Do Blog do Miro
Por Altamiro Borges
Nesta sexta-feira (28), o presidente François Hollande apresentou a
proposta de orçamento do governo francês para 2013. Ela prevê aumento da
arrecadação tributária de 20 bilhões de euros (cerca de R$ 52 bilhões),
com a elevação dos impostos cobrados dos ricaços e das grandes
corporações empresariais. O projeto também fixa a redução de gastos
públicos, numa política de austeridade fiscal contrária aos serviços
públicos. Com isso, o governo pretende atingir a meta do déficit de 3%
do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013.
O projeto, que nem corresponde aos anseios da população francesa que
elegeu Hollande em maio passado, já gerou forte gritaria dos bilionários
– com o apoio da mídia rentista. Eles afirmam que o aumento de impostos
desestimula a economia e afugenta os negócios. Diante da grave crise
que afunda a França – o banco central já admite uma contração de 0,1% no
PIB no terceiro trimestre na segunda maior economia da zona do euro –,
os ricaços propõem a demissão de servidores e o corte nos direitos
trabalhistas no setor privado.
De Porsche, eles fogem para Bélgica
O item mais atacado da proposta orçamentária, que ainda será votada
pelo parlamento, é o que cria um imposto sobre aqueles que ganham mais
de 1 milhão de euros por ano. O governo alega que está medida, válida
por dois anos, afetará apenas cerca de 2 mil bilionários da França e que
o aumento dos impostos para as pessoas físicas resultará numa
arrecadação de 10 bilhões de euros para os cofres públicos. “É um
orçamento de combate para a justiça social”, argumenta o
primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault.
Mas os ricaços e rentistas, maiores culpados pelo colapso das
economias capitalistas da Europa, não estão dispostos a contribuir na
superação da crise e no enfrentamento dos graves problemas sociais.
Mesquinhos e arrogantes, eles querem apenas manter os seus privilégios –
e danem-se os 3 milhões de desempregados e desamparados. Na semana
passada, o jornalista Graciliano Rocha, da Folha, revelou que os ricaços
franceses já “fazem as malas para evitar a taxação sobre fortunas”. De
Porsche, “eles fogem para a Bélgica”.
O ricaço da Louis Vuitton
“A Bélgica virou um dos destinos preferenciais de uma leva de
refugiados que chegam em carros de luxo, ostentam relógios caros e não
são capazes de viver sem o champanhe da terra natal. Em cada vez maior
número, milionários franceses fazem as malas e partem em direção a
países que não aplicam taxação sobre a fortuna, como Suíça e Reino
Unido”. Bernard Arnault, dono de conglomerado de luxo Louis Vuitton e o
homem mais rico da França, pediu recentemente cidadania belga. Outros
ricaços já fizeram o mesmo percurso.
“Os ‘expatriados fiscais’, como são chamados, evitam jornalistas. A
Folha teve negados os seus pedidos de entrevista. Em parte, esse
comportamento deriva da controvérsia provocada por Bernard Arnault. O
bilionário francês virou um dos assuntos mais candentes no país, tema de
editoriais da imprensa e capa de jornais satíricos... A reportagem
levou 90 minutos para atravessar os oito quilômetros que ligam o Uccle
[novo paraíso dos ricaços] ao centro de Bruxelas, presa num
engarrafamento de Porsches, Jaguares e Land Rovers”.
Caridade por motivos mesquinhos
A fuga dos ricaços da França lembra a música de Cazuza: “A burguesia
fede”. Até quando ela faz caridade é por motivos mesquinhos e
pragmáticos. Recentemente, o banco Credit Suisse fez um estudo sobre “A
filantropia da nova geração”, com base na lista dos 150 milionários
“filantropos” da revista Forbes. O resultado é chocante. Julia Chu,
responsável pela pesquisa, constatou que eles encaram a assistência
social com o olhar nos negócios – 44% esperam retorno dos “investimentos
sociais” em menos de dez anos.
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