Do Publico.pt - RITA SIZA
Profissionais recusaram abandonar as
instalações após a ordem de encerramento dada pelo Governo de Atenas.
Emissão prossegue na Internet.
Milhares de pessoas protestaram durante toda a
noite e permaneciam nesta manhã concentradas em frente à sede da ERT, a
estação estatal de rádio e televisão da Grécia, opondo-se à decisão de suspender o serviço público e de encerrar a empresa. Medidas que estão a ser consideradas um “golpe de Estado” e um “atentado à democracia”.
Nesta manhã, vários funcionários dos canais
públicos apresentaram-se ao trabalho, com a emissão a ser difundida pela
Internet, em www.ert.gr, nas
frequências digitais e também através de um canal local – o 902, que é
propriedade do partido comunista KKE e que foi disponibilizado aos
jornalistas da estação pública.
O pessoal que se recusou a abandonar os estúdios
está a assegurar a transmissão de debates sobre a decisão surpreendente
do Governo, anunciada na véspera, e justificada pela necessidade de pôr
fim à alegada má gestão e desperdício financeiro vigente na ERT. “É um
caso excepcional de falta de transparência e de incrível extravagância”,
declarou o porta-voz do executivo, Simos Kedikoglou.
A medida extraordinária atirou para o desemprego
imediato cerca de 2700 funcionários, que segundo Kedikoglou terão
oportunidade de se recandidatar aos antigos cargos quando for aberto o
concurso de recrutamento de pessoal para uma nova operação do Estado,
“mais moderna”.
Na última visita ao país da troika, foi
exigida uma redução de 15 mil trabalhadores do quadro do Estado até ao
fim do ano – a lei foi aprovada pelo Parlamento em Abril, como condição
para a disponibilização de mais uma tranche de 8800 milhões de euros do
empréstimo internacional. O anúncio do encerramento do serviço público
foi feito depois de confirmado o falhanço da privatização da empresa
estatal de gás DEPA. O decreto urgente que consagra a extinção da ERT
foi assinado apenas pelos ministros pertencentes à Nova Democracia, o
partido maioritário da coligação que governa a Grécia.
Nos últimos minutos de emissão, antes do corte do sinal, o pivot Antonis
Alafogiorgos despediu-se classificando a decisão como “um golpe na
democracia”. “Estamos todos em choque e estamos todos muito zangados.
Não podemos aceitar que um regime democrático como o grego venha a
prescindir do serviço público”, comentou a responsável pela editoria
internacional, Olin Linardatou, à BBC.
O Governo decidiu enviar a polícia de choque para
as imediações da ERT perante a concentração de manifestantes, munidos de
bandeiras e faixas que deploravam o “autoritarismo” do
primeiro-ministro conservador Antonis Samaras.
Os editoriais dos jornais desta manhã destacavam o
“risco político” que o Governo assumiu ao suspender o serviço público de
informação. “É esta a melhor maneira de assegurar que a coligação se
mantém intacta e funcional? É avisado voltar a despertar as forças do
protesto e resistência que se tinham acalmado?”, perguntava Nick
Malkoutzis num artigo na edição inglesa do jornal Kathimerini.
O sindicato dos jornalistas de Atenas convocou uma
greve de 48 horas, a partir de amanhã, em protesto contra o encerramento
da ERT e solidariedade com os seus colegas. O sindicalista Panayotis
Kalfanayanis disse que o assunto seria levado à justiça grega e
europeia, e apelou à ocupação popular do edifício enquanto os tribunais
não se pronunciam. “Mesmo se o Governo quer destruir a democracia, não
vamos desistir de lutar pela aplicação da lei”, disse à AFP.
A estação de rádio e televisão do Estado foi criada
em 1938. Actualmente assegura três canais de televisão e várias
estações de rádio nacionais, regionais e o serviço internacional Voz da
Grécia. É financiada através de uma taxa mensal de 4,30 euros
acrescentada à factura da electricidade.
http://www.publico.pt/mundo/noticia/manifestantes-e-policia-de-choque-concentrados-em-frente-a-estacao-publica-da-grecia-1597133#/3
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