terça-feira, 31 de julho de 2012

A ascensão do estado policial e a ausência de oposição em massa 31/07/2012


por James Petras e Robin Eastman Abaya
Um dos mais significativos desenvolvimentos na história recente dos EUA tem sido a ascensão do estado policial, virtualmente indiscutível. Apesar da vasta expansão dos poderes policiais do Ramo Executivo do governo, o extraordinário crescimento de toda uma panóplia de agências repressivas, com centenas de milhares de pessoas e enormes orçamentos públicos e secretos bem como o vasto âmbito de vigilância do estado policial, incluindo a reconhecida monitoração de mais de 40 milhões de cidadãos dos EUA e residentes seus, não emergiu nenhum movimento de massa pró democracia para confrontar os seus poderes e prerrogativas ou mesmo protestar contra as investigações do estado policial.

No antigos anos cinquenta, quando os expurgos McCarthystas foram acompanhados por restrições à liberdade de palavra, juramentos obrigatórios de lealdade e investigações do Congresso para a "caça a feiticeiras" entre responsáveis públicos, figuras culturais, intelectuais, académicos e sindicalistas, tais medidas de polícia de estado provocaram debate e protestos públicos generalizados e mesmo resistência institucional. No fim da década de 1950 foram feitas manifestações de massa nos locais das audiências pública do Comité de Actividade Anti-Americanas (Un-American Activities Committee, HUAC) em São Francisco (1960) e outros lugares e levantaram-se grandes movimentos por direitos civis para contestar o Sul segregado, o governo federal acomodatício e os esquadrões da morte dos terroristas racistas da Ku Klux Klan (KKK). O Movimento pró Liberdade de Expressão em Berkeley (1964) ateou manifestações de massa em escala nacional contra a governação em estilo autoritário das universidades.

O estado policial incubado durante os primeiros anos da Guerra-fria foi contestado por movimentos de massa comprometidos com a manutenção ou recuperação de liberdades democráticas e direitos civis.

A chave para entender a ascensão de movimento de massa por liberdades democráticas foi a sua fusão com movimentos sociais e culturais mais vastos: liberdades democráticas foram ligadas à luta pela igualdade racial; a liberdade de expressão foi necessária a fim de organizar um movimento de massa contra as guerras imperiais indo-chinesas e a segregação racial generalizada; o encerramento da "caça às feiticeiras" e dos expurgos promovidos pelo Congresso abriram a esfera cultural a vozes novas e críticas e revitalizaram os sindicatos e associações profissionais. Tudo era visto como crítico para proteger direitos dos trabalhadores e avanços sociais arduamente conquistados.

Face à oposição em massa, muitas das tácticas visíveis de polícia de estado da década de 1950 passaram a "subterrâneas" e foram substituídas por operações encobertas; violência de estado selectiva contra indivíduos substituiu os expurgos em massa. Os movimentos populares pró democracia fortaleceram a sociedade civil e as audiências públicas revelaram e enfraqueceram o aparelho de polícia de estado, mas não o eliminaram. Contudo, a partir do princípio da década de 1980 e até o presente, especialmente ao longo dos últimos 20 anos, a polícia de estado expandiu-se dramaticamente, penetrando todos os aspectos da sociedade civil se bem que não inspirando qualquer oposição em massa contínua ou mesmo esporádica.

A pergunta é: por que a polícia de estado cresceu e até ultrapassou as fronteiras de períodos anteriores de repressão e ainda não provocou qualquer oposição em massa firme? Isto está em contraste com os movimentos de base ampla em favor da democracia dos meados do século XX. Que existe um maciço e crescente aparelho de polícia de estado não há qualquer dúvida: basta simplesmente dar uma olhadela nos registos publicados de pessoal (tanto de agentes públicos como de empreiteiros privados), nos enormes orçamentos e grande número de agências envolvidas na espionagem internas de dezenas de milhões de cidadãos americanos e residentes. O âmbito e profundidade das medidas de estado policial adoptadas incluem detenção arbitrária e interrogatórios, montagem de armadilhas e de listas negras de centenas de milhares de cidadãos dos EUA e residentes, tribunais militares, campos de detenção e a penhora de propriedades privadas.

