segunda-feira, 1 de outubro de 2012

40.000 personas se manifiestan en Alemania contra la creciente desigualdad 01/10/2012



La Vanguardia

Manifestaciones en cuarenta ciudades del país pidiendo redistribución contra la crisis y la merma del Estado social

Más de 40.000 personas se han manifestado hoy en cuarenta ciudades alemanas en favor de una sociedad más justa y del Estado social que la sustenta, reclamando también el concepto de “redistribución” de la riqueza como vía de salida de la crisis.
La mayor manifestación ha tenido lugar en Hamburgo, donde 7000 personas han creado una cadena humana en el centro de la ciudad, antes de concluir en un acto en el que ha intervenido el líder de la izquierda griega, Alexis Tsipras.
Seis mil en Bochum, 5000 en Berlín, 3000 en Bremen, 4000 en Colonia y 5000 en Frankfurt, entre otras ciudades, los organizadores de la iniciativa “Redistribución, gravar la riqueza”, valoraban anoche la jornada como un “éxito completo”.
La protesta, fruto de una propuesta iniciada en agosto por una veintena de organizaciones civiles y algunos sindicatos y partidos políticos, exige un impuesto del patrimonio y un impuesto sobre el capital que financien de una forma justa el gasto social y reduzcan la deuda, así como una acción decidida contra la evasión de impuestos y los paraísos fiscales.
También se pidió un impuesto universal a la especulación y contra la pobreza mundial a cargo del sector financiero. La iniciativa quiere que las fuerzas políticas alemanas, cada vez más en competición electoral ante las generales de septiembre del año que viene, asuman estos puntos.
Las manifestaciones han sido apoyadas de forma desigual por algunos sindicatos como el gigante del sector servicios Verdi, con más de un millón de afiliados.
“Treinta años de neoliberalismo y desregulación de los mercados de trabajo y financiero han ampliado la brecha entre ricos y pobres”, ha dicho el secretario general de Verdi, Frank Bsirske, en la manifestación de Frankfut. “El contribuyente está pagando los rescates de la crisis financiera y con ello se trata en primer lugar de asegurar el capital de los más ricos”, añadió. “Ha llegado la hora de que quienes se beneficiaron de aquello contribuyan”, concluyó.
Un estudio del ministerio de trabajo alemán recién publicado ha desvelado hasta qué punto la sociedad alemana, hace treinta años relativamente nivelada para la escala europea, se ha americanizado desde el punto de vista del desigual reparto de rentas e ingresos.
Al 0,1% de la población mayor de 17 años le corresponde el 22,5% de los activos. El 0,9% tiene el 13,3% y al 9% le corresponde el 30,8%. Todo ello sumado arroja que el 10% de los alemanes más ricos concentran el 66,6% del capital.
A otro 40% de la población le corresponde el 32,2% de los activos. El 50% restante de la población posee el 1,4%.
“Como cristianos y cristianas no podemos aceptar el fraccionamiento social de nuestra sociedad”, dice Sabine Schiedermair, presidenta de la federación alemana de empleados católicos (KAB).
Leer más: http://www.lavanguardia.com/internacional/20120929/54352061559/manifestacion-alemania-desigualdad.html#ixzz27yZJWvMM

Principais doadores de Romney também financiam premiê isralense 01/10/2012


Lista dos 19 maiores doadores norte-americanos de Netanyahu inclui de filatropo a magnata de cassinos

Agência Efe

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, nega publicamente qualquer preferência por um dos dois candidatos à Presidência dos Estados Unidos. No entanto, uma investigação do jornal Haaretz revela que 19 grandes empresários norte-americanos que apoiam o republicano Mitt Romney também financiaram, em janeiro passado, a campanha do premiê pela liderança do partido conservador Likud.
Netanyahu recebeu de apenas 46 doadores quase 1,3 milhão de shekels, o equivalente a quase 700 mil reais. Isso equivale a uma média de 27 mil shekels (14 mil reais) para cada um dos empresários. Ao todo, 37 desses grandes executivos eram norte-americanos, sendo que nenhum deles mobilizou doações até agora para qualquer candidato democrata.

De acordo com o Haaretz, o maior patrocinador norte-americano da campanha de Netanyahu pela liderança do Likud foi Ronald Plotkin, da Califórnia. O empresário é dono de uma companhia de investimentos privados e CEO do site de recrutamentos Monster Worldwide. Entre os anos de 2011 e 2012, ele doou nada menos que 60 mil dólares para os fundos de campanha do Partido Republicano. Para Netanyahu, o valor desembolsado ultrapassou a marca dos 36 mil shekels.
O filantropo judeu Roger Hertog, de Nova York, por sua vez, é um dos maiores financiadores do instituto de estudos sionistas Shalem Center, em Israel, e do Instituto Manhattan, um dos redutos mais conservadores da ciência política norte-americana. Tanto para Romney quanto para Netanyahu, sua doação foi fixada em cinco mil dólares. Para o conjunto das organizações republicanas, lançou mão de o equivalente a 360 mil dólares.
O empresário de planos de saúde Lee Samson, da Califórnia, foi mais gentil. Ao lado de sua esposa, entregou dez mil dólares à campanha de Netanyahu. Para o Partido Republicano, o valor chegou a 40 mil dólares e, para Romney, 7,5 mil dólares.
Também há destaque para o magnata de jogos de azar Sheldon Adelson, que já se comprometeu a aplicar valores superiores a 100 milhões dólares na campanha de Romney. De acordo com o Haaretz, o empresário não realizou até o momento qualquer doação direta ao comitê do Likud. No entanto, ele é um dos principais credores do jornal pró-Netanyahu Israel Hayom.
Curiosamente, os laços entre Romney e Netanyahu datam da década de 1970, quando os dois trabalharam na entidade financeira Boston Consulting Group. Uma das ex-mulheres de Netanyahu, Fleur Cates, é também doadora da campanha de Romney. Atualmente ela é casada com o financista Leonard Harlan, também um entusiasta republican. Harlan entregou 30 mil dólares nas mãos do Partido Republicano e outros cinco mil foram destinados a Romney. Cates doou 23 mil aos republicanos e cinco mil a Romney.

