AFP
O anúncio do aumento de vinte centavos no preço das passagens do ônibus, trem e metrô em São Paulo deflagrou uma onda de protestos pela principal cidade brasileira. Um grupo de manifestantes tomou as ruas por três vezes, entrou em confronto aberto com a polícia, incendiou ônibus e interditou avenidas. Do outro lado, os eventos suscitaram declarações discriminatórias de um promotor público pelas redes sociais, incitando a violência contra a população revoltada.
A noite de
terça-feira, dia 11, foi marcada como até então a mais violenta nessa
série de confrontos. Um grupo de aproximadamente 10 mil pessoas voltou a
brigar com a Polícia Militar na avenida Paulista, coração financeiro da
cidade. Um pouco antes, um confronto tinha ocorrido em um dos mais
movimentados terminais urbanos de ônibus no centro da cidade.
Dali
para o final do dia a situação se complicou ainda mais. Uma barricada
de lixo e pneus incendiados interrompeu o trânsito da avenida Paulista
por volta da 22h. Agências bancárias foram depredadas, assim como
ônibus, cabines de telefones públicos e bases da polícia, que também
reagia com violência, empregando balas de borracha, bombas de gás
lacrimogênio e de efeito moral. Ao menos oito pessoas foram detidas.
A
série de protestos teve início no dia 06 de junho, uma quinta-feira,
após o aumento das tarifas de trem, metrô e ônibus em São Paulo, que
subiram de R$ 3 para R$ 3,20. A ampliação entrou em vigor desde o início
do mês. Um reajuste, contudo, que já era esperado há tempos. A
princípio, era para ser aplicado aos preços no início do ano, mas a
pedido do governo federal, que anda preocupado com a escalada da inflação, foi adiado para junho.
Horas
antes do terceiro e mais violento confronto, o governador Geraldo
Alckmin, questionado sobre a situação caótica, afirmou que a interrupção
do trânsito durante os protestos representava "vandalismo", sendo
classificada a ação como "caso de polícia".
Alckmin deu a
entrevista de Paris, onde participava da apresentação final da
candidatura de São Paulo para sediar a Expo 2020 (assunto que iremos
tratar na сoluna, mas em outra oportunidade). Contudo, ele não comentou
as declarações anteriores do promotor estadual Rogério Zagallo, que
chocaram o público.
Parado no congestionamento formado
no segundo dia de manifestações, Zagallo publicou texto em seu perfil no
Facebook com xingamentos e incitação a violência contra aos
responsáveis da passeata. "Estou há duas horas tentando voltar para
casa, mas tem um bando de (macacos) bugios revoltados parando a Faria
Lima e a Marginal Pinheiros. Por favor alguém pode avisar a Tropa de
Choque que essa região faz parte do meu Tribunal do Júri e que se eles
matarem esses f*** eu arquivarei o inquérito policial", escreveu. "Que
saudades do tempo em que esse tipo de coisa era resolvida com borrachada
nas costas", completou o representante do Ministério Público em alusão
aos tempos da ditadura militar.
Ao se dar conta da
repercussão do post, Rogério Zagallo excluiu a declaração do Facebook e
veio a público confessar-se arrependido da maneira como declarou sua
revolta na rede social. O Ministério Público, no entanto, diz que vai
analisar a situação. A instituição também, diga-se de passagem, deve se
reunir nas próximas horas para decidir se propõe ou não ação na
tentativa de reverter o aumento nos transportes.
Mas, de
volta aos manifestantes, que quebraram patrimônios públicos e partiram
para cima da polícia, e também sobre o promotor Rogério Zagallo, que
literalmente perdeu a linha no Facebook e depois pediu desculpas para
tentar salvar a própria pele, o fato é que os dois casos, além de
interligados pelos mesmos acontecimentos, revelam outra particularidade.
Como dizem por ai, uma pessoa em pleno surto nervoso, acaba por
revelar, sem querer, muito de sua personalidade.
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