Ele fala sobre a ampliação da frota brasileira, a recuperação do porta-aviões São Paulo, construção do nosso primeiro submarino nuclear em parceria com a França, o pré-sal e o Sisgaaz, Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul.
“ O submarino de propulsão nuclear vai nos dar um poder muito grande de dissuasão, porque ele tem uma capacidade de permanecer imerso durante muito tempo e ninguém sabe onde ele está. Como não se sabe onde ele está, ele pode estar em qualquer lugar. Tem que pensar duas vezes antes de fazer uma incursão em um país onde tem um submarino de propulsão nuclear. “ Almirante Júlio Soares de Moura Neto
A Tribuna de Santos, por Leopoldo Figueira
A Marinha do Brasil se prepara para aumentar sua presença nos mares e rios do País. O porta aviões São Paulo retorna a operação. E há planos de se ampliar a frota, com projetos como o de construção do submarino de propulsão nuclear. Essas ações têm um objetivo principal: mostrar que o País tem capacidade de se defender e proteger suas riquezas, explicou o comandante da Marinha, almirante-de-esquadra Júlio Soares de Moura Neto, em entrevista exclusiva a A Tribuna, realizada em sua mais recente visita a Santos, no último 25. Para o comandante, a melhor estratégia é a da dissuasão. Confira, a seguir, porque é importante para o Brasil investir em sua Armada
Quais os planos da Marinha para o porta-aviões São Paulo?
O navio-aeródromo São Paulo ficou parado por um período para reparos e modernização. Isso começou em 2005 e finalmente, no ano passado, ele voltou a navegar. Nós estávamos fazendo uma série de experiências de máquinas e, enfim, no ano passado, ele veio aqui, a Santos. Foi, realmente, o momento mais importante da volta dele. Então, hoje, ele subiu um degrau na escala do adestramento. Ele já está preparado para operar helicópteros. É importante isto. Para (operar helicópteros em) o período noturno, nós vamos obter isso agora, na próxima viagem dele, que vai ser no início de fevereiro.
O São Paulo irá a Salvador?
Sim.Nós acreditamos que, até o meio do ano, ele estará totalmente apto a operar helicópteros em qualquer condição. E a partir do meio do ano, começaremos o preparo do navio para ele subir no adestramento para as aeronaves. E aí, eu imagino que mais um semestre, ele vai estar pronto para operar. Até o final do ano, ele estará absolutamente pronto para ter vida normal.
Então, a partir de 2013, quais os planos para o São Paulo?
Ele vai fazer parte dos navios da esquadra. Ele é o navio mais importante da esquadra, o capitânia. Eu não descarto a possibilidade de ele ir ao estrangeiro, como também não garanto que ele vá. O planejamento de 2013 ainda não começou. A princípio, em 2013, ele deve ficar no Brasil.
O porta-aviões será usado em patrulhas?
Ele deve ser utilizado nos exercícios da esquadra. Claro que, quando se forma essa comissão de navios (para o exercício), também estamos fazendo o patrulhamento da costa. Se acontecer alguma coisa, havendo um barco que a gente precise ver, um navio é destacado, um helicóptero é destacado, para verificar o que está acontecendo.
Além da recuperação do São Paulo, a Marinha tem investido na ampliação de sua frota. Como estão esses planos?
Nós estamos com um projeto muito grande, que possivelmente deve ser levado para decisão do Governo em breve. É um projeto de navios de superfície maiores, fragatas na faixa de 6 mil toneladas. São navios moderníssimos, grandes. E nós pretendemos construir cinco. Pretendemos também construir um navio de apoio logístico, de 15 mil, 20 mil toneladas. É um navio que fornece combustível, para permanecer no mar com esses navios. E (construiremos) mais cinco navios-patrulha de 1.800 toneladas.Com isso, vamos ficar com mais meios para podermos patrulhar nossas águas.
E o projeto da construção do submarino de propulsão nuclear?
É um sucesso total. Ele envolve, primeiro, a construção de quatro submarinos convencionais. Mas o mais importante é que nós estamos projetando o submarino, acompanhando como se faz um projeto de submarino. Nós precisamos disso para poder projetar o submarino de propulsão nuclear. O primeiro submarino convencional, sua primeira chapa foi cortada na França em maio de 2010. E eles estão avançando nas primeiras seções dele. No nosso contrato, está estabelecido que as primeiras seções desse submarino, principalmente a parte de proa, que é muito complicada pois tem os tubos de torpedo, seriam feitas na França.
Quem é que está fazendo?
São operários, engenheiros e técnicos franceses e operários, engenheiros e técnicos brasileiros. Quem está soldando é operário brasileiro, quem está orientando o corte é um técnico brasileiro, com um francês do lado ou é o técnico francês com o brasileiro do lado. Estão sendo construídas na França duas seções. Elas virão para o Brasil no final deste ano e vão já para o nosso estaleiro. Lá, elas vão começar a ser preenchidas com os equipamentos. E, a partir daí, todo o resto será feito no Brasil.
E quanto ao submarino nuclear?
Desde 2010, nós estamos com nossos engenheiros projetistas estudando o projeto do submarino na França. E a data em que vamos começar o projeto do submarino já está marcada. É 9 de julho, em São Paulo. No Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo. É uma data interessante (Dia da Revolução Constitucionalista de 32). Paralelamente, estão avançando a base e o estaleiro que estamos construindo em Itaguaí (RJ), na Baía de Sepetiba, ao lado do Porto de Sepetiba. E a inauguração da primeira parte desse estaleiro vai ser exatamente no dia 19 de novembro (Dia da Bandeira) deste ano. E essa parte (do submarino convencional) que está vindo da França já vai para as instalações da primeira fase do estaleiro, para começar a ser preenchida. Está tudo absolutamente dentro do cronograma.
