quinta-feira, 13 de junho de 2013

Entrevista de Vladimir Putin à agência RIA Novosti 13/06/2013


Entrevista de Vladimir Putin à agência RIA Novosti

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, concedeu uma entrevista à agência de notícias russa RIA Novosti. 

- O Senhor vai participar na cimeira do G8 não só na qualidade do líder dum país-membro, mas também como dirigente do Estado que preside neste ano no G20? O Senhor não gostaria de propor aos seus colegas dividir os temas entre G20 e G8, fazendo o primeiro focar-se nas questões de economia e o segundo - nas questões políticas? Poderia o Senhor já agora indicar a direcção geral da agenda que a Rússia pretende propor durante a sua presidência no G8 no próximo ano?
- Você tem razão, na cimeira em Lough Erne a Rússia vai agir numa qualidade especial: não somente como presidente atual do G20, mas também como futuro presidente do G8. Isto é uma responsabilidade especial para nós – teremos que coordenar as atividades destes dois fóruns neste ano, e em 2014 continuar o trabalho iniciado pelos nossos colegas britânicos no mesmo alto nível.
As discussões que se realizam no âmbito do G8 são caracterizadas pela profundidade e credibilidade, o que permite solucionar até os mais agudos problemas de maneira construtiva. Em Lough Erne pretendemos falar sobre a situação na Síria, no Oriente Médio e no Norte da África, no Afeganistão, etc. Contamos com os resultados úteis desta discussão.
Conforme a proposta do presidente britânico, na cimeira deste ano vamos falar sobre o aperfeiçoamento do sistema tributário e o aumento da eficácia da administração pública, bem como sobre a eliminação dos obstáculos no comércio internacional e regional. Em todas estas áreas é importante utilizar ao máximo os recursos internos não envolvidos ou ocultos dos países em desenvolvimento. Cremos que isso vai fazer aumentar o nível de execução dos orçamentos nacionais, melhorar a qualidade das instituições públicas.
Agora, no que diz respeito à divisão dos temas de economia e de política entre o G20 e G8, acho que cada um destes formatos tem o seu “valor acrescentado” e dividir artificialmente entre eles as questões de economia e de política seria incorreto. Tentaremos provar isso em 2014 quando formos anfitriões da cimeira do G8 em Sochi.
A agenda concreta da nossa presidência ainda está sendo elaborada. Neste momento, posso só dizer que vamos procurar respostas para as novas ameaças à segurança até ao nível global.
- Tanto nas reuniões do G8, como nas reuniões do G20 durante alguns anos tem sido discutida a questão da reforma do FMI. Todavia, as discussões sobre a reforma não vão além devido à relutância dos “países-fundadores” do fundo de ceder parte do poder e influência. Na sua opinião, já chegou o tempo para ações mais radicais, por exemplo, dissolver o FMI e criar a partir do zero uma nova organização tendo em conta as realidades financeiras e políticas?
- O FMI necessita da uma reforma séria. Esta posição é partilhada por todos os acionistas do Fundo. O problema é que frequentemente no Fundo não conseguem acompanhar a situação inconstante nas finanças mundiais, em primeiro lugar, no momento da tomada de decisões eficazes e oportunas. A realização delas também é debilitada. Um exemplo brilhante é a crise financeira global, que o sistema não conseguiu evitar, fazer um prognóstico, prever a sua aproximação.
Ao mesmo tempo considero errada a ideia de que a criação dos novos conselhos, fundos e outras autoridades internacionais pode ser uma “panaceia” para todos os problemas. O que é importante é trabalhar no aperfeiçoamento do FMI baseando-se na experiência única da cooperação no âmbito dele. Em primeiro lugar, é importante reorganizar o sistema da distribuição de quotas e votos no FMI. Aumentar o papel dos países em desenvolvimento, inclusive dos nossos parceiros do BRICS.
- A intensificação do comércio internacional é mais uma prioridade da presidência do Reino Unido. Como é que o Senhor vê o problema das barreiras no comércio? Em que medida são justificados os esforços das autoridades dos Estados que possuem ambientes económicos completamente diferentes com o propósito de pôr os seus países sob as regras únicas para incentivar o comércio internacional?
-O desenvolvimento do comércio internacional reside entre as fontes principais do crescimento económico. Por isso, estamos preocupados com a tendência negativa na queda do ritmo do crescimento do comércio mundial até 2 por cento em 2012. Os prognósticos de 3,3 por cento em 2013 não inspiram otimismo.
Isto significa que, mesmo nas condições da crise temos que juntar os esforços coletivos no desenvolvimento do comércio mas não nas medidas de protecionismo.
Partimos mesmo da lógica de ações conjuntas quando propomos aos parceiros do G20 prolongar a moratória sobre a aprovação de medidas protecionistas no comércio e proceder ao monitoramento da aplicação destas medidas.
Neste sentido, queria sublinhar que consideramos a OMC como a base de todo o sistema de regras no comércio internacional. Infelizmente, de momento vemos uma estagnação na OMC. Mas isto não serve como pretexto para “quebrar” a sua estrutura. Temos que trabalhar para consolidar e desenvolvê-la.
Entretanto, é necessário analisar de maneira mais abrangente o problema da liberalização de comércio e investimentos. No mundo existem cada vez mais uniões integracionistas, se formam zonas de comércio livre.
Promovemos ativamente o projeto da União Económica da Eurásia, com a participação do Cazaquistão e da Bielorrússia. É um bom exemplo de liquidação real de barreiras e da dinamização do comércio. O que importa é que os acordos de integração correspondam às exigências e normas da OMC.
