domingo, 1 de janeiro de 2012

De Wall Street para o Brasil 01/01/2012

Conheça alguns profissionais que migraram para trabalhar no País


Lílian Cunha, de O Estado de S. Paulo


Thomas Grimm, ex-Deutsche Bank
IDADE: 36 anos
O QUE FAZ: gestão de private equity
POR QUE O BRASIL? "Em Wall Street, meus amigos só falam em crise. Mas os
emergentes só crescem"
Trabalhar em Wall Street, no início do anos 2000, era muito diferente. Foi quando comecei, no Deutsche Bank, onde fiquei por seis anos. Ninguém falava em corte de custos ou demissão. No banco, trabalhei com ‘private equities’ da América Latina. Sou americano, de Nova York. Então, resolvi estudar espanhol. No fim de 2007, um ex-chefe montou o próprio fundo e me chamou para trabalhar com ele. Topei. Mas a crise já estava tomando conta de tudo. Resolvi apostar nos emergentes e ser consultor independente, trabalhando de Nova York para clientes nesses países.
Enquanto meus amigos que continuavam nos bancos só falavam em crise, comigo era diferente: toda hora aparecia um cliente novo. Em 2010, passei alguns meses na Indonésia, para estabelecer um negócio de ‘mobile bank’ para uma empresa de lá. A experiência me ajudou a tomar uma decisão. Percebi que não há sentido em insistir em Wall Street. E eu já estava com a Denise (com quem me casei em abril) e havia aprendido português.
A Denise é brasileira e está em Nova York há cinco anos. Quando conheci a família dela, em São Paulo, por curiosidade tentei marcar algumas reuniões com empresas que poderiam se tornar meus clientes. Minha expectativa era fazer umas três reuniões. Mas em dez dias, fiz 15. Foi surpreendente. Vi que tinha à frente a chance de entrar em um mercado em alta que precisa de gente experiente. Chego neste mês. Quero viver no País de minha esposa, assim como ela morou no meu. A ideia é trabalhar em consultorias ou montar algo em e-commerce."

João Valli, ex-Sanford C. Bernstein e Merrill Lynch
IDADE: 33 anos
O QUE FAZ: especialista em serviços financeiros
POR QUE O BRASIL? "Sei como funcionam as coisas lá e aqui. Quero fazer a ponte para investidores que vêm para o País"
Sou de Brasília e fui a Londres fazer MBA em 2006. Minha turma foi a última que pegou o mercado bombando: todos eram disputados por bancos, como Goldman Sachs e JP Morgan. Mas aí veio a crise. A turma seguinte não teve eventos de recrutamento no campus. Foi tudo cancelado. A essa altura, eu já era analista na Sanford C. Bernstein, gestora de investimentos da City, o centro financeiro de Londres. Lembro que no primeiro ano recebi 100% do salário anual como bônus. A crise foi crescendo e os bônus encolhendo. Caíram para 60%, 50%, até que, depois de 2008, nunca mais tivemos bônus. O pior eram as rodadas de demissão. A primeira foi em 2008. Sobrevivi. Depois vieram a segunda, a terceira. Em 2010, saí da Bernstein para o Merrill Lynch. A situação parecia ter melhorado e começamos a achar que a crise estava passando. Mas veio 2011 e a história se repetiu. O sentimento é que ela veio para ficar. Conversando com clientes, eles me diziam: ‘O que você está fazendo na Europa? Vai para o Brasil ganhar dinheiro!’ Ouvi isso inúmeras vezes e comecei a pensar. Montei um plano de negócios e voltei em novembro. Estou montando uma butique de investimento, a Sigel Capital, A ideia é ajudar empresas a crescer, por meio de aquisições, fusões, abertura de capital, etc. Em um mês, já tenho mais clientes do que achei que teria só em um semestre. Meus colegas de MBA? Muitos estão vindo para cá."

Edward Neale, ex-Bernstein e Mitsubishi Trust
IDADE: 27 anos
O QUE FAZ: Especialista em
companhias farmacêuticas
POR QUE O BRASIL? Visitou o País em 2002. Quando voltou, seis anos depois, viu outro Brasil, mais desenvolvido
Sou inglês e fiz faculdade de Biologia. Fui recrutado pouco antes de me formar, em 2006, para trabalhar no mercado financeiro, analisando empresas do setor farmacêutico, em Londres. Nessa época, já conhecia o Brasil. Vim para cá quando tinha 18 anos, de férias. Voltei em 2008 e tive uma surpresa: vi outro País. Era incrível como havia mais hotéis, lojas, empresas. Era nítido que todos tinham mais dinheiro. Enquanto isso, em Londres, o ambiente ia ficando ruim. A cada dia, via um fundo fechando. Os mercados encolhiam à medida que até pessoas mais simples, não só os grandes investidores, procuravam aplicações mais seguras. Muitos amigos largaram seus empregos e foram para a África do Sul, China e Índia. Mas vi uma oportunidade que ninguém estava vendo: o Brasil. Escrevi minha carta de demissão em junho e cheguei aqui no final de agosto. Vim sozinho. Fui primeiro a São Paulo, onde tenho amigos. Mas não ia dar certo. Todo mundo falava inglês comigo. Como ia aprender português? Decidi ir para Porto Alegre, onde moro agora. Aqui só falo português. Na minha classe de português para estrangeiros, há muitos executivos de multinacionais transferidos para cá. Quero, além de falar como os brasileiros falam, entender como pensam. Por exemplo, já vi que há muita burocracia e nepotismo. É como a Londres de 30 anos atrás. Meu plano é passar um ano estudando e entender bem como tudo funciona. Depois, volto para o mercado financeiro ou monto uma empresa de internet. O brasileiro gosta de consumir e o commerce eletrônico ainda tem muito que se desenvolver aqui."

Mauro Miranda, ex-Bear Sterns e Lehman Brothers
IDADE: 34 anos
O QUE FAZ: especialista em renda fixa
POR QUE O BRASIL? Esteve no olho da crise, no Bear Sterns e Lehman brothers
Estava no Banco Central quando fui convidado, em 2002, a ir para o Bear Sterns, em Wall Street. Posso dizer que vi os dois lados da moeda, porque era uma época de negócios muito altos. Anos depois, fui para o Lehman Brothers, em Londres. Tudo ia bem até que um belo dia, operando derivativos de crédito, percebi que, de repente, os bancos não queriam mais fazer negócio com o Lehman. Era a crise começando. Em junho de 2008, o Lehman fez sua primeira rodada de demissões. Metade do meu andar foi demitida. Eu? Fui junto. Fiquei arrasado. Meses depois houve um segundo corte. Amigos demitidos nessa segunda vez não receberam nem o dinheiro gasto em almoços com clientes. Foi quando resolvi voltar. O momento não era bom aqui, mas não tinha emprego lá. Assim que cheguei, não demorou muito, me surpreendi pois fui contratado por um fundo. Hoje, estou em um banco e posso dizer que, desde que voltei, minha remuneração sempre foi maior que em Wall Street. Não penso em voltar. As oportunidades estão aqui. Todo dia recebo e-mail de gente da Espanha, da República Tcheca, de Wall Street e de Londres, todos querem vir."

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