Matias Spektor
Hoje, mais de 50 países recebem ajuda brasileira em áreas como educação e segurança alimentar
O Brasil está se transformando 
rapidamente em provedor de ajuda humanitária e cooperação para o 
desenvolvimento. Hoje, mais de 50 países recebem ajuda brasileira em 
áreas como educação, saúde coletiva, reforma agrária, energia renovável,
 segurança alimentar, erradicação da pobreza e prevenção de HIV/Aids. Os
 orçamentos dedicados à área, ainda tímidos, crescem em progressão 
geométrica.
Por que o Brasil ajuda? Em parte, por uma
 questão de valores. Quando um dos países mais desiguais do mundo começa
 a reverter seu quadro interno, há virtude na provisão de ajuda a 
terceiros.
E, quando o centro de gravidade de poder 
no mundo migra do Atlântico Norte para o Leste e para o Sul, vale 
explorar alternativas à cooperação prestada por ex-potências coloniais 
europeias e pelos Estados Unidos.
O Brasil também atua por interesse 
próprio. Por meio dessa cooperação, o governo de plantão demonstra o 
alcance global de sua diplomacia e obtém apoio de terceiros países para 
seus pleitos em organismos multilaterais.
Órgãos como Embrapa, Fiocruz e os 
ministérios da área social ganham experiência. Especialistas brasileiros
 em políticas públicas constroem redes profissionais e adquirem 
conhecimentos. ONGs brasileiras ganham alavancagem para atuar fora das 
fronteiras e qualificar seus quadros. Por sua vez, grandes conglomerados
 privados nas áreas de engenharia e construção obtêm acesso privilegiado
 aos governantes dos países receptores de ajuda brasileira.
O caráter da cooperação brasileira é 
essencialmente político. Nenhum dos principais receptores de ajuda 
divide fronteiras com o Brasil nem representa ameaça à segurança 
nacional. Metade do orçamento de cooperação técnica vai para a África de
 língua portuguesa.
No quesito ajuda humanitária, os maiores beneficiados nos últimos anos foram Cuba, Haiti, Palestina e Honduras.
O Brasil não é o único jogador novo em 
cena. China e Índia entraram com força no negócio da cooperação para o 
desenvolvimento e prometem transformar a dinâmica desse mercado.
Para os otimistas, isso dará fôlego renovado ao combate global contra a pobreza.
Para os críticos, essa cooperação pode fortalecer regimes autoritários e corruptos mundo afora.
O futuro do Brasil como provedor de cooperação técnica e ajuda humanitária apresenta enormes desafios pela frente.
O país não conta com um sistema capaz de 
identificar sucessos e fracassos, avaliar projetos existentes ou fazer 
ajustes de acordo com a experiência passada. Não há treinamento 
especializado para os profissionais da área, e a troca de experiências 
com outros países ainda é mínima.
Isso precisa mudar com urgência porque o 
Brasil pode ganhar projeção, influência e alavancagem internacional se 
desenvolver excelência nessa área.
A ajuda para o desenvolvimento é uma das 
maneiras mais eficazes de fazer política externa para um país em via de 
acelerada transformação social que não define seu projeto internacional 
em termos de projeção militar.

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