sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Brasil, terra de contrastes e esperanças 23/12/2011


Duas matérias no Sul21 desta quinta-feira (22) revelam duas faces contraditórias do Brasil contemporâneo. Uma, positiva, mostra que o país retoma agora a condição de destino de movimentos migratórios, como já ocorrera durante o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, quando cerca de seis milhões de europeus e asiáticos vieram para cá embalados pelo sonho de uma vida nova e melhor para si e para os seus. Outra, negativa, mostra que o país continua ostentando índices alarmantes de pobreza e mal estar social, a ponto de mais de 11,4 milhões de seus moradores, ou cerca de 6% da população total do país, residir em habitações subnormais.


– A nova terra prometida – o Brasil atual visto pelos europeus
– Mais de 11 milhões de brasileiros vivem em favelas, aponta IBGE

Depois de exportar algo em torno de três milhões de habitantes durante três décadas, 1980, 1990 e 2000, o Brasil volta agora, no início da segunda década do século XXI, a ser visto como a Terra da Promissão. Não apenas os europeus voltam a pensar em “fazer a América” no Brasil, como brasileiros que haviam se transferido para a Europa e a Ásia voltam a acreditar no país e começam a retornar para seus antigos lares.
A conquista da estabilidade econômica, assim como a ascensão social de cerca de 40 milhões de habitantes, ambas ocorridas durante os últimos vinte anos, provocaram mudanças profundas no ritmo de desenvolvimento do Brasil, na posição que ocupa no quadro internacional e na forma como os brasileiros e os demais povos do mundo vêem o país.
Pouco afetado pela crise econômica mundial ora em curso, devido à expansão do seu mercado consumidor interno e à elevação do preço de seus produtos (notadamente de suas commodities) no mercado externo, o Brasil ocupa hoje a sétima posição entre as economias do mundo. O crescimento econômico brasileiro ocorre em ritmo superior ao dos países desenvolvidos, sendo hoje sete vezes mais acelerado do que o dos EUA.
Hoje os brasileiros acreditam e se orgulham de seu país, pois nele já podem encontrar perspectivas de um futuro melhor. Sentimento este que começa também a ser partilhado por habitantes de diversas nações hoje em crise, exatamente aquelas para as quais muitos brasileiros afluíram, quase em desespero, há bem poucos anos.
Não obstante o otimismo que se estabelece hoje no Brasil, há muito que se avançar em termos econômicos e sociais. Mesmo que as carências sociais tenham diminuído nos últimos anos, a ponto de o Brasil ter conquistado a 84ª posição entre 187 países do ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em 2011, as desigualdades sociais são ainda imensas.
Enquanto o Brasil alcançou 0,718 pontos na escala do IDH, que varia de 0 (desigualdade absoluta) a 1 (igualdade absoluta), situando-se no grupo de países que possuem IDH elevado, apenas uma categoria abaixo dos com IDH muito elevado e acima dos países com IDH médio ou baixo, o índice brasileiro cai para apenas 0,519 pontos, quando são analisados os indicadores das desigualdades sociais. Considerando-se o Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade (IDHAD), publicado este ano pela primeira vez, o Brasil ficou na 73º posição entre 134 países.
Diante das carências habitacionais apontadas pelo IBGE e registradas pelo Sul21, assim como as das áreas da saúde, do saneamento, da segurança e de tantas outras que se podem listar e que são gritantes ainda hoje e, ao mesmo tempo, da opulência exibida pelo país e do otimismo constatado no e sobre o Brasil em boa parte do mundo hoje, há que se admitir que readquire contemporaneidade a expressão cunhada por Roger Bastide, antropólogo francês radicado no Brasil e professor da Universidade de São Paulo (USP), e que deu título a seu livro publicado em 1957: Brasil, terra de contrastes.
Síntese das peculiaridades do país, a expressão da conta do paradoxo que caracteriza o processo de modernização brasileiro: o embate e a sobrevivência, lado a lado e de forma articulada, do velho e do novo, do tradicional e do moderno, do avançado e do retrógrado. Superar os contrastes existentes ainda hoje no Brasil só será possível quando se tiver superado as imensas desigualdades sociais ainda existentes no país. Só com a construção da equidade social se poderá construir uma terra que oportunidades reais para todos os seus habitantes, sejam os aqui nascidos, sejam os que para cá vierem. Este é o imenso desafio que se coloca e se renova a cada dia, tanto para os governantes do país quanto para o conjunto dos seus cidadãos.

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