quarta-feira, 4 de maio de 2011

28/04/2011 - 09h08

Estudo mostra que as mais antigas estrelas eram "superpiões"

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SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Dizem que o mundo dá voltas, mas as primeiras estrelas do Universo aparentemente davam muito mais. É o que sugere uma nova análise da composição de estrelas muito velhas localizadas em nossa própria galáxia. Ela pode dar pistas cruciais sobre como eram os astros pioneiros do Cosmos, que deixaram de existir mais de 13 bilhões de anos atrás.
O trabalho, realizado por um grupo internacional de pesquisadores que contou com a participação de uma astrônoma brasileira, sugere que essas primeiras estrelas giravam muito mais depressa do que as de hoje.
Com base nas teorias de formação estelar e nas simulações de como surgiram os primeiros astros após o Big Bang, os astrônomos sempre imaginaram que esses objetos tivessem sido gigantescos, muito maiores do que o Sol.
Estrelas desse porte vivem muito rápido e esgotam seu combustível em cerca de 30 milhões de anos (uma ninharia, por exemplo, perto do tempo de vida do nosso Sol, estimado em mais de 10 bilhões de anos, dos quais metade já teriam transcorrido).
Depois disso eles explodem, de forma que os astrônomos não têm esperança alguma de encontrar um membro dessa geração estelar pioneira para observar.
Entretanto, quando um astro desses se despedaça, na forma de uma supernova, seus restos são espalhados pelo espaço, e esse material é "reaproveitado" em nuvens de gás e poeira que darão origem a novas estrelas.
Graças a isso, os pesquisadores podem tentar descobrir como eles eram analisando a composição de astros que ainda estão mais ou menos inteirões, firmes e fortes, a despeito da velhice. É o caso de oito estrelas gigantes vermelhas do NGC 6522, um aglomerado de estrelas localizado na Via Láctea.

Editoria de Arte/Folhapress
ESTRELAS-PIÕES
Ao analisar a luz desses objetos por uma técnica conhecida como espectroscopia, os cientistas conseguem identificar detalhes da composição desses astros gigantes.
E veio a surpresa: a presença de elementos químicos pesados nas quantidades observadas parecia incompatível com um "enriquecimento" prévio gerado por uma estrela gigante convencional.
Em contrapartida, ele se encaixa perfeitamente num modelo de estrela em regime agressivo de rotação. Os cientistas apelidaram esses objetos de "spinstars", algo como "estrelas-piões".
"Os autores invocam um modelo de estrela em rotação com uma velocidade superficial de 500 km/s, um giro estonteante se comparado aos modestos 2 km/s do Sol, ou o típico valor de 100 km/s visto em estrelas maciças na Via Láctea", comenta Jason Tumlinson, do Instituto de Ciência do Telescópio Espacial (STScI), nos Estados Unidos, na mesma edição da revista "Nature" em que os resultados foram publicados.
Uma forma de testar essa hipótese é encontrar estrelas gigantes com baixa presença de átomos pesados (ou seja, mais parecidas com o que foram os primeiros astros do Universo, que só tinham hidrogênio, hélio e lítio provenientes do Big Bang para sua formação) e verificar se elas têm velocidades de giro parecidas com as propostas pelo grupo na nova pesquisa.
"Há algumas opções de locais onde tentar encontrá-las, mas de qualquer jeito é muito difícil observar esses objetos", disse à Folha a astrônoma Beatriz Barbuy, que trabalha no IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP e participou do novo estudo. "Mas creio que haverá mais descobertas com a introdução da próxima geração de telescópios e instrumentos."
Por enquanto, os resultados atuais são a melhor pista de como viveram e morreram as primeiras estrelas nascidas no Universo.

http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/908333-estudo-mostra-que-as-mais-antigas-estrelas-eram-superpioes.shtml

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