quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Mike Whitney: Banco Central promove a guerra de classes 23/01/2013


“Vamos matar o dólar”
O plano B do Fed
by MIKE WHITNEY, no Counterpunch
“Como você resolve um problema quando tem um déficit fiscal de orçamento de 10%? Você não vai obter crescimento sem demanda de crédito do setor privado. O plano do governo neste momento é que vamos escapar através de exportações e quando perguntei a um integrante sênior do governo Obama, na semana passada, como vamos aumentar as exportações, se não queremos deflação salarial nominal? Ele respondeu, ‘vamos matar o dólar’” (Kyle Bass, em entrevista).
Na semana passada, em meio a crescentes rumores de uma guerra cambial, o balanço do Fed [o Banco Central dos Estados Unidos] rompeu a barreira dos 3 trilhões de dólares pela primeira vez na história.
De acordo com o blogueiro Sober Look: “Pela primeira vez desde o lançamento do programa (quantitative easing) ele começa a ter impacto material nas reservas dos bancos… que deram uma salto na semana passada. 2013 será bem diferente do ano passado. A base monetária vai se expandir dramaticamente enquanto o atual programa de compra de títulos estiver em andamento. A impressão de dinheiro está em ritmo total” (“Fed’s balance sheet grows above $3 trillion, finally impacting the monetary base”, Sober Look).
Gaste um minuto para avaliar as implicações das operações de impressão de dinheiro do Fed em relação à declaração do analista Kyle Bass. Consegue ver o que está acontecendo?
O Fed está agindo exatamente como se esperava dada sua intenção de aumentar a inflação (desvalorizando a moeda), ao mesmo tempo em que intensifica a guerra de classes.
Como o Fed está promovendo a guerra de classes?
O presidente do Fed, [Ben] Bernanke, sempre foi um grande apoiador da redução do déficit do governo, código para o corte dos gastos públicos. O recente acordo do “abismo fiscal” aumenta os impostos pagos pelos trabalhadores ao acabar com uma isenção na folha salarial. Como a agência Bloomberg escreveu: “Todo mundo teve um corte de 2% nos salários”. Isso terá impacto imediato nos gastos dos consumidores e a confiança deles na economia já caiu, na semana passada.
Mais da Bloomberg:
“Os impostos nas folhas de pagamento subiram. Como parte do acordo em primeiro de janeiro, o Congresso concordou que o imposto, usado para cobrir benefícios da Previdência Social, deve voltar ao nível de 2010, 6,2%, em vez de 4,2%. Isso reduz os salários em cerca de 83 dólares por mês para alguém que ganha 50 mil dólares por ano”. 
E assim todos os trabalhadores (você e eu) tem menos dinheiro para gastar, o que significa que haverá menos atividade, mais desemprego e crescimento menor. É sobre o que os economistas liberais tem alertado por cerca de 3 anos, ou seja, que se o governo retirar o apoio fiscal à economia reduzindo os déficits antes da hora, a economia vai voltar à recessão.
Assim, o que o Fed está fazendo para evitar a recessão e criar a ilusão de que doidos que pregam que “austeridade faz bem” estão certos?
O Fed está comprando os papéis lastreados por hipotecas (mortgage-backed securities, MBS), certo? Assim, está se intrometendo na política fiscal, assumindo um papel que deveria ser do Congresso.
Sim, eu sei que comprar MBS não se encaixa perfeitamente no papel de política fiscal, já que o Fed não arrecada impostos e os redistribui. Mas também não se encaixa na definição de política monetária, certo? O Fed não controla o fluxo de crédito no sistema. Não, ele compra papéis; bens financeiros que resultam em crédito para emprestadores que pretendem comprar bens físicos. Isso não é política monetária, amigão. É política fiscal.
O Fed compra atualmente 45 bilhões de dólares mensais em papéis do Tesouro dos Estados Unidos para derrubar a taxa de juros de longo prazo, com isso ajudando os bancos a vender mais hipotecas, de forma a permitir aos bancos reduzir o estoque de casas abandonadas por compradores que não puderam pagar.
E o Fed compra 40 bilhões de dólares mensais em MBS para ajudar os bancos a livrar seu balanços de sobras de papéis antigos e ajudá-los a financiar novas hipotecas.
Além disso, 95% de todas as novas hipotecas são financiadas através de Fannie e Freddie [Nota do Viomundo: O que os Estados Unidos tem mais próximo da Caixa Econômica Federal].
Em outras palavras, o governo está providenciando todo o dinheiro novo e correndo todo o risco, enquanto todos os lucros vão para Wall Street.
De novo:
A política de Fannie e Freddie é desenhada para ajudar os bancos;
O programa de compra de papéis lastreados em hipotecas do Fed é desenhado para ajudar os bancos;
O quantitative easing do Fed (compra de papéis do Tesouro) é desenhado para ajudar os bancos.