O discurso ocidental sobre a Síria está sendo desmascarado 01/10/2012





O jornalista estadunidense Tony Cartalucci, analista residente em Bangcoc, Tailândia, entrevistado pelo jornalista Kourosh Ziabari, do jornal Tehran Times, analisa em profundidade o cenário de crise na Síria, demonstrando a participação das potências imperialistas, Israel e países do Golfo Pérsico. Cartalucci, que também colabora com o Global Research e o Activist Post, revela que o objetivo é atacar o Irã, uma estratégia que ele considera destinada à derrota. Por Kourosh Ziabari, no Tehran Times

Tehran Times: Você tem escrito muito sobre a intranquilidade na Síria. Os oponentes do governo do presidente Assad afirmam que este recorreu à violência e matou muitos manifestantes e civis, ao passo que Damasco afirma que certos países ocidentais estão abastecendo os insurgentes com armas e dinheiro. Que comentários faz sobre isto?
Tony Cartalucci: A violência começou desde o próprio princípio das chamadas manifestações. Havia sem dúvida manifestantes bem intencionados nas ruas. Infelizmente, muitas das organizações que os reuniram tinham intenções sinistras.
Atos de vandalismo, incêndios e assaltos eram relatados pelas próprias agências de notícias ocidentais desde março de 2011. Isto, necessariamente, traria forças de segurança armadas às ruas em qualquer país do mundo – como foi o caso em Los Angeles durante os tumultos de 1992. Em Los Angeles, os manifestantes estavam mais ligeiramente armados e a presença esmagadora de milhares de soldados da Guarda Nacional e de Fuzileiros Navais suprimiu a violência em poucos dias. Mas as forças do governo mataram várias pessoas e, no total, 53 morreram devido à violência.
A diferença na Síria é que o tumulto foi concebido para ser constante e cada vez mais violento. Para iniciar este ciclo de violência crescente, grupos externos começaram a alvejar manifestantes inocentes bem como forças de segurança encarregadas de fiscalizar os manifestantes. Estes "pistoleiros misteriosos", a dispararem habitualmente de telhados, foram relatados não só por responsáveis do governo sírio como também pelos manifestantes e espectadores. O objetivo era radicalizar os manifestantes e justificar o aumento da violência e o seu apoio subsequente pelos patrocinadores ocidentais.
Nós vimos acontecer o mesmo em Bangcoc, Tailândia, em 2010 quando estes "pistoleiros misteriosos" alvejaram tanto manifestantes como forças de segurança a partir de telhados numa tentativa de agravar a violência e aumentar as apostas. Em Bangcoc, tal como na Síria, seguiram-se fogos cruzados mortais, dando a grupos da oposição e seus patrocinadores estrangeiros a propaganda de que precisavam para demonizar o governo, tentando ao mesmo tempo justificar uma oposição cada vez mais militante.
Agora, sem dúvida, esta violência escalou ao ponto de operações de combate serem executadas por grupos militantes organizados apoiados pelo estrangeiro. Os EUA, Catar, Arábia Saudita e Turquia admitiram sem rodeios o apoio com financiamento, logística e armamento destes militantes. O que é evidente é que o Ocidente os estados do Golfo Pérsico também entraram ilegalmente na Síria através de "jornalistas" a servirem como propagandistas no terreno. O que não é admitido, nem abertamente evidente, mas é mais do que certo, é que forças de operações especiais da Otan e do Golfo Pérsico estão sobre o terreno dentro da Síria juntamente com agentes das suas respectivas agências de inteligência.
Este ambiente tático era exatamente o que o Ocidente procurava e era o objetivo da violência encoberta no princípio de 2011, bem como o aumento gradual do volume de armas e combatentes enviados para o cenário da crise.
Tehran Times: Alguns comentaristas políticos dizem que o ataque sobre a Síria será um prelúdio para um ataque militar total contra o Irã. Como vê isso?
TC: Comentaristas estão dizendo isso precisamente porque está escrito há quase 10 anos em documentos sobre a política dos EUA. Citando alguns exemplos: há o artigo de Seymour Hersh em 2007 no New Yorker intitulado The Redirection. A conclusão de Hersh de que os EUA estavam a tentar minar a Síria a fim de na sequência minar e executar uma mudança de regime no Irã não foi retirada por ele próprio, era uma política clara que membros da administração Bush lhe haviam confiado; uma política que já naquela altura estava em curso.
Em 2009 no relatório Which Path do Persia? da Brookings Institution, a Síria é mais uma vez mencionada como um fator necessário que deve ser neutralizado antes de passar ao Irã. O documento pormenoriza a utilização de organizações violentas, listadas como terroristas, para minar o Irã, nomeadamente a MKO, meios de provocar uma guerra com o Irã, que este país não quer nem o beneficiará, e de mitigar a percepção da cumplicidade dos EUA se Israel atacasse o Irã. Se bem que todas estas estratégias, no relatório de 2009, sejam dirigidas contra o Irã, vemos muitas delas agora a serem usadas contra a Síria.
Tendo isto em mente, podemos esperar ver os mecanismos em atuação que minam, dividem e destroem a Síria voltarem-se contra o Líbano e o Irã se e quando for alcançada massa crítica para derrubar o governo da Síria. Além disso, um interessante tema recorrente no relatório Which Path do Persia? da Brookings Institutions é como os EUA podem atrair o Irã para um conflito armado. A destruição da Síria parece ser um meio potencial para conseguir isto, embora o Irã tenha sido muito cuidadoso e exímio em evitar esta armadilha.
Ao Ocidente falta o capital político interno e externo para lançar um ataque ao Irã. Um ataque unificaria o povo iraniano ainda mais, considera-se que teria pouca possibilidade de destruir o programa nuclear civil do Irã ou travar as forças armadas do Irã e deixa aberta a possibilidade de que o Irã não possa sequer retaliar – isto para enfatizar a depravação moral de um não provocado ato ocidental de agressão militar. Sem que o Ocidente se comprometa com a guerra total, algo que eles não podem nem justificar nem politicamente permitir-se, o Irã continuará a existir como uma força de contrapeso equivalente no Oriente Médio.
O Ocidente está sem dúvida procurando minar o Irã politica, social, moral e economicamente, bem como destruí-lo militarmente. Fazer isto, contudo, está tornando-se cada vez mais complicado. Mesmo a perspectiva de justificar uma "invasão" utilizando um evento catastrófico forjado (false-flag) está desvanecendo-se na medida em que a consciência pública global dessa trama se amplia. A bomba no ônibus na Bulgária, cuja culpa foi imediatamente atribuída ao Irã e ao Hezbolá do Líbano – mesmo ainda antes de as chamas estarem extintas – foi recebida globalmente com dúvidas, até mesmo com indignação, devido à pressa dos EUA e de Israel para fazer acusações dúbias e politicamente motivadas.
Como o conflito na Síria se arrasta, os atores regionais da hegemonia ocidental, nomeadamente o (P)GCC e a Turquia, podem querer começar a afastar-se desta estratégia perdedora e a preparar-se para coexistirem com o Irã. Quando isso começar a acontecer, a perspectiva de um ataque com êxito ou de uma invasão do Irã tornar-se-á ainda mais improvável.
Tehran Times: Você notou que o recente relatório das Nações Unidas sobre a Síria publicado quando Kofi Annan era o enviado da ONU-Liga Árabe à Síria foi produzido por um certo número de pessoas que têm atitudes neoconservadoras e estavam aliadas às monarquias reacionárias do Golfo Pérsico? Quem selecionou estas pessoas para elaborarem relatórios sobre a Síria?