- A Rússia já faz parte da OMC há um ano. Um dos argumentos a favor da adesão a esta Organização foi a nossa intenção de introduzir as mesmas “regras de jogo” para a Rússia, como para os outros países do Mundo. Como lhe parece, este objetivo foi alcançado?
- No ano passado finalizamos a adesão à OMC. No decorrer do longo e complicado processo de negociações, acordamos e fizemos corresponder centenas de posições tarifárias, a nossa legislação, às regras da OMC. Nós já durante um certo período bastante prolongado utilizamos na prática as normas e os padrões da OMC. E o fato de todos os membros da OMC terem dado o seu aval à adesão da Rússia à Organização constitui o reconhecimento da prontidão da economia russa para o trabalho nas novas condições.
A entrada na OMC permite à Rússia a participar de pleno direito na elaboração e aperfeiçoamento das normas do comércio internacional. Ainda teremos que aprender a utilizar em toda a medida as nossas possibilidades na aplicação dos instrumentos aceitáveis para o apoio dos produtores nacionais, a solução de contenciosos comerciais, a defesa dos produtos russos nos mercados externos.
- Um dos assuntos que será discutido na próxima reunião do Fórum Económico Internacional de São Petersburgo (FEISP) – Pode ou não um país com um Estado Social ter capacidade económica competitiva no mundo moderno? Acha que existe um futuro para o modelo europeu de Estado Social? Não receia que a Rússia repita o destino da Europa, a qual sofre de ineficácia económica?
-Ao meu ver, tal aproximação não é correta. O problema consiste em outro aspeto completamente diferente. E a crise numa série de países europeus demonstrou isso com evidência. A palavra-chave aqui é a ineficácia. Não a política social, mas sim – viver além das suas possibiliaddes, a perda do controle da situação geral na economia, as discrepâncias estruturais – isso é que resulta nas consequências que a Europa enfrenta hoje em dia. Além disso, em muitos dos países europeus floresceu em pleno o parasitismo, quando muitas vezes não trabalhar é muitíssimo mais vantajoso do que trabalhar. Isso ameaça não só a economia, mas também os fundamentos morais da sociedade. Porque não é nenhum segredo que muitos cidadãos dos Estados menos desenvolvidos vão para a Europa especialmente para “viver do subsídio social”, como é apelidado na Alemanha.
Para a Rússia, tal atitude é inaceitável. Um Estado com orientação social não é um capricho, mas sim uma necessidade. Trabalhamos visando assegurar o equilíbrio entre os pagamentos dignos nos domínios dependentes do orçamento nacional, o sistema normal de garantias de aposentadorias, serviços públicos de qualidade, inclusive em matéria de ensino e saúde pública, e uma razoável política orçamental, medidas de promoção da economia. Já fizemos há muito tempo a nossa escolha. Não vamos rejeitar os nossos compromissos sociais.
No que se refere à Europa, os principais países europeus introduzem reformas estruturais para aumentar a capacidade de concorrência das suas economias, lutam contra o desemprego. Com isso, tendo em conta o reforço da coordenação das políticas económica e orçamental, a atitude para com a disciplina orçamental torna-se mais flexível. E os seus compromissos foram inscritos na Estratégia do Desenvolvimento Económico e Social da UE até o ano de 2020. Deste modo, não vale a pena “enterrar” o modelo social europeu.
- Este ano o FEISP propõe tradicionalmente concentrar-se nos assuntos do crescimento económico estável e do papel da Rússia na agenda global. Quais são as novas fontes de crescimento da economia global que a Rússia vê, que catalisadores de alterações serão utilizados pela própria Rússia?
- Hoje em dia importa avaliar com atenção as reservas internas de cada um dos países e procurar nelas novas fontes para o crescimento. Por isso, o tema do financiamento dos investimentos de longo prazo é elevado à qualidade de prioritária no programa da presidência russa do G20 no ano corrente. Até à cimeira em São Petersburgo contamos propor medidas concretas que visem a criação de condições para o crescimento das atividades de investimento no sector real da economia, e o aumento do arsenal dos instrumentos eficazes de cofinanciamento de projetos de investimento.
Uma outra importante fonte de crescimento é o desenvolvimento do comércio mundial. A situação atual demonstra com evidência que certos Estados ou grupos de Estados – por maiores que sejam – atingiram o limite das suas capacidades na regulação dos processos a decorrer na economia e nas finanças. A própria vida dita-nos uma agenda de unificação. Pode-se combater eficazmente desafios e ameaças globais somente através dos esforços solidários de todos os Estados.
O caminho para a continuação do crescimento económico progressivo e estável passa, pensamos, pela concordância da política económica à escala mundial global, pelas reformas do sistema financeiro mundial e do sistema de regulação e supervisão financeiras, por estímulos a investimentos, pelo reforço da confiança, transparência e previsibilidade dos mercados, incluindo os energéticos.
O trabalho nesta direção já começou. Importa levá-lo até ao fim e adicionar entendimentos universais aos passos já executados. A Rússia, que exerce a presidência no G20 no ano corrente, tenciona promover ativamente tal agenda na futura cimeira em São Petersburgo.
Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/2013_06_14/Entrevista-de-Vladimir-Putin-ag-ncia-RIA-Novosti-8961/

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