido de gás natural do planeta, que os dois países partilham no Golfo Persa – South Pars/North Dome, de longe o maior campo de gás natural já descoberto no planeta, segundo a Agência Internacional de Energia, AIE. A batalha pelo controle do Qatar, em certo sentido, é a batalha para dominar os mercados mundiais de gás natural, um recurso quase tão significativo, em termos econômicos quanto o petróleo, para o futuro da economia mundial.

Em resposta às sanções econômicas de junho passado inspiradas por Trump-Kushner e lideradas pelos Emirados Árabes Unidos contra o Qatar, este promoveu melhorias em suas relações com Irã, Rússia e China, e passou a recusar-se a atender as impossíveis exigências de Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Desde que foi inaugurado o ramo em Doha do Banco Industrial e Comercial da China, em 2015, a agência fez negócios em yuan, a moeda chinesa, equivalentes a mais de $86 bilhões de dólares. E firmou outros acordos e tratados entre Qatar e China que visam a estimular novas relações decooperação econômica.

Até que, dia 23 de agosto, o Qatar anunciou que estava reatando relações diplomáticas plenas com o Irã – nada que se assemelhasse ao que os amigos de Jared Kushner em Washington e em Telavive queriam que acontecesse. Desde o início das sanções impostas pela Arábia Saudita com o objetivo de chantagear o Qatar e forçar o país a se submeter, o Irã já forneceu ao Qatar grande quantidade de alimento fresco, entregue por mar, e liberou o espaço aéreo do Irã para aviões do Qatar.

Além disso, também as relações Qatar-Rússia estão em desenvolvimento. Qatar, Irã e Rússia são os principais estimuladores de que se constitua a chamada "OPEP do Gás", à qual Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e EUA opõem-sefortemente.

Acrescentem a essa campo de força em mutação no Golfo, o fato de que o governo turco de Erdogan, antes aliado sólido da Arábia Saudita, condenou a ação dos sauditas contra o Qatar. A Turquia também enviou alimentos ao país, depois de junho, para impedir falta ou racionamentos relacionados ao embargo; e aprovou legislação, no Parlamento, para que tropas turcas sejam deslocadas para território do Qatar.

Uma nova geometria

Rússia, China, Turquia, Irã, Qatar – todos esses trabalham para tecer laços econômicos pacíficos mais profundos, distanciando-se, no caso do Qatar e Turquia, da guerra mal concebida e mal intencionada inspirada pelos EUA contra Bashar al-Assad da Síria, desenvolvendo laços de longo prazo de cooperação no campo da energia e da defesa. No centro desse processo está emergindo uma nova geopolítica da Rússia para o petróleo.

A resposta a tudo isso, do Titanic já seminaufragado que se costumava chamar de Estados Unidos da América, do respectivo lobby industrial-militar e dos banqueiros de Wall Street – que são quem realmente comanda hoje a política de Washington mediante sua rede de think-tanks de 'especialistas' de repetição – é pueril: guerras, golpes, desestabilização, 'revoluções' coloridas, sanções como modalidade de guerra econômica, demonização e avalanches de mentiras pelos veículos das mídia-empresas, que há muito tempo nada têm de livre-empresa. Não há maior estupidez. Nada geraria mais tédio.
http://jornalggn.com.br/blog/ricardo-cavalcanti-schiel/a-nova-geopolitica-russa-do-petroleo

Ex-ministro Eugenio Aragão detona milicos, “cura gay” e MBL 24/09/2017

Posted by eduguim on 23/09/17


Mais uma vez o ex-ministro Eugênio Aragão honra o Blog com outro de seus textos escorreitos, corajosos e objetivos. Aborda os últimos e candentes fatos políticos que intranquilizaram a nação.

Aragão Detona o golpismo e o obscurantismo sem abrir mão da serenidade habitual. Pena que seu ministério durou tão pouco tempo. Teria feito muito que não fizeram na pasta da Justiça…

A seguir, o Blog da Cidadania publica texto inédito enviado por Eugênio Aragão a esta página.

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A bela Adormecida



O alarmismo político dos generais, a “cura gay” e a escola sem partido: o que isso tem a ver com seus direitos



Eugênio José Guilherme de Aragão



O alarmismo político dos generais, a “cura gay” e a escola sem partido: o que isso tem a ver com seus direitos

A pasmaceira que tomou conta de boa parte da sociedade civil brasileira se assemelha a um sono de Bela-Adormecida: caiu no feitiço de uma fada má e insiste em esperar o príncipe encantado em 2018, para trazê-la de volta a um mundo florido e maravilhoso, típico das estórias infantis.

Enquanto isso, as forças da reação autoritária e intolerante correm lépidas e fagueiras a destruir o Estado democrático de Direito ancorado na Constituição de 1988. Parlamentares que apoiaram o golpe e se empenham na desnacionalização dos mais nobres ativos do Brasil, juízes para lá de sem compromisso com os direitos dos mais vulneráveis, membros do ministério público ávidos pelas luzes da ribalta, numa verdadeira corrida de Amok para afundar a indústria da construção civil e policiais a serviço do que há de mais atrasado, reprimindo seletivamente movimentos de protestos contra o obscurantismo, como professores que distribuíam panfletos contra o tal “Escola sem Partido” – todos parecem atuar concertadamente para catapultar o Brasil de volta à escravocracia.

E o tenor é dado por organizações brigonas de atores raivosos, a exigirem a censura contra exposições de arte que qualificam de “degenerada”, em São Paulo e Porto Alegre. Outras arrogantemente se acham no direito de discriminar concidadãs e concidadãos por sua opção sexual, tachando-as e tachando-os de doentes.

Bem-vindos ao Brasil do ódio e do preconceito, da perseguição discriminatória e do falso-moralismo. Adolf Hitler não faria melhor estimulando a destruição do que chamava “entartete Kunst” e impondo a internação de pessoas homoafetivas em campos de concentração.

Fato especialmente preocupante é, porém, o recente rebuliço no generalato do Exército. Pensávamos, todos, que nossos soldados tinham se profissionalizado ao longo da última década. Tudo foi feito para isso. Receberam intenso treinamento em direito internacional humanitário, engajaram-se mundo afora em missões da ONU em situações de emergência humanitária, mantiveram intensos contatos com colegas de farda de democracias consolidadas e empenharam-se em missões nobres de suporte às debilidades do Estado brasileiro, seja na segurança pública, seja na fiscalização de fronteiras, seja em construção e recuperação de estradas, seja no socorro a vítimas de enchentes. Em todas essas tarefas, as Forças Armadas se houveram como braço indispensável do Estado democrático de Direito e foram motivo de orgulho dos brasileiros, pelo espírito público, pelo denodo altruísta das mulheres e dos homens se farda.

Esse progresso institucional das Forças Armadas não combina com o recente discurso ameaçador de alguns oficiais-generais contra a política e contra o judiciário. Ninguém deixa de dar-lhes razão ao expressarem sua preocupação com o desmanche da governabilidade no Brasil depois do golpe parlamentar que destituiu a Presidenta Dilma Rousseff.

Como brasileiros, é legítimo soldados se posicionarem. Seria mais legítimo ainda se deixassem clara sua indignação contra a entrega de ativos estratégicos nacionais, contra a perda de liderança no mundo global, contra a destruição de largos setores da economia e contra o comportamento cínico do sedizente presidente Michel Temer, que agride o senso comum sobre gravíssimos fatos que exigem sua explicação.

As Forças Armadas, na defesa dos interesses mais caros do Brasil, também não deveriam calar sobre a condenação política do Almirante Othon, que tem relevantíssimos serviços prestados ao País, no desenvolvimento de tecnologia própria na produção de energia nuclear.

Deveriam se opor às manifestações indecorosas de convicções políticas por parte de juízes e procuradores, a desacreditarem as funções que exercem por delegação constitucional. Seria importante, ainda, que tivessem criticado a violência da destituição da Presidenta Dilma para satisfazer a ganância de atores políticos desqualificados.

A ameaça, porém, a instituições, em coro com forças do atraso, para reforçar a agenda politiqueira de um “combate à corrupção” com claros tons partidários, não lhes cai bem.

Das Forças Armadas se espera contenção e não imiscuição nos assuntos do governo civil. Seus profissionais são brasileiras e brasileiros e têm o direito de demonstrar sua preocupação, conclamando os poderes civis ao cumprimento de seu papel constitucional.

Não mais, nada de ameaças a sugerirem que existe um “plano” elaborado para intervirem com uso de força nas instituições! O ambiente político do País já está assaz tenso para que generais alarmistas coloquem em cheque o governo civil. Não é disso que precisamos nesta hora.

Mas, da mesma forma, não parecem adequadas reações acima do tom contra esse ou aquele oficial, estimulando reações corporativas da tropa.

