domingo, 21 de outubro de 2012

ARAMAR 2 :Com primeira etapa em plena operação, Usina de Hexafluoreto ficará totalmente pronta em 2013 21/10/2012


Os tempos de falta de recursos ficaram pra trás: o Centro Experimental está a todo vapor e tem horizontes no cumprimento das etapas do Programa Nuclear
Notícia publicada na edição de 21/10/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 002 do caderno E - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.

Carlos Araújo
carlos.araujo@jcruzeiro.com.br


A Usina de Hexafluoreto de Urânio (Usexa) do Centro Experimental Aramar, em Iperó, está com a sua primeira etapa (de um total de quatro) em plena operação. A segunda etapa iniciará atividades ainda este ano e as outras duas fases complementares ficarão prontas em 2013. Os prédios nucleares do local onde será instalado um reator com potência elétrica de 11 megawatts também estão em construção. Uma estação de tratamento de esgoto junto ao Laboratório de Materiais Nucleares (Labmat), outra unidade de Aramar, está em ritmo acelerado. Até a implantação de calçada na rua de acesso ao "Rancho", o refeitório de Aramar, foi necessária por causa do crescimento da circulação de pessoas neste centro de pesquisas onde a Marinha do Brasil desenvolve o seu projeto de construção do primeiro submarino brasileiro movido a propulsão nuclear.

Estes cronogramas foram descritos pelo superintendente industrial de Aramar, o capitão de mar e guerra e engenheiro Carlos Alberto Rezende Martins. "Vão existir outras construções que ainda não iniciaram", ele afirmou. Este ano foram inaugurados dois novos prédios: o Centro de Manutenção Industrial e o Centro de Instrução e Adestramento Nuclear de Aramar (Ciana), unidade destinada ao aprendizado de operadores do Laboratório de Geração Núcleo-Elétrica (Labgene) - denominação da estrutura que abrigará o reator.

Este cenário foi visto pelo Cruzeiro do Sul em visita exclusiva a Aramar, no último dia 9, e mostram uma realidade diferente daquela vivida pelo centro de pesquisas entre 1994 e 2007. A situação mudou no dia em que, em 2007, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou Aramar e anunciou a liberação de R$ 1,040 bilhão em oito anos. A liberação dos recursos vem sendo executada dentro do projeto, segundo o superintendente do Programa Nuclear da Marinha, Luciano Pagano Júnior. Este ano, o orçamento da Marinha para manutenção e investimentos é de aproximadamente R$ 300 milhões.

Diferentemente dos tempos das dificuldades com falta de recursos, Aramar se transformou num canteiro de obras, está a todo vapor e tem horizontes no cumprimento das etapas do Programa Nuclear. O reator está previsto para ser instalado no Labgene em 2015 e o submarino ficará pronto em 2025. Aramar também fabrica ultracentrífugas (máquinas utilizadas no processo de enriquecimento de urânio) para a Indústrias Nucleares do Brasil (INB), de Rezende (RJ), produzir combustível nuclear para Angra I e II, no Rio.


Urânio


Entrar na Usexa requer o uso de avental branco sobre o vestuário comum como proteção contra qualquer nível de radiação. Na saída, o visitante passa por um detector de pés e mãos para verificação de normalidade ou eventual alteração. O chefe do Departamento de Operação da Usexa, o engenheiro metalurgista Paulo Dias, é quem faz a exposição de todo o processo do ciclo do combustível na unidade.

A matéria prima é a concentração do urânio, o yellow cake, produto que contém impurezas e por isso tem que passar por processo de purificação até ficar pronto para a fase do enriquecimento. Segue-se a etapa para adequar o urânio ao restante do processo, o que resulta em sua transformação na forma de pó - um produto intermediário que recebe o nome de óxido de urânio e depois passa a trióxido de urânio. Na fase posterior ele chega à forma de tetrafluoreto (UF4). A partir de então recebe um flúor gasoso e atinge a forma de hexafluoreto (UF6). É quando se obtém a matéria-prima para o processo de enriquecimento com a utilização das ultracentrífugas.

No laboratório de Testes e Equipamentos da Propulsão (Latep), além dos equipamentos existentes no local, o visitante tem sua atenção atraída por duas grandes pontes rolantes amarelas. Estão ali guardadas para serem transportadas a um dos prédios do Labgene, o que ocorrerá quando este ficar pronto. O capitão de fragata Winderson Scholze apresenta as explicações técnicas sobre o funcionamento da unidade - que combina geração de vapor e energia com uma grande caldeira, teste de turbinas e outras máquinas.

A preocupação da Marinha com o monitoramento ambiental é responsabilidade do Laboratório Radioecológico. Amostras de vegetação, solo, água de rio e da chuva, tudo é minuciosamente examinado, segundo o bacharel químico Djair Robles Arine, especializado em tecnologia nuclear com pós-graduação no Instituto de Pesquisas Nucleares (Ipen) e docente da Universidade Paulista (Unip) nas áreas de farmácia e biomedicina.


Sobre a rocha


Sobre uma rocha sã não fraturada está erguido o prédio que irá abrigar a turbina. O prédio do reator ficará em frente. Serão cinco prédios nucleares, segundo o engenheiro Roberto Amaral, chefe da Divisão de Engenharia de Implantação de Construção Civil. Estes prédios abrigam algum item ligado ao sistema de propulsão nuclear. Eles serão o Prédio Auxiliar Não Controlado (segurança de dados), Prédio Auxiliar Controlado (ocupado por funcionários), Prédio do Reator, Prédio do Combustível e a unidade denominada Subestação 2 de Energia Elétrica, que fará funcionar todo o sistema.

Aproximadamente mil pessoas movimentam toda a estrutura de Aramar, entre militares, funcionários e terceirizados.
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