Mas estas brutais violações da ordem constitucional tiveram lugar e quando cada agência de polícia de estado desgasta ainda mais nossas liberdades democráticas, não tem havido movimentos maciços "anti-Homeland Security", nem "movimentos em favor da liberdade de expressão" nos campus universitários. Há apenas vozes isoladas e corajosas de activistas e organizações especializados em "liberdades civis" e liberdades constitucionais, os quais falam abertamente e levantam desafios legais ao abuso, mas não têm virtualmente nenhuma base de base e nenhuma cobertura objectiva nos mass media.

Para tratar desta questão da inactividade em massa diante da ascensão do estado policial, abordarmos o assunto a partir de dois ângulos.

Descreveremos como os organizadores e operacionais estruturam o estado policial e como têm neutralizado respostas em massa.

A seguir discutiremos o "significado" da não actividade, lançando várias hipóteses acerca dos motivos subjacentes e do comportamento da "massa passiva" de cidadãos.

Os círculos concêntricos do estado policial

Se bem que o alcance potencial das agências de polícia de estado cubra toda a população dos EUA, ela de facto opera na base de "círculos concêntricos". O estado policial é percebido e experimentado pela população dos EUA conforme o grau do seu envolvimento na oposição crítica a polícias de estado. Se bem que o estado policial teoricamente afecte "todos", na prática ele opera através de uma série de círculos concêntricos. O "núcleo interno", de aproximadamente vários milhões de cidadãos, é o sector da população que experimenta o peso da perseguição do estado policial. Ele inclui os cidadãos mais críticos e activos, especialmente aqueles identificados pelo estado policial como partilhando identidades étnicas e religiosas com inimigos estrangeiros declarados, críticos ou alegados "terroristas". Estes incluem imigrantes e cidadãos de descendência árabe, persa, paquistanesa, afegã e somali, bem como americanos convertidos ao Islão.

O "perfilamento" étnico e religioso é comum em todos os centros de transportes (aeroportos, estações de autocarros e comboios e nas auto-estradas). Mesquitas, obras de caridade e fundações islâmicas estão sob vigilância constante e sujeitas a rusgas, armadilhas, prisões e mesmo assassinatos "selectivos" estilo israelense.

O segundo grupo do núcleo, visado pela polícia de estado, inclui activistas afro-americanos, hispânicos e de direitos de imigrantes (que se contam aos milhões). Eles são sujeitos a vasculhamentos arbitrários maciços, buscas e detenção ilimitada sem julgamento bem como deportações indiscriminadas em massa.

Após os "grupos do núcleo" está o "círculo interno" que inclui milhões de cidadãos e residentes nos EUA que escreveram ou falaram criticamente dos EUA e da política israelense no Médio Oriente, exprimiram solidariedade com o sofrimento do povo palestino, opuseram-se às invasões estado-unidenses do Iraque e do Afeganistão ou visitaram países ou regiões opostas à construção do império dos EUA (Venezuela, Irão, Sul do Líbano, Síria, a Cisjordânia e Gaza, etc). Centenas de milhares destes cidadãos têm as suas comunicações telefónicas, por email e internet sob vigilância; têm sido visados em aeroportos, tiveram passaportes recusado, foram sujeitos a "visitas" e a listas negras encobertas ou abertas nas suas escolas e lugares de trabalho.

Activistas militando em grupos de liberdades civis, advogados e profissionais, gente de esquerda e suas publicações empenhadas em actividades anti-imperialistas, pró democracia e anti-estado policial estão no "ficheiro" no maciço labirinto da colecta de dados da polícia de estado sobre "terroristas políticos". Movimentos ambientalistas e seus activistas têm sido tratados como terroristas potenciais – com membros das suas próprias famílias sujeitos a perturbação policial e "visitas" agourentas.

O "círculo externo" inclui líderes e activistas da comunidade, cívicos, religiosos e sindicalistas que, no decorrer da sua actividade, entram em contacto ou mesmo exprimem apoio aos críticos e vítimas das violações da polícia de estado. O "círculo externo" representando uns poucos milhões de cidadãos estão "no ficheiro" como "pessoas de interesse", o que pode envolver monitorar seu email e "verificações" periódicas da sua assinatura de petições e recursos de defesa.

Estes "três círculos" são os alvos centrais da polícia de estado, quantificando-se em mais de 40 milhões de cidadãos estado-unidenses e imigrantes – que não cometeram qualquer crime. Por terem exercido seus direitos constitucionais, eles foram sujeitos a vários graus de repressão e perturbação por parte da polícia de estado.

A polícia de estado, contudo, tem "fronteiras fluidas" acerca de quem espiar, quem prender e quando – dependendo do que estimule a "suspeita" de apparatchiks ou o desejo de exercer poder ou agradar seus superiores em qualquer dado momento.