TC: Representantes de interesses corporativo-financeiros ocidentais permeiam toda a Organização das Nações Unidas. O próprio Kofi Annan é administrador (trustee) do International Crisis Group financiado pela Fortune 500 e membro do JP Morgan International Council juntamente com muitos dos próprios maquinadores da atual perturbação da Síria. Além disso, um relatório de 2011 do Conselho de Direitos Humanos da ONU e o recente (Agosto/2012) relatório do "painel de peritos" respeitante à Síria foi compilado por uma comissão encabeçada por Karen Koning Abu Zayd, diretor do Middle East Policy Council com sede em Washington. Na verdade, a Exxon, o Saudi Bin Laden Group, antigos embaixadores junto a membros do (P)GCC, a CIA, os militares estadunidenses e conluiados que representam os interesses coletivos da Al Jazeera, Boeing, Chevron e muitos mais têm todos representação no Conselho de Diretores junto à Sra. Abu Zayd.
Estas pessoas são "selecionadas" pelos membros da ONU que dominam os seus vários conselhos – e naturalmente a coleção de interesses corporativo-financeiros que domina cada membro respectivo. As maiores corporações sobre a Terra, emanadas da Wall Street e de Londres acumulam iniciativas com as suas próprias pessoas, minando consequentemente a credibilidade e a autoridade da ONU.
Claramente, não só existe um imenso conflito de interesses com as nomeações de Kofi Annan ou Kraen Koning Abu Zayd como enormes incongruências delas decorrem. Quanto ao mais recente relatório da ONU sobre "crimes de guerra" executados pelo governo sírio, somos mais uma vez remetidos a "entrevistas", muitas das quais não foram sequer efetuadas dentro da Síria, mas em Genebra, Suíça. E quem eram os entrevistados? Opositores do governo, alegados desertores e assim por diante.
Não é que entrevistas como estas não tenham qualquer valor. Contudo, só entrevistas não fazem um processo. Elas constituem um ponto de partida para uma investigação real, uma investigação que a comissão de Abu Zayed deixou de efetuar. E porque ela fracassou em efetuar uma investigação adequada, o resultado das suas "entrevistas" é um relatório apto apenas como valor de propaganda, propaganda imediatamente capitalizada pelo Ocidente para vários novos ciclos e que continuará a ser citada para efeitos dramáticos até o espetáculo seguinte da sra. Abu Zayd.
Tehran Times: Qual é o seu ponto de vista quanto ao papel do Irã na resolução da crise síria? Você louvou a iniciativa do Irã em receber 30 países numa reunião consultiva sobre a Síria. Será o Irã capaz de neutralizar os esforços feitos pelos Estados Unidos e seus aliados para isolar a Síria?
TC: Como o conflito se arrasta e aumenta o custo para o Ocidente, seus atores devem pagar pelo que parece ser uma estratégia perdedora, beneficiará estes atores que passarão a considerar o afastamento da hegemonia ocidental e uma coexistência multipolar uns com os outros e com o Irã.
O Irã, ao proporcionar um fórum para cerca de 30 países que representam a metade da população mundial, mostra que – ao contrário da propaganda ocidental – não está interessado em exercer sua influência unilateralmente. Ao reconhecer a necessidade da reforma na Síria, mas reconhecendo que a atual violência é uma manifestação de terrorismo estrangeiro, não de rebelião, a Conferência Consultiva Internacional sobre a Síria, com 30 países, procura proporcionar um fórum resguardado para as partes genuínas na Síria resolverem o conflito.
Em teoria, esta era a intenção da ONU e de Kofi Annan. Mas as ações de Annan, bem como suas conexões, tentaram minar estes esforços desde o princípio e a ONU demonstrou estar inteiramente comprometida. O Irã, ao organizar esta reunião, está tentando criar uma verdadeira alternativa multipolar à ONU em relação à Síria. O Irã, a Rússia e outros, com verdadeira perspicácia geopolítica, procuram medidas não invasivas para resolver a situação síria fora da ONU, ao passo que os EUA e seus apaniguados tentam justificar atos de agressão militar ultrapassando qualquer simulacro de direito internacional.
O Movimento dos Países Não Alinhados tenciona minar os esforços para isolar a Síria no tribunal da opinião pública e dar opções alternativas aos atores atualmente envolvidos no assalto desencadeado pelo Ocidente.
Naturalmente, isto é um bom primeiro passo, mas para acabar finalmente a subversão estrangeira na Síria, as armas, o dinheiro e os combatentes estrangeiros que entram no país têm de ser travados.
Esperançosamente, os esforços do Irã em romper o isolamento da Síria podem levar à crescente condenação internacional do financiamento de terroristas estrangeiros feito pelo Ocidente, um primeiro passo necessário na implementação de novas medidas para bloquear politica e fisicamente a intrusão estrangeira.
Tehran Times: A cúpula do Movimento dos Países Não Alinhados acaba de ser concluída em Teerã e responsáveis de alto nível de 120 estados membros, bem como o secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, compareceram ao evento. Qual o seu ponto de vista quanto aos esforços feitos por Israel e EUA para minar a reunião e dissuadir os líderes mundiais e Ban Ki-moon de comparecerem?
TC: É claro que toda a narrativa ocidental a respeito da Síria está a desintegrar-se. A utilização de Israel para tentar "embaraçar" o chefe da ONU Ban Ki-moon de comparecer à conferência do Movimento dos Países Não Alinhados de 2012 cheira a desespero. A ideia é minar tanto o o Movimento dos Não Alinhados como os seus membros principais, mais especificamente o Irã, a Rússia e a China, que se opõem firmemente aos esforços para dividir e destruir a Síria. Também isto parece ser uma estratégia perdedora para o Ocidente.
Por exemplo: a última votação na Assembleia-Geral da ONU sobre a Síria ocorreu com alguns resultados significativos. Um número crescente de países começam a abster-se ou ignorar votos sobre resoluções propostas pelo Ocidente e lavadas através do (P)GCC. Isto incluiu a Índia que pode agora estar a perceber que os EUA têm apenas interesses, não amigos, e a desestabilização que a Síria hoje sofre pode facilmente ocorrer sobre qualquer das fronteiras indianas bem como profundamente dentro dela. A prosperidade econômica sustentável e o progresso, para não mencionar a autopreservação viável, decorrem só da estabilidade interna e externa. A estabilidade não exclui reforma, mas exige que ela seja feita com sensibilidade, pacificamente e gradualmente.
Acredito que muitos países estejam começando a perceber que ao promover subversão violenta do exterior estão dando possibilidade para a sua utilização contra si em casa, e estão agora assustados afastando-se da promoção desta metodologia do Ocidente. Penso que estados do Golfo Pérsico, em particular, estão realmente começando a entender isto nos últimos meses.
Tehran Times: Num dos seus artigos, você destacava alguns fatos autocensurados e verdades que a mídia ocidental "de referência" oculta acerca da Arábia Saudita, incluindo o fato de às mulheres não ser permitido dirigir carros, que a mais famosa organização terrorista do mundo, Al-Qaeda, é um aliado furtivo do governo saudita, os prisioneiros políticos são brutalmente torturados, etc. Contudo, os Estados Unidos, que pregam constantemente direitos humanos e valores da democracia ocidental a outros países, nunca protestaram contra estas flagrantes violações de direitos humanos naquela nação árabe. Por que?
TC: Interesses corporativo-financeiros nos EUA gastam uma exorbitante quantia de dinheiro e tempo investindo em ONGs que promovem "direitos humanos". Isto não é porque acreditem em direitos humanos, mas porque é um ponto de alavancagem política conveniente quando tentam mobilizar a opinião pública contra seus adversários geopolíticos. A Anistia Internacional, o Human Rights Watch, a Freedom House, aNational Endowment for Democracy e muitas mais são todas financiadas e encabeçadas por alguns dos mais notórios advogados a favor da guerra e de atrocidades e, ao contrário do que seria de esperar, muitas destas personalidades são neoconservadores infiltrados.
Consequentemente, este ponto de alavancagem política é utilizado só quando interesses geopolíticos estão em causa, ao passo que se forma um "buraco negro da mídia" em torno de violadores de direitos humanos notórios como a Arábia Saudita que atualmente serve e está entrelaçada a interesses estadunidenses. Outro bom exemplo disto é como os EUA estão alavancando "direitos humanos" contra a Síria enquanto o deposto primeiro-ministro tailandês Thaksin Shinawatra, apoiado pelos EUA, está atualmente em excursão naquele país. As pessoas podem recordar a sua notória "Guerra às drogas" de 2003 que assistiu a mais de 2800 pessoas mortas extrajudicialmente num período de 90 dias.
