28/6/2013, Wayne MADSEN,
Strategic Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Wayne Madsen |
A
Agência de Segurança Nacional dos EUA [orig. National Security Agency (NSA)] tenta agora outra campanha de propaganda superturbinada, pela
imprensa e pela internet comercial. A maior agência de comunicações e de
inteligência para tempos de ciberguerra do planeta insiste agora que sua
infraestrutura de vigilância, gigantesca, descomunal, sem precedentes, existiria
apenas para proteger os EUA contra ataques de terroristas e agentes
‘'estrangeiros'’ de inteligência.
De
fato, a NSA existe exclusivamente para coletar informações, com vistas a
proteger os interesses do dinheiro da aristocracia que governa os
EUA.
Headquarter NSA - National Security Agency, Fort Meade, Maryland - USA Sede da Agência de Segurança Nacional, Fort Meade, Maryland - EUA |
Depois
que o mundo tomou conhecimento da existência dessa rede de vigilância global
massiva organizada na e a partir da Agência de Segurança Nacional dos EUA,
graças às revelações feitas por Edward Snowden – ex-funcionário da CIA e depois
empregado de empresa privada contratada para ‘terceirizar’ os serviços da
Agência de Segurança Nacional dos EUA –, a elite no poder em Washington
rapidamente se mobilizou. E passou a proclamar em uníssono, em todos os grandes
jornais comerciais e redes comerciais de televisão, que Snowden seria “traidor”,
e a NSA seria virtuosa guardiã da segurança nacional dos EUA.
O
presidente Barack Obama pôs-se logo ombro-a-ombro, aliado ao presidente da
Câmara de Deputados, o Republicano John Boehner; à líder da minoria, a Democrata
Nancy Pelosi; à presidente da Comissão de Inteligência do Senado, a Democrata
Dianne Feinstein; ao presidente da Comissão de Inteligência da Câmara de
Deputados, o Republicano e ex-agente do FBI Mike Rogers; e a John Kerry,
secretário de Estado, e, em uníssono, puseram-se todos a exigir que Snowden seja
entregue aos EUA... para enfrentar sistema judiciário que está longe de merecer
qualquer confiança de seja lá quem for.
Edward Snowden |
Democratas
e Republicanos puseram-se a gritar os mais desatinados desaforos contra todos os
países que apareceram no percurso de Snowden como refugiado político: contra a
Região Administrativa Especial de Hong Kong, a República Popular da China e o
Equador.
Hong
Kong respondeu que o pedido dos EUA, que “exigia” a extradição de Snowden, não
era claro. E, na mesma resposta, exigiu que os EUA explicassem a espionagem e a
invasão ilegal, pela Agência de Segurança Nacional dos EUA... contra redes de
telecomunicações e de computadores em Hong Kong!
O
governo Obama retaliou contra a China, que se recusou a violar as regras de “um
país, dois sistemas” e não forçou Hong Kong a entregar Snowden aos EUA. Obama
também condenou a Rússia por não deportar Snowden, de Moscou para os EUA.
A
arrogância, a hipocrisia de Obama, apareceram expostas aos olhos do mundo,
quando seu governo aplicou a “Lei Magnitsky” à Rússia. Chega a ser patético: a
lei proíbe a entrada nos EUA e ex-funcionários do governo russo, porque a Rússia
praticaria “violações dos direitos humanos”.
Em
seguida, os EUA ameaçaram com “repercussões severas” o Equador, que forneceu
documento oficial de refugiado, com o qual Snowden pode viajar
internacionalmente, depois que Kerry revogou seu passaporte norte-americano.
Quanto mais Washington arrancava as vestes, sapateava e berrava de fúria, mais o
resto do mundo via o ridículo.
É
o que acontece, se uma autoproclamada superpotência, proprietária do maior
sistema de vigilância, controle e espionagem do mundo, põe-se a berrar palavrões
e a rogar pragas, porque seu suposto inviolável programa de espionagem e coleta
ilegal de informações, de posse das quais a tal superpotência pode chantagear e
intimidar líderes políticos, foi exposto aos olhos do mundo, e por um único
homem.