O essencial das operações da polícia de estado dos EUA no século XXI é reprimir cidadãos a favor da democracia e impedir qualquer movimento de massa sem minar o sistema eleitoral, o qual proporciona teatro político e legitimidade. É construída uma "fronteira" da polícia de estado para assegurar que os cidadãos tenham pouca opção excepto votar pelos dois partidos a favor da polícia de estado, por poderes legislativos e executivos sem qualquer referência com as condutas, condições e exigência do círculo de vítimas do núcleo, interno e externo, dos seus críticos e activistas. Rusgas frequentes, duras punições "exemplares" públicas e estigmatização pelos mass media transmitem a mensagem à massa passiva de eleitores e não eleitores de que as vítimas da repressão "devem ter feito alguma coisa errada" ou do contrário não estariam sob a repressão da polícia de estado.

O essencial para a estratégia da polícia de estado é não permitir aos seus críticos ganharem uma base de massa, legitimidade popular ou aceitação pública. O estado e os media tocam constantemente a mensagem de que as "causas" dos activistas não são "causas" americanas, patrióticas; que as "suas" actividades pró democracia impedem as "nossas" actividades eleitorais; que as suas vidas, visão e experiências nada têm a ver com os nossos lugares de trabalho, bairros, associações desportivas, religiosas e cívicas. No grau em que o estado policial "cercou" os círculos interno dos activistas pró democracia, eles chegaram a uma liberdade de acção e alcance incontestado no aprofundamento e expansão das fronteiras do estado autoritário. Na medida em que a lógica ou a presença do estado policial tenha penetrado na consciência da massa da população estado-unidense é criada uma barreira poderosa à ligação do descontentamento privado com a acção pública.

Hipótese sobre cumplicidade em massa aquiescência à polícia de estado

Se o estado policial é agora a realidade dominante da vida politica dos EUA, por que não está no centro de preocupações da cidadania? Por que não movimentos populares em favor da democracia? Como o estado policial pode ter tanto êxito em "separar" os activistas da vasta maioria de cidadãos dos EUA? Afinal de contas, outros países em outros tempos enfrentaram regimes ainda mais repressivos e ainda assim os cidadãos rebelaram-se. No passado, apesar da chamada "ameaça soviética", emergiram movimentos pró democracia nos EUA e fizeram mesmo retroceder uma florescente polícia de estado. Por que esta evocação de "ameaça terrorista islâmica" vinda de fora hoje parece incapacitar nossos cidadãos? Será que teve êxito?

Não há qualquer explicação simples e única para a passividade dos cidadãos estado-unidenses confrontados com uma ascensão omnipotente da polícia de estado. Seus motivos são complexos e cambiantes e é melhor examiná-los com algum pormenor.

Uma explicação para a passividade é que precisamente a força e a difusão da polícia de estado criaram medo profundo, especialmente entre pessoas com obrigações familiares, empregos vulneráveis e com comprometimentos moderados para com liberdades democráticas. Este grupo de cidadãos está consciente de casos em que poderes policiais afectaram outros cidadãos que estavam envolvidos em actividades críticas, provocando perdas de emprego e amplo sofrimento e não está desejoso de sacrificar a sua segurança e o bem-estar das suas famílias para o que acreditam ser uma "causa perdida" – um movimento carente de forte base popular e com pouco apoio institucional. Só quando o protesto contra o salvamento da Wall Street e os movimentos "Occupy Wall Street" contra os "1%" ganharam momento, este sector manifestou apoio transitório. Mas como o gabinete do presidente consumou o salvamento e o estado policial esmagou os acampamentos "Occupy", o medo e a cautela levaram muitos simpatizantes a retirarem-se timidamente para a passividade.