Dá para ver um padrão nisso? É tudo para os bancos, o que explica porque Marx estava correto quando falava em “economia política”, já que a economia não opera de acordo com os princípios do livre mercado. É organizada de maneira a melhor atingir os objetivos dos grupos que controlam as ferramentas do poder político.
Agora, chute os grupos que controlam as ferramentas do poder atualmente…
Se você chutou “bancos de Wall Street”, dê um tapinha de congratulações em suas próprias costas.
Assim, qual efeito isso terá?
Bem, de certa forma já sabemos a resposta, já que — como indicamos anteriormente — a política é voltada para beneficiar os bancos. Mesmo assim, uma analogia pode ajudar a ter um melhor entendimento sobre o que está acontecendo.
Vamos dizer que você tem 5 milhões de dólares e queira investir numa fábrica. Na verdade você decidiu abrir sua própria fábrica para produzir coisas para vender ao público. Eventualmente, você reduz suas opções a duas; ou vai construir uma moderna linha para produzir carros elétricos, reduzir as emissões de carbono e abrir caminho para novas tecnologias ou vai fazer pirulitos. O que será?
Felizmente para você, o Fed anuncia que um novo programa vai dar 45 bilhões de dólares por mês “indefinidamente” para fabricantes que derem empréstimos com juros baixos para pessoas que comprarem pirulitos.
“Eba”, você diz. “Vou abandonar meu plano de salvar o planeta dos gases venenosos do efeito estufa e fazer uma fortuna vendendo papéis ligados à produção de pirulitos para o Fed”.
Não é o que está acontecendo? Nada disso tem relação com a redução do desemprego, o fortalecimento da recuperação econômica ou o crescimento. É tudo apenas uma forma de empurrar dinheiro para grupos poderosos. E uma coisa é certa: se o Fed criar demanda para um produto (como os papéis lastreados em hipotecas), alguém vai atender à demanda, ajude ou não a economia em geral.
Mas se o Fed pode comprar papéis de hipotecas, por que não pode comprar papéis de investimento em infraestrutura? Qual a diferença?
A diferença é que os papéis das hipotecas bombam os lucros dos bancos, enquanto os papéis da infraestrutura apenas dão emprego para pessoas que precisam de emprego. Em outras palavras, a diferença não é entre política fiscal e monetária, mas entre os que tem e os que não tem, o que é o mesmo que dizer que as políticas do Fed são baseadas em interesses de classe.
O que nos leva de volta ao comentário original de Kyle Bass, que se pergunta como os Estados Unidos podem superar a situação atual (grandes déficits do orçamento e exportações fracas) sem demanda de crédito do setor privado.
Grande pergunta. Mas dá para ver que o presidente do Fed já decidiu. O banco vai continuar acenando aquela cenoura de 45 bilhões de dólares por mês diante dos bancos até que eles ajustem a carretilha do crédito e criem um novo regime de hipotecas tóxicas. (A nova regra do Escritório de Proteção Financeira ao Consumidor sobre ‘Hipotecas Qualificadas’, que não requer pagamento de entrada, nem avaliação aprofundada dos tomadores de empréstimos, torna essa possibilidade ainda maior).
Bernanke está fazendo o papel que os mercados fizeram antes do Crash de 2008, ou seja, o Fed está prometendo comprar todos os instrumentos financeiros complexos produzidos pelos bancos para manter o dinheiro correndo na direção deles. É como o mercado livre, exceto que não há nada de livre nele. É tudo jogo de cena e Bernanke nem se importa que você saiba disso.
45 bilhões de dólares por mês não é um trocado. É o suficiente para inflar os preços de imóveis, para empregar operários da construção desempregados, para crescer a economia e para salvar os balanços dos bancos, que estão num vermelho profundo. Ao mesmo tempo, o balanço do próprio Fed vai colocar pressão de baixa no dólar, o que vai aumentar as exportações e reduzir os salários reais, quando ajustados para a inflação. Como disse o cara, “vamos matar o dólar”.
Este é o plano do Fed: salvar os bancos, transferir as apostas ruins dos bancos para seu próprio balanço, golpear o dólar, derrubar os salários (via inflação), aumentar as exportações e bombear tanto dinheiro quanto possível no buraco negro, improdutivo, do mercado imobiliário dos Estados Unidos.
Naturalmente, o presidente Obama poderia evitar toda esta bobagem e lançar um programa de criação de empregos financiado pelo governo, que tiraria a economia do coma, aumentaria a demanda e daria um gás no PIB, mas isso seria simples demais. E, provavelmente, ruim para os lucros.
MIKE WHITNEY lives in Washington state. He is a contributor to Hopeless: Barack Obama and the Politics of Illusion (AK Press). Hopeless is also available in a Kindle edition. He can be reached at fergiewhitney@msn.com.

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