17 de setembro de 2013 | 16:37
O Estadão divulga um estudo da Anefac - Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade - mostrando que o crédito, no Brasil, passou de 24,7% para 55,2% do Produto Interno Bruto, entre 2003 e 2013.
Diz a matéria: “O volume total de crédito do sistema financeiro (…) atingiu em junho deste ano R$ 2,531 trilhões, valor 563% maior que os R$ 381,367 bilhões de junho de 2003. Neste período, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 70,57%.
Como a matéria não diz se os valores de 2003 foram corrigidos pela inflação, tome-se a hipótese mais conservadora, de que não foram, e ainda assim teremos um crédito quadruplicado em dez anos.
Mas isso será uma “bolha”, cujo estouro mais cedo ou mais tarde ocorrerá e abrirá uma crise?
Não há o menor sinal disso.
Primeiro porque, mesmo com o quadruplo de crédito, as taxas de inadimplência caíram à metade.
Os atrasos acima de 90 dias atingiram, em junho deste ano 5,2%, contra 8,8% em junho de 2003, Para pessoa jurídica, a inadimplência atingiu 3,5% do crédito em junho deste ano ante 4,7% no mesmo mês de 2003, e entre as pessoas físicas, a inadimplência ficou em 7,2% frente a 15,5% dez anos antes.
E caíram porque melhorou a renda de empresas e pessoas e as taxas de juros caíram à metade neste período, embora ainda sejam altíssimas.
Mesmo com o salto dado em dez anos, a relação entre o crédito e tamanho da economia brasileira é muito baixa ainda, o que desautoriza qualquer interpretação de que possa estar ocorrendo uma bolha. Contra os nossos 55,2%, nações mais ricas, como Estados Unidos e Japão, têm volume de crédito superando os 180% do PIB. Na Europa, essa relação chega a 160% em países como Grã-Bretanha e Suíça, e a 90% na Itália e França.
Além disso, estamos começando a corrigir a maior distorção de nosso crédito que, por envolver uma baixa percentagem de financiamentos imobiliários, apresentava um perfil de prazo mais apertado.
Você pode ver no quadro aí ao lado, com dados até o ano passado, que a participação do crédito imobiliário sobre o crédito total duplicou.
Ainda assim, precisa aumentar, porque representa uma âncora para o sistema financeiro. Nossa divida imobiliária não tem um perfil hipotecário semelhante ao que causou a crise americana e representa ainda pouco perto dos níveis dos países desenvolvidos, onde representam pouco mais, pouco menos que a metade do volume total de crédito.
Vamos bem, por tudo isso?
Não tanto quanto poderíamos ir, porque os bancos privados operam muito abaixo do que deveriam ser suas responsabilidades, pelo volume de recursos que administram. Tanto em volume quanto em taxa, continuam de freio pisado, obrigando os bancos públicos a exercerem mais fortemente um papel de “provocador” de enxugamento das taxas e de provedor de recursos ao mercado.
Afinal, se querem recuperar o mercado que perderam, façam o que um banco deve fazer: emprestar, assistir seu cliente em lugar de estrangulá-lo e tentar lucrar com a eficiência que dizem ter e não com juros extorsivos que seguem a praticar.
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