segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Empresários brasileiros esperam ampliar negócios com a reeleição de Chávez 08/10/2012



A terceira reeleição do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, foi comemorada não somente pelos simpatizantes do chavismo. Empresários brasileiros, que observavam com expectativa o pleito, veem a continuidade no poder como a garantia de expansão do comércio com a América do Sul.
Chávez foi reeleito com 54% dos votos, contra 44% de seu rival Henrique Capriles.

"Empresários brasileiros tanto no Brasil como aqui estão comemorando hoje", afirma à BBC Brasil Fernando Portela, diretor-executivo da Câmara de Comércio e Indústria Venezuelana-Brasileira (Cavenbra).
A Cavenbra e representantes das grandes empreiteiras brasileiras na Venezuela viam com preocupação a possibilidade da eleição de Capriles. No campo regional, o opositor havia prometido rever a entrada da Venezuela ao Mercosul e pretendia voltar ao bloco da CAN (Comunidade Andina de Nações).
Na política doméstica, a estreita relação de Capriles com empresários venezuelanos era vista como uma ameaça pelo setor empresarial brasileiro, já que, em um eventual governo opositor, o setor voltaria a se fortalecer, podendo afetar a participação internacional nas áreas de construção, agropecuária e manufaturados.

Segurança jurídica

A aposta dos investidores é que, com a entrada da Venezuela no Mercosul, haverá mais segurança jurídica nas negociações. Ao mesmo tempo, há expectativa de "contenção" da entrada de produtos chineses na América do Sul via Venezuela. "A China é a pedra no caminho do Brasil", diz Portela.
Jornais noticiam vitória de Chávez na Venezuela (AFP)
Associação diz que Chávez cobrará do Brasil 'maior participação em projetos de infraestrutura'
A China se tornou o segundo sócio comercial da Venezuela, seguida pelo Brasil. A penetração chinesa no mercado venezuelano se deve fundamentalmente à decisão de Chávez de reduzir a dependência de sua economia do mercado americano. Desde então a exportações de petróleo venezuelano subiram ao mesmo ritmo em que o mercado venezuelano passou a ser inundado por produtos chineses.
Outro vínculo comercial determinante é o fundo de financiamento chinês estimado em US$ 32 bilhões. "Com o suporte financeiro, a China pode expandir seus negócios aqui e isso faz com que o Brasil perca terreno neste aspecto", afirma Portela.
Para a Cavenbra, para frear a expansão chinesa o Brasil deverá ampliar a fonte de financiamento via BNDES para fortalecer sua participação no mercado venezuelano. "Chávez deverá cobrar do Brasil uma maior participação financeira nos projetos de infraestrutura. A Venezuela está sem dinheiro. As reservas internacionais em dinheiro estão baixas", disse Portela.
Estima-se que somente 30% das reservas internacionais venezuelanas estejam disponíveis para compras e investimentos. O restante estaria reservado em barras de ouro.

Substituir chineses por sul-americanos

A Cavenbra espera que, com a lógica da preferência aduaneira aos países do Mercosul, a Venezuela possa substituir a importação de manufaturados, eletrodomésticos e autopeças chinesas por produtos sul-americanos.
Para o economista Victor Álvarez, ex-ministro de Indústrias Básicas e Mineração da Venezuela e investigador do Centro Internacional Miranda, as mudanças econômicas previstas para os próximos seis anos de mandato de Chávez exigem correções na relação comercial assimétrica no comércio com o Brasil.
Vista de Caracas
Economista diz que Venezuela tentará corrigir assimetrias no comércio com o Brasil
Álvarez opina que o Brasil deve substituir a relação de integração comercial – baseada exclusivamente nas exportações - por uma fase de integração econômica e produtiva, que requer transferência tecnológica, assistência técnica e capacitação para os venezuelanos. "Os negócios devem entrar numa fase que vá além do comercial e evoluir à uma etapa de investimento produtivo", diz.
Do contrário, diz Álvarez, se a relação comercial se mantiver tal como está, o consumidor venezuelano deve ter "autonomia" para optar por produtos mais baratos, de boa ou média qualidade , independentemente do provedor.
"Se o Brasil quer ter tratamento preferencial deve contribuir com o desenvolvimento do modelo produtivo nacional", afirma o economista.
O comércio bilateral entre Brasil e Venezuela saltou de US$ 2,4 bilhões em 2005 para uma previsão de pouco mais de US$ 6 bilhões neste ano. O superávit brasileiro é de quase US$ 5 bilhões.
Em discurso logo após a vitória, Chávez disse que seu novo governo se pautará pela "eficiência". A mensagem foi interpretada como um bom sinal por parte dos investidores brasileiros que se preparam para mais cobranças, em especial no setor de construção, um dos principais em disputa.
Cinco grandes empreiteiras brasileiras, encabeçadas por Odebrecht e Camargo Correa, foram beneficiadas por uma ofensiva diplomática brasileira iniciada em 2005. Neste período, consolidou-se o estabelecimento dessas empresas para a execução de obras de construção de infraestrutura e moradia na Venezuela.

Nenhum comentário:

Postar um comentário