sexta-feira, 8 de março de 2013

Ministra britânica quer restringir vistos para brasileiros 08/03/2013

Carta Maior




A ministra do Interior britânica, Theresa May, quer impor restrições à concessão de vistos para cidadãos brasileiros. Na campanha eleitoral de 2010, David Cameron se comprometeu a diminuir a imigração para a casa de dezenas de milhares em 2015. O artigo é de Marcelo Justo, direto de Londres.

Londres – A ministra do Interior britânica, Theresa May, quer impor restrições à concessão de vistos para cidadãos brasileiros. Segundo publicou em sua capa o jornal Financial Times, a iniciativa de May não é apoiada pelo primeiro ministro David Cameron e pelo vice primeiro ministro Nick Clegg que consideram o Brasil um país chave para ampliar o comércio e reativar a cambaleante economia britânica. May, por outro lado, tem a seu favor o desempenho desastroso dos conservadores na renovação de um assento parlamentar na semana passada, quando ficaram em terceiro lugar, atrás do UKIP, um partido nacionalista anti-europeu e anti-imigração que conseguiram abocanhar pela direita uma boa parte do apoio eleitoral dos conservadores.

O primeiro ministro tem um problema adicional para acalmar sua ministra do Interior. Na campanha eleitoral de 2010, Cameron se comprometeu a diminuir a imigração para a casa de dezenas de milhares em 2015. O argumento de May é que é fundamental endurecer os requisitos para a concessão de vistos a brasileiros caso Cameron deseje cumprir essa promessa eleitoral. Segundo os números do Ministério do Interior britânico, em 2011, os brasileiros se situaram em quinto lugar na lista de imigrantes ilegais: no ano passado, dois mil foram expulsos do Reino Unido. Uma participante do debate interno governamental disse ao Financial Times que o resto do gabinete britânico está contra a proposta. Cameron e o chanceler William Hague visitaram o Brasil como parte de sua abertura para os BRICS, considerados como o novo Nirvana do comércio e dos investimentos britânicos.

A iniciativa de May intensifica, além disso, as tensões internas dos conservadores com os liberal-democratas. O vice primeiro ministro Nick Clegg disse estar seguro que o governo de Dilma Rousseff responderia a um endurecimento dos vistos com uma medida similar que causaria um pesadelo para os empresários britânicos no Brasil e para os cidadãos que querem viajar para o país para a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016. Além disso, o Instituto de Diretores, que reúne os empresários britânicos, e a indústria turística opinam que a iniciativa será desastrosa. “O governo está cumprindo com seus objetivos de imigração. Deveria deixar de fazer política com o tema a todo momento”, assinalou o diretor geral do Instituto de Diretores, Simon Walker.

Já a indústria do turismo destaca que tanto os Estados Unidos como a Austrália estão tomando o caminho oposto: relaxando os requisitos para a concessão de vistos aos brasileiros. Uma questão de dinheiro. Os brasileiros no exterior gastaram 16 bilhões de libras esterlinas mais do que os turistas estrangeiros desembolsaram no Brasil.

O problema é que os conservadores estão fortemente divididos entre os que querem girar ainda mais para a direita e os que acreditam que é preciso girar para o centro da cena política onde se encontra a grande maioria do muito moderado eleitorado britânico.

No fim da última semana, periódicos como o ultra conservador Daily Express assinalou que nenhuma iniciativa econômica devia eclipsar o objetivo de baixar a imigração. Esse tema estará cada vez mais na ordem do dia. No dia 1º de janeiro de 2014, a Romênia e a Bulgária encerram o período de transição para seu ingresso na União Europeia e para a conversão de sua população em cidadãos europeus com todos os direitos.

O governo está propondo reformas na política de habitação e saúde para restringir seu acesso a certos serviços sociais. Esta política também foi rechaçada por empresários rurais que consideram que os europeus do leste têm uma ética laboral e uma habilidade maior que a dos britânicos. Não acrescentaram um fator que seguramente terá peso na reclamação: barateiam custos, cobrando menos que os produtores locais.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

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