Os atuais projetos da Marinha sofrem algum risco, com a decisão do Governo de fazer cortes no Orçamento?
Tudo sempre pode acontecer. Mas vejo hoje uma perfeita consciência do Governo Federal sobre a importância da nossa Amazônia Azul (área na costa brasileira), das riquezas que temos no mar. Lá está toda essa riqueza do petróleo. Tem o pré-sal, que está aqui em frente a vocês, aqui em São Paulo, de um valor incrível. Há todo o nosso tráfego marítimo. Cerca de 90% do nosso comércio exterior é por meio marítimo. O Governo tem plena consciência da importância desse setor. Nós tivemos muito apoio no governo do presidente Lula. E estamos tendo muito apoio no governo da presidenta Dilma. E acredito que, ela sabendo da importância disso, vai preservar pelo menos os projetos mais importantes na área da Defesa.
Falando sobre energia nuclear, o Sr. acha que o País deve ter uma bomba atômica?
Nossa Constituição nos proíbe. Nós temos assinado diversos acordos internacionais de que não teremos a bomba atômica. Então eu acho que esse é um assunto sem discussão. A Marinha nunca pensou nisso.
Sob o ponto de vista estratégico-militar, ter um armamento nuclear não é importante? O sr. acha que não ter é uma decisão correta?
Acho sim. A tendência do mundo é diminuir os armamentos nucleares. Todos os países, pouco a pouco, estão diminuindo seus arsenais. Eu acho que esse é um risco muito grande para todo o mundo e a tendência é diminuir. Temos que ter aqui os nossos meios convencionais prontos, capazes de operar a qualquer momento para fazer nossa política de defesa. No Brasil, a política de defesa é uma política defensiva. Todos os meios (projetos de ampliação da frota) que estou colocando para você são para mostrar que temos capacidade de nos defender. E ao mostrar que temos capacidade de nos defender, nós evitamos que qualquer outro estado, qualquer outra força tente alguma coisa. Para isso, precisamos ter as Forças Armadas com credibilidade. Eles têm que saber que nossas Forças Armadas estão prontas e podem operar a qualquer momento. Isso é o critério básico da dissuasão. E se nós somarmos a isso outro item importantíssimo da dissuasão, que é a capacidade do País de construir seus próprios meios, atingimos um nível muito grande. O submarino de propulsão nuclear é isso. Vai nos dar um poder muito grande de dissuasão,porque ele tem uma capacidade de permanecer imerso durante muito tempo e ninguém sabe onde ele está. Como não se sabe onde ele está, ele pode estar em qualquer lugar.Tem que pensar duas vezes antes de fazer uma incursão em um país onde tem um submarino ¬e mais ainda, um submarino de propulsão nuclear.
É necessário ampliar o número de bases militares da Marinha na costa?
Para atender a Estratégia Nacional de Defesa, existem vários aspectos planejados. No Atlântico Sul, temos duas áreas consideradas de maior importância.Uma é a área marítima que vai de Vitória (ES) a Santos, que é onde está o petróleo. Essa é fundamental e é onde nós estamos. Muita coisa temos aqui, no Rio de Janeiro, com a nossa esquadra. E a própria Estratégia Nacional de Defesa prevê a criação de uma segunda esquadra, que vai ficar no Norte e no Nordeste. Não foi escolhido ainda o local. Ela vai garantir a segunda área de importância estratégica, que é a foz do Rio Amazonas, o acesso do rio ao mar. Nós temos deter uma segunda esquadra nas proximidades desse local. Porque hoje, do Rio de Janeiro até lá, é muito longe. Quando é que vai ser (criada a segunda esquadra), não sei. Mas está nos planos. Está determinado na Estratégia Nacional de Defesa. Um elemento importante em um plano de defesa é o uso de satélites, equipamento que o Brasil utiliza timidamente.
O Sr. defende um maior uso dessa tecnologia?
Para tomar conta desse mar todo, do espaço aéreo e das fronteiras terrestres, o Ministério da Defesa desenvolve vários projetos. A Marinha tem um sistema de controle e monitoramento de suas águas jurisdicionais, que é o Sisgaaz, o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul. Isso está em andamento e é um dos grandes projetos da Marinha. No momento, estamos montando a arquitetura do sistema. Sem ter satélites, não só de monitoramento como de comunicação, vamos ter dificuldades (para este projeto).
Quando será implantado o Sisgaaz?
Essa arquitetura deve terminar no ano que vem. Quando ficar pronta e for aprovada pela Marinha ¬ e isso leva um tempo, pois sempre falta isso, falta aquilo ¬, o Governo vai nos autorizar e teremos de abrir uma grande licitação nacional e internacional para a instalação desse equipamento.
Mas o Sisgaaz deve sair ainda nessa gestão da presidente Dilma?
Acreditamos que, pelo menos, a decisão terá de ser tomada neste governo. Esses projetos são de longo prazo. O importante é tomar a decisão. Por exemplo, o primeiro submarino convencional ficará pronto em 2016. O primeiro submarino de propulsão nuclear, o submarino de propulsão nuclear ficará pronto em 2022. Então são projetos de médio e longo prazo.
Concluindo sua análise da defesa nacional, quem são, hoje, os inimigos do estado brasileiro?
Na verdade, a gente não deve, nos tempos atuais, pensar em inimigos. O Brasil é um país pacífico. Ele tem que ter garantia de poder se defender. É aquela estratégia de dissuasão. E essa estratégia de dissuasão se baseia em uma outra coisa. Eu não me preparo contra A, B ou C. Eu me preparo com capacidade. O Brasil tem que ter capacidade de mostrar ao mundo que é capaz de se defender. Contra quem, eu não sei. Contra quem aparecer.
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