O segundo motivo para a "aquiescência" entre um público substancial é porque o mesmo tende a apoiar o estado policial, com base na sua aceitação da ideologia anti-terror e do seu virulento racismo anti-muçulmano-anti-árabe, conduzido em grande parte por sectores influentes dos formadores de opinião favoráveis a Israel. O medo e o ódio de muçulmanos, cultivado pelo estado policial e os mass media, foi central na instalação da Homeland Security após o 11/Set assim como as guerras em séries contra adversários de Israel, incluindo Iraque, Líbano, Líbia e agora a Síria com planos para o Irão. O apoio activo ao estado policial atingiu o máximo durante os primeiros cinco anos após o 11/Set e a seguir declinou quando a crise económica induzida pela Wall Street, a perda de empregos e os fracassos da política do governo empurraram preocupações acerca da economia muito à frente do apoio ao estado policial. No entanto, pelo menos um terço do eleitorado ainda apoia o estado policial, "certo ou errado". Eles acreditam firmemente que o estado policial protege a sua "segurança", que suspeitos, presos e outros sob observação "devem estar a fazer alguma coisa ilegal". Os mais ardentes apoiantes do estado policial são encontrados entre os raivosos grupos anti-imigrantes que apoiam buscas arbitrários, deportações em massa e a expansão de poderes policiais a expensas de garantias constitucionais.

O terceiro motivo possível para aquiescência no estado policial é ignorância: aqueles milhões de cidadãos americanos que não estão conscientes da dimensão, âmbito e actividades do estado policial. O seu comportamento prático recorre à noção de que "desde que eu não seja directamente afectado isso não deve existir". Integrados na vida diária, ganhando o seu sustento e preocupados apenas com orçamentos domésticos... Esta massa está tão integrada no seu "micro-mundo" pessoal que as questões macroeconómicas e políticas criadas pelo estado policial como "distantes", fora da sua experiência ou interesse. "Não tenho tempo", "não sei bastante", "isso é tudo política" ... O apoliticismo generalizado do público estado-unidense leva-o a ignorar o monstro que cresceu no seu meio.

Paradoxalmente, na medida em que as preocupações e o descontentamento passivo popular sobre a economia têm crescido, tem diminuído o apoio ao estado policial assim como tem diminuído a oposição a ele. Por outras palavras, o estado policial floresce enquanto o descontentamento público está centrado mais nas instituições económicas do estado e da sociedade. Poucos, (se é que algum) líderes políticos contemporâneos educam as suas audiências conectando a ascensão do estado policial, as guerras imperiais e a Wall Street às questões económicas de todo dia que afectam a maior parte dos cidadãos dos EUA. A fragmentação das questões, a separação entre o económico e o político e o divórcio das preocupações políticas dos cidadãos individuais permite ao estado policial pairar "acima e fora" da consciência, preocupações e actividades populares.

A promoção do medo patrocinado pelo estado em benefício do estado policial é ampliada e popularizada diariamente pelos mass media através de "notícias" propagandísticas, programas de detective "anti-terroristas", décadas de grosseiros filmes anti-árabe e islamofóbicos de Hollywood. O retrato que os mass media fazem das violações de direitos democráticos por parte do estado policial apresentando-as como normais e necessárias num meio infiltrado por "terroristas muçulmanos", onde irresponsáveis "liberais" (defensores do devido processo e da Carta de Direitos) ameaçam a segurança nacional, tem sido eficaz.

Ideologicamente, o estado policial depende da identificação da expansão dos poderes da polícia com a "segurança nacional" da passiva maioria "silenciosa", mesmo quando isto cria profunda insegurança para uma minoria activa e crítica. A identificação em causa própria da "nação" e da "bandeira" com o aparelho do estado policial é especialmente notável durante "espectáculos de massa" onde "rock", vulgaridades e "desporto" injectam entretenimento de massa com solenes Juramentos de Lealdade no sentido de defender e respeitar o estado policial e jovens de mamas avantajadas e com perucas balbuciam com voz nasal versões do hino nacional sob aplausos tonitruantes. "Guerreiros" feridos são exibidos e soldados rígidos nos seus uniformes de gala saúdam enormes bandeiras, e assim a mensagem transmitida é de que o estado policial interno trabalha de mãos dadas com os nossos "homens e mulheres em uniforme" lá fora. O estado policial é apresentado como uma extensão patriótica das guerras no exterior e como tal ambos impõem constrangimentos "necessários" à oposição cidadã, à crítica pública e a qualquer defesa sem rodeios da liberdade.

Conclusão: O que fazer?

A ascendência do estado policial foi beneficiada enormemente com a falsa despolitização bipartidária da legislação repressiva e com a fragmentação das lutas sócio-económicas dos democratas que divergem. Os movimentos de massa anti-guerra do princípio da década de 1990 e de 2001-2003 foram minados (liquidados) pela deserção dos seus líderes para a máquina do Partido Democrata e a sua agenda eleitoral. O maciço movimento popular de imigração foi controlado e dizimado por oportunistas políticos mexicano-americanos do Partido Democrata enquanto o mesmo Partido Democrata, sob o presidente Barack Obama, escalava a repressão do estado policial contra imigrantes, expulsando milhões de trabalhadores imigrantes latinos e as suas famílias.

