Virgínia Silveira
Atraída por um nicho mundial para
satélites de observação da Terra, na faixa de 300 a 400 quilos, a
Astrium tem conversado com interlocutores da Agência Espacial Brasileira
em busca de parceria para o desenvolvimento de engenharia e tecnologia brasileiras na área de foguetes.
Especializada em tecnologias espaciais, a empresa tem sede principal na
França e está presente em cinco países europeus. É controlada pelo
grupo EADS, dono da Airbus.
A França e o Brasil poderiam explorar
conjuntamente o uso comercial desses satélites, disse ao Valor o
vice-presidente da divisão de lançadores da Astrium, Silvio Sandrone,
que também está à frente do programa de foguetes Ariane. Segundo o
executivo, o novo foguete substituiria os atuais equipamentos de grande
porte que encarecem a operação de lançamento.
O Brasil já possui quase todas as
tecnologias necessárias para produzir seu próprio foguete, mas ainda
depende de uma cadeia industrial bem-estabelecida e de uma decisão
política de Estado para levar adiante os projetos, disse Sandrone.
O orçamento previsto pela Agência Espacial Brasileira (AEB) para os
projetos de acesso ao espaço em 2013, como o foguete VLS e o lançador de
microssatélites VLM, é de R$ 112,4 milhões.
A expectativa para 2015 é de uma demanda
mundial para lançamento de 20 a 25 satélites na faixa de 300 a 400
quilos, segundo estudo da consultoria francesa Euroconsult.
O programa brasileiro de lançadores prevê
um veículo com massa entre 200 kg e 500 kg, batizado de VLS-Alfa. Os
mercados-alvo são os fabricantes de satélites de até 500 kg destinados à
órbita terrestre baixa (abaixo de 2 mil km). Na última edição do
Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), revisada em janeiro, o
orçamento previsto para o VLS-Alfa era de R$ 442 milhões.
A cadeia industrial do foguete Ariane,
segundo o executivo da Astrium, tem 64 fornecedores que se comunicam
diretamente com a Astrium, produzindo equipamentos e sistemas, desde
motor-foguete a propulsão líquida, computadores de bordo, sistemas
pirotécnicos, estruturas, tanques, entre outros. "Essas empresas
empregam diretamente cerca de 10 mil pessoas na Europa", disse Sandrone.
No Brasil, existem apenas 14 empresas
fornecedoras do programa espacial, que empregam 440 colaboradores. Na
parte de infraestrutura, segundo a Associação das Indústrias
Aeroespaciais do Brasil, o país conta com 18 salas limpas e 40
laboratórios, dos quais 18 são dedicados ao desenvolvimento de software.
Em 2011, do faturamento de US$ 6,8
bilhões das empresas do setor aeroespacial e de defesa no Brasil, as
indústrias que atuam no segmento espacial responderam por 0,63% do
total, segundo o último balanço disponível da associação do setor.
Para comparação, a Astrium sozinha
faturou € 5,8 bilhões em 2012. O foguete Ariane, isoladamente, movimenta
mais de € 1 bilhão por ano no mercado mundial de lançamentos
comerciais, capturando a cada ano metade do total de lançamentos, disse
Sandrone.
A Astrium já se uniu à Agência Espacial
Europeia e à Agência Espacial Alemã para colaborar com o Brasil no
programa de foguetes de sondagem (veículos suborbitais que podem
transportar experimentos científicos para altitudes superiores à
atmosfera terrestre, por períodos de até 20 minutos). O foguete
brasileiro VSB-30, por exemplo, já realizou 14 missões bem-sucedidas na
Europa.
Os foguetes de sondagem têm sido usados
pelos europeus desde 1976 em missões de pesquisa atmosférica, lançamento
de cargas científicas e tecnológicas em ambiente de microgravidade. Até
o momento, segundo Andreas Schütte, diretor dos programas Texus Maxus
da Astrium Space Transportation, já foram realizados 51 lançamentos do
programa Texus e nove do Maxus.
O foguete usado nas missões do Texus é o
VSB-30, e para o programa Maxus, o Castor. Mas, de acordo com Schütte, o
veiculo será substituído pelo foguete brasileiro VLM-1, previsto para
voar em 2015. O próximo voo do Texus com o foguete VSB-30 está
programado para abril.
O foguete VLM-1 também está sendo
desenvolvido em parceria com a agência alemã, que lançará em 2015 o
experimento científico Shefex 3. Os alemães arcam com 25% dos custos de
desenvolvimento do VLM, estimados em R$ 100 milhões.
"O Brasil está um pouco na situação da
Europa. Possui um mercado institucional demasiado pequeno para sustentar
a produção de lançadores. O acesso ao mercado comercial é indispensável
para o país ser independente nessa área", afirmou Sandrone.
O Valor apurou que Sandrone esteve no
Brasil em dezembro para tratar desses temas. A Astrium também participa
do processo de seleção do fornecedor do Satélite Geoestacionário de
Defesa e Comunicações Estratégicas, que o Brasil pretende adquirir a um
custo estimado de R$ 720 milhões.
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