Mao
Tse Tung da China referiu-se aos EUA, certa vez, como “tigre de papel”. Obama
acaba de mostrar ao mundo que os EUA já não passam de resto de papel sem
sentido, que vendem ao mundo como se fosse Constituição democrática. Já não são
tigre.
Quando
Obama defendia o poder de espionar e vigiar da Agência de Segurança Nacional,
ninguém jamais o questionou sobre a participação do diretor-geral daquela
Agência, general Keith Alexander, em cinco reuniões do grupo que comanda o
dinheiro do mundo, o chamado “Clube de Bilderberg”.
Chega a ser cômico. Alexander vive
a repetir que está(ria) protegendo o povo dos EUA contra número sempre variável
de ameaças terroristas. Na verdade, Alexander é o que o general Smedley Butler
da marinha dos EUA chamou uma vez de “apontador [orig. “finger-man”] a
serviço do capitalismo”: alguém que identifica e aponta os inimigos da elite no
poder. Butler – que comandava a Marinha dos EUA quando invadiu o México, o
Haiti, Cuba, Nicarágua, República Dominicana e China – lamentou ter agido como
“corneteiro pró-capitalismo”.[1] Hoje,
o mesmo Alexander e seus apoiadores no governo Obama já são “corneteiros
pró-fascismo”.
GCHQ - Government Communications Headquarters - Cheltenham, UK |
Que
a Agência de Segurança Nacional dos EUA e sua parceira britânica,
Quartel-general das Comunicações de Governo [orig. Government Communications Headquarters (GCHQ)] inglês operam
à margem de qualquer lei ou regulamentação internacional está fartamente
comprovado pelo material já vazado. Por exemplo, pela evidência de que a agência
britânica, a serviço da agência norte-americana, mantém escutas clandestinas no
cabo transatlântico TAT-14 que liga Blaabjerg, Dinamarca, a Norden, East
Friesland; a Alemanha a Katwijk; Países Baixos a St. Valery-en-Caux, França, a
Bude, Cornualha, Inglaterra, a Tuckerton, New Jersey.
Em
Bude, a GCHQ e a NSA, clandestinamente e em dupla, escutam o mesmo
cabo, para recolher dados de internet e de tráfego de telefones que são então
armazenados no sistema de metadados PRISM, da Agência de Segurança Nacional dos
EUA, grande parte dos quais guardados no gigantesco centro de armazenamento de
dados da NSA em Bluffdale, Utah. Essa
operação clandestina de escuta e captura de dados em Bude leva o nome de
“Operação TEMPORA”. Snowden divulgou e distribuiu todas as informações que
comprovam que essa operação existe e opera.
A Inglaterra (UK) na Europa... |
A
Grã-Bretanha sempre foi vista como um “cavalo de Troia” da inteligência dos EUA
enfiado na União Europeia. A operação de escuta clandestina em Bude chama a
atenção para o fato de que a aliança de inteligência EUA-Grã-Bretanha
desconsidera todas as demais alianças e tratados vigentes, inclusive o Tratado
de Maastricht e o Tratado da Aliança do Atlântico Norte, OTAN. EUA e
Grã-Bretanha espionam, em dupla, os seus próprios “aliados” alemães, franceses,
holandeses e dinamarqueses.
Apesar
do que agora se sabe, continuaram vigentes os acordos bilaterais de inteligência
pelos quais a Agência de Segurança Nacional dos EUA recebia sinais interceptados pelas agências de inteligência de Alemanha, Dinamarca, Países Baixos e, em menos
escala, da França, os chamados “Terceiros”. O que se constata é que a espionagem
goza de prioridade absoluta, acima de qualquer acordo multinacional ou
bilateral, sejam acordos militares, econômicos ou de qualquer natureza.
William Hague |
William
Hague, secretário de Relações Exteriores da Grã-Bretanha, menino-de-recados das
elites globais, defendeu a aliança NSA-GCHQ quando discursou na
Califórnia, na Biblioteca Presidencial Ronald Reagan. No mesmo momento, o
ministro da Justiça do estado de Hesse, na Alemanha, dizia a Handelsblatt que “a
Grã-Bretanha é uma sanguessuga de dados, operando dentro da União Europeia”.