Contudo, isto não significa que extensos catálogos de atrocidades estejam sendo compilados contra os estados do Golfo Pérsico. Ao contrário, assim como foi o caso com Saddam Hussein que cometeu as suas mais chocantes atrocidades com o apoio dos EUA e de um arsenal disponibilizado por comerciantes de armas dos EUA, os estados do Golfo Pérsico serão retroativamente condenados quando, não se, chegar o seu tempo.
A chantagem dos "direitos humanos" mantida pelo Departamento de Estado dos EUA é não só uma forma de extorsão política como também mina a defesa real dos direitos humanos, levando muitas pessoas bem intencionadas em direção a um falso sentido de segurança, acreditando falsamente que "alguém" está a observar.
A erradicação de africanos da Líbia, particularmente o esvaziamento de toda a cidade de Tawarga, exemplifica isto melhor do que qualquer outro exemplo recente. Aqui, o Refugees Internacional financiado pela Fortune 500, registou as atrocidades verificadas em Tawarga e, ao invés de utilizar a sua imensa influência para fazer manchetes noticiosas disto, simplesmente publicou um vídeo no You Tube que só foi visto umas poucas centenas de vezes. Por que? Porque os militantes que cometeram as atrocidades agora fazem parte do governo de Tripoli apoiado pela Otan.
O mesmo se pode dizer do apoio estadunidense ao terrorismo patrocinado pelo Estado. Estas são ferramentas claramente à sua disposição e objeções morais quanto a tais táticas são apenas para consumo público.
Tehran Times: Em outro artigo afirmou que a BBC havia acabado de receber uma considerável quantia de dinheiro do Congresso dos EUA para lançar ataques midiáticos a países independentes e não alinhados tais como o Irã e Cuba. Qual é o seu ponto de vista quanto à cobertura pela BBC e outros veículos de referência quanto aos assuntos do Irã? Não será a sua atitude em relação ao Irã uma espécie de campanha de desinformação e propaganda?
TC: A BBC, bem como uma miríade de outras agências de notícias e ONGs pseudonoticiosas, são todas subscritoras e representantes dos interesses corporativo-financeiros do Ocidente. Interesses poderosos a comprarem ao mídia para controlar a percepção pública é um tema recorrente através da história da imprensa e agora da rádio e TV.
Estes interesses corporativo-financeiros, muitas companhias habituais na Fortune 500, financiam os think-tanks que produzem temas da política nacional e diários para os noticiários. Estes são disseminados a políticos para aprovação e para as mesas das grandes redes corporativas de notícias a fim de serem apresentados ao público. O que é pior é que muitas destas novas organizações participam da representação entre os próprios think-tanks que produzem a política e os seus correspondentes pontos de conversação. Literalmente, já há tremendos conflitos de interesse em jogo.
Assim, é claro que se interesses corporativo-financeiros procuram minar e eliminar aqueles que se opõem à sua hegemonia geopolítica-econômica global, utilizarão as empresas de mídia que possuem para difundirem a sua propaganda. A BBC é culpada de muitos incidentes graves de fraude absoluta e deturpação, mas é a sua dissimulação diária e muito persistente que gradualmente envenena a percepção de audiências ocidentais contra países como a Síria e o Irã.
O Irã, não importa o que faça na realidade, será retratado pelo Ocidente como uma ameaça beligerante e irracional para a humanidade. A consciência crescente do público e o êxito da mídia alternativa para desafiaram o monopólio da mídia corroeu a efetividade desta propaganda. Além disso, os próprios esforços do Irã, muito persistentes, para contrariar esta propaganda, não só através da utilização esmerada das suas próprias organizações de mídia como também através das suas próprias ações internas e externas, também tem ajudado a restringir a gestão de percepção do Ocidente.
O maior impulso para a guerra é a ignorância pública. Organizações como a BBC trabalham incessantemente para manter e agravar essa ignorância. No entanto, como a ignorância se desvanece na era da informação, assim ocorre também com as perspectivas dos belicistas habituais.
Tehran Times: O que pensa do assassinato de cientistas nucleares do Irã? As famílias das vítimas acabam de abrir um processo contra o Mossad de Israel, o M16 do Reino Unido e a CIA dos EUA pelo seu possível papel nessas mortes. Qual é o seu ponto de vista?
TC: Os EUA e Israel admitiram tacitamente que estavam por trás desses assassinatos. Eles admitiram abertamente que estão treinando, financiando, armando e posicionando regularmente os Mujahedeen E-Khalq (MKO). Políticos dos EUA fazem lobby abertamente a favor do MKO em colunas de página inteira compradas em grandes jornais estadunidenses. Seria do interesse de muitos americanos saber que muitos destes lobbistas incluem apoiantes adeptos da chamada "Guerra ao terror", incluindo Rudy Giuliani, Ed Rendell, Tom Ridge e mesmo o antigo comandante USMC James Jones. Os americanos deveriam notar que o seu próprio Departamento de Estado lista o MKO como uma organização terrorista estrangeira.
Também seria do interesse dos americanos saber exatamente por que o MKO é listado como uma organização terrorista. Ele executou uma série de ataques terroristas não só no Irã contra iranianos, mas também houve a tentativa de sequestrar o embaixador dos EUA Douglas MacArthur II, a tentativa de assassinar o brigadeiro da USAF general Harold Pirce, o assassínio com êxito do tenente-coronel Louis Lee Hawkins, os duplos assassínios do coronel Paul Shaffer e tenente-coronel Jack Turner e a emboscada com êxito e matança dos empregados da American Rockwell International William Cottrell, Donald Smith e Robert Krongard.
A Brookings Institution no relatório de 2009, Whick Path to Persia? admite que "inegavelmente, o grupo efetuou ataques terroristas" incluindo ataque a alvos civis. Hoje, o MKO é considerado mesmo pelos seus próprios apoiantes em Washington, uma "organização gênero custo" com "tendências totalitárias".
E tal como os duplos padrões do Ocidente quanto a direitos humanos, a sua política sobre o terrorismo patrocinado pelo Estado é determinada pela conveniência e o oportunismo. Por outras palavras, os EUA estão a utilizar terroristas contra os seus inimigos enquanto acusam os seus inimigos, em muitos casos, de apoiaram os próprios militantes que armaram e financiaram.
E, na verdade, se o Irã assassinasse cidadãos dos EUA no território dos EUA, estalaria a guerra imediata. De fato, eventos forjados que correm acerca deste tema, mais notavelmente a alegada "trama assassina" contra um diplomata saudita alegadamente dirigido pelo Irã que se verificou ser mais outro bode expiatório conduzido por agentes federais dos EUA, foram tentados mas fracassaram.
O MKO continuará suas atividades terroristas com ou sem uma indicação na lista de Organizações Terroristas Estrangeiras do Departamento de Estado dos EUA. Foi informado em Março de 2012 que o MKO foi manipulado pelo Departamento de Estado, controla uma antiga base militar dos EUA no Iraque para operar a partir dali e isto estando o MKO atualmente na lista do terror do Departamento de Estado dos EUA.
Parece que as leis nos EUA e por toda a Europa são vestígios de uma era em que a regra da lei, ou pelo menos uma aparência disso, prevaleciam. Esses dias estão ultrapassados. Se o Ocidente abandona a sua própria regra da lei, criou o atual solapamento da sua legitimidade global, ou sua legitimidade permitiu descartar as suas próprias leis é tema para debate. O que é certo é que a atual política externa e agenda do Ocidente é insana em relação à aprovação da sua população e a qualquer senso de legitimidade.
 Blog da Resistência www.zereinaldo.blog.br

