sábado, 5 de maio de 2012

Agências de rating "fazem o crime e não têm o castigo" 05/05/2012

Na terceira conferência do ciclo "Pensar os Pensadores da Economia", desta vez dedicada às teorias de Karl Marx, Francisco Louçã defendeu uma agência europeia de notação das dívidas soberanas para acabar com o atual modelo em que os Estados "estão encurralados".
Cartaz do ciclo de conferências "Pensar os Pensadores da Economia", organizada pela cul.tra
Cartaz do ciclo de conferências "Pensar os Pensadores da Economia", organizada pela cul.tra
A sala da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa encheu para ouvir Louçã falar do contributo de Karl Marx para o pensamento económico, abordando temas como conceito de capital, o funcionamento do mercado de capitais ou a teoria das crises. Em declarações à agência Lusa, Francisco Louçã apontou o marxismo como uma "análise económica" que se baseia "na vida concreta das pessoas, das classes sociais, das estruturas sociais, da luta e da distribuição do valor". E lembrou que o marxismo "viveu uma terrível tragédia" no século XX ao tornar-se uma "religião de Estado" na União Soviética".
Respondendo a questões dos participantes na sessão organizada pela cul.tra (Cooperativa Cultura, Trabalho e Socialismo), Louçã  não poupou críticas ao modelo vigente das agências privadas de notação financeira, que diz serem "beneficiárias da especulação". O coordenador bloquista apontou o facto de as três principais agências - Moody's, Standard & Poor's e Fitch - controlarem "mais de 90 por cento do mercado à escala mundial", para além de serem detidas por "participações cruzadas de grandes fundos financeiros que beneficiam das avaliações".
"Quando um Estado, que é uma República e que é um país, emite divida soberana, ela deve ser garantida por uma avaliação de instituições que não sejam elas próprias beneficiárias da especulação", defendeu Louçã, que propôs uma mudança de modelo por parte da Europa. "A União Europeia tem de ter uma agência de ‘rating' europeia e as agências que enganaram o mundo inteiro com avaliações fantasiosas e enganosas acerca de produtos tóxicos no sistema financeiro, que protegeram a fraude financeira, deviam ser castigadas por isso", prosseguiu o deputado do Bloco, considerando que hoje essas agências "fazem o crime e não têm o castigo".
"O que deveria acontecer na UE e nos Estados em geral é que deveriam não submeter os seus títulos à avaliação destes fundos, porque eles próprios são os especuladores, são eles que querem a queda do ‘rating' da República portuguesa e ganhar dinheiro com o aumento dos juros sobre os contribuintes portugueses, e pelo contrário submeter os títulos de dívida pública à avaliação de agências internacionais do Fundo Monetário Internacional, do Banco Central Europeu, de uma agência das Nações Unidas, o que for que possa ser credível", reforçou.
Esta foi a terceira conferência do ciclo "Pensar os Pensadores da Economia". No dia 11 de maio, Mário Graça Moura apresenta a sessão sobre Shumpeter; no dia 17, é a vez de Ricardo Coelho apresentar as teorias de Karl William Kapp. Dia 21, cabe a Mariana Mortágua a sessão sobre Hyman Minsky e na última conferência, dia 24, José Gusmão explicará o pensamento económico de Amartya Sen.

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