Foi-se o tempo em que grandes empresas
multinacionais de tecnologia se estabeleciam no Brasil, com fábricas e
escritórios, mas a parte de pesquisa e desenvolvimento (P&D), que gera
inovação e agrega valor aos produtos e serviços, ficava no exterior. É
crescente o número de anúncios de instalação de centros de P&D de
multinacionais no País. Empresas como as americanas GE e Boeing e a inglesa BG
Group estão desembarcando seus primeiros centros aqui. Outras, como a alemã
Siemens, a sueca SKF e a americana 3M estão ampliando ou abrindo novos centros.
Juntos, eles representam investimentos de quase US$ 2,5 bilhões nos próximos
anos. "O Brasil se tornou um polo de atração de investimentos em
P&D", diz Carlos Eduardo Calmanovici, presidente da Associação
Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei).É importante para o País ter mais empresas fazendo inovação,
porque significa a possibilidade de gerar produtos e serviços cada vez mais
densos em conteúdo tecnológico, capazes de tirar da armadilha em que se
encontra a balança comercial brasileira. "Dependemos da importação de
produtos de alto conteúdo tecnológico e exportamos commodities, de menor valor
agregado", afirma Calmanovici.A principal razão que levou o País a entrar no novo mapa de
inovação são os desafios e perspectivas de ganhos na cadeia bilionária de
negócios do pré-sal e nos investimentos em infraestrutura, principalmente para
a Olimpíada e a Copa do Mundo. O crescimento do mercado doméstico e a
existência de universidades e cientistas capacitados para parcerias com as
empresas também contribuíram. O governo fez a sua parte, criando um ambiente
mais favorável à inovação, por meio de uma política de incentivos.A General Electric (GE), um dos maiores conglomerados
industriais do mundo, com atuação nos setores de engenharia, aeronáutica e
medicina, entre outros, por exemplo, escolheu o Brasil para instalar o seu
quinto centro de pesquisas global - o primeiro na América Latina.O projeto, que deverá ficar pronto no fim do ano, terá na
indústria de petróleo e gás uma de suas especialidades, em função do imenso
potencial econômico relacionado à exploração do pré-sal no País. Está sendo
construído no centro tecnológico da Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, deverá
empregar cerca de 400 pesquisadores e receberá recursos da ordem de R$ 500
milhões. Enquanto o centro não fica pronto, a GE utiliza espaços da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão.A empresa adotou um modelo para inovar ainda pouco usual entre
grandes companhias globais, a chamada inovação reversa. "Antigamente, o
fluxo de inovação ia dos países desenvolvidos para os países em
desenvolvimento. O movimento que a gente tem feito parte dos países em desenvolvimento
para os desenvolvidos", explica a presidente e CEO da GE do Brasil,
Adriana Machado. A GE tem centros globais na China, Índia, e agora no Brasil,
além dos EUA e Alemanha.Em geral, os centros de P&D que as multinacionais estão
trazendo para o Brasil têm o mesmo modelo de funcionamento. Atuam próximo dos
clientes para descobrir suas necessidades locais, transformando as demandas em
pesquisas e, depois, em soluções. "Hoje, não se consegue idealizar novos
produtos e soluções partindo apenas do pessoal próprio. É preciso interagir com
outros atores, universidades, fornecedores, clientes e outras empresas
inovadoras", diz o diretor de Tecnologia e Inovação da Siemens do Brasil,
Ronald Dauscha.Não é de agora que o gigante de engenharia elétrica e eletrônica
desenvolve pesquisa e tecnologia no Brasil. A Siemens já mantém sete centros de
P&D no País e decidiu instalar o oitavo - um centro global de pesquisas e
desenvolvimento para óleo e gás - na Ilha do Fundão até o fim do ano. O
investimento previsto é de R$ 50 milhões. Uma das abordagens será a tecnologia
de eletrificação submarina e seus componentes, que poderão ser usados no
pré-sal. Essa tecnologia vem sendo desenvolvida na Noruega e no Reino Unido e
deve ser testada em 2014.A corrida para aprimorar a exploração do pré-sal acabou
transformando o Rio num dos maiores polos globais de tecnologia no setor de
óleo e gás. A lista de empresas do ramo, de petroleiras a prestadores de
serviços e fabricantes de equipamentos do setor que terão centros de pesquisa
na Ilha do Fundão é tamanha que levou a Anpei a abrir uma representação
regional na capital carioca. A entidade reúne cerca de 250 empresas, que
respondem por 60% do investimento industrial em inovação no País. Não deve
ficar por aí."O número de associados é crescente", diz o presidente
da entidade. Um dos novos associados é o grupo britânico de petróleo e gás BG,
que escolheu a Ilha do Fundão para instalar o seu primeiro centro tecnológico
no mundo. O centro deverá ficar pronto em meados do ano que vem e o grupo
anunciou que vai investir entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões em pesquisa e
desenvolvimento no País até 2025.
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