A experiência histórica ensina-nos que uma luta com êxito contra um estado policial emergente depende da ligação das lutas sócio-económicas que mobiliza a atenção das massas de cidadãos com os movimentos pró democracia, pró liberdades civis e "livre expressão" das classes médias. O aprofundamento da crise económica, os cortes selvagens em padrões de vida e condições de trabalho e o combate para salvar programas sociais "sagrados" (como a Social Security e o Medicare) têm de ser amarrados à expansão do estado policial. Um movimento de massa por justiça social, que congregue milhares de anti-Wall Streeters, milhões de pró Medicare, Social Security e beneficiários do Medicaid com centenas de milhares de trabalhadores imigrantes inevitavelmente chocar-se-á com o inchado aparelho do estado policial. A liberdade é essencial para a luta pela justiça social e a luta de massa pela justiça social é a única base para fazer retroceder o estado policial. A esperança é de que o sofrimento económico provoque a actividade de massa, a qual, por sua vez, tornará o povo consciente do perigoso crescimento do estado policial. Um entendimento em massa desta ligação será essencial para qualquer avanço no movimento pela democracia e bem-estar do povo internamente e pela paz fora do país.
25/Julho/2012
O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=32063

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

Projeto regulamenta aquisição de armas no Brasil 31/07/2012


Medida visa a revogar o Estatuto do Desarmamento e estabelecer o Estatuto da Regulamentação das Armas de Fogo


Camila Freitas
Tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 3722/12, do deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC), que regulamenta a aquisição e a circulação de munições e armas de fogo no Brasil.

A proposta já causa polêmica, pois visa a revogar o Estatuto do Desarmamento – no que tange a Lei 10.826/03 –, que cercea a comercialização de armas e proíbe o porte, com algumas reservas, almejando estabelecer o Estatuto da Regulamentação das Armas de Fogo, conforme o artigo 78 do Projeto.

Contudo, revogar uma lei não significa consentir um tema sem regulamentação, e esta fica prevista no novo Projeto do deputado. Assim, está predito, caso seja sancionada, que para adquirir uma arma de fogo, o sujeito deva ter no mínimo 21 anos, possuir documentos de identificação pessoal e Cadastro de Pessoa Física, além de comprovar ocupação lícita, residência e passar pelo exame psicotécnico.

Segundo informa o deputado Rogério Peninha, está claro que a medida em vigor é a proibição da posse e do porte. Ao contrário da lei atual, o PL 3722/12 não fala de algumas categorias específicas, as quais têm direito ao porte de arma.

Portanto, no que tange a posse, categorias determinantes, que já possuem o porte, fica esclarecido que o direito de tais grupos será mantido. “Nenhum direito que hoje existe é suprimido pela minha proposta. O que ocorre é que o porte passa a ser de qualquer cidadão, independente de sua atividade, o que elimina a necessidade de se tratar de categorias específicas”, comenta o deputado Peninha.

Na proposta, o registro de armas de fogo passa a ser permanente e, de acordo com o art. 5º, §6º do Projeto de Lei, as armas particulares, cujo uso seja permitido aos militares, continuam sendo registradas no Comando Militar, prevendo a expansão do registro à Aeronáutica e à Marinha. No Sistema Nacional de Armas (Sinarm) será realizado apenas o cadastro da arma.

Apesar das atitudes favoráveis à sanção da lei, ainda há muitas entidades e bancadas que se posicionam contrárias à liberação, expondo o feito como um grande risco à sociedade brasileira. O próprio governo mantém posição favorável ao desarmamento da população.

Em detrimento da pauta, a secretária Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Regina Mike, salienta que o governo ainda é contrário a qualquer projeto de lei que flexibilize o Estatuto do Desarmamento. Regina explica que há uma condução clara de desarmar a população e trazer, cada vez mais, a segurança aos cidadãos, capacitando os agentes públicos que têm por dever a proteção da população.

Além disso, a secretária considera ilusória a ideia de que ter uma arma traz proteção ao cidadão. “Se eu tenho uma arma e alguém invade a minha residência, até eu pegar a arma e me posicionar, eu tenho um problema; e, se esta arma está em local de fácil acesso, eu corro o risco de acidentes, inclusive com adolescentes e crianças”, afirma Regina.