Agência Reuters declarada culpada por ‘propaganda contra o governo do Irã 01/10/2012







TEERÃ — Um júri iraniano declarou a agência Reuters culpada, neste domingo, por "propaganda contra o regime" depois de uma reportagem sobre mulheres iranianas que praticam artes marciais que, em março, já tinha provocado a suspensão das atividades no Irã da agência de notícias.
Segundo a imprensa local, a Reuters também foi considerada culpada de "publicar informações falsas para perturbar a ordem pública", anunciou a agência oficial Irna, citando a promotoria.
A decisão do júri deverá ser confirmada por um juiz do tribunal de Teerã, que determinará, nas próximas semanas, a pena que será aplicada à agência, segundo o canal iraniano Press TV, sem informar datas.
A Reuters, que pode apelar da condenação, informou em um comunicado que esperará a decisão do tribunal.
"Esperamos agora a decisão do tribunal. Não vamos fazer outros comentários antes dessa decisão", declarou a Reuters.
A agência, do grupo Thomson Reuters com sede em Nova York, foi representada no tribunal pela diretora de seu escritório em Teerã, Parisa Hafezi, proibida de viajar ao exterior enquanto durar o processo.
O assunto veio á tona após a publicação em fevereiro de um vídeo da Reuters sobre mulheres que recebem treinamento de "ninjas" em Karaj, próximo a Teerã, com o título: "Milhares de mulheres ninjas treinam para se transformar nas assassinas do Irã".
Depois de vários dias de protestos de Teerã, a Reuters aceitou modificar o título e pediu desculpas. As autoridades iranianas retiraram as credenciais de todos os jornalistas da agência em Teerã e suspendeu suas atividades no Irã.
AFP