O momento político é grave e impõe-nos esforço para não criar processos de violência irreversível na fragilizada conjuntura política.

Exijamos dos agentes do judiciário e do ministério público que se deem o respeito e desempenhem suas funções com discrição, dignidade e imparcialidade.Exijamos dos atores políticos que façam suas defesas dentro dos limites da ética profissional de seus advogados. É legítimo, também, que mostremos nossa indignação contra o atraso político, econômico, social e cultural que alguns políticos sem compromisso com a massa de excluídos do País e atores obscurantistas querem impor à sociedade.

Saíamos do sono de Bela-Adormecida e defendamos, agora, com veemência, nossas conquistas, nossos direitos e nossa democracia, sem descurar do esforço para que em 2018 tenhamos eleições como previsto no calendário constitucional.

Delas, temos que garantir, já hoje, que Lula possa participar, dado seu peso representativo e sua disposição de normalizar as relações entre as forças políticas hoje profundamente polarizadas. A preservação do ambiente institucional passa necessariamente por esse caminho e é disso que os comandantes militares têm que se convencer.

http://www.blogdacidadania.com.br/2017/09/ex-ministro-eugenio-aragao-detona-milicos-cura-gay-e-mbl/

Venezuela fura bloqueio estadunidense:Índia ganha contrato para estruturar indústria farmacêutica e Rússia entrega o segundo lote das 600 mil toneladas de farinha de trigo 24/09/2017

Escrito por Tulio Ribeiro, Postado em Tulio Ribeiro

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(Crédito imagem :petroleoamerica.com)

Em meio ao bloqueio estadunidense contra Venezuela, o país segue seu movimento de romper as ações do país do norte. A Índia, uma das maiores produtoras de medicamentos do mundo, ganhou a concorrência para estruturar a indústria nacional do setor. Além de produzir na Venezuela , a potência em medicamentos terá prioridade para importar de sua matriz.

A Índia que sofria com altos preços até 1970 alterou a situação com a instalação da lei de patentes liderada pela então ministra Indira Ghandi. A coragem indiana levou o país atualmente representar de 20% a 25 % da produção de genéricos do planeta. Entre 2013 a 2015 a sua manufatura cresceu a taxa de 14% ao ano. O país asiático se converteu na farmácia do mundo, exportando medicamentos a 200 países e no caso de vacinas e biofarmacêuticos a 150 nações.

O anúncio foi feito pelo vice-presidente da República Tareck El Assami dentro do conselho nacional de economia: ¨Semana que vem será instalado formalmente o motor farmacêutico. Está fechado o acordo no campo energético e farmacêutico com a Índia. Concretamos alianças para desenvolver nossos laboratórios e produzir todos medicamentos que necessita a Venezuela¨.


Em outra vertente contra o bloqueio a Venezuela, chegou ao porto de ¨Cabello¨ no estado de ¨Carabobo¨ o segundo lote de 32,8 mil toneladas de trigo comprados junto a Rússia num contrato de 600 mil toneladas até final de 2017. Segundo o Ministro do Poder Popular para Alimentação Luiz Alberto Medina a iniciativa visa ¨garantir a soberania alimentar enfrentando a sabotagem a economia nacional promovida pela direita o país¨. O país de Putin produziu 25 milhões de toneladas de trigo em 2016, superando os EUA com 25 milhões e passou a ocupar o posto de líder mundial.

A despeito de bloquear qualquer país que não siga sua cartilha, os Estados Unidos seguem abrindo mercado aos asiáticos dos BRICS, lamentavelmente Argentina e Brasil seguem na posição de algozes, sem ganhar nada e se abstendo de um mercado regional importante. A China, Índia e Rússia parece que neste jogo superam os americanos. O Povo venezuelano agradece junto com o yuan, a rupia e o rublo.

Fontes:




www.arsenalteraupetico.com/2016/05/07/como-la-india-se-convertio-en-la-farmacia-del-mundo/

www.correodelorinoco.gob.ve/venezuela-recibira-dos-buques-mensuales-de-trigo-panadero-de-rusia/

www.vtv.gob.ve/venezuela-recibira-dosbuques-mensuales-de-trigo-panadero-rusia/




https://ocafezinho.com/2017/09/24/venezuela-fura-bloqueio-estadunidenseindia-ganha-contrato-para-estruturar-industria-farmaceutica-e-russia-entrega-o-segundo-lote-das-600-mil-toneladas-de-farinha-de-trigo/