O deputado Zé Geraldo (PT-PA), membro da Frente Parlamentar em Defesa das Vítimas de Violência, também apresentou sua visão referente ao projeto do deputado Peninha.

“O cidadão não deve ter uma arma para se defender contra a violência. Quem tem que defender o cidadão é o Estado, que precisa ampliar e qualificar a segurança pública no Brasil”, instiga o deputado. (Jornal do Comércio/RS)

Aumenta número de ataques cibernéticos contra infraestruturas dos EUA 31/07/2012



David E. Sanger e Eric Schmitt
 
Um oficial de alto escalão do Exército americano responsável pela defesa dos Estados Unidos contra ciberataques afirmou na semana passada que houve um aumento no número de ataques cibernéticos contra infraestruturas americanas entre 2009 e 2011, iniciados principalmente por gangues criminosas, hackers e outras nações.

A avaliação feita pelo general Keith B. Alexander, que administra a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) e também o recém-criado Comando Cibernético dos EUA, parece ser o primeiro reconhecimento oficial do governo sobre o ritmo pelo qual as redes americanas de energia elétrica, abastecimento de água, computadores e redes de telefonia celular e outras infraestruturas estão sofrendo constantes ataques. Esses ataques são considerados potencialmente muito mais sérios do que a espionagem informática ou os crimes financeiros.

Alexander, que raramente fala em público, não disse quantos ataques ocorreram no período. No entanto, afirmou que não acha que o aumento no número de ataques está relacionado com o vírus de computador Stuxnet, que tomou a web dois anos atrás e visava derrubar uma usina iraniana de enriquecimento de urânio localizada em Natanz.

Quando o vírus inadvertidamente se tornou público, muitos oficiais americanos e especialistas de fora expressaram preocupação de que esse tipo de engenharia poderia ser revertida e usada contra alvos americanos. Alexander disse que não via nenhuma evidência disso.

Alexander, como chefe da NSA, foi um elemento crucial na criação de um programa secreto americano chamado de Jogos Olímpicos que visava atacar o programa iraniano. Mas ao ser questionado pelo jornalista Pete Williams da NBC News em uma conferência de segurança em Aspen, Colorado, ele se recusou a dizer se o Stuxnet teve origem americana - o governo de Obama nunca reconheceu ter utilizado armas cibernéticas.

 
Rede: EUA querem estratégia de cibersegurança mundial

Alexander disse que o que lhe preocupava com o aumento dos ciberataques estrangeiros aos EUA era que um número crescente deles visava "infraestruturas críticas", e que os EUA continuavam despreparados para lidar com um ataque maior. Em uma escala de 1 a 10, disse ele, a preparação do país para lidar com um ataque cibernético em grande escala está "em torno de 3."

Ele pediu a aprovação de leis, que pode chegar a um voto nesta semana, que dariam ao governo novos poderes para defender as redes de computadores particulares nos EUA. A legislação provocou uma certa comoção à medida que empresas americanas tentam evitar caras regulamentações em suas redes e alguns grupos defensores das liberdades civis expressaram preocupação sobre o efeito que a lei terá sobre a privacidade.

 
Regras

Alexander disse que o governo ainda estava trabalhando nas regras de engajamento para responder aos ataques cibernéticos. Devido ao fato de que um ataque pode ocorrer em milésimos de segundo, ele disse que algumas defesas automáticas seriam necessárias, assim como o envolvimento do presidente em todas as decisões sobre as possíveis soluções de retaliação.

Ele confirmou que, de acordo com as autoridades existentes, apenas o presidente tinha o poder de autorizar um ataque cibernético realizado pelos EUA. Os primeiros ataques desse tipo ocorreram sob o mandato do presidente George W. Bush.

O Pentágono disse anteriormente que se os EUA retaliarem com um ataque em seu território, a resposta poderia vir na forma de um contra-ataque cibernético, ou uma resposta militar tradicional.

Alexander falou em uma entrevista no Fórum de Segurança no Instituto de Aspen. O New York Times é um patrocinador da conferência, que dura quatro dias. Outro palestrante da conferência, Matthew Olsen, diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo, abordou a "guerra fervente" que vem ocorrendo entre Israel e Irã e por grupos apoiados pelo Irã como o libanês Hezbollah.

O Irã culpou Israel por vários dos assassinatos de seus cientistas nucleares. Israel acusou membros do Hezbollah apoiados pelo Irã de realizar o atentado suicida que matou cinco turistas israelenses e um motorista de ônibus local na Bulgária, em 18 de julho.

