A ministra do Interior britânica, Theresa May, quer impor restrições à concessão de vistos para cidadãos brasileiros. Na campanha eleitoral de 2010, David Cameron se comprometeu a diminuir a imigração para a casa de dezenas de milhares em 2015. O artigo é de Marcelo Justo, direto de Londres.
Marcelo Justo
Londres – A ministra do Interior britânica, Theresa May, quer impor
restrições à concessão de vistos para cidadãos brasileiros. Segundo
publicou em sua capa o jornal Financial Times, a iniciativa de May não é
apoiada pelo primeiro ministro David Cameron e pelo vice primeiro
ministro Nick Clegg que consideram o Brasil um país chave para ampliar o
comércio e reativar a cambaleante economia britânica. May, por outro
lado, tem a seu favor o desempenho desastroso dos conservadores na
renovação de um assento parlamentar na semana passada, quando ficaram em
terceiro lugar, atrás do UKIP, um partido nacionalista anti-europeu e
anti-imigração que conseguiram abocanhar pela direita uma boa parte do
apoio eleitoral dos conservadores.O primeiro ministro tem um problema adicional para acalmar sua ministra do Interior. Na campanha eleitoral de 2010, Cameron se comprometeu a diminuir a imigração para a casa de dezenas de milhares em 2015. O argumento de May é que é fundamental endurecer os requisitos para a concessão de vistos a brasileiros caso Cameron deseje cumprir essa promessa eleitoral. Segundo os números do Ministério do Interior britânico, em 2011, os brasileiros se situaram em quinto lugar na lista de imigrantes ilegais: no ano passado, dois mil foram expulsos do Reino Unido. Uma participante do debate interno governamental disse ao Financial Times que o resto do gabinete britânico está contra a proposta. Cameron e o chanceler William Hague visitaram o Brasil como parte de sua abertura para os BRICS, considerados como o novo Nirvana do comércio e dos investimentos britânicos.
A iniciativa de May intensifica, além disso, as tensões internas dos conservadores com os liberal-democratas. O vice primeiro ministro Nick Clegg disse estar seguro que o governo de Dilma Rousseff responderia a um endurecimento dos vistos com uma medida similar que causaria um pesadelo para os empresários britânicos no Brasil e para os cidadãos que querem viajar para o país para a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016. Além disso, o Instituto de Diretores, que reúne os empresários britânicos, e a indústria turística opinam que a iniciativa será desastrosa. “O governo está cumprindo com seus objetivos de imigração. Deveria deixar de fazer política com o tema a todo momento”, assinalou o diretor geral do Instituto de Diretores, Simon Walker.
Já a indústria do turismo destaca que tanto os Estados Unidos como a Austrália estão tomando o caminho oposto: relaxando os requisitos para a concessão de vistos aos brasileiros. Uma questão de dinheiro. Os brasileiros no exterior gastaram 16 bilhões de libras esterlinas mais do que os turistas estrangeiros desembolsaram no Brasil.
O problema é que os conservadores estão fortemente divididos entre os que querem girar ainda mais para a direita e os que acreditam que é preciso girar para o centro da cena política onde se encontra a grande maioria do muito moderado eleitorado britânico.
No fim da última semana, periódicos como o ultra conservador Daily Express assinalou que nenhuma iniciativa econômica devia eclipsar o objetivo de baixar a imigração. Esse tema estará cada vez mais na ordem do dia. No dia 1º de janeiro de 2014, a Romênia e a Bulgária encerram o período de transição para seu ingresso na União Europeia e para a conversão de sua população em cidadãos europeus com todos os direitos.
O governo está propondo reformas na política de habitação e saúde para restringir seu acesso a certos serviços sociais. Esta política também foi rechaçada por empresários rurais que consideram que os europeus do leste têm uma ética laboral e uma habilidade maior que a dos britânicos. Não acrescentaram um fator que seguramente terá peso na reclamação: barateiam custos, cobrando menos que os produtores locais.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
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