A fuga dos ricaços na França 01/10/2012

Do Blog do Miro

Por Altamiro Borges
Nesta sexta-feira (28), o presidente François Hollande apresentou a proposta de orçamento do governo francês para 2013. Ela prevê aumento da arrecadação tributária de 20 bilhões de euros (cerca de R$ 52 bilhões), com a elevação dos impostos cobrados dos ricaços e das grandes corporações empresariais. O projeto também fixa a redução de gastos públicos, numa política de austeridade fiscal contrária aos serviços públicos. Com isso, o governo pretende atingir a meta do déficit de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013.
O projeto, que nem corresponde aos anseios da população francesa que elegeu Hollande em maio passado, já gerou forte gritaria dos bilionários – com o apoio da mídia rentista. Eles afirmam que o aumento de impostos desestimula a economia e afugenta os negócios. Diante da grave crise que afunda a França – o banco central já admite uma contração de 0,1% no PIB no terceiro trimestre na segunda maior economia da zona do euro –, os ricaços propõem a demissão de servidores e o corte nos direitos trabalhistas no setor privado.
De Porsche, eles fogem para Bélgica
O item mais atacado da proposta orçamentária, que ainda será votada pelo parlamento, é o que cria um imposto sobre aqueles que ganham mais de 1 milhão de euros por ano. O governo alega que está medida, válida por dois anos, afetará apenas cerca de 2 mil bilionários da França e que o aumento dos impostos para as pessoas físicas resultará numa arrecadação de 10 bilhões de euros para os cofres públicos. “É um orçamento de combate para a justiça social”, argumenta o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault.
Mas os ricaços e rentistas, maiores culpados pelo colapso das economias capitalistas da Europa, não estão dispostos a contribuir na superação da crise e no enfrentamento dos graves problemas sociais. Mesquinhos e arrogantes, eles querem apenas manter os seus privilégios – e danem-se os 3 milhões de desempregados e desamparados. Na semana passada, o jornalista Graciliano Rocha, da Folha, revelou que os ricaços franceses já “fazem as malas para evitar a taxação sobre fortunas”. De Porsche, “eles fogem para a Bélgica”.
O ricaço da Louis Vuitton
“A Bélgica virou um dos destinos preferenciais de uma leva de refugiados que chegam em carros de luxo, ostentam relógios caros e não são capazes de viver sem o champanhe da terra natal. Em cada vez maior número, milionários franceses fazem as malas e partem em direção a países que não aplicam taxação sobre a fortuna, como Suíça e Reino Unido”. Bernard Arnault, dono de conglomerado de luxo Louis Vuitton e o homem mais rico da França, pediu recentemente cidadania belga. Outros ricaços já fizeram o mesmo percurso.
“Os ‘expatriados fiscais’, como são chamados, evitam jornalistas. A Folha teve negados os seus pedidos de entrevista. Em parte, esse comportamento deriva da controvérsia provocada por Bernard Arnault. O bilionário francês virou um dos assuntos mais candentes no país, tema de editoriais da imprensa e capa de jornais satíricos... A reportagem levou 90 minutos para atravessar os oito quilômetros que ligam o Uccle [novo paraíso dos ricaços] ao centro de Bruxelas, presa num engarrafamento de Porsches, Jaguares e Land Rovers”.
Caridade por motivos mesquinhos
A fuga dos ricaços da França lembra a música de Cazuza: “A burguesia fede”. Até quando ela faz caridade é por motivos mesquinhos e pragmáticos. Recentemente, o banco Credit Suisse fez um estudo sobre “A filantropia da nova geração”, com base na lista dos 150 milionários “filantropos” da revista Forbes. O resultado é chocante. Julia Chu, responsável pela pesquisa, constatou que eles encaram a assistência social com o olhar nos negócios – 44% esperam retorno dos “investimentos sociais” em menos de dez anos.