Autoridades americanas disseram que o Irã esteve por trás de um complô frustrado no ano passado de uma tentativa de matar o embaixador da Arábia Saudita para os EUA.

"Tanto no que diz respeito ao Irã e ao Hezbollah, estamos vendo um pequeno aumento geral no nível de suas atividades ao redor do mundo em diferentes lugares", disse Olsen.

Olsen não aborda o ataque a Bulgária, mas ele disse que o plano para matar o enviado saudita a Washington "demonstrou que o Irã tinha intenção de realizar um ataque terrorista dentro dos EUA."

Líderes do Mercosul se reúnem para selar adesão da Venezuela ao bloco 31/07/2012


Com o ingresso do país, bloco contará com população de 270 milhões de habitantes, o que representa 70% da população da América do Sul

Agência Brasil | - Atualizada às
Agência Brasil
A presidenta Dilma Rousseff e os líderes Hugo Chávez (Venezuela), Cristina Kirchner (Argentina) e José Pepe Mujica (Uruguai) se reuniram nesta terça-feira para posar para a foto oficial que formaliza a incorporação da Venezuela no Mercosul. Os quatros chefes de Estado estão reunidos no Palácio do Planalto, em Brasília.
Jantar com Dilma: Venezuela poderá exportar petróleo cru para o Brasil, diz Chávez
Alan Sampaio / iG Brasília
Chávez, Dilma, José Mujica e Cristina Kirchner antes de reunião do Mercosul em Brasília
A solenidade que oficializa o ingresso da Venezuela não significa que o país será integrado imediatamente ao bloco. A incorporação na prática só ocorrerá juridicamente no dia 13 de agosto, quando todos os prazos tiverem sido cumpridos, segundo as normas do Mercosul.
Suspenso do bloco desde o fim de junho, o Paraguai não participa da solenidade nem aprovou o ingresso da Venezuela no bloco. Porém, a ausência do voto dos paraguaios, segundo diplomatas, não afeta a incorporação dos venezuelanos ao grupo. O Paraguai foi suspenso como reação coletiva dos líderes políticos da região à destituição do poder do então presidente Fernando Lugo.
Com o ingresso da Venezuela, o Mercosul contará com uma população de 270 milhões de habitantes (70% da população da América do Sul), registrando um Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes de US$ 3,3 trilhões (o equivalente a 83,2% do PIB sul-americano) e um território de 12,7 milhões de quilômetros quadrados (72% da área da América do Sul).
Acordos
Mais cedo, Dilma e Chávez firmaram um acordo para a venda de aeronaves da Embraer aos venezuelanos. Seis atos se referem às aeronaves 190AR, no valor estimado de US$ 270 milhões. Há mais 14 opções de compra, o que pode totalizar US$ 900 milhões.
A primeira aeronave vai ser entregue em setembro e mais duas até dezembro. Em 2013, serão enviadas à Venezuela três aeronaves. As negociações foram feitas pelo Brasil com a empresa estatal de aviação venezuelana, a Conviasa. As aeronaves 190AR têm de 98 a114 assentos.
Alan Sampaio / iG Brasília

Embraer vende 20 aviões à Venezuela 31/07/2012


Embraer vende 20 aviões à Venezuela Foto: Divulgação

Primeiro negócio posterior à entrada do país andino no bloco comercial pode chegar a U$S 1,5 bilhão



Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil 

Brasília – O primeiro resultado da entrada da Venezuela no Mercosul será concretizado pela venda de 20 aviões Embraer 190AR. As negociações foram feitas pelo Brasil com a empresa estatal de aviação venezuelana, a Conviasa. A compra foi assunto de reuniões entre a presidenta Dilma Rousseff e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Mas hoje (30) os ministros das Relações Exteriores do Mercosul fecharam os termos da venda.
As aeronaves do tipo 190AR têm capacidade de 98 a 114 assentos. O Ministério das Relações Exteriores, Itamaraty, não informou o valor total do negócio. Mas os venezuelanos estimam que pode chegar a R$ 1,5 bilhão. Hoje (31), durante cerimônia no Palácio do Planalto, será oficializada a incorporação da Venezuela ao Mercosul.
O ingresso da Venezuela no bloco, no entanto, só ocorrerá efetivamente a partir do dia 13 de agosto, porque é necessário contar um prazo para a análise dos documentos apresentados. Os ministros das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota; da Argentina, Héctor Timerman; do Uruguai, Luis Almagro; e da Venezuela, Nicolás Maduro, que se reuniram hoje, por cerca de duas horas, definiram sobre os aspectos técnicos para a entrada dos venezuelanos no Mercosul.
A ideia é que um grupo de trabalho se debruce sobre as questões mais específicas por até 180 dias. Mas o objetivo é que no dia 13 de agosto ocorra uma primeira reunião em Brasília. Paralelamente, todos os países que integram o Mercosul vão se empenhar para que a Venezuela consiga adotar a nomenclatura do bloco até dezembro de 2012. A nomenclatura é a adequação dos produtos comercializados com os códigos adotados no bloco.
Também foi definido que, inicialmente, a prioridade será incluir na lista de produtos comercializados os que têm taxas próximas às cobradas pelo Mercosul – que variam de 10% a 12,5%. Na Venezuela, a média cobrada é 12%. A ideia é incorporar os produtos venezuelanos, mas com tolerância de variação de 2%.
O livre comércio na região, denominado liberalização, deve ser adotado após a conclusão do processo de regularização da nomenclatura. A previsão é que ocorra a partir de janeiro de 2013. Mas, pelo Protocolo de Adesão da Venezuela ao Mercosul, o prazo final é quatro anos. O empenho para que ele seja antecipado.

"Porto de Santos movimenta 47 milhões de toneladas no semestre e bate recorde" 31/07/2012



O Porto de Santos movimentou 47,04 milhões de toneladas de carga no primeiro semestre, um recorde histórico, segundo a assessoria de imprensa da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp). O número foi 3,1% superior ao registrado no mesmo período do ano passado.Do total, 31,5 milhões de toneladas foram destinadas à exportação, valor 7,9% superior ao registrado no primeiro semestre de 2011. O restante, cerca de 15,5 milhões de toneladas, foram movimentados na importação, o que apresentou uma redução de 5,4% em comparação ao mesmo período do ano anterior.A soja em grãos foi a carga mais movimentada no porto de Santos, com 9,97 milhões de toneladas, seguida pelo açúcar, com 5,16 milhões de toneladas.Na operação de contêineres, o porto de Santos apresentou crescimento de 8,1%, movimentando 1,5 milhão de toneladas nos primeiros seis meses do ano. Segundo a Codesp, esse crescimento é importante porque os contêineres, muito usados para acondicionar cargas de maior valor, como café, carne bovina e peças de carro, têm grande influência na contribuição do porto para a balança comercial brasileira.Entre janeiro e junho, as cargas movimentadas em Santos totalizaram US$ 57 bilhões em valor comercial, somando-se importações e exportações. Com isso, cresceu a contribuição do Porto de Santos para o comércio exterior brasileiro, passando de 24,1% no primeiro semestre do ano passado para 25,1% neste ano.

"Irã manterá Hormuz aberto enquanto servir a seus interesses" 31/07/2012



O Irã vai manter aberto o Estreito de Hormuz, importante via de transporte marítimo, enquanto a hidrovia servir seus interesses, disse um comandante militar citado nesta segunda-feira.Políticos e oficiais iranianos frequentemente dizem que o Irã pode bloquear o estreito --entrada do Golfo pelo qual 40 por cento do petróleo marítimo do mundo passa-- como uma resposta à sanções ou a possíveis ações militares.Tal jogada poderia gerar uma resposta militar dos Estados Unidos, e o ministro das Relações Exteriores do país, Ali Akbar Salehi, disse à Reuters em julho que o Irã não deve cumprir suas ameaças, a não ser que seja negado a seus próprios navios o uso do estreito."O objetivo do Irã é que todos no mundo utilizem o Estreito de Hormuz, mas contanto que isso não prejudique os interesses do país. Nesse caso, nossa reação seria diferente", disse o comandante sênior da Guarda Revolucionária do país, Masoud Jazayeri, durante discurso no canal de televisão em língua árabe, Al Alam Television, sendo citado pela agência de notícias IRNA.Especialistas dizem que uma forte presença naval do ocidente no Golfo e nas áreas adjacentes seria um grande impedimento a qualquer tentativa de bloquear a hidrovia.Israel e os Estados Unidos ameaçaram iniciar uma ação militar contra o Irã, a menos que o país islâmico abandone suas atividades nucleares, que o Ocidente suspeita se destinarem a desenvolver armas nucleares.Teerã afirma que seu programa nuclear é utilizado somente para fins pacíficos.