Para a ministra de Justiça da Alemanha, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, a
operação TEMPORA “é um pesadelo hollywoodiano”.
Há
muito tempo Hollywood produz filmes sobre mundos distópicos, onde forças
obscuras assumem o controle sobre a vida privada dos habitantes do planeta.
Hoje, a ficção científica já é fato, depois de eventos repetidos de divulgação
de informações sobre o alcance descomunal da Agência Nacional de Segurança dos
EUA, agência planetária de vigilância.
Michael Hastings Assassinado pela NSA |
Richard
Clarke, o antigo “czar” do contraterrorismo de Bill Clinton e de George W. Bush,
comentou que o terrível acidente de carro no qual morreu o jornalista Michael
Hastings em Los Angeles pode ter sido resultado de o computador de seu [carro]
Mercedes ter sido invadido; o carro teria sido descontroladamente acelerado, o
que teria levado à colisão e à morte do motorista. Hastings, dentre outras
investigações, já se aproximara do sistema de vigilância da Agência de Segurança
Nacional que Snowden desmascarou, e distribuiu um e-mail, pouco antes de
morrer, em que dizia que estava sendo seguido pelo FBI. Embora Hastings tenha
morrido em rua próxima de Hollywood, nada há, aqui, de ficcional. Foi ação
assustadoramente real. A Agência de Segurança Nacional dos EUA já é a agência
sinistra, obscura, ultra secreta mostrada em incontáveis filmes, de 1984
e V de Vingança, a O mundo em 2022 [orig. Soylent
Green] e Fahrenheit 451.
Russ
Tice, ex-operador e analista de sinais de satélite da Agência de Segurança
Nacional dos EUA está na imprensa e na internet, declarando que a NSA-EUA
e seus parceiros de aliança jamais pouparan ninguém, na sua rede de vigilância e
controle.
Barack Obama |
Em
2004, a
vigilância focou-se num senador recentemente eleito por Illinois, negro, de nome
Barack Obama. Não há limites, nem reais, nem imaginários, para o tipo de
informação pessoal privada que a Agência Nacional de Segurança dos EUA possui
hoje, para chantagear o presidente Obama – e Obama jamais desobedeceu nem a mais
ínfima das regras e ordens emitidas pela infraestrutura de inteligência dos EUA.
Obama,
hoje, crê firmemente que controla a alucinada rede de espionagem da Agência de
Segurança Nacional dos EUA.
De
fato, não controla coisa alguma.
Em
janeiro de 2017, quando deixar a presidência, ele, como antes dele os
presidentes George W. Bush, Bill Clinton, George H. W. Bush, Ronald Reagan,
Jimmy Carter, Gerald Ford, Richard Nixon e Lyndon Johnson serão alvos da
vigilância ativa da Agência de Segurança Nacional, embora sejam membros da
fraternidade ultra seleta dos ex-presidentes dos EUA.
A elite
que controla o Panopticon de vigilância e controle da Agência de
Segurança Nacional dos EUA é a elite do dinheiro: controla também o fechadíssimo
clube dos ex-presidentes.
A
NSA espiona e monitora todos os membros eleitos do Congresso dos EUA,
todos os governadores dos 50 estados e territórios, cada celebridade, cada um
que use aparelho de telefone celular ou computador ou qualquer rede em qualquer
parte do mundo, das populosas ruas de Hong Kong e Cairo, à remota cidade de
Kyzyl na República Tuva da Sibéria e em Grytviken na ilha antártica de South
Georgia…
Ainda
que os cidadãos do mundo decidissem levantar-se para destruir esse amaldiçoado
sistema de supervigilância, não saberiam onde começar. A vigilância está
em toda parte.
Só os donos do sistema estão bem escondidos, longe dos sensores
que tudo ouvem e tudo veem, oniscientes.
Nota
dos tradutores
[1]
“I
was a racketeer for capitalism”,
Maj. General Smedley Butler, 1935.
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