Os Bolcheviques e a Revolução de Outubro 01/10/2012


por Miguel Urbano Rodrigues
Odiario.info publica um texto para o qual, pela sua importância, chamamos a atenção dos nossos leitores: a Introdução que o historiador comunista italiano Giuseppe Boffa escreveu para as "Actas das reuniões do Comité Central do Partido Operário Social-democrata Russo (bolchevique)" realizadas entre Agosto de 17 e Fevereiro de 1918 (datas do calendário gregoriano).

Passagens desse documento histórico foram citadas por Stalin, pela primeira vez, em 1924. Mas as "Actas" somente foram publicadas na URSS após o XX Congresso do PCUS. Em 1964 François Maspero lançou uma edição francesa e, em 1978, a Siglo XXI mexicana publicou as "Actas" em castelhano sob o título de "Los Bolcheviques y la Revolución de Octubre". Foi um exemplar dessa edição, hoje esgotada, que me chegou às mãos, enviado por um camarada brasileiro.

Li fascinado essas "Actas" – mais de 300 páginas – quase sem interrupções. Com algumas lacunas elas permitem ao leitor acompanhar os debates dramáticos em que, durante sete meses, menos de três dezenas de revolucionários que formavam então o Comité Central do Partido Bolchevique (ainda fracção do Partido Operário Social Democrata da Rússia, POSDR) tomaram decisões de que iria depender a vitória ou a derrota do projecto comunista.

Estudei uma meia dúzia de Histórias das Revoluções Russas de 1917, de autores soviéticos e ocidentais. Nenhuma é tão esclarecedora da atmosfera dessas reuniões, nenhuma ilumina tão profundamente como as "Actas" as divergências que separavam os dirigentes bolcheviques unidos por um ideal comum.

Naquele tempo não havia gravadores e as "Actas", anotadas à mão em folhas arrancadas de cadernos pela secretária do CC, Elena Stásova, apresentam naturalmente as insuficiências e falhas próprias do ambiente conspirativo posterior às jornadas repressivas de Julho de 17.

Isso não impede que a simples transcrição (mesmo parcial) das intervenções dos principais dirigentes do CC represente uma contribuição para a História muito mais valiosa do que as análises de escritores e académicos que não participaram dessas reuniões secretas.

A Introdução facilita a reflexão sobre uma Documentação densa e valiosa. Boffa lembra que os debates incidiram sobretudo sobre dois temas: a insurreição armada e, depois da tomada do poder pelos bolcheviques, a questão da paz com as Potências Centrais, após o armistício de 15 de Dezembro de 17 que suspendeu a guerra entre a jovem república socialista e o Império Alemão.

Stalin, Sverdlov, Dzerzhinsky, Trotsky, Zinoviev, Kamenev, Bukharin, Preobrazhensky e Aleksandra Kollontay foram alguns dos membros do CC que então discutiram em Petrogrado, por vezes com paixão, as decisões a serem tomadas. Lénine não participou nas primeiras reuniões porque estava na clandestinidade, perseguido pela polícia de Kerenski.

"As batalhas travadas no núcleo de revolucionários que dirigiu a primeira revolução socialista foram autênticas lutas políticas que puseram em jogo elementos essenciais da linha do partido e, por vezes, os fundamentos ideológicos do bolchevismo", escreve Boffa.

O primeiro grande choque de posições antagónicas ocorreu quando Lénine colocou a necessidade urgente da insurreição armada. Os bolcheviques estavam em minoria do Soviete de Petrogrado e a dualidade de poderes jogava então a favor do governo de Kerenski. Lénine considerava findo o período do desenvolvimento pacífico da revolução porque os mencheviques e os socialistas revolucionários haviam optado por uma aliança tácita com a burguesia reaccionária.

Daí o imperativo da insurreição armada orientada para a tomada do poder.

Quando Lénine, a 15 de Setembro, apresentou a proposta tendente à organização "técnica" da insurreição, definindo esta como uma "arte", o debate foi prolongado e tenso.

Dois dirigentes, Kamenev e Zinoviev, opuseram-se frontalmente. É útil recordar que Kamenev, que dirigira com Stalin o Pravda, assumira uma posição crítica quando Lénine, regressado do exílio, expôs "As Teses de Abril" que reformularam toda a estratégia do partido bolchevique.

Mas desta vez Kamenev e Zinoviev não se limitaram a discordar. Violando a disciplina partidária, publicaram no jornal Novaya Zhizn, de Máximo Gorki (que então não alinhava com os bolcheviques), um documento em que combatiam e denunciavam a insurreição.
Isto nas vésperas do assalto ao Palácio de Inverno.

"Traidores e fura greves" foram expressões usadas por Lénine para definir a atitude dos dois dirigentes a que o ligava uma sólida amizade pessoal. Mas, apesar de ter pedido a expulsão de ambos do CC e do partido, a sugestão não obteve maioria e ambos permaneceram em funções.

O que confere às "Actas" um interesse especial é a publicação resumida das intervenções dos membros do CC que participaram nessas tempestuosas reuniões. Elas contribuem para desmontar as especulações que correram mundo sobre o que se passou nessas jornadas no Instituto Smolny, quartel-general bolchevique. O próprio John Reed, um amigo da Revolução, apresenta uma versão inexacta dos debates no seu livro "Dez dias que abalaram o mundo". A proposta de insurreição foi aprovada com os votos contra de Kamenev e Zinoviev.

