sábado, 30 de março de 2013

Bulgária recorre a psicólogos para combater onda de suicídios 30/03/2013



O governo interino da Bulgária, incapaz de resolver os graves problemas econômicos do país, que é o mais pobre da União Europeia (UE), espera que psicólogos e psiquiatras detenham a onda de imolações que tomou conta da população. Em apenas um mês, seis homens atearam fogo aos próprios corpos durante violentos protestos contra a carestia e as más condições de vida que levaram à renúncia do primeiro-ministro populista Boiko Borisov em fevereiro desse ano, o que desencadeou uma séria crise política na Bulgária. Mas o ato de atear fogo aos próprios corpos é apenas o indicador mais visível do crescente número de suicídios no país. Em 2011, o Ministério da Saúde registrou um total de 3.153 tentativas de suicídio, que resultaram em 796 mortes, contra 783 mortos em 2.799 tentativas no ano de 2010. Segundo Vladimir Nakov, especialista do Ministério da Saúde, os cálculos sobre os casos de suicídios em 2012 ainda não foram concluídos, mas já se sabe, "com certeza", que os números vão superar os do ano anterior. Vihra Milanova, consultora nacional de psiquiatria, declarou à imprensa que até agora se observa um aumento de casos em 2013, sobretudo nas cidades onde os protestos são mais intensos. Pouco tempo após assumir o governo, em 13 de março, com o principal objetivo de preparar o país para as eleições que serão realizadas, antecipadamente, no dia 12 de maio, o tecnocrata Marin Raykov decidiu recorrer à ajuda de psicólogos e psiquiatras para tentar frear o aumento do número de suicídios. O Ministério da Saúde, então, determinou que os centros de saúde ofereçam programas para identificar potenciais suicidas e desenvolvam novas formas de prevenção e tratamento. Porém, os especialistas se posicionam de maneira cética diante dessas medidas, pois acreditam que a principal causa dos suicídios é a pobreza da Bulgária, onde o salário mínimo é de no máximo 350 euros (R$ 898) e a taxa de desemprego é de 11%. Segundo o Eurostat, 22% dos 7,3 milhões de habitantes do país vivem com um salário mínimo de 155 euros e quase a metade (49%) corre o risco de viver abaixo da linha de pobreza. Apesar da situação, o custo de vida continua alto. Um litro de leite custa 1 euro em qualquer supermercado, mesmo preço que se cobra em ricas capitais europeias como Viena e Londres. Para a psicóloga Aneta Anichkina, a única medida que pode ajudar é garantir "uma receita mínima de 500 euros por mês". Assim, as pessoas "não irão precisar da ajuda de psicólogos, porque estes suicidas não sofrem de uma doença mental", disse à Agência Efe. Das seis pessoas que jogaram gasolina e atearam fogo ao próprio corpo, duas ainda continuam vivas, mas em estado crítico. A onda de imolações teve início no dia 18 de fevereiro, quando um homem de 26 anos ateou fogo em si mesmo, na cidade de Veliko Tarnovo. O último caso foi o de um desempregado de 41 anos na cidade de Sitovo, no dia 20 de março. Alguns dos suicidas parecem imitar seus antecessores: depois que um homem de 36 anos ateou fogo ao próprio corpo em frente à prefeitura da cidade de Varna, um desempregado de 53 anos, pai de cinco filhos, fez o mesmo em frente à prefeitura de Radnevo, e um artesão repetiu o ato em frente ao edifício da Presidência, em Sófia, capital do país. "Inútil e incapaz de ajudar à família", "não dá mais para ficar sem pão", são exemplos das palavras com as quais alguns anunciaram e justificaram seus suicídios. O psicanalista Ognyan Dimov declarou à agência búlgara "BTA" que, ao queimarem seus corpos, esses suicidas, que evidentemente se sentem abandonados e ignorados pela sociedade, buscam se tornar visíveis por meio do fogo, símbolo de energia e de triunfo sobre a escuridão e a monotonia da vida cotidiana. O antropólogo Haralan Alexandrov, entrevistado pela televisão pública "BNT", considera que essa onda de imolações se trata de "uma forma de protesto". "É um apelo aos políticos e uma acusação contra a sociedade", afirmou o especialista, que também ressaltou que grande parte dos búlgaros é obrigada a lutar pela própria subsistência.

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