terça-feira, 12 de novembro de 2013

Hoje na História: 1927 - Leon Trotsky é expulso do Partido Comunista da URSS 12/11/2013


Discordâncias políticas o afastaram de Stálin, levando à expulsão da agremiação, ao exílio e à saída definitiva da União Soviética

A dissidência no interior do Partido Comunista bolchevique é escancarada quando Leon Trótsky publica, em 1924, um prefácio aos seus textos de 1917 ("As Lições de Outubro"), criticando a falta de estratégia revolucionária de Stalin e da direção do Comintern no levante alemão de 1923, e as compara com a indecisão demonstrada por Kamenev e Zinoviev às vésperas da Revolução de Outubro.

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Estas discordâncias abertas afastam politicamente Trotsky de Stálin, culminando na sua expulsão do partido em 12 de novembro de 1927, o exílio em Almaty, Cazaquistão, em 31 de janeiro de 1928 e, finalmente, a saída definitiva da União Soviética em 1929. Ainda em julho desse ano, começa a publicar um boletim mensal de oposição, que seria introduzido no território soviético durante todo o seu exílio.

Desde 1920, Lenin receava crescentemente a burocratização do partido e do Estado, criticava Trotsky pela falta de "opinião firme sobre o marxismo" e o condenava na tentativa de querer conciliar as diferentes classes sociais esquerdistas. A sua morte, em 1924, gera um vazio de poder que acirra a disputa interna entre o setor da máquina partidária e o setor em defesa de uma maior sovietização do regime.

O primeiro, simbolizado por Stalin acabaria por predominar, assumindo a direção quase total do partido. Nesse momento, Trotsky não quis ou não pôde opor-se ativamente a Stalin, mantendo-se discreto no 12º Congresso do partido em 1923, onde acabaria por perder o poder para um triunvirato constituído por Stalin, Lev Kamenev e Grigori Zinoviev. Trotsky e seus apoiadores organizam-se na Oposição de Esquerda, facção que nos anos seguintes lutaria no interior do aparato contra Stalin.

Havia, no entanto, uma assimetria fundamental nesta luta de facções: a Oposição de Esquerda, por mais bem implantada que estivesse no interior da militância do partido, não tinha qualquer poder no interior das instâncias decisórias de um partido como o bolchevique. Trotsky, pela sua entrada tardia no partido – ele fora antes um menchevique - e por não ter assumido responsabilidade por nomeações burocráticas como Stalin, não reunia condições de alavancar suas posições pelo exercício da influência pessoal. Mas, ainda, desde o seu 10º Congresso, em 1920, o Partido Bolchevique havia adotado um novo regimento administrativo que proibia a existência de facções permanentemente organizadas no partido, o que tornava possível, ante qualquer contestação à liderança do partido, ser caracterizada como "divisionista".


O prestígio pessoal de Trotsky era inteiramente desproporcional aos recursos políticos concretos que ele poderia mobilizar no interior de um partido a cuja vida interna era estranho. Daí, em grande parte, a inação de Trotsky diante da ascensão de Stalin. Na ausência de Lenin, que até então havia sempre abonado suas políticas em momentos decisivos, Trotsky escolheu não desafiar a direção bolchevique, sabendo que suas chances de vitória eram reduzidas.

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Durante a preparação pelo Comintern de um levante revolucionário na Alemanha no final de 1923 - com Lenin ainda vivo, mas, incapacitado - Trotsky solicitou ao partido permissão para atender a um convite do líder comunista alemão Heinrich Brandler para dirigir in loco o levante programado na condição de combatente revolucionário internacional.

[O túmulo de Trotsky no México]

A permissão foi negada, pois Stalin temia, se Trotsky caísse prisioneiro ou morto, o embaraço que isto provocaria ao governo soviético. Temia ainda mais a possibilidade de que ele retornasse da Alemanha vitorioso, caso em que o aumento de seu poder e influência seria irresistível. O levante alemão, mal preparado e executado, foi um fracasso, fortalecendo a tendência stalinista de abandonar a revolução socialista internacional pelo "socialismo num só país".

No decorrer das disputas que se seguiriam, Trotsky buscou consolação, assim como aumento de influência, concentrando-se no trabalho teórico e intelectual. Ele já havia, durante a Revolução de 1905, formulado a Teoria da Revolução Permanente, segundo a qual a revolução liberal-burguesa, nas condições de um país capitalista atrasado como a Rússia, não se deteria na constituição de uma república democrática, mas avançaria para a revolução socialista, num processo sem solução de continuidade, contrariamente ao entendimento evolucionista do marxismo predominante à época de que a revolução socialista seria um produto do esgotamento prévio das possibilidades de desenvolvimento capitalista nacional.

Após a Revolução de 1917, passou a defender também que a revolução socialista era um processo mundial e que a Revolução Russa precisaria continuar a se desenvolver na arena mundial, no âmbito de uma perspectiva internacionalista que contrastava claramente com a política stalinista do "socialismo num só país". Defendeu a rápida industrialização da economia e o abandono da NEP (Nova Política Econômica) de Lenin, quando Stalin e o teórico Bukharin, naquele momento, defendiam a industrialização gradual e a manutenção daquela política.

Ironicamente, afastado Trotsky, Stalin vira-se contra Bukharin e acaba por se apropriar de alguns dos preceitos da política econômica enunciados por Trotsky, implementando-as, porém, de uma forma criticada por grande maioria como exageradamente violenta e autoritária. Tal "virada à esquerda" de Stalin, no entanto, fez muito para privar a Oposição de Esquerda de grande parte dos seus partidários na URSS, que acabam por aderir a Stalin, que consideram estar realizando na prática o programa da oposição, nomeadamente o economista Ievgueni Preobrajensky e o antigo chefe de governo da Ucrânia soviética e amigo pessoal de Trotsky desde a época de sua estadia nos Bálcãs, o socialista romeno de etnia búlgara Christian Rakovsky. Eles, juntamente com a imensa maioria dos antigos trotskistas, morreram nos Grandes Expurgos dos anos 1930.

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