As dúvidas de alguns não surpreendem. Esses veteranos bolcheviques não tinham resposta para uma pergunta: era possível uma revolução socialista na Rússia atrasada antes da sua vitória num país desenvolvido do Ocidente? Ou deveria a revolução evoluir como democrática e nacional?

Lénine foi o primeiro a compreender que somente a insurreição armada poderia travar a contra-revolução em marcha, apoiada pelas potências imperialistas.

O DILEMA DE BREST-LITOVSKY

A outra questão que preencheu as agendas de sucessivas reuniões do CC e ali exaustivamente debatida foi a da atitude a assumir perante a Alemanha imperial após a tomada do poder pelo Partido Bolchevique.

Na Conferência de Abril, em 1917,o Partido tinha decidido opor-se a uma "paz separada" com a Alemanha e "propor a todos os povos uma paz democrática, isto é, sem anexações nem reparações".

O andamento da História tinha tornado utópica essa posição.

A discussão no CC do debate sobre a Paz iniciado após o armistício de 15 de Dezembro é a mais ampla e emocionante das registadas pelas "Actas".

Foram dramáticos, veementes, os debates sobre o tema.

As cláusulas de paz apresentadas pelos alemães e austríacos eram indecorosas e humilhantes. Exigiam territórios com um terço da população do país e metade da sua indústria.

O partido estava dividido, com destacados dirigentes a defender posições incompatíveis.

A tendência maioritária, invocando decisões tomadas no início da Revolução de Fevereiro, optava pela "guerra revolucionária" como resposta ao imperialismo alemão.

Trotsky pretendia que se declarasse finda a guerra e se desmobilizasse o exército, mas sem assinar a paz.

A única posição realista e lúcida, mas minoritária, era a de Lenin. As condições alemãs eram monstruosas. Mas a "guerra revolucionária" era uma ideia romântica. Os soldados desertavam em massa da frente; na prática, já não havia exército. A opção de Trotsky era também inaceitável, porque partia de uma hipótese improvável no momento: a revolução imediata na Alemanha.

Trotsky chefiava a delegação soviética nas conversações com os alemães, os austríacos, os turcos e os búlgaros. A ausência de um consenso levou-o a tomar uma decisão unilateral que mereceu severas críticas de Lénine: retirou-se de Brest declarando finda a guerra, mas não assinou a paz. Na prática impôs a fórmula "nem guerra nem paz!"

A reunião alargada do CC no dia 23 de Fevereiro em que participaram 60 destacados bolcheviques foi angustiante.

As "Actas" transmitem a atmosfera emocionante daquela sessão em que se jogava a sorte da Revolução Soviética.

Os alemães tinham denunciado o armistício e a 21 de Fevereiro de 18 desencadearam uma ofensiva em todas as frentes e, sem encontrar praticamente resistência, estavam quase às portas de Petrogrado.

Na sua intervenção final, Lénine, que ameaçou demitir-se, esboçou um cenário de tragédia: "Se não assinais – disse – estareis subscrevendo a condenação à morte do poder soviético dentro de três semanas".

Lénine convenceu. Mas a assinatura a 3 de Março e a posterior ratificação do Tratado de Brest deixaram sequelas muito dolorosas. Alguns comissários do povo demitiram-se, abrindo feridas no partido.

Resta acrescentar que o Tratado de Brest foi declarado nulo pela Rússia a 13 de Novembro, dois dias após a capitulação da Alemanha.

Mas, antes de findar a I guerra mundial, as potências capitalistas iniciaram o cerco à jovem República Soviética. Os japoneses, em Abril, tomaram Vladivostok no Extremo Oriente; os ingleses e os norte-americanos desembarcaram nas terras árcticas da Rússia; as esquadras britânica e francesa bloquearam os portos do Mar Negro, enquanto os generais brancos preparavam uma longa guerra civil.

Giuseppe Boffa, sublinhando que a Revolução ganhara por um alto preço a sua primeira batalha defensiva, afirma que os acontecimentos daqueles meses entre o VI e o VII Congressos do Partido Bolchevique ficaram a assinalar "o ponto mais alto de toda a história humana".

É minha convicção de que partido algum se aproximou tanto da imagem da democracia ideal como o bolchevique naquelas jornadas.

As "Actas" enfeixadas em "Los Bolcheviques y la Revolucion de Octubre" constituem a mais convincente resposta às campanhas anti-comunistas que deturpam e caluniam o centralismo democrático.

Vila Nova de Gaia, 28 de Setembro de 2012

O original encontra-se em http://www.odiario.info/?p=2627

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

Morre aos 95 anos o historiador marxista Eric Hobsbawm 01/10/2012

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O historiador britânico Eric Hobsbawm morreu nesta segunda-feira (1º/10) aos 95 anos, informou sua família, relata o "Guardian".


Hobsbawm, um marxista ao longo da vida, cujo trabalho influenciou gerações de historiadores e políticos, morreu aos 95 anos nas primeiras horas da manhã desta segunda-feira (1º/10) no Royal Free Hospital, em Londres, após uma longa doença, disse sua filha Julia.

Hobsbawm nasceu em uma família judaica em Alexandria, no Egito, em 1917, e cresceu em Viena e Berlim, mudou-se para Londres com sua família em 1933, ano em que Hitler subiu ao poder na Alemanha.

Ele estudou em Marylebone e no Kings College, em Cambridge, e tornou-se professor na Universidade de Birkbeck, em 1947, onde fez carreira e se tornou seu presidente da universidade. Ele se tornou um membro da Academia Britânica em 1978.

Ele foi membro do Partido Comunistya e um dos maiores intelectuais marxistas do século 20. Historiador, escreveu 'A Era das Revoluções', 'A Era do Capital', ‘A Era dos Impérios’, ‘A Era dos Extremos’ e organizou uma ‘História do Marxismo’. Escreveu também uma ‘História Social do Jazz’, entre outras obras.

Com informações do Guardian