sábado, 5 de março de 2016

República de Congonhas ou onde tentaram sequestrar o Lula 05/03/2016

República de Congonhas


Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão", "O domador de sonhos" e "Dragonfly" (lançamento setembro 2016).

 



 

O que mais me intrigou nessa operação cujo nome remete ao nazista Martin Heiddeger (*) foi terem interrogado Lula na Polícia Federal do Aeroporto de Congonhas.

Ninguém tinha sido levado para lá.

Não era a sede da PF mais próxima à casa de Lula.

Não era um local seguro, ao contrário, podia ser facilmente invadido.

Minha primeira hipótese é que o plano original era, depois do interrogatório, embarcá-lo num voo para Curitiba.

Com toda a segurança – justificativa que Moro deu para a condução coercitiva.

E que o plano teria sido abortado quando Moro percebeu a reação popular dentro e fora do aeroporto a favor de Lula, a demonstrar que se ele não entregasse Lula ali em Congonhas mesmo de volta à liberdade as consequências seriam imprevisíveis.

Data vênia, Moro não cometeu apenas o erro grosseiro da condução coercitiva, já criticada pelo ministro do STF, Marco Aurelio Melo, único do Supremo a pespegar um puxão de orelha no juiz federal de Curitiba.

O erro que ele cometeu foi ter colocado tropas na rua para cercar locais e levar a depoimento pessoas totalmente inofensivas, barricadas na frente do Instituto Lula protegidas por homens em uniforme de campanha, exibindo metralhadoras.

A Polícia Federal esperava encontrar resistência armada?

Seria para passar às pessoas a ideia de que estavam caçando pessoas perigosas?

Mas, espera lá. Há um artigo na constituição que diz explicitamente que ninguém pode ser considerado culpado sem sentença transitada em julgado.

Como é que a própria Polícia Federal, autorizada por Moro, transforma em culpada uma pessoa que ainda não é?

O erro dele foi instalar em algumas ruas de São Paulo um clima que a muitos lembrou 1964.

O erro dele foi tomar o rumo oposto que uma investigação deve ter. O sigilo é fundamental.

Por ter quebrado o sigilo o delegado Protógenes foi afastado da Polícia Federal e a Satiagraha foi anulada.

Na Aletheia repórteres da Folha de S. Paulo chegaram ao prédio de Lula às cinco e meia da manhã, antes dos agentes da PF e contam isso abertamente no jornal. Como se fosse um furo.

Isso é quebra de sigilo ou não é?

O erro de Moro foi ter oferecido um espetáculo à imprensa com fins políticos perfeitamente definidos.

Não sei se ainda tem alguma isenção para continuar nesse caso.

Minha segunda hipótese para a escolha de Congonhas foi um recado.

O recado é o seguinte: lembram-se da “República do Galeão”? Seu nome agora é “República de Congonhas”.



(*) A reflexão heideggeriana sobre o ser encontra-se no encalço da interpretação grega da verdade como Alétheia.
http://www.brasil247.com/pt/blog/alex_solnik/219843/Rep%C3%BAblica-de-Congonhas.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário