domingo, 21 de outubro de 2012

ARAMAR 1 : 'Gigante' esperando o cronograma de construção 21/10/2012


Notícia publicada na edição de 21/10/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 002 do caderno E - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.


Até Luiz Inácio Lula da Silva anunciar a liberação de recursos em 2007, a Marinha do Brasil chegou adiar o cronograma de construção do submarino, sem previsão de quando ficaria pronto o gigante de 9.200 toneladas e 110 metros de comprimento. Em 15 de novembro de 2006, o Cruzeiro do Sul publicou informação repercutida pela Agência Estado de que o adiamento foi confirmado por um integrante do Comando de Operações Navais em encontro reservado no Palácio do Planalto, em Brasília. "Como nada é definitivo quando se trata de defesa, o processo pode ser considerado apenas como adiado, embora um adiamento de longo prazo", disse a alta autoridade da Marinha cujo nome não foi divulgado.
Segundo a mesma fonte, a proteção estratégica da plataforma territorial brasileira passara a ser uma reforçada frota de submarinos convencionais, movidos por motores diesel-elétrico. Na época, isto desmontava totalmente todo o discurso da Marinha em torno do projeto de propulsão nuclear. Na década de 1980 fontes oficiais mencionavam os anos de 1995, 2000, 2005, 2006 e 2007 como previsões para a conclusão do submarino.
Essa situação foi muito parecida com a de 6 de fevereiro de 1996, quando o então ministro da Marinha, Mauro Pereira, disse em entrevista coletiva, em Aramar, que a construção do submarino deixara de ser prioridade e, apartar dali, a Força iria concentrar esforços na construção de submarinos convencionais. Na época, um mês depois, a notícia foi desmentida pelo próprio ministro, que justificou a informação como "mal interpretada".
Até então, a Marinha desenvolvia um programa de apresentação de Aramar às autoridades da União. Convidados como deputados, senadores, ministros, eram esperança de recursos para o projeto. A eleição de Fernando Henrique Cardoso trouxe grande expectativa. Mas os recursos em quantidade suficiente para trazer novo ânimo ao Programa Nuclear da Marinha só viria com Lula em 2007.

Período inicial

O idealizador do Programa Nuclear da Marinha é o vice-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, atualmente na reserva. Em 1978, recém-chegado de um período de estudos nos Estados Unidos, Othon propôs ao então diretor geral do Material da Marinha, Maximiano da Fonseca, a ideia de que o domínio do ciclo do combustível nuclear era a oportunidade que o Brasil tinha de obter tecnologia e independência. Em março de 1979, a Marinha encarregou Othon da "missão" de desenvolver o programa nuclear que resultou na construção de Aramar.
A Marinha teve a colaboração do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e do Centro Tecnológico Aeroespacial (CTA). Em 1982, Othon e seu grupo de técnicos exibiram a primeira operação de enriquecimento de urânio do País com uma ultracentrífuga. O projeto foi idealizado e executado por ele e sua equipe. Esse é um conhecimento científico de importância estratégica, que um país não transfere a outro.
Aramar foi inaugurado em 8 de abril de 1988 pelo então presidente José Sarney. O então presidente da Argentina, Raul Alfonsin, participou do evento, que foi marcado por forte esquema de segurança. Até aquela data muitos protestos populares haviam movimentado as ruas de Sorocaba e outras cidades da região contra Aramar. As questões nucleares estavam na ordem do dia, impulsionadas por acidentes nucleares de grande impacto como Chernobyl (1986) , na Ucrânia, e do Césio 137 (1987), em Goiânia.

Período difícil

Othon nunca esquecerá o dia, no fim de 1993, em que recebeu um documento com uma relação dos programas da Marinha e no qual o programa de propulsão nuclear tinha caído de prioridade 1 para a classificação 18. Esta história foi contada por Othon em 1999. Em agosto de 1994, Othon deixou a direção de Aramar e transmitiu o cargo a um oficial de carreira chamado Arlindo Viana Filho. A saída de Othon estava relacionada com a tradição de promoção na carreira militar. Ele confirmou essa versão.
Na Marinha, um oficial promovido a almirante-engenheiro tinha no máximo oito anos de carreira. Era uma lei da época do ex-presidente Castello Branco. Othon chegou ao posto máximo como almirante e cumpriu os oito anos como oficial-general. Acabou o seu tempo limite como oficial da ativa. Mas havia uma possibilidade de ele retornar ao comando de Aramar. Mas para isto acontecer deveria ser do agrado do então ministro da Marinha, Ivan Serpa.
"Mas não era do agrado do Serpa, e eu nunca pedi para ficar", disse Othon em 1999. "Eu nunca pedi nenhuma comissão na carreira. Eu aceitei missão, nunca pedi comissão."
Serpa poderia tê-lo convocado como oficial da reserva. Havia brecha legal para isso. A convocação não aconteceu, na visão de Othon, porque havia um "abismo muito grande" entre os dois em termos de visão. O abismo passou a existir no momento em que o programa de propulsão naval caiu de prioridade. Era um programa que Othon assumira com a recomendação da vice-chefia do Estado Maior da Armada de que aquele seria o projeto mais importante da Marinha.
Em 1999, quando concedeu uma longa entrevista de cinco horas contando a história do programa de propulsão naval, Othon tinha razões para se envaidecer com a sua passagem por Aramar, mas também se entristecia. Sobretudo nas ocasiões em que engenheiros que saíam de Aramar o procuravam, em São Paulo, para se despedir. Naqueles anos recebera a visita de quase 100 engenheiros e técnicos que haviam saído de Aramar. (Carlos Araújo)
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