quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Brasil se ofereceu como sede de diálogo entre FARC e Colômbia, dizem guerrilheiros 18/10/2012

Representantes da guerrilha dizem esperar que Brasil participe da próxima mesa de negociação

O governo brasileiro se ofereceu para sediar os diálogos pela paz entre Colômbia e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), de acordo com os representantes da guerrilha nas negociações Hermes Aguilar e Ricardo Teles.

Agência Efe

Representantes do presidente colombiano, Juan Manuel Santos, chegaram no início desta semana em Oslo

Em entrevista realizada em Havana, poucos dias antes da viagem a Oslo (Noruega), local das reuniões desta semana, os dois porta-vozes das FARC destacaram a importância do Brasil na política latino-americana e dizem que o país poderá participar das próximas etapas do processo de paz.

Imprensa Popular: Qual deveria ser a postura do Brasil e da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) neste momento?
Hermes Aguilar: Sem dúvida, o Brasil, pelas suas dimensões e pelo grau de desenvolvimento, é muito representativo na América Latina. Pode-se dizer que em um futuro não muito distante, as decisões do Brasil serão determinantes, pois novos elementos geoestratégicos estão aparecendo no ambiente político do continente. Através, tanto do Mercosul quanto da Unasul, estão se estabelecendo novas relações entre governos, povos e exércitos dos países que os integram, relações que nada têm a ver com a prepotente e dominadora doutrina Monroe que diz "América para os americanos".

Hoje tudo passa pelo Brasil. Ademais, devemos levar em conta outros organismos que têm a ver com esse processo de integração, como a Celac [Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos], na qual se integram Cuba e toda América Latina. Esse processo começa a formar um forte movimento em nosso continente.

IP: E como, de fato, você avalia a atuação do Brasil e da Unasul neste episódio específico de diálogos para a paz na Colômbia e ao longo dos últimos anos?
Ricardo Teles: Sentimos o calor e a solidariedade dos brasileiros através de todos esses anos de intensa luta na Colômbia, incluindo os dez últimos anos de uma guerra que foi incrementada pelo senhor Álvaro Uribe Vélez [ex-presidente da Colômbia].

Nesse processo, recebemos a solidariedade efetiva e o calor do povo brasileiro, principalmente quando Olivério Medina, um dos nossos dirigentes, foi detido no Brasil. Foi o povo brasileiro quem impediu que fosse extraditado, sendo que os comunistas e revolucionários brasileiros tiveram um papel determinante, impedindo que nosso companheiro hoje estivesse na prisão pagando por delitos que não cometeu.

Agora, sobre a Unasul e os outros organismos que estão surgindo, é uma nova forma de fazer diplomacia na América Latina. Os EUA já não podem fazer em nosso continente o que tradicionalmente vinham fazendo. Os organismos fundados como fantoches, a exemplo da OEA, estão neste momento ultrapassados, e na nova diplomacia vão ganhando mais força os povos que começam a se despertar para o processo de unidade latino-americana e caribenha.

Nesse sentido, a Unasul, a ALBA [Aliança Bolivariana para as Américas] e a Celac vão jogar um papel decisivo para impedir que os EUA sigam dominando nossos países como vinham fazendo.

Existe uma questão que não é conhecida, mas nessa aproximação entre as FARC e o governo colombiano, generosamente o governo do Brasil ofereceu seu território para que se iniciassem os diálogos discretos e secretos entre as duas partes. Também, na recente crise entre Colômbia e Venezuela, o governo brasileiro, assim como o cubano, teve papel determinante para evitar uma guerra. Dessa forma, acreditamos que a Unasul tem um papel fundamental nesse momento de inicio dos diálogos.

Num futuro próximo, é possível esperar que a Unasul e o Brasil venham a fazer parte da mesa de diálogo para acompanhar o processo. Além disso, o Brasil poderia participar de um grupo de países amigos pela paz na Colômbia, porque esse processo não afeta somente o território colombiano, é um assunto regional. O Brasil tem um papel importante